Seis poemas de Wisława Szymborska – Tradução de Eneida Favre
Seis poemas de Wisława Szymborska
Tradução de Eneida Favre
Sobre a autora e os poemas:
Wisława Szymborska (1923-2012): premiadíssima poeta polonesa, ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura de 1996. A autora conquistou um público cativo entre os leitores brasileiros de poesia, após a publicação em português de parte de sua obra. Apresentamos aqui mais seis poemas, que representam um período de criação de quarenta anos. Foram publicados na Polônia entre 1972 e 2012, ano de seu falecimento.
O primeiro, *** (O NADA), foi publicado em livro em 1972 e confirma uma das características essenciais da autora, que costuma expressar na poesia reflexões sobre o mundo, suas criações e o acaso. Aqui ela contrapõe o mundo real ao nada, ao mundo do avesso contido em sua imaginação. Em 1976, foi publicado ELOGIO À MÁ OPINIÃO SOBRE SI, um poema que à primeira vista trata apenas da moralidade ou da ausência de moralidade dos animais irracionais, mas que com sutileza e ironia refere-se, na realidade, ao homem (animal racional) em sua ausência de escrúpulos, de remorsos ou de autocrítica, como testemunha ou perpetrador de atos amorais, que podem ser comparados aos das criaturas irracionais. O poema ROUPAS foi publicado em 1986. Da situação corriqueira de um exame médico, no qual o paciente de despe e se veste, Szymborska expõe as emoções do medo e ansiedade diante da suspeita de uma doença grave e o alívio sentido pela não proximidade da morte. A relação de objetos e ações em sequência também é um traço distintivo de alguns poemas da autora. SESSÃO, publicado em 1993, é mais um poema no qual o intrigante acaso é tratado com propriedade pela poeta, mostrando aqui uma faceta divertida que, por vezes, povoa seus poemas. Com o falecimento de seu companheiro de muitos anos, o prosador Kornel Filipowicz, em 1990, o tema da morte e das lembranças tornou-se bem mais assíduo na obra de Szymborska. Nesse lindo e tocante poema, RETRATO DA MEMÓRIA, publicado em 2009, a poeta tenta compor o retrato do amado a partir de fragmentos da vida partilhada com ele. Por último, apresentamos o poema A MÃO, publicado após sua morte, em 2012, que, partindo de simples dados sobre a anatomia da mão, faz uma profunda reflexão sobre as escolhas humanas.
***
Nicość przenicowała się także i dla mnie.
Naprawdę wywróciła się na drugą stronę.
Gdzież ja to się znalazłam ―
od stóp do głowy wśród planet,
nawet nie pamiętając, jak nie było nie być.
O mój tutaj spotkany, tutaj pokochany,
już tylko się domyślam z ręką na twoim ramieniu,
ile po tamtej stronie pustki na nas przypada,
ile tam ciszy na jednego tu świerszcza,
ile tam braku łąki na jeden tu listeczek szczawiu,
a słońce po ciemnościach jak odszkodowanie
w kropli rosy ― za jakie głębokie tam susze!
Gwiezdne na chybił trafił! Tutejsze na opak!
Rozpięte na krzywiznach, ciężarach, szorstkościach i ruchach!
Przerwa w nieskończoności dla bezkresnego nieba!
Ulga po nieprzestrzeni w kształcie chwiejnej brzozy!
Teraz albo nigdy wiatr porusza chmurą,
bo wiatr to właśnie to, co tam nie wieje.
I wkracza żuk na ścieżkę w ciemnym garniturze świadka
na okoliczność długiego na krótkie życie czekania.
A mnie tak się złożyło, że jestem przy tobie.
I doprawdy nie widzę w tym nic
zwyczajnego.
***
O nada virou do avesso também para mim.
Realmente se pôs ao revés.
E onde eu me encontrei? ―
dos pés à cabeça entre os planetas,
sem nem lembrar como era não ser.
