O que aconteceu (Peça em cinco atos), de Gertrude Stein, Tradução de Luci Collin

Florianópolis, 28 de agosto de 2011

O QUE ACONTECEU*

Peça em Cinco Atos

Gertrude Stein

(1913)

Getrude Stein, por Pablo Picasso

Tradução: Luci Collin**

ATO UM
(Um.)
Sonoro e sem catarata. Nem todo incômodo é deprimente.
(Cinco.)
Uma só soma quatro e cinco juntos e um, nem todo sol um claro sinal e uma troca.
O silêncio está na benção e perseguição e coincidências estando maduras. Uma simples melancolia claramente preciosa e na superfície e cercada e misturada estranhamente. Uma janela vegetal e claramente mais claramente urna troca em partes e completa.
Um tigre um sobretudo enlevado e cercado seguramente planejado com manchas velho o bastante para ser julgado útil e espirituoso muito espirituoso num segredo e numa agitação ofuscante.
Comprimento o que é comprimento quando o silêncio é tão janeloso. Qual a função de uma ferida se não há nenhuma junta e nenhum puxa-saco e nenhuma etiqueta e nem mesmo um apagador. Qual é a troca mais comum entre rindo mais e o máximo. Descuido é descuido e um bolo bem um bolo é um pó, é muito provável que seja pó, é muito provável que seja bem pior.
Um obturador e só obturador e Natal, muito Natal, um obturador só e um alvo uma cor total em cada centro e fotografar real fotografar e o que pode ouvir, que pode ouvir isso que faz tal estabelecimento provido do que é provisionário.
(Dois.)
A ação urgente não está na bondade não está em relógios não está em rodas-d’água. E a mesma tão essencialmente, é uma preocupação uma real preocupação.
Um silêncio um desperdício total de uma colher deserta, um desperdício total de qualquer pequena lasca, um desperdício total completamente aberto.
(Dois.)
Paralisia por que a paralisia é uma sílaba por que não é mais vivida.
Um sentido especial um sentido muito especial é ridículo.
(Três.)
Sugerindo uma artemísia com um peru e também algo abominável não é a única dor que há em tanto provocar. Há até mesmo mais. Começar uma conferência é um modo estranho de retratar sujas flores de maçã e há mais uso na água, certamente há se lá se estará pescando, água suficiente criaria deserto e até mesmo ameixas secas, faria nada lançar qualquer sombra porque afinal não há humor mais prático numa série de fotografias e também numa escultura traiçoeira.
Qualquer pressa qualquer pequena pressa tem tanta subsistência, tem e escolhendo, tem.
ATO DOIS
(Três.)
Quatro e ninguém ferido, cinco e ninguém florescendo, seis e ninguém eloquente, oito e ninguém sensato.
Um e um erguer de mão esquerda que é tão pesada que não há nenhum modo de pronunciar perfeitamente.
Um ponto de precisão, um ponto de um estranho fogão, um ponto que é tão sóbrio que a razão que sobra é toda a chance de inchar.
(O mesmo três.)
Um largo carvalho um carvalho largo o bastante, um bolo muito largo, um biscoito relâmpago, uma caixa única ampla aberta e trocada recheada da mesma pequena bolsa que brilha.
O estrangeiro melhor o único superior e que se move mais para a esquerda.
A mesma bondade há em todos os limões laranjas maçãs pêras e batatas.
(O mesmo três.)
Uma mesma moldura um portal mais triste, um portão singular e uma desventura entre parênteses.
Um mercado rico onde não há memória de mais lua do que há em todos os lugares e ainda onde estranhamente há vestes e um conjunto completo.
Uma conexão, uma conexão de xícara de marisco, um estudo, um ingresso e um retorno para deter-se.

