“Os Andaimes da Retórica”, Winston S. Churchill – Tradução de Rodrigo Conçole Lage

Os Andaimes da Retórica de Winston S. Churchill[1]

Tradução de Rodrigo Conçole Lage *

 

The Scaffolding of Rhetoric é um ensaio de Churchill, escrito em novembro de 1897, que não chegou a ser publicado pelo autor. Algumas de suas ideias foram utilizadas, posteriormente, no romance Savrola. Apesar de Churchill afirmar que vai apresentar seis elementos que todo orador deve adotar, não há unanimidade entre os estudiosos a respeito de quantos ele apresenta. Os números variam entre quatro, cinco e seis; sendo que a “presença marcante” seria o sexto. Seja como for, seguindo a ordem do próprio ensaio, adoto a ideia de que desenvolveu cinco deles: correção de dicção, ritmo, acumulação de argumentos, analogia e uma tendência a selvagem extravagância da linguagem. Adoto essa divisão porque entendo que o trecho que está assinalado com um cinco em romanos é uma continuação do quarto.

 

Winston Churchill

Winston Churchill

Os Andaimes da Retórica

Novembro 1897

Por Winston S. Churchill

 

De todos os talentos concedidos ao homem, nenhum é tão precioso como o dom da oratória. Quem o possui tem um poder mais durável que o de um grande rei. Ele é uma força independente no mundo. Abandonado por seu partido, traído por seus amigos, despojado de seus postos, quem conseguir comandar esse poder ainda é formidável. Muitos observaram seus efeitos. Uma reunião de graves cidadãos, protegidos por todo o cinismo destes prosaicos dias, é incapaz de resistir a sua influência. Do indiferente silêncio eles avançam para a relutante aprovação e daí para o pleno acordo com o orador. Os aplausos[2] tornam-se mais altos e mais frequentes; o entusiasmo aumenta momentaneamente; até que eles são agitados por emoções que são incapazes de controlar e sacudidos por paixões das quais eles renunciaram a direção[3].

Entretanto, é livremente escrito e frequentemente comentado que o dia da oratória está passando. A notícia de jornal e o conhecimento crescente do homem teriam, dizem, levado ao declínio da retórica. Agora, nenhum retórico seria capaz de admitir que sua arte havia perdido seus poderes, e se essa proposição é geralmente afirmada, a conclusão que segue é que não existem atualmente oradores. Mas disso, de modo algum, segue que o futuro seja igualmente estéril.

Era uma vez um partido no estado que pensava que o poder da personalidade na política era coisa do passado, que tomou como um mote “Medidas, não o Homem”[4], e imediatamente seguiu cegamente um grande homem por trinta anos. A fraqueza humana parece ser uma das poucas características invariáveis da vida e estamos convencidos de que aquelas forças primárias que desde a mais remota antiguidade tem atraído os homens continuarão a influenciar suas ações. As partes sentimental e emocional da mente humana ainda vão ganhar novo vigor da propagação da educação e da facilidade das relações sexuais.

Nem esta crença depende somente da especulação. As pessoas dos Estados Unidos da América são mais altamente instruídas do que qualquer outra grande comunidade no mundo. Tudo o que pode ser acrescentando ao aperfeiçoamento do indivíduo, seja por invenções materiais ou instituições políticas, é encontrado lá em maior proporção do que em outros lugares. Em nenhum país, de fato, tão grande volume de opinião pública educada existe e, também, em nenhum país a influência da oratória é tão marcante.

A natureza de tão grande e permanente força pode muito bem reivindicar e tem frequentemente recebido uma cuidadosa investigação. É nata ou adquirida? Funciona para o bem ou para o mal? É real ou artificial? São estas as perguntas que os filósofos, desde os dias de Aristóteles, têm refletido. E não continuam sem resposta. Contudo, no que diz respeito à oratória dos povos de língua inglesa, há espaço para informações complementares. Parece que existem certos elementos inerentes em toda retórica: Na pintura, em parte, arranjos mecânicos de cor dão prazer aos olhos. Na música, certas combinações de acordes[5] e dissonâncias[6] são agradáveis aos ouvidos. E a arte da oratória também tem seus “valores” e sua “base minuciosa”: e examinar isto é o ambicioso objetivo deste artigo.