Ó meu aqui encontrado, aqui amado,
apenas posso imaginar, com a mão no seu braço,
quanto vazio do outro lado nos corresponde,
quanto silêncio lá para um grilo aqui,
quanta falta de campina lá para uma folhinha de azedinha aqui,
e o sol depois das trevas como compensação
na gota de orvalho ― pelas secas lá intensas!
O sideral ao acaso! O daqui ao contrário!
Estendido em curvaturas, pesos, asperezas e movimentos!
Intervalo no infinito para o céu ilimitado!
Alívio depois do não-espaço em forma de bétula vacilante!
Agora ou nunca o vento move a nuvem,
porque o vento é exatamente aquilo que não sopra lá.
E o besouro entra na trilha com o terno escuro de testemunha
da circunstância de uma espera longa por uma vida curta.
E aconteceu-me estar ao seu lado.
E realmente não vejo nisso nada de
corriqueiro.
Pochwała złego o sobie mniemania
Myszołów nie ma sobie nic do zarzucenia.
Skrupuły obce są czarnej panterze.
Nie wątpią w słuszności swych czynów piranie.
Grzechotnik aprobuje siebie bez zastrzeżeń.
Samokrytyczny szakal nie istnieje.
Szarańcza, aligator, trychnina i giez
żyją jak żyją i rade są z tego.
Sto kilogramów waży serce orki,
ale pod innym względem lekkie jest.
Nic bardziej zwierzęcego
niż czyste sumienie
na trzeciej planecie od słońca.
Elogio à má opinião sobre si
O gavião-pedrês não tem do que se acusar.
A pantera-negra não sabe o que são escrúpulos.
As piranhas não duvidam da legitimidade de suas ações.
A cascavel aprova-se sem reservas.
Não existe um chacal autocrítico.
Gafanhotos, jacarés, triquinas e moscas
vivem como vivem e estão felizes com isso.
O coração da orca pesa cem quilos,
mas visto de outra maneira é leve.
Nada mais animal
do que a consciência limpa
no terceiro planeta da órbita solar.
Odzież
Zdejmujesz, zdejmujemy, zdejmujecie
płaszcze, żakiety, marynarki, bluzki
z wełny, bawełny, elanobawełny,
spódnice, spodnie, skarpetki, bieliznę,
kładąc, wieszając, przerzucając przez
oparcia krzeseł, skrzydła parawanów;
na razie, mówi lekarz, to nic poważnego,
proszę się ubrać, odpocząć, wyjechać,
zażywać w razie gdyby, przed snem, po jedzeniu,
pokazać się za kwartał, za rok, za półtora;
widzisz, a ty myślałeś, a myśmy się bali,
a wyście przypuszczali, a on podejrzewał;
czas już wiązać, zapinać drżącymi jeszcze rękami
sznurowadła, zatrzaski, suwaki, klamerki,
paski, guziki, krawaty, kołnierze
i wyciągać z rękawów, z torebek, z kieszeni
wymięty, w kropki, w paski, w kwiatki, w kratkę szalik
o przedłużonej nagle przydatności.
Roupas
Você despe, nós despimos, eles despem
casacos, jaquetas, paletós, blusas
de lã, algodão, poliéster,
saias, calças, meias, roupas íntimas,
dobrando, pendurando, jogando no
encosto da cadeira, nos anteparos dos biombos;
por ora, diz o médico, não é nada grave,
pode se vestir, descansar, viajar,
tome no caso de, antes de dormir, depois de comer,
volte daqui a três meses, um ano, um ano e meio;
viu só? e você pensou, e nós tivemos medo,
e vocês presumiram, e ele suspeitou;
hora de amarrar, fechar com as mãos ainda trêmulas
cadarços, colchetes, zíperes, fivelas,
cintos, botões, gravatas, colarinhos
e tirar das mangas, das bolsas, dos bolsos
o cachecol amassado, de bolinhas, listrado, florido, xadrez
de utilidade subitamente prorrogada.
Seans
Przypadek pokazuje swoje sztuczki.
Wydobywa z rękawa kieliszek koniaku,
sadza nad nim Henryka.
