Reflexões sobre a obra de Trisha Brown – Giovana Ursini

Reflexões sobre a obra de Trisha Brown

Giovana Ursini*

                                                                          “Accumulation” (1973), Trisha Brown

 

Trisha Brown é uma coréografa e bailarina americana que se destacou na dança contemporânea. A sua arte se valeu de vários elementos e conceitos. Segundo Britanny Brown, 

O seu estilo se deslocou e se transformou entre rigor estrutural, eloquência, estratégias para resolver problemas, improvisos, humor físico, sistemas de estrutura lógica, espaços alternativos, interação do público, eco e o seu próprio estilo de movimento que é vigoroso, fluido, multifocal e flexível. (BROWN, 2000, p.2, tradução minha).

 

Além disso, o trabalho Trisha Brown tem forte relação com os fatos políticos e as mudanças sociais que acontecem ao longo dos anos. Para Britanny Brown,  

A evolução da coreografia de Brown claramente representa a mudança social dos anos 60 até os dias atuais. Ela criou trabalhos em ciclos de três danças, explorando uma movimentação que incorpore quase tudo desde arquitetura sofisticada até a simplicidade de um gesto qualquer. (…) Quando ela começou a explorar coreografias nos anos 60, seu estilo era comum, ordinário e minimalista. Ele carregava a ideia de que o movimento deveria ser reduzido até o nível menor de percepção. Com a atenção social para a indústria nos anos 70, Brown alterou o seu foco para gestos mecânicos e sistemas de estrutura lógico-matemáticos e conceituais complexos que criaram uma inspiração para seu trabalho até 1979, quando ela fez uma mudança dramática em sua inspiração coreográfica.
Nessa mesma época, a Trisha Brown Dance Company se tinha ido de um grupo inovador do centro para um grupo de renome internacional em apenas dez anos.
(BROWN, 2000, p.3, tradução minha)

 

É possível afirmar que as coreografias de Trisha Brown sofreram intervenções diretas das mudanças sociais. Dessa forma, o trabalho da coreógrafa foi se transformando para se adequar as épocas presentes. Consequentemente, a sua companhia de dança acabou se valorizando e ganhando reconhecimento por todo o mundo em poucos anos de existência.

E, Trisha Brown acreditava que o movimento deveria ser reduzido a sua mínima percepção e deveria ser minimalista. Com isso, a coreógrafa queria “(…) abordar o movimento em sua forma mais pura e em seu contexto mais puro. Por meio disso, apresentar o gesto de uma forma não idealizada para levar a novas possibilidades.” (BROWN, 2000, p.15, tradução minha). Isto é, Brown queria trabalhar a organicidade dos movimentos utilizando as suas menores formas perceptivas.

Nessa mesma época, em meados dos anos 60, Trisha Brown utilizava outras técnicas para construir a sua obra. De acordo com Britanny Brown,

 

Ela aprendeu a criar improvisações estruturadas, estabelecer limites e limitações do trabalho a favor ou contra. Movimentos ordinários foram apresentados em extraordinárias circunstâncias e buscaram as ações e reações naturalmente forçadas ao trabalho solo e ao dueto. Outras características da investigação de  Brown nesse momento eram, movimentos esvoaçantes, calma, queda, imagens áreas das performances (por artistas e para o público) e a utilização de equipamento externos para observar movimento de planos ou de qualidades diferentes. (BROWN, 2000, p.16, tradução minha).

 É possível perceber que mesmo com dificuldades naturais ao trabalho, a coreógrafa conseguia desenvolver novas formas estéticas que a consagraram na dança contemporânea.

Portanto,

Movimentos não representacionais (ou movimentos sem significado específico) foram executados em um nível de profissionalismo e auto-aceitação que foram amplamente valorizados, (…). Assim, [essa movimentação] tornou-se importante apenas para descobrir o que ela poderia fazer como um único indivíduo, alcançando suas próprias limitações pessoais(…).Trisha nunca confrontou diretamente a imagem do dançarino como separada da dança. O objetivo era a clareza e não nececessariamente a beleza.(BROWN, 2000, p.15-p.16, tradução minha).

