Las Vasijas Quebradas, Cuatro variaciones sobre “la tarea del traductor”, de Andrés Claro – Elys Regina Zils e Mary Anne Warken S. Sobottka

Las Vasijas Quebradas, Cuatro variaciones sobre “la tarea del traductor”, de Andrés Claro

 

Elys Regina Zils[1]

Mary Anne Warken S. Sobottka[2]

CLARO, Andrés. Las Vasijas Quebradas, Cuatro variaciones sobre “la tarea del traductor”. Santiago, Chile: Colección Pensamiento Contemporáneo – Ediciones Diego Portales, 2012, 1143 p.

 

Resumo

A presente resenha tem como objetivo apresentar o livro Las Vasijas Quebradas, Cuatro variaciones sobre “la tarea del traductor”, de Andrés Claro, de 2012 e, especificamente, o resumo de dois capítulos da obra. O autor chileno, através de um trabalho ensaístico e de crítica, dedica-se aos Estudos de Tradução do texto e abre novos caminhos para a teoria e prática de tradução. Desse modo, o livro apresenta um referencial bibliográfico importante, especialmente para aqueles tradutores que pensam o poético e a complexidade de sua tradução, elencando questões culturais e estéticas na tradução.

 

Palavras-chave:  Tradução; Poética; Claro; Filosofia.

 

A história dos Estudos da Tradução iniciou no continente europeu e, como sabemos, as referências mais destacadas para a reflexão das obras literárias traduzidas são, em grande medida, de importantes teóricos e pensadores que registraram suas considerações nos idiomas francês, alemão ou inglês. São essas reflexões que embasam e fundamentam o olhar do que é tradução.

Contudo, atualmente, na mesma proporção que os Estudos da Tradução e o trabalho do tradutor ganham visibilidade, as pesquisas e reflexões sobre essa tarefa ganham espaço, e assim, cada vez mais, surgem importantes trabalhos publicados na América Latina que discutem e trazem novas reflexões para a área de Estudos da Tradução.

Nessa resenha, apresentamos o trabalho de um autor chileno, Andrés Claro, que, em sua obra Las Vasijas Quebradas, traz importantes referências dos Estudos da Tradução no âmbito internacional, dialogando e colaborando para a construção de um olhar atual e latino-americano sobre a tradução.

Andrés Claro (Santiago, Chile, 1968) é ensaísta, filósofo e docente. De sua vasta trajetória e extenso currículo, destacamos que realizou estudos de pós-graduação na École des Hautes Études em Sciences Sociales (Paris), sob a orientação de Jacques Derrida.  Publicou vários ensaios sobre poética, cultura e teoria da linguagem, além de traduções de poemas, assim como duas coleções de poemas de sua autoria. Para ele, as formas de linguagem poética configuram nossa maneira de habitar o mundo e de entendê-lo. Publicou vários ensaios, entre eles La Creación: figuras del poema, configuraciones del mundo (2014). No Chile, na Universidad de Chile, ministra junto a Pablo Oyarzún (1950-) destacado ensaísta, filósofo e tradutor chileno, seminários que englobam o título geral “Lenguaje, fuerza poética y mundo” com enfoque sobre as visões e operações da linguagem ao longo da história.

Claro é conferencista convidado para o “II Congreso Bienal de la Red Latinoamericana de Estudios de Traducción e Interpretación” em Córdoba, Argentina, previsto para setembro de 2018. Nessa oportunidade, o autor fará uma conferência sobre o seu livro Las Vasijas Quebradas Cuatro variaciones sobre “la tarea del traductor”. Escrita no idioma espanhol, é uma obra que pode ser considerada ainda inédita no Brasil, e sem dúvidas referência importante para os Estudos da Tradução.

A obra[3] está dividida da seguinte forma: Prefácio com o título El motivo de la Traducción, a primeira parte: Primera variación – La Copa Rota está dividida em seis capítulos. A segunda parte, com o título: Segunda variaciónSymbolon divide-se também em seis capítulos. A terceira parte, sob o título Tercera variación, Ticún, consta de quatro capítulos e a parte final, chamada Cuarta variación, Shevirat Há-Kelim tem três capítulos. O epílogo, com o título El mito de Babel encerra a obra e as notas finais apresentam a bibliografia, o índice onomástico e o índice de conteúdo.