Wchodzę do bistro i staję jak wryty.
Henryk to nie kto inny
jak brat męża Agnieszki,
a Agnieszka to krewna
szwagra cioci Zosi.
Zgadało się, że mamy wspólnego pradziadka.
Przestrzen w palcach przypadku
rozwija się i zwija,
rozszerza i kurczy.
Dopiero co jak obrus,
a już jak chusteczka.
Zgadnij kogo spotkałam,
i to gdzie, w Kanadzie,
i to po ilu latach.
Myslałam, że nie żyje,
a on w mercedesie.
W samolocie do Aten.
Na stadionie w Tokio.
Przypadek obraca w rękach kalejdoskop.
Migocą w nim miliardy kolorowych szkiełek.
I raptem szkiełko Jasia
brzdęk o szkiełko Małgosi.
Wyobraź sobie, w tym samym hotelu.
Twarzą w twarz w windzie.
W sklepie z zabawkami.
Na skrzyżowaniu Szewskiej z Jagiellońską.
Przypadek jest spowity w pelerynę.
Giną w niej i odnajdują się rzeczy.
Natknąłem się niechcący.
Schyliłam się i podniosłam.
Patrzę, a to ta łyżka
z ukradzionej zastawy .
Gdyby nie bransoletka,
nie rozpoznałabym Oli,
a na ten zegar natrafiłem w Płocku.
Przypadek zagląda nam głęboko w oczy.
Głowa zaczyna ciążyć.
Opadają powieki.
Chce nam się śmiać i płakać,
bo to nie do wiary ―
z czwartej B na ten okręt,
coś w tym musi być.
Chce nam się wołać,
jaki świat jest mały,
jak łatwo go pochwycić
w otwarte ramiona.
I jeszcze chwilę wypełnia nas radość
rozjaśniająca i złudna.
Sessão
O acaso mostra seus truques.
Ele tira da manga um cálice de conhaque
e junto dele faz Henryk se sentar.
Eu entro no bistrô e paro pasmo.
Henryk não é ninguém menos
que o irmão do marido de Agnieszka,
e Agnieszka é parenta
do cunhado da tia Zosia.
Chegamos à conclusão que temos um bisavô em comum.
O espaço nos dedos do acaso
se enrola e desenrola,
se amplia e se encolhe.
Mal é uma toalha,
e logo é um lenço.
Adivinhe quem encontrei,
e logo onde, no Canadá,
e isso depois de tantos anos.
Pensava que tinha morrido,
e ele numa Mercedes.
Num avião para Atenas.
Num estádio em Tóquio.
O acaso gira um caleidoscópio em suas mãos.
Nele cintilam milhões de vidrinhos coloridos.
E de repente o vidrinho de João
tim-tim no vidrinho de Maria.
Imagine só, no mesmo hotel.
Cara a cara no elevador.
Na loja de brinquedos.
No cruzamento da Szewska com a Jagiellońska.
O acaso está envolto numa pelerine.
Nela as coisas somem e são achadas.
Tropecei sem querer.
Me abaixei e peguei.
Olho e é aquela colher
do faqueiro roubado.
Se não fosse a pulseira,
eu não reconheceria a Ola,
e esse relógio eu achei em Płock.
O acaso nos olha fundo nos olhos.
A cabeça começa a pesar.
As pálpebras se fecham.
Queremos rir e chorar,
não dá para acreditar ―
Da turma 4B para esse navio,
alguma coisa aí tem.
Queremos gritar,
como o mundo é pequeno,
como é fácil agarrá-lo
nos braços abertos.
E por um momento ainda nos enchemos de uma alegria
esclarecedora e ilusória.
Portret z pamięci
Wszystko na pozór się zgadza.
Kształt głowy, rysy twarzy, wzrost, sylwetka.
Jednak nie jest podobny.
Może nie w takiej pozie?
W innym kolorycie?
Może bardziej z profilu,
jakby się za czymś oglądał?
Gdyby coś trzymał w rękach?
Książkę własną? Cudzą?
