A queda – Thiago Santanna
Florianópolis, 28 de agosto de 2011
A QUEDA
Por Thiago Santanna *
Não sei de que avião pulei
Mas estou caindo
Muito rápido
Vejo o chão lá embaixo
Vou morrer na queda
Isso é certo
O vento é muito forte na cara
Tudo é enorme
Sou Nada
perto de Tudo
O chão lá embaixo é turvo
Não há nitidez
Não sei como é
Nem quando me arrebento…
Mas continuo caindo
Continuo a olhar em volta
e olhando com calma,
tudo tão azul
tão livre
Estaria caindo ou voando?
O Sol observa minha queda,
parado
Eu,
caindo
Livre no céu
De repente, pássaros
De repente, pessoas caindo
do meu lado
aqui e ali
muitas!
De repente, objetos
também caindo
Casas, cinemas
teatros e praias caindo
Ótimos momentos cair com eles
Melhor cair dentro deles,
abraçado à ela
Ponto de apoio
Sinto como se não caísse
Tudo em paz
Mas olho pela janela da casa
que cai comigo
Noite escura ou estrelada
não importa
O vento ainda bate na cara
E o chão lá embaixo
ganha forma
define-se aos poucos
Estranhamente
todos esqueceram que também
caem
Saio pela janela
Sou pesado
Peso cai
é a Lei
Olho os pássaros
dizem voar
Devo tornar-me um?
Não!
uma hora as asas cansam
por mais que jurem o contrário
Então,
o vento sopra em meu ouvido:
devo me tornar o vento!
Começo a senti-lo
em meus pulmões
Dentro de mim
não há mais dúvida
nem medo
Devo ser leve
deixo de ser o peso que sou
deixo de Estar caindo
para Ser
o Ar.
* Aluno do Curso de Artes Cênicas da UFSC