“Seis Personagens à Procura de Autor” e “A tragédia de um Personagem” de Luigi Pirandello – Priscila Andreza de Souza

Florianópolis, 06 de junho de 2011

“SEIS PERSONAGENS À PROCURA DE AUTOR” E “A TRAGÉDIA DE UM PERSONAGEM” DE LUIGI PIRANDELLO

Por Priscila Andreza de Souza*

Luigi Pirandello (1867 – 1936) foi dramaturgo, poeta, contista e romancista siciliano. Inovador do teatro, conhecido pela sua originalidade e humor. Ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1934. “Seis personagens à procura de um autor” é considerada uma das principais obras do escritor, se fosse para traduzi-la em uma palavra seria: metateatro. Pirandello expõe o processo criativo do autor, como encenar, no palco e como ficção e realidade estão fundidas e se confundem várias vezes na peça, que se inicia com o diretor e atores em um ensaio, quando seis personagens (o Pai, a Mãe, o Filho, a Enteada, o Rapazinho e a Menina) invadem o teatro à procura de um autor, já que este após criá-los os abandonou. Apesar das discussões iniciais, o diretor aceita ser dirigir seus dramas. Os personagens anseiam contar seus dramas, cada um defende o seu trauma. A história se resume assim: O Pai deixa a Mãe ir embora com seu ex-secretário a qual ela tinha grande afinidade. Mas ele morre e a Mãe sofre dificuldades financeiras e se torna costureira; a Enteada se prostitui e certa vez o Pai vai à “casa” onde ela trabalha e quase cometem um “incesto”. O Filho foi mandado para o campo e quando volta está frio e distante. Por fim, a Menina se afoga no lago e o Rapazinho se mata com um tiro de revólver. Esse drama é o assunto secundário.
O principal é o metateatro, repito. No prefácio da peça, o autor anuncia as intenções de seus personagens: “Mas os personagens (criaturas mentais) afligem o autor: inserem-se entre suas idéias, ocupam seu tempo e sua imaginação, querem realizar artisticamente, querem representar sua história (seu drama) no lugar mais apropriado para um drama: no palco.” Isso traduz a ação de invasão dos seis personagens e comparando com o conto, “A tragédia de um personagem”, é o que deseja o doutor Fileno, para ele foi feita uma história, mas não satisfeito com o desenlace procura outro autor (Pirandello) para ter uma segunda chance de viver seu drama.
Pirandello usa do humor na fala do personagem Pai para criticar a profissão de atores e diretores: “Digo que o que pode sim ser considerado uma loucura […] é criar absurdos verossímeis, para poderem parecer verdadeiros.” E emendo em outra crítica, qual seja, os personagens são mais verdadeiros que os seres humanos, pois aqueles uma vez criados são imortais (com seus dramas fixos) e os humanos estão em metamorfose frequentemente. Qual seria a mais verdadeira: ficção ou realidade? Esta pergunta permeia toda a peça e também o conto de Pirandello. Para ilustrar, transcrevo uma fala do doutor Fileno, do conto citado acima: “Quem nasce personagem, quem tem a ventura de nascer personagem vivo, pode até mesmo esnobar a morte. Não morre mais! Morrerá o homem, o escritor, instrumento natural da criação; a criatura não morre mais!”
Pode-se perceber que o objetivo de Pirandello é mostrar, questionar e brincar com a arte de escrever. Ele defende a idéia que a fantasia trabalha para ele e não o contrário e usa figuras criadas para aprofundar a observação do ato de criar conscientemente.

*Aluna do Curso de Artes Cênicas da UFSC