Mapę? Lornetkę? Kołowrotek wędki?
I niechby co innego miał na sobie?
Wrześniowy mundur? Obozowy pasiak?
Wiatrówkę z tamtej szafy?
Albo – jak w drodze do drugiego brzegu –
po kostki, po kolana, po pas, po szyję
już zanurzony? Nagi?
I gdyby domalować mu tu jakieś tło?
Na przykład łąkę jeszcze nie skoszoną?
Szuwary? Brzozy? Piękne chmurne niebo?
Może brakuje kogoś obok niego?
Z kim spierał się? Żartował?
Grał w karty? Popijał?
Ktoś z rodziny? Przyjaciół?
Kilka kobiet? Jedna?
Może stojący w oknie?
Wychodzący z bramy?
Z psem przybłędą u nogi?
W solidarnym tłumie?
Nie, nie, to na nic.
Powinien być sam,
jak niektórym przystało.
I chyba nie tak poufale, z bliska?
Dalej? I jeszcze dalej?
W najzupełniejszej już głębi obrazu?
Skąd, gdyby nawet wołał,
nie doszedłby głos?
A co na pierwszym planie?
Ach, cokolwiek.
I tylko pod warunkiem, że będzie to ptak
przelatujący właśnie.
retrato da memória
Tudo está aparentemente conforme.
Formato da cabeça, traços do rosto, altura, silhueta.
Mesmo assim, não é semelhante.
Quem sabe em outra posição?
Com outro colorido?
Talvez mais de perfil,
como se procurasse algo?
Como se segurasse algo nas mãos?
Um livro seu? Ou de alguém?
Um mapa? Binóculos? Uma vara de pescar?
E se ele vestisse uma roupa diferente?
O uniforme de setembro? As listras do campo de concentração?
A jaqueta corta-vento daquele armário?
Ou ― como no caminho para a outra margem ―
até os calcanhares, os joelhos, a cintura, o pescoço,
já submerso? Nu?
E se pintássemos um pano de fundo para ele?
Por exemplo, um prado ainda não podado?
Um juncal? Bétulas? Um lindo céu nublado?
Será que falta alguém ao lado dele?
Alguém com quem discutiu? Gracejou?
Jogou cartas? Bebeu?
Alguém da família? Um amigo?
Algumas mulheres? Uma só?
Quem sabe de pé junto à janela?
Saindo pelo portão?
Com o cão vadio rondando suas pernas?
Numa multidão solidária?
Não, não é nada disso.
Ele deveria estar sozinho,
como convém a alguns.
E quem sabe de modo não tão familiar?
Mais longe? De mais longe ainda?
No fundo mais fundo do quadro?
Lá onde mesmo que ele gritasse
sua voz aqui não chegasse?
E no primeiro plano?
Ah, qualquer coisa.
Mas sob condição de ser o pássaro
que passa voando agora.
Dłoń
Dwadzieścia siedem kości,
trzydzieści pięć mięśni,
około dwóch tysięcy komórek nerwowych
w każdej opuszce naszych pięciu palców.
To zupełnie wystarczy,
żeby napisać „Mein Kampf”
albo „Chatkę Puchatka”.
A mão
Vinte e sete ossos,
trinta e cinco músculos,
cerca de duas mil células nervosas
em cada polpa de nossos cinco dedos.
Isso basta completamente
para escrever “Mein Kampf”
ou “O Ursinho Puff”.
SOBRE A TRADUTORA
Eneida Favre: carioca descendente de imigrantes poloneses. Formada em Medicina pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro UERJ e em Letras Polonês pela Universidade Federal do Estado do Paraná UFPR. Dedica-se atualmente à tradução de literatura polonesa. Em 2015 recebeu um prêmio do Instituto do Livro da Polônia pela tradução de um conto de Andrzej Stasiuk. Já traduziu prosa e poesia de autores como Wisława Szymborska, Stanisław Lem, Adam Zagajewski, Wojciech Tochman, Anna Bikont e Joanna Szczęsna, entre outros.