Como a análise avança devemos observar que o poder retórico não é nem totalmente concedido nem totalmente adquirido, mas cultivado. O temperamento peculiar e os talentos do orador devem ser seus por natureza. Seu desenvolvimento é encorajado pela prática. O orador é real. A retórica é parcialmente artificial. Parcialmente, mas não totalmente; para a natureza do artista é o espírito de sua arte, e muito do que parece ser o resultado do estudo é devido ao instinto. Se examinarmos este estranho ser à luz da história, nós descobriremos que ele é um personagem simpático, sentimental e sincero: que ele é, muitas vezes, tão facilmente influenciado pelos outros quanto os outros são por ele.

De fato, o orador é a encarnação das paixões da multidão. Antes de poder inspirá-los com qualquer emoção ele deve ser influenciado por ele mesmo. Quando ele desperta sua indignação seu coração se enche de ira. Antes que ele possa mover as lágrimas deles suas próprias devem fluir. Para convencê-los, ele deve acreditar em si mesmo. Suas opiniões podem mudar à medida que suas impressões desaparecem, mas cada orador sabe o que ele diz no momento em que ele diz. Ele pode ser muitas vezes inconsistente. Ele nunca é conscientemente insincero.

O domínio da matéria sobre a mente, seu rebelde escravo, é neste estado de desenvolvimento humano quase absoluto: não podemos prosseguir com esta investigação sem considerar brevemente os atributos físicos indispensáveis do orador. Em primeiro lugar, uma presença marcante é uma necessidade. Frequentemente pequeno, feio ou deformado, ele é investido com uma importância pessoal, que varia em todos os casos, desafiando definições. Às vezes, um ligeiro e não desagradável gaguejar ou deficiência[7] foi de alguma ajuda para obter a atenção da plateia, mas geralmente uma clara e ressonante voz dá expressão ao seu pensamento.

O direto, embora não o admitido, objeto que o orador tem em vista é acalmar as influências comuns e as faculdades críticas de sua plateia, apresentando à sua imaginação uma série de impressões vívidas que são substituídas antes que possam ser examinadas cuidadosamente e desaparecem antes que possam ser atacadas. Os seguintes parecem ser os seis elementos principais através dos quais este objeto é alcançado.

I. Correção da dicção. O conhecimento de uma língua é medido pela boa e exata apreciação[8] das palavras. Não há elemento mais importante na técnica da retórica do que o emprego contínuo da melhor palavra possível. Em qualquer parte do discurso ela deve, em cada caso, absolutamente expressar o pleno sentido do orador. Ela não pode deixar espaço para alternativas. Palavras existem em virtude de regras não arbitrárias, mas que evoluíram pelo bom gosto e experiência da humanidade e o instinto da linguagem está muito profundamente implantado no caráter humano.

Existem poucas plateias tão ignorantes a ponto de serem incapazes de admirarem a correta dicção, mesmo quando elas nunca ouviram a palavra anteriormente, se for usada corretamente entenderão seu significado. O escocês tem sido descrito como um povo “stern and dour” [severo e severo]. “Dour[9]” é uma palavra rara e incomum: mas o que mais poderia transmitir à mente anglo-saxã do que o caráter das pessoas de uma terra fria, cinzenta, severa, justa, econômica e religiosa. Tão poderoso, de fato, é o fascínio da expressão correta que não só influencia a plateia, mas algumas vezes induz o orador, sem prejuízo de sua sinceridade, a adaptar seus princípios à suas frases.