Por meio dessa citação, analisamos que a coréografa pretendia se distanciar das danças tradicionais como o balé clássico e a dança moderna que exigem do bailarino movimentos pré-concebidos, belos e com significação. Na verdade, o que ela pretendia era clareza e percepção corporal de seus dançarinos sem se preocupar com a estética clássica do resultado final.

Isto é, diferente de outros coreógrafos, Brown acreditava que as apresentações da sua obra deveriam ter a participação dos espectadores. Por meio da descrição de Britanny Brown entendemos como esse fenômeno era presente na obra dessa coreógrafa,

[Em uma de suas apresentações] Brown se moveu em torno da periferia do espaço de atuação de joelhos, diretamente na frente do público e olhou-os nos olhos. Foi um contraste direto com muitos bailarinos que propositadamente tinham evitado olhar para alguma pessoa da plateia, optando por olhar além e acima do público, de modo a parecer que eles estavam vendo todos. Nesta performance, ela decidiu enfrentar o olhar do público, não de forma dramática ou de confronto, mas apenas fazendo uma observação de cada. Este foi o início de seu estudo em performance interativa. (BROWN, 2000, p.18, tradução minha).

Assim, Trisha Brown conseguir transformar suas apresentações de dança, pois o público acabou ganhando espaço de observador direto da sua obra. Dessa forma, suas performances acabaram sendo estudadas como performances interativas.

Como exemplo desse elemento na obra de Trisha Brown, temos a peça improvisada Yellowbelly de 1969. Nessa apresentação, Brown pede para a plateia interferir na sua apresentação, gritando “Yellowbelly”. De acordo com Britanny Brown,

Essa peça demonstra o confronto entre o performer e o público, desafiando performer e os seus medos; e a audiência e as suas expectativas e inibições. O verdadeiro assunto da dança é um estudo da interação e o que ela causa. Primeiro, a pergunta: Será que o público concorda em participar, expressando uma reação que não é necessariamente como eles se sentem sobre isso? E em segundo lugar: Será que o dançarino esquece a próxima fase do movimento após a interação com o público? Estas eram perguntas interativas que a interessavam  ao longo de sua carreira. (BROWN, 2000, p.19, tradução minha).

O mais interessante nesse método de interação é que ao mesmo tempo em que o bailarino era desafiado pelo público; o público também era desafiado pelo bailarino.

Assim, no final dos anos 60, Trisha Brown começou a utilizar equipamentos tecnológicos para auxiliar as suas apresentações.  Para Brown, 

Foi em 1968 que Brown começou a construir danças que começaram a ser conhecidas como “peças equipadas”. Essas danças usavam vários sistemas de suportes externos como cordas, polias, faixas, cabos, alpinismo, engrenagem e uma gigante placa perfurada, em ordem de criar uma ilusão de movimento natural contra as forças do peso e da gravidade. (BROWN, 2000, p.19, tradução minha).

Com isso, pode-se concluir que por meio da tecnologia, a coreógrafa pretendia auxiliar na organicidade das movimentações de seus bailarinos em cena. Isso acontecia porque os diferentes equipamentos eram utilizados como forças que poderiam auxiliar ou prejudicar o desempenho do artista durante uma apresentação.

Por conclusão, percebemos que Trisha Brown tem um papel significante na história da dança contemporânea.  Esse fenômeno ocorre porque Brown se apoderou de novos elementos e novas tecnologias para auxiliar o trabalho de seus bailarinos. Também, a alteração do papel do público na apresentação acabou por enriquecer a sua nova linguagem na dança.

 

Referência Bibliográfica:  

BROWN,Britanny Trisha Brown- The evolution of a Choreographer. Disponível em <http://www.danceceres.org/trishabrown.pdf> Acesso em 22/10/2013.

 

*Mestranda na UFSC.