O prefácio, cujo título é El motivo de la traducción, aclara o ponto de vista e como irá dedicar-se à questão tradutória, nesse texto o autor destaca a tradução poética, e a coloca como “caso límite” para a tradução (p. 11). Sobre o lugar da tradução e sua evidência, o autor discorre sobre a marginalidade em que foi posta a tradução na história intelectual do ocidente, que pode ser considerada “la actividad más compleja del cérebro humano” (p. 14).  Na sequência, encontramos a primeira variação: La copa rota – Contrato amoroso y renuncia a la apropiación: resistencia a la posesión, traslado e imitación del sentido.  Andrés Claro leva o seu leitor a pensar o problema da tradução, principalmente no que se refere aos seus limites. O que nos remete ao símbolo benjaminiano das “vasijas quebradas”. Trata-se de considerar implicações, como as questões semânticas e epistemológicas e as perdas inevitáveis, mas também da tradução como utopia, de reconstituição.

Esta seção ocupa-se em grande parte dos pensamentos de Sigmund Freud abordados em sua obra La interpretación de los sueños ([1899] 1900), como também de outras obras freudianas. Destaca-se aqui o capítulo 4, Tercera traición: Hermeneia, interpretatio, “análisis”: la traducción/interpretación del lenguaje de los sueños (una analogía digresiva) (p. 122-143).

Inicia-se mencionando que Jakobson diferencia três formas de tradução: Intralingual, Interlingual e a Intersemiótica. Essa última seria a interpretação de signo linguísticos por meio de sistemas de signos não linguísticos (p. 122). Segue a reflexão da tradução como interpretação, recordando que por muitos séculos o tradutor foi chamado simplesmente de interprete, como alguém que facilita a compreensão de um texto escrito em outra língua (p. 123). A tradução como interpretação, como o transporte e a imitação do sentido na outra margem do rio, abrange a discussão do que é essencial e acessório, entre significado e adorno. Por este caminho, Claro conduz a discussão para outras operações consideradas análogas, no caso a tradução intersemiótica, onde a língua natural seria “traduzida” ou “interpretada” por outros sistemas de signos e vice-versa (p. 124). E se formos confrontar o resultado com as pretensões ideais do tradutor, Freud se apresenta com um dos legados mais frutíferos, por compreender tanto de processos psíquicos como do trabalho do analista como “operações de traduções”, como traduções intersemióticas, de acordo com a terminologia de Jakobson. (p. 124)

Como expõe Claro, Freud utiliza a palavra “tradução” para um número importante de operações diferentes relacionadas aos processos psíquicos. No que se refere a tarefa psicanalítica, tanto a interpretação do analista como a passagem do material do inconsciente para o consciente também seriam operações de tradução. Porém a “repressão” seria uma “falha de tradução” (p. 125). Nesse sentido, surge a indagação do quanto o adágio italiano, “Traduttore, Traditore”, cabe nessas operações psíquicas e analíticas da psicanálise consideradas tarefas tradutoras.

A reflexão freudiana parece poder iluminar a tradução, principalmente no que ser refere ao “trabalho do sonho” e a “interpretação do analista” que têm a pretensão de serem traduções estritamente simétricas e inversas, como transposição e interpretação. Ou ainda, pelo próprio Freud que faz analogias entre os processos psíquicos e formas sofisticadas de linguagens e de escrita. Mas até que ponto esta analogia com a tradução é adequada para descrever o funcionamento do psíquico e o trabalho do analista, como também qual seria o resultado da tradução nesses âmbitos. Inclusive, cabe a indagação se as dificuldades da análise como “interpretação” não seriam as mesmas dificuldades constitutivas da tradução. Pois, segundo Claro, as reflexões feitas até então aproximam essas operações dos sonhos e do analista mais com os impasses e transformações da tradução do que com a interpretação. (p. 127)

Na sequência, no segundo apartado, o trabalho do sonho é apresentado como “desfiguração onírica” e também concebido como “tradução”. Uma vez que as ideias latentes e o conteúdo manifesto do sonho são como duas encenações do mesmo conteúdo em duas línguas diferentes, ou seja, o conteúdo manifesto aparece como uma transferência das ideias latentes a uma distinta forma expressiva, cujos signos e regras de construção aprendemos com a comparação do original com a tradução. (p. 128)

Contudo, o conteúdo nas duas línguas sofre uma serie de transformações em seu interior, como a condensação, o deslocamento e a transformação, que são semelhantes aos da criação poética (podem ser representados de forma pictórica) e mantêm analogias com a tradução literária (p. 128). Ou seja, o sonho manifesto aparece como uma tradução, as estratégias que o forjam são como operações tradutórias, são importantes e não simples transposição do sentido original. O próprio Freud aponta duas formas de tradução, uma tradicional, mais fiel aos elementos, e outra como própria do “trabalho do sonho”, na qual a transposição seria menos mecânica e mais criativa. (p. 129)

A conclusão importante das estratégias do sonho, é a noção de tradução como uma transposição entre dois sistemas de signos onde não existe correspondência fixa e unívoca a nível dos elementos individuais, senão onde uns caem no processo, outros se transformam e outros se reforçam.