Os irrefletidos muitas vezes imaginam que os efeitos da oratória são produzidos pelo uso de palavras longas. O erro desta ideia surge do que foi escrito. As palavras curtas de uma língua são normalmente as mais antigas. Seu significado está mais enraizado no caráter nacional e elas apelam com mais força para os entendimentos simplórios do que as palavras recentemente introduzidas do Latim e do Grego. Todos os discursos dos grandes retóricos ingleses, exceto quando dirigidos a plateias extremamente cultas, exibem uma preferência uniforme por palavras curtas e familiares de uso comum, desde que essas palavras possam expressar plenamente seus pensamentos e sentimentos. Basta mencionar como famoso exemplo o nome de John Bright[10].

De fato, os grandes ditos da maioria dos países foram expressos em palavras aborígenes. “Wir fuerchten allein Gott[11]” disse Bismarck, e assim deu um impulso à nação alemã, que ainda não morreu. O que pode ser mais simples? As palavras empregadas são todas aquelas que a mente humana desenvolveu primeiro.

II. Ritmo. A grande influência do som no cérebro humano é bem conhecida. As frases do orador quando ele apela para sua arte tornam-se longas, rolantes e sonoras. O peculiar equilíbrio das frases produz uma cadência que se assemelha ao verso branco mais do que a prosa. Seria fácil multiplicar os exemplos já que quase todas as perorações[12] famosas na língua inglesa podem ser citadas. Nós preferimos fazer alusão somente as linhas iniciais do “Rasselas”[13] do Dr. Johnson como um notável exemplo de correção da dicção e ritmo que, em um discurso, não poderia ter deixado de produzir um tremendo efeito sobre uma plateia.

III. Acumulação de Argumentos. O clímax da oratória é alcançado por uma rápida sucessão de ondas de som e imagens vívidas. A plateia fica encantada com as mudanças de cenas apresentadas à sua imaginação. Seu ouvido sente cócegas com o ritmo da linguagem. O entusiasmo aumenta. Uma série de fatos é apresentada, todos apontando em uma direção comum. O fim aparece à vista antes de ser atingido. O publico antecipa a conclusão e as últimas palavras caem em meio ao ribombar do assentimento.

IV. Analogia. A afeição da mente por argumentos por analogia pode proporcionar um tema fértil ao filósofo cínico. A ambição dos seres humanos de expandir seu conhecimento favorece a crença de que o desconhecido é só uma extensão do conhecido: que o abstrato e o concreto são regidos por princípios similares: que o finito e o infinito são homogêneos. Uma analogia adequada conecta ou parece conectar essas esferas distantes. Apela ao conhecimento cotidiano do ouvinte e convida-o a resolver os problemas que desconcertaram seus poderes da razão pelo padrão do berçário e do coração.

Argumento por analogia leva à convicção em vez da comprovação, e muitas vezes levou a erros gritantes. Apesar dos argumentos do cínico, a influência exercida sobre a mente humana por analogias apt[14] é, e sempre foi, imensa. Se elas traduzem uma verdade estabelecida em linguagem simples ou se elas aventureiramente aspiram a revelar o desconhecido, elas estão entre as mais formidáveis armas do retórico. O efeito sobre a mais cultivada plateia é elétrico.[15]

 

V. “Elas (Guerras de fronteira) são apenas a espuma que marca a orla e o avanço da onda de civilização”. (Lorde Salisbury[16]. Guildhall[17].)[18]

 

“Nosso domínio na Índia é, por assim dizer, uma camada de óleo espalhada sobre, e mantendo livre das tempestades, um vasto e profundo oceano da humanidade”. (Lorde Randolph Churchill[19].)[20]

 

“Uma nação forte não pode mais estar confiante de suas liberdades do que uma mulher pura de sua honra”. (Bispo de Derry[21]. Albert Hall[22], 1892)

 

“….cuja (companheiros de Wilke[23]) moral não estava com mais perigo de ser corrompida por um livro solto do que um negro ficar bronzeado por um sol quente”. (Lorde Macaulay[24]. Essay on the Earl of Chatham[25].)[26]

 

É impossível imaginar qualquer forma de argumento que possa manter o campo em face destas, ou similares, analogias. Uma dessas vai fazer um discurso ou arruinará uma medida.[27]