ATO TRÊS
(Dois.)
Um corte, um corte não é uma fatia, qual é o momento para se representar um corte e uma fatia. Qual é o momento para tudo isso.
Um corte é uma fatia, um corte é a mesma fatia. O motivo pelo qual um corte é uma fatia é que se não há pressa qualquer hora é exatamente tão útil.
(Quatro.)
Um corte e uma fatia há alguma dúvida quando um corte e uma fatia são exatamente o mesmo.
Um corte e uma fatia não tem nenhuma troca especial ela tem uma exceção tão estranha a tudo aquilo que é diferente.
Uma fatia cortada e única, só um corte e só uma fatia, as sobras de um sabor podem sobrar e o saborear é exato.
Um corte e um momento, uma fatia e um substituto uma única pressa e uma circunstância que mostra que, tudo isso é tão razoável quando tudo está claro.
(Um.)
Completamente só com a melhor recepção, completamente só com mais do que a melhor recepção, completamente só com um parágrafo e algo que vale algo, vale quase qualquer coisa, vale o melhor exemplo que há de um arcebispo ocasional pequeno. Isto que é tão limpo é precioso pequeno quando não há água de banho. Muito tempo um tempo muito longo não há uso em um obstáculo que é original e tem uma fonte.

ATO QUATRO
(Quatro e quatro mais.)
Um aniversário, que é um aniversário, um aniversário é um discurso, e uma segunda vez quando há tabaco, é só uma vez quando há veneno. E mais de uma vez quando a ocasião que mostra uma brusca separação ocasional é unânime.
Uma manta, o que é uma manta, uma manta é tão veloz que calor muito calor é mais quente e mais fresco, muito mais fresco quase mais quase mais fresco que em qualquer outro momento muitas vezes.
Uma culpa o que é uma culpa, uma culpa é o que surge e adverte cada um para permanecer calmo e um oceano e uma obra-prima.
Um pires esperto, que é um pires esperto, um pires esperto é provavelmente experiente e tem até dedos do pé, tem coisas minúsculas para sacudir e realmente se não fosse por causa de uma cor azul delicada existiria alguma razão para todo mundo diferir.
A objeção e a perfeita mesa de centro, a tristeza em pedir emprestado e a pressa em um sentimento nervoso, a pergunta isto é realmente uma peste, isto é realmente um oleandro, isto é realmente cor de açafrão, o apetite superável que mostra inclinação para ser mais caloroso, a segurança em um par e a segurança em um pequeno pedaço de estilhaço, a real razão por que cacau é mais barato, o mesmo uso para pão como para qualquer respiração que é mais macia, a conferência e a venda circundante vasta alva suave desigual e distribuída de mais e contudo menos nem é melhor, tudo isso transforma um olhar em uma estação, um chapéu em uma cortina isso em subir mais alto, um desembarque e muitos muitos mais, e muitos mais muitos mais muitos muitos mais.

ATO CINCO
(Dois.)
Um pesar um único pesar faz uma porta de entrada. Que é uma porta de entrada, urna porta de entrada é uma fotografia.
Que é uma fotografia uma fotografia é uma visão e uma visão é sempre uma visão de algo. Provavelmente há uma fotografia que dá cor se há então há aquela cor que não muda mais do que mudou quando havia muito mais uso de fotografia.

* WHAT HAPPENED   A Five Act Play. STEIN, G. Geography and Plays, Boston: Four Seas Company, 1922.

** Graduada em Piano, Letras e Percussão Clássica, fez Mestrado na UFPR sobre o poeta norte-americano Gary Snyder, Doutorado na USP sobre os retratos literários de Gertrude Stein e Pós-Doutorado na USP sobre a poeta irlandesa contemporânea Eiléan Ní Chulleanáin.  Como escritora, recebeu premiações em concursos de literatura no Brasil e nos EUA; também participou de antologias nacionais como Geração 90 – os transgressores (2002) e 25 Mulheres que estão fazendo a literatura brasileira (2004), e internacionais (EUA, Alemanha, Uruguai, Argentina e Peru). Leciona Literaturas de Língua Inglesa e Tradução Literária na UFPR.
Publicações – Poesia: Estarrecer (1984), Espelhar (1991), Esvazio (1991), Ondas e azuis (1992), Poesia reunida (1996), Todo implícito (1998); Contos: Lição Invisível (1997), Precioso impreciso (2001), Inescritos (2004), Vozes num divertimento (2008), Acasos pensados (2008); Traduções: Re-habitar – ensaios e poemas, de Gary Snyder (2005); Etnopoesia no milênio, de Jerome Rothenberg (2006); Contos irlandeses do início do século XX (2007); Congo negro, de Vachel Lindsey (2009); Hábitos do Musgo, de Eiléan Ní Chuilleanáin (2010); A Cela Enorme, de E. E. Cummings (no prelo).