A continuação, já no terceiro apartado, o autor toca novamente na questão da interpretação, no sentido de que a tradução deveria restituir o sentido do original. A interpretação do analista seria a tradução de um conteúdo estável (pensamento latente) a partir de uma linguagem desconhecida e arcaica (linguagem do sonho manifesto) a uma linguagem conhecida (que se usa em vigília). Freud afirma que a complexidade estaria em que o sonho manifesto se caracteriza por uma linguagem com predomínio de imagens, e a dificuldade estaria em traduzir essas imagens com palavras. Nesse sentido, Andrés Claro aponta que de todas as formas de significação poéticas da linguagem que “sobrepasan el sentido referencial o llano – las acústicas, las imágenes y las contextuales – las formas de significación visuales, por hipóstasis o yuxtaposición de imágenes, son aquellas que se dejan traducir mejor”[4] (p. 134). Com essas considerações em mente, levanta-se a pregunta se realmente é possível traduzir sem perdas o sentido do sonho manifesto, os pensamentos latentes para a língua natural? Sim, se todas as imagens e demais elementos do sonho fossem símbolos (no sentido de imagem de sentido universal), assim bastaria a substituição. Porém Freud mesmo chama a atenção que não é tão simples. O simbolismo passa pelo trabalho da censura, ou seja da desfiguração do sonho, sem contar que muitos os símbolos, assim chamados por Freud, são muitas vezes, metáforas e sinédoque. Assim, Freud afirma que os símbolos unívocos são uma pequena porção dos signos do sonho, sendo que a maior parte dos elementos oníricos tem um significado individual, forjados por uma criatividade como a do poeta. (p. 137)

Posteriormente, Freud levanta a interrogação: “¿Puede proporcionarse para cada producto de la vida onírica una tradición completa y segura al modo de expresión de la vida despierta?”[5] (p. 140). Sua resposta é negativa e reconhece como dificuldade a priori, pois em uma tradução não se alcança a totalidade do sentido dos elementos do sonho, sendo que podem ser polissêmicos. Indo um pouco mais adiante, Claro acrescenta que a escrita do sonho não só polissêmica como também instável (tradução ativa que impede reconstruir o original) (p. 141), que resulta que a análise, a interpretação e a tradução, possam ser algo interminável (p. 143).

Claro retrata que não tem a intenção de desprestigiar a tarefa do tradutor, nem ser pessimista sobre suas limitações, mas insinuar algumas esferas no que se refere a suas promessas e traições, especificamente nas operações de tradução intersemiótica assimiladas à interpretação, com sua pretensão de restituir o sentido pleno do original (p. 143). Inclusive, falando da analogia da transposição intersemiótica do analista com a tradução propriamente, afirma que é preciso deixar de ver apenas como perda, com sentimento de nostalgia e fracasso, para adotar uma visão mais positiva. (p. 144)

O outro capítulo que escolhemos destacar nessa resenha está na Segunda Variación – “Simbolon” Vasija Quebrada como pacto de hospitalidade: la ley de acogida entre las lenguas, segunda parte do livro que se divide em quatro variações. Destacamos o texto I: Traducción como respuesta a la ley de hospitalidad: las relaciones entre lo extranjero y lo proprio (p. 193-222).

Essa seção inicia-se com a menção à renúncia de Walter Benjamin ao entender a tradução como “transmissão de conteúdos” para um destinatário. Logo depois de citar Benjamin na página inicial desse capítulo, Claro ressalta a característica da tradução como sendo antes de tudo uma forma, e comenta que em Benjamin a tradução é apresentada como uma “forma” cuja “lei” está contida no original, sendo assim, também uma performance que responderá à traduzibilidade inscrita no original. No seguinte parágrafo, o ensaísta comenta a necessidade que certas obras têm de serem traduzidas e que podem não somente permitir-se serem traduzidas, mas que podem “exigir” a tradução, e esse seria um caminho, uma saída que se direcionaria às outras obras. (p. 196)