VI. Uma tendência a selvagem extravagância da linguagem, a extravagância tão selvagem que o recuo do razão é evidente, na maioria das perorações. As emoções do orador e dos ouvintes são igualmente suscitadas e é preciso encontrar algumas expressões que irão representar tudo o que eles estão sentindo. Estas normalmente encarnam numa forma extrema os princípios que elas estão apoiando. Assim o Sr. Pitt que deseja elogiar a liberdade possuída pelos ingleses:

 

“O homem mais pobre pode, em sua cabana, lançar um desafio a todas as forças da Coroa. Pode ser fraco; seu telhado pode tremer: o vento pode soprar através dele; as tempestades podem entrar, a chuva pode entrar, mas o Rei da Inglaterra não pode entrar! Todas as suas forças não ousam cruzar o limiar da arruinada habitação”. (Conde de Chatham[28], Discurso sobre a Lei do Imposto[29])

 

Ou o Sr. Bryan, ansioso para mostrar a superioridade da prata sobre um padrão ouro: “Você não deve pressionar uma coroa de espinhos sobre a testa do trabalhador ou crucificar a humanidade numa cruz de ouro”. (Sr. Bryan[30]. Discurso. 1896.)

O efeito de tais extravagâncias numa luta política é tremendo. Elas se tornam as palavras de ordem dos partidos e os credos das nacionalidades. Mas sobre a plateia o efeito é reduzir a pressão, como quando uma válvula de segurança é aberta.

Suas emoções são mais do que adequadamente expressadas. Seu entusiasmo ferveu. O orador que quisesse incitar sua plateia a um ato de violência daria seguimento a seu argumento acumulativo, seus períodos rítmicos, seus vívidos quadros de palavras, com uma conclusão moderada e razoável. A bebida refrigerada será recusada ao sedento. As válvulas de segurança serão aparafusadas e as pessoas vão sair à noite para encontrar a expressão de seus próprios sentimentos. Mas uma circunstância afortunada protege a sociedade deste perigo. O homem que pode inspirar a multidão com palavras, está tal como já tínhamos observado, sob sua própria influência. Ele não pode resistir ao desejo de expressar suas opiniões numa forma extrema ou levar seu argumento a culminação. Se não fosse este astucioso contrapeso retórico há muito que teria sido julgado um crime.

Entendemos que, por esta análise, nós apresentamos o elemento principal do oratória inglesa. Tão detalhado e desconectado, um exame da estrutura favorece a impressão de que a retórica deverá ser considerada como uma ciência artificial, que pode ser adquirida por qualquer um que possua as qualificações físicas. A experiência mostra que esta conclusão está incorreta. Em todo o país estão homens que falam bem e fluentemente, que dedicam oportunidade, talento e perseverança para melhorar sua fala e sem nunca merecerem ser chamados de oradores.

A sutil arte de combinar os vários elementos que separadamente não significam nada e coletivamente significam muito, em uma proporção harmoniosa, é conhecida por muito poucos. Nem poderá ser transmitida por eles aos outros. A natureza guarda bem seus segredos e para[31] a boca daqueles em quem ela confia. Mas, como o químico não se desespera de, por fim, atravessar o abismo entre o orgânico e o inorgânico e de criar o microcosmo vivente de seus elementos primordiais, o estudante de retórica pode entregar-se a esperança de que a Natureza finalmente cederá, com observação e perseverança, a chave para os corações dos homens.

The Scaffolding of Rhetoric

November 1897

By Winston S. Churchill

 

Of all the talents bestowed upon men, none is so precious as the gift of oratory. He who enjoys it wields a power more durable than that of a great king. He is an independent force in the world. Abandoned by his party, betrayed by his friends, stripped of his offices, whoever can command this power is still formidable. Many have watched its effects. A meeting of grave citizens, protected by all the cynicism of these prosaic days, is unable to resist its influence. From unresponsive silence they advance to grudging approval and thence to complete agreement with the speaker. The cheers become louder and more frequent; the enthusiasm momentarily increases; until they are convulsed by emotions they are unable to control and shaken by passions of which they have resigned the direction.

