Duas crônicas – Priscila Andreza de Souza

Jéssica – a rabugenta.

Priscila Andreza de Souza*

Era uma vez uma menina que teve uma idéia fantástica, inédita e revolucionária. Sorriu e correu em direção à pessoa mais amada que apareceu em sua frente, tomou fôlego e a desenhou – ignorada foi.
Desestímulo, deboche e rancor tornaram-se seus melhores amigos. Ela cresceu com a idéia brilhante na caixinha escondida no porão da alma. Calada. Percorreu uma milha, duas, três… Não a interrompa, não a acorde, não a dê atenção. Azeda despreza qualquer companhia.
Olhos opacos, cabelos longos sobre a face, passos apressados para a próxima esquina. Não a desconcentre dos pensamentos ocos e da contagem das rugas.
Jéssica Antonieta Rodrigues – morreu em 18 de setembro de 2002. Motivo da morte: enterrada viva. Fato curioso: apenas 5 presentes no velório: sua melhor amiga da quarta série, a mãe, o tio Nê, o coveiro e o Padre José.

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Nicole – a covarde.

Ela sempre tem razão.
Não gosta de riscos, tudo é premeditado.
Foge de competições e de situações de conflito. Vive trocando de ideias.
Resume-se a afirmar com a cabeça e a sorrir.

Animada, adorável e convencida – como uma manhã de sol.
Entretanto, há um lado obscuro que ninguém vê, por trás dessa aparência frágil esconde-se um ser mesquinho, que não imagina perder, pior do que errar é se realmente acertar. Ela rejeita a realidade, por isso segue em ziguezague. Pronta para a queda.

Não escolher também é uma escolha. Vendida.

*cronista