Claro ressalta que a tradução se localiza em um “horizonte ético amplo” que irá muito além das questões de fidelidade ou das possibilidades e direitos de transformação ou não. As interrogantes apresentadas pelo autor no parágrafo seguinte colocam em questão como atuaria (operaria) uma lei que exige desde o texto original? Interroga também, se não é transpasso, restituição de sentido ou representação o que ordena então? Responde mencionando a palavra que dá título ao capítulo: “hospitalidade”. O autor destaca que em Benjamin, se evidencia a necessidade de “encontrar na própria língua atitudes e lugares” em que seria possível dar resposta e acolher, assim sendo, “fazer-se eco” da língua e texto, que são estrangeiros. Ao citar Benjamin, o autor remete à reflexão das diferenças da tradução e da obra literária, marcando suas divergências. Claro comenta em seu texto a importância do papel do tradutor que deve “prestar su voz y responder cuando se le habla” [6] (p. 198), sublinha também a sensibilidade que deve ter o tradutor, ele não é aquele que falará primeiro, mas deve fazer sentir a voz do outro. Andrés Claro chama de operação de hospitalidade essa determinação que deve ter a tradução, um mecanismo que vai responder a essa recepção, e afirma: “La traducción queda más bien determinada como una operación de hospitalidad que responde a la voz de allende activando los comportamientos y abriendo lugares en que la lengua propria es capaz de acoger, de dejar de resonar, la obra y la lengua extranjeras” [7] (CLARO, 2012, p. 198).

Andrés Claro alude a palavra symbolon, elencada aos fragmentos – possível motivo para as “vasilhas quebradas” – são esses pedaços de algo que se rompeu que podem possibilitar, acolhimento e reconhecimento que Claro chama de pacto de hospitalidade. Desse modo, como afirma o autor, são reconhecidos direitos anteriores sobre o que é próprio. Sobre a dificuldade do acolhimento, depende das características desse que recepciona. O autor ressalta que a tradução seria uma operação de hospitalidade por excelência. Essa experiência aceita e afirma vínculo com a língua, a literatura e a cultura estrangeiras, assim, enfatiza que se abrem espaços onde possam acomodar-se no próprio. (p. 199)

Para Andrés Claro, a dificuldade de acolhida vai acentuar-se caso o estrangeiro se mostre arisco, ou seja, não mostre de forma clara suas condições e exigências. Evidencia que independentemente dos resultados e soluções adotados, toda a tradução vai configurar-se como um encontro, que o autor chama “encontro exemplar” com o estrangeiro (p. 200). Claro cita referências importantes, entre elas Derrida, Schleiermacher e Goethe, para discutir a questão da recepção do estrangeiro, sua cultura, sua língua e a possível “interferência” que essa pode causar. (p. 201)

Nas seguintes páginas, o autor traz as considerações de Schleiermacher para pensar a tradução e as diferentes concepções da tradução no que se refere à recepção do estrangeiro no próprio e as relações implicadas nessa aproximação. Resgata que para Schleiermacher, o tradutor “genuíno” teria que colocar-se como um especialista que domina a língua estrangeira, sem compará-la com a sua em cada momento como um colegial, mas, sim, mover-se com desenvoltura, disfrutando do conjunto, sem deixar de perceber sua diferença e alteridade (p. 213). Claro comenta que se faz necessário, de acordo a visão de Schleiermacher, aguçar o sentido linguístico lendo várias traduções para a toma de consciência das particularidades de cada uma das línguas estrangeiras, percebendo a cultura e especificidades de determinado autor e a relação que esse estabelece com a cultura e língua próprias. (p. 217)

Na página 219, Andrés Claro posiciona a Schleiermacher, comentando o aporte de suas contribuições e em contraste com as reflexões de Benjamin com respeito à hospitalidade do estrangeiro, não somente em benefício próprio, já que, em Benjamin, os efeitos do estrangeiro seriam eventos que não poderiam ser presumíveis, ou previstos, portanto, dificilmente poderiam ser calculados antecipadamente (p. 218-219). Mais adiante, coloca em evidência duas concepções tradicionais com respeito à obra estrangeira, uma “fidelidade a estrutura sintática e questões formais” e a outra uma “fidelidade ao espírito”, relacionando essa reflexão às considerações de Borges referentes à tradução. Prossegue com um recorrido sobre as concepções ao longo dos séculos, evidenciando que somente a partir do século XX começou-se a vislumbrar a “dicotomia clássica anterior” (p. 220).