It is however freely written and frequently remarked that the day of oratory is passing. The newspaper report and the growing knowledge of men have, it is said, led to the decline of rhetoric. Now no rhetorician would be likely to admit that his art had lost its powers, and if this proposition be generally affirmed, the conclusion follows that there are at present no orators. But it by no means follows that the future will be equally barren.

There was once a party in the state that thought that the power of personality in politics was a thing of the past, that took as a motto “Measures not Men”, and forthwith proceeded to blindly follow a great man for thirty years. Human weakness appears to be one of the few unvarying features of life and we are convinced that those primary forces which from earliest antiquity have appealed to men will continue to influence their actions. The sentimental and emotional parts of the human mind will even derive new vigour from the spread of education and the easiness of intercourse.

Nor does this belief depend on speculation alone. The people of the United States of America are more highly educated than any other great community in the world. Whatever can add to the improvement of the individual whether by material inventions or political institutions is there found in greater proportion than elsewhere. In no country does so great a volume of educated public opinion exist and yet in no country is the influence of oratory so marked.

The nature of so great and permanent a force may well claim and has often received careful investigation. Is it born or acquired? Does it work for good or ill? Is it real or artificial? Such are the questions that philosophers from the days of Aristotle have revolved. Nor do they remain unanswered. And yet, with respect to the oratory of the English speaking peoples, there is room for further inquiry. It appears that there are certain elements inherent in all rhetoric: that there are certain features common to all the finest speeches in the English language. In painting partly mechanical arrangements of colour give pleasure to the eye. In music certain combinations of chords and discords are agreeable to the ear. And the art of oratory has also its ‘values’ and its ‘thorough base’: and this it is the ambitious aim of this article to examine.

As the analysis proceeds we shall observe that rhetorical power is neither wholly bestowed nor wholly acquired, but cultivated. The peculiar temperament and talents of the orator must be his by nature. Their development is encouraged by practice. The orator is real. The rhetoric is partly artificial. Partly, but not wholly; for the nature of the artist is the spirit of his art, and much that appears to be the result of study is due to instinct. If we examine this strange being by the light of history we shall discover that he is in character sympathetic, sentimental and earnest: that he is often as easily influenced by others as others are by him.

Indeed the orator is the embodiment of the passions of the multitude. Before he can inspire them with any emotion he must be swayed by it himself. When he would rouse their indignation his heart is filled with anger. Before he can move their tears his own must flow. To convince them he must himself believe. His opinions may change as their impressions fade, but every orator means what he says at the moment he says it. He may be often inconsistent. He is never consciously insincere.

The dominion of matter over mind her rebellious slave, is in this state of human development almost absolute: nor can we proceed with this inquiry without briefly considering the indispensable physical attributes of the orator. First of all a striking presence is a necessity. Often small, ugly or deformed he is invested with a personal significance, which varying in every case defies definition. Sometimes a slight and not unpleasing stammer or impediment has been of some assistance in securing the attention of the audience, but usually a clear and resonant voice gives expression of his thoughts.

The direct, though not the admitted, object which the orator has in view is to allay the commonplace influences and critical faculties of his audience, by presenting to their imaginations a series of vivid impressions which are replaced before they can be too closely examined and vanish before they can be assailed. The following appear to be the six principal elements by which this object is attained.

I. Correctness of diction. Knowledge of a language is measured by the nice and exact appreciation of words. There is no more important element in the technique of rhetoric than the continual employment of the best possible word. Whatever part of speech it is it must in each case absolutely express the full meaning of the speaker. It will leave no room for alternatives. Words exist in virtue of no arbitrary rule but have been evolved by the taste and experience of mankind and the instinct of language is implanted very deeply in the human character.

