Butoh: expressão e movimento na identidade cultural da dança contemporânea – Fabrício Gastaldi

Butoh: expressão e movimento na identidade cultural da dança contemporânea

Fabrício Gastaldi*

 

As raízes do Butoh são fixadas em um Japão pós segunda Guerra Mundial. Este estilo intencionalmente busca romper com as formas preconcebidas da dança, destruindo o arquétipo do ensino tradicional da dança, quebrando as formas preestabelecidas e as convenções associadas à arte.

O Butoh nasce segundo Maura Baiocchi de diferentes paradoxos. Criado a partir da influência de Baku Ishi, primeiro dançarino moderno de importância japonês de  Tatsumi Hijikata e deKazuo Ohno, principais nomes do Butoh, que também foram influenciados pelo dadaísmo, surrealismo e performance.

Os dançarinos/atores/performes do Butoh, sobreviviam dançando nus em caberás, cobertos de tintas, buscando experienciar a natureza da sexualidade/erotismo, a relação do espaço e lançando seus corpos aos limites e a extremas condições.

O Butoh até os dias de hoje ainda agita a reflexão sobre a vida e a identidade do corpo enquanto produtor e sediador da cultura.

Em uma análise mais  profunda sobre o movimento butoniano é percebida a ligação com a terra, existe uma convergência de toda energia corporal para os pés, o que pode demonstrar a reflexão sobre a necessidade de liberdade e a própria subversão que permite uma encarnação de muitas expressões, como um corpo que se prepara para ser o veículo condutor e produtor de todas as manifestações indivuduais, como questões relativas à sexualidade e aos tabus da tradicionalidade.

O Butoh é sem dúvida uma matriz de expansão dos limites da mente e do corpo, combinando a experiência e a condição momentânea, sujeita a mutações, com a investigação sobre o imutável, a essência das coisas ou princípios universais também existente em nossa alma e consciência transitórias.

O Butoh não é padronizado como outras escolas de dança, que em suma possuem tratados e convenções sobre passos e posições, é uma dança sem convenções coreográficas, ele é mais uma tentativa de linguagem corporal e uma viagem particular do que uma história ou sensação que deve ser transmitida ou absorvida.

“A dança Butoh seria a arte essencial que amplia os horizontes do pensamento sobre questões do homem enquanto ser cósmico e reelabora a função integradora e universal da arte enquanto fenômeno de libertação e expansão das consciências”.

Durante as performances os bailarinos “Butoh” aparentemente estão como em estado hipnótico, num transe, obedecendo a comandos internos, talvez por isso a qualidade tão exótica da movimentação. Cada um tem sua própria dança, seu próprio discurso interior, mas há uma linha que os conduz, que harmoniza e realiza as coreografias. Como Ohno diz, “essa dança é de improvisação e muito perigosa”.

Ainda segundo Solange Caldeira “Há um efeito de vertigem no olhar. A obra é uma espécie de moldura para a autocontemplação de um olhar que encara o vazio existencial. O trabalho exige uma autoconsciência, ao mesmo tempo ampla e localizada, muito difícil pelos paradoxos constantes. É necessário luz para se ver o oculto, e este oculto está dentro de cada um”.

Para concluirmos esta pequena crítica sobre Butoh selecionamos um vídeo para exemplificarmos tudo o que foi dito anteriormente.

 https://www.youtube.com/watch?v=sUsEZTEOfMc

 Após esta visualização é possível entendermos melhor as bases do Butoh, percebendo esse corpo que caminha para frente em direção a um passado imemorial e que nas palavras do próprio Ohno se traduz: “Dentro de cada pessoa existe uma energia mais potente e feroz que qualquer bomba atômica”.

 

*Aluno do curso de Artes Cênicas UFSC