Nas duas últimas páginas desse capítulo, são mencionados os poetas-tradutores Friederich Hölderlin e Ezra Pound em sintonia com a visão de Walter Benjamin, que traz um outro olhar para a tradução. Nas palavras de Andrés Claro: “un pensamiento más vasto de la traducción, precisamente en la medida en que sobrepasan los puntos de vista de la retórica clásica y la hermenéutica moderna a partir de la perspectiva que les ofrece la literatura”[8] (p. 221). Nas considerações finais desse capítulo, o autor retoma as reflexões citadas no texto, dialogando com um pensar contemporâneo sobre as “formas de tradução” que estiveram presentes ao longo da história ocidental. Coloca em questão se, ao traduzir, passamos de uma língua até outra, de uma cultura para outra, para capturar, escravizar ou abrir espaço de acolhimento e convivência com o que é estrangeiro e o próprio. Claro afirma que essa seria a “encruzilhada” deixada por Schleiermacher, a que descoloca o centro no próprio e força a recepção das diferenças. O autor finaliza com interrogações muito pertinentes para a reflexão do traduzir, dessas citamos apenas uma aqui, que pode sintetizar tais interrogantes e que, finaliza a resenha: Quais são os direitos e os deveres do tradutor? (p. 222). Deixamos essa interrogação como forma de convite para a leitura do livro.

 

Considerações finais

A obra é uma importante fonte de referências sobre os Estudos de Tradução, indo do arcaico ao contemporâneo. Com uma linguagem empática com leitor, o trabalho publicado no continente americano se torna um significativo aporte para desenvolver reflexões filosóficas e estéticas sobre a tarefa do tradutor e oferece ferramentas para pensar a tradução poética, considerando seus desafios, sua complexidade e beleza. Em seu modo de ver a tradução, são valorizadas formas de traduzir em consonância com traduções como as que fez Nicanor Parra, da obra King Lear de Shakespeare, que sob o título: Lear Rey & Mendigo (2004), apresentou uma tradução que articulou o texto em uma linguagem chilena para dar expressão à escrita de uma obra e escritor consagrados. Para Claro, essa tradução, que aqui no Brasil poderia ser vista como “transcriação”, está entre as traduções que: “Son opciones válidas y que pueden ser particularmente fieles a las originales. Dos momentos separados por una distancia enorme de tiempo, logran generar contextos de recepción. Así, una obra del pasado logra una posvida” [9]  (CLARO, 2012, s.p.). Por uma questão de espaço e afinidades, destacamos as considerações envolvendo Walter Benjamin e Sigmund Freud, porém o vasto trabalho de Claro, apresentado neste livro, é ainda mais amplo.

 

Referências

CLARO, Andrés. Santiago. Entrevista. Rádio Ojo en tinta, 2012.

Disponível em: <http://www.ojoentinta.com/andres-claro-la-tarea-del-traductor-es-por-definicion-un-fracaso/>. Acesso em mar. 2018.

[1] Possui graduação em Letras-Língua Espanhola e Literaturas e mestrado em Estudos da Tradução pela PGET/Universidade Federal de Santa Catarina – Florianópolis/Brasil. Contato: elysre@gmail.com

[2] Possui graduação em Letras-Língua Espanhola e Literaturas e mestrado em Estudos da Tradução pela PGET/Universidade Federal de Santa Catarina, atualmente é doutoranda neste mesmo programa de pós-graduação (PGET/UFSC) – Florianópolis/Brasil. Contato: warkenespanholufsc@gmail.com

[3] Sobre a materialidade da obra, comentamos que é uma edição volumosa, de mil cento quarenta páginas.

[4] sobrepasam o sentido referencial ou plano – as acústicas, as imagens e as contextuais – as formas de significação visual, pela hipóstase ou justaposição de imagens, são aquelas que se permitem traduzir melhor. (CLARO, 2012, p. 134)

[5] Pode-se proporcionar para cada produto da vida onírica uma tradição completa e segura no modo de expressão da vida desperta. (FREUD apud CLARO, 2012, p. 140)

[6] emprestar sua voz e responder quando se lhe fala. (CLARO, 2012, p. 198)

[7] A tradução fica de certa forma determinada como uma operação de hospitalidade que responde a uma voz “outra” ativando comportamentos e abrindo lugares nos quais a língua própria é capaz de acolher, de deixar de ressoar, a obra e a língua estrangeiras. (CLARO, 2012, p. 198)

[8] Um pensamento mais amplo de tradução, justamente na medida em que vai além dos pontos de vista da retórica clássica e da hermenêutica moderna a partir da perspectiva oferecida pela literatura. (CLARO, 2012, p. 221)

[9] São opções válidas e que podem ser particularmente fiéis às originais. Dois momentos separados por uma distância enorme de tempo, conseguem gerar contextos de recepção. Assim, uma obra do passado alcança uma pós-vida. Entrevista disponível em: <http://www.ojoentinta.com/andres-claro-la-tarea-del-traductor-es-por-definicion-un-fracaso/>.