There are few audiences so ignorant as to be incapable of admiring correct diction for even if they have never heard the word before they will, if it be rightly used understand its meaning. The Scotch have been described as a “stern and dour” folk. “Dour” is a rare and uncommon word: but what else could it convey to the AngloSaxon mind than the character of the people of a cold, grey land, severe, just, thrifty and religious. So powerful indeed is the fascination of correct expression that it not only influences the audience, but sometimes even induces the orator, without prejudice to his sincerity, to adapt his principles to his phrases.

The unreflecting often imagine that the effects of oratory are produced by the use of long words. The error of this idea will appear from what has been written. The shorter words of a language are usually the more ancient. Their meaning is more ingrained in the national character and they appeal with greater force to simple understandings than words recently introduced from the Latin and the Greek. All the speeches of great English rhetoricians except when addressing highly cultured audiences display an uniform preference for short, homely words of common usage so long as such words can fully express their thoughts and feelings. It suffices to mention as a famous example the name of John Bright.

Indeed the great sayings of most countries have been expressed in aboriginal words. “Wir fuerchten allein Gott” said Bismarck, and thereby gave an impulse to the German nation which has not yet died away. What can be more simple? The words employed are all among those that the human mind would earliest evolve.

II. Rhythm. The great influence of sound on the human brain is well known. The sentences of the orator when he appeals to his art become long, rolling and sonorous. The peculiar balance of the phrases produces a cadence which resembles blank verse rather than prose. It would be easy to multiply examples since nearly every famous peroration in the English language might be quoted. We prefer to allude only to the opening lines of Dr. Johnson’s “Rasselas” as a remarkable instance of correctness of diction and rhythm which in a speech could not have failed to produce a tremendous effect upon an audience.

III. Accumulation of Argument. The climax of oratory is reached by a rapid succession of waves of sound and vivid pictures. The audience is delighted by the changing scenes presented to their imagination. Their ear is tickled by the rhythm of the language. The enthusiasm rises. A series of facts is brought forward all pointing in a common direction. The end appears in view before it is reached. The crowd anticipate the conclusion and the last words fall amid a thunder of assent.

IV. Analogy. The affection of the mind for argument by analogy may afford a fertile theme to the cynical philosopher. The ambition of human beings to extend their knowledge favours the belief that the unknown is only an extension of the known: that the abstract and the concrete are ruled by similar principles: that the finite and the infinite are homogeneous. An apt analogy connects or appears to connect these distant spheres. It appeals to the everyday knowledge of the hearer and invites him to decide the problems that have baffled his powers of reason by the standard of the nursery and the heart.

Argument by analogy leads to conviction rather than to proof, and has often led to glaring error. In spite of the arguments of the cynic the influence exercised over the human mind by apt analogies is and has always been immense. Whether they translate an established truth into simple language or whether they adventurously aspire to reveal the unknown, they are among the most formidable weapons of the rhetorician. The effect upon the most cultivated audience is electrical.

 

V[32]. “They (Frontier wars) are but the surf that marks the edge and advance of the wave of civilisation”. (Lord Salisbury. Guildhall.)[33]

 

“Our rule in India is, as it were, a sheet of oil spread over and keeping free from storms a vast and profound ocean of humanity”. (Lord Randolph Churchill.)[34]

 

“A strong nation may no more be confiding of its liberties than a pure woman of her honour”. (Bishop of Derry. Albert Hall, 1892)

 

“….whose (Wilke’s companions) morals were in no more danger of being corrupted by a loose book than a negro of being tanned by a warm sun”. (Lord Macaulay. Essay on the Earl of Chatham.)

 

It is impossible to imagine any form of argument that could keep the field in the face of these or similar analogies. One such will make a speech or mar a measure.

  1. [35] A tendency to wild extravagance of language to extravagance so wild that reason recoils is evident in most perorations. The emotions of the speaker and the listeners are alike aroused and some expression must be found that will represent all they are feeling. This usually embodies in an extreme form the principles they are supporting. Thus Mr. Pitt wishing to eulogise the freedom possessed by Englishmen:

 

“The poorest man may in his cottage bid defiance to all the forces of the Crown. It may be frail; its roof may shake: the wind may blow through it; the storms may enter, the rain may enter but the King of England cannot enter! All his forces dare not cross the threshold of the ruined tenement”. (Earl of Chatham. Speech on the Excise Bill.)

 

Or Mr. Bryan anxious to display the superiority of a silver over a gold standard: “You shall not press a crown of thorns upon the brow of labour or crucify humanity on a cross of gold”. (Mr. Bryan. Speech. 1896.)

The effect of such extravagances on a political struggle is tremendous. They become the watchwords of parties and the creeds of nationalities. But upon the audience the effect is to reduce pressure as when a safety valve is opened.

Their feelings are more than adequately expressed. Their enthusiasm has boiled over. The orator who wished to incite his audience to a deed of violence would follow his accumulative argument, his rhythmical periods, his vivid word‐pictures, by a moderate and reasonable conclusion. The cooling drink will be withheld from the thirsty man. The safety valves will be screwed down and the people will go out into the night to find the expression of their feelings for themselves. But a fortunate circumstance protects society from this danger. The man who can inspire the crowd by words, is as we have already observed, under their influence himself. Nor can he resist the desire to express his opinions in an extreme form or to carry his argument to the culmination. But for this cunning counterpoise rhetoric would long since have been adjudged a crime.

We conceive that by this analysis we have displayed the principal element of English oratory. So detailed and disconnected an examination of the structure favours the impression that rhetoric is to be regarded as an artificial science, which may be acquired by any who possess the physical qualifications. Experience shows that this conclusion would be incorrect. Throughout the country are men who speak well and fluently, who devote opportunity, talent and perseverance to improving their speaking and yet never deserve to be called orators.

The subtle art of combining the various elements that separately mean nothing and collectively mean so much in an harmonious proportion is known to a very few. Nor can it ever be imparted by them to others. Nature guards her secrets well and stops the mouths of those in whom she confides. But as the Chemist does not despair of ultimately bridging the chasm between the organic and the inorganic and of creating the living microcosm from its primordial elements, so the student of rhetoric may indulge the hope that Nature will finally yield to observation and perseverance, the key to the hearts of men.

 

Notas:

 

[1] O site da The International Churchill Society apresenta duas versões diferentes do texto. Nossa tradução é uma combinação de características das duas e, em nota, assinalamos as divergências encontradas. A primeira versão, que aparentemente é uma transcrição do manuscrito do escritor, está disponível em: <https://www.winstonchurchill.org/images/pdfs/for_educators/THE_SCAFFOLDING_OF_RHETORIC.pdf>. A segunda, da qual adotamos, em parte, a reconfiguração dos parágrafos, está disponível em: <http://www.winstonchurchill.org/publications/finest-hour/finest-hour-094/the-scaffolding-of-rhetoric>.

[2] A palavra cheers também pode ser traduzida como vivas ou gritos de aclamação.

[3] Com o sentido de comandar.

[4] “Measures, not men” é uma frase que aparece na peça Good-natured Man de Oliver Goldsmith, escrita em 1768. Posteriormente, será reaproveitada por políticos, como Henry Addington que, em 1801, disse num discurso: “Away with the cant of ‘Measures, not men’!”; e pelo Lorde Chanceler Henry Brougham que, em 1830, disse: “It is necessary that I should qualify the doctrine of its being not men, but measures, that I am determined to support. In a monarchy it is the duty of parliament to look at the men as well as at the measures”. Disponível em: <http://www.bartleby.com/344/65.html>.

[5] É um conjunto harmônico de três ou mais notas que se ouve como se estivessem soando simultaneamente.

[6] É uma reunião de sons desagradáveis ao ouvido.

[7] Impediment também poderia ser traduzido como embaraço ou defeito.

[8] No sentido de avaliação

[9] Stern e Dour tem igualmente o sentido de severo, rígido.

[10] John Bright (Rochdale, Inglaterra, 16 de novembro de 1811 – 27 de março de 1889) foi um político liberal e radical britânico, membro da Câmara dos Comuns de 1843 a 1889, tendo sido considerado um dos maiores oradores de seu tempo.

[11] “Tememos só a Deus”, em português. Não foi possível identificar a fonte dessa frase.

[12] A peroração, segundo a retórica clássica, é a conclusão do discurso.

[13] Se refere ao livro The History of Rasselas, Prince of Abissinia de Samuel Johnson.

[14] Apt analogies é uma figura de linguagem, uma analogia na qual se explica uma nova ideia comparando-a com algo familiar e simples. Ex: Um microfone é como uma garota esperando para ser beijada. Disponível em: <http://westsidetoastmasters.com/resources/powerspeak/lib0152.html>.

[15] Na segunda versão do texto o ponto final foi substituido pelo dois pontos. Apesar da mudança ser coerente mantivemos a da primeira versão.

[16] Robert Arthur Talbot Gascoyne-Cecil, 3º Marquês de Salisbury (3 de fevereiro de 1830 – 22 de agosto de 1903), foi um político britânico, três vezes Primeiro-ministro do Reino Unido, tendo atuado treze anos como chefe de governo.

[17] O Guildhall é um edifício na cidade de Londres. Foi a sede do município de Londres durante vários séculos.

[18] Na primeira versão desse texto (nota 1), a citação vem acompanhada da anotação cuja tradução é: “Data de referência?”

[19] Lorde Randolph Henry Spencer-Churchill (13 de fevereiro de 1849 – 24 de janeiro de 1895) foi um nobre e estadista britânico, pai de sir Winston Churchill.

[20] Na primeira versão desse texto (nota 1), a citação vem acompanhada da anotação cuja tradução é: “referência?”

[21] O bispo de Derry nessa data era John Keys O’Doherty, cargo que exerceu entre 1889 e 1907. Disponível em: <http://www.catholic-hierarchy.org/bishop/bodohj.html>.

[22] O Albert Hall é um salão de espetáculos localizado em South Kensington, Londres, com capacidade para quase 6.000 pessoas. Foi inaugurado a 29 de março de 1871 pela rainha Vitória, em memória do seu falecido consorte Alberto de Saxe-Coburgo-Gota.

[23] Se refere ao político e jornalista  John Wilkes (17 October 1725 – 26 December 1797).

[24] Thomas Babington Macaulay (Leicestershire, 25 de outubro de 1800 – 28 de dezembro de 1859) foi um poeta, historiador e político britânico, whig, do século XIX. Ele está enterrado na Abadia de Westminster.

[25] Citação da obra The second essay on the Earl of Chatham, de 1892.

[26] A segunda versão do texto (nota 1) omite essa citação, mas como ela aparece na primeira nós a mantivemos.

[27] Na primeira versão do texto (nota 1) esse parágrafo é antecedido pelo número VI, na segunda ele foi omitido.

[28] William Pitt, 1o Conde de Chatham (15 de novembro de 1708 – 11 de maio de 1788) foi ministro da Guerra durante a guerra dos Sete Anos, quando conduziu a Inglaterra à vitória sobre a França; foi também primeiro-ministro de 1766 a 1768.

[29] Discurso pronunciado na Câmara dos Comuns em março de 1763 contra o Cider Act de 1763, uma lei proposta pelo Marquês de Bute para se colocar um imposto sobre a produção de cidra (4 shillings por barril). A revolta gerada contra ela é comparada as críticas feitas a Lei do Selo. Seu discurso foi o principal ataque a essa lei.

[30] William Jennings Bryan (Março 19, 1860 – Julho 26, 1925) foi um orador norte-americano e político do Nebraska.

[31] Do verbo parar.

[32] Esse número é omitido na segunda versão do texto (nota 1).

[33] Na primeira versão do texto (nota 1) essa citação vem acompanhada da seguinte anotação: “reference Date?”.

[34] Na primeira versão do texto (nota 1) essa citação vem acompanhada da seguinte anotação: “reference?”.

[35] Esse número é omitido na segunda versão do texto (nota 1).

 

* Graduado em História (UNIFSJ). Especialização em História Militar (UNISUL).