Cinquenta e sete vezes – Fellipe Lee
Cinquenta e sete vezes
Fellipe Lee*
Atravesso o longo sonho.
Estou aqui, ao teu lado, enquanto dormes. Silêncio.
As
formigas estão no teto,
a grama
é
verde,
o céu escuro, eu frio. Eu tento ser
palhaço,
no
humor
que não existe, na solidão sem
ventos.
O
segredo, que guardas de
mim
em tuas memórias – será teu! Leva a
casa que moramos, o quarto, a cama, os
len
çóis –
leva para o teu sono. O teu rosto não é
o mesmo, as tuas mãos e os teus pés
são
como a noite.
Esse longo
sonho não termina,
ele continua no labirinto infindo, um sonho
surreal,
tão
próximo do escuro inicial. Canto às
lembranças, para formarem vida e quebrarem
as pedras mais duras,
mas
as mãos estão
fracas. Esse vestido vermelho
precisa se molhar na chuva
de
inverno, e secar no calor
da
primavera.
Teus olhos
me enxergam.
O que
é
secreto será secreto.
Não há beijos
como
os teus.
Eu
quase quebrei as paredes,
antes
de subir aquelas
escadas.
As tuas mãos me
enxergam. Na pascoa ganho
chocolates. Aquele
dia, fotografei o teu corpo com
a minha mente. Teus cabelos molhados, a toalha nos
pés, as tuas mãos acima
das coxas,
um sorriso que
foi meu. Dez segundos. Vesti o teu corpo de novo,
com
a camisola amarela. Silêncio.
Estás
chorando. Eu também.
É
mágica,
ou algo nosso?
Os
pingos da chuva
na rua,
os pingos ao desligar o
chuveiro, os pingos que
enchem a chaleira, do chá que me
cura a agonia, que me
traz o frio, que me
acolhe no teu colo, que me traz
o teu jeito de
volta, as tuas
confusas sensações, as tuas singelas pinceladas na
cartolina branca. Os
teus óculos
ao assistir filmes
no meu
colo, a tua blusa de lã vermelha, o caminhar na
praia, em busca de conchas, leva-me aos teus sonhos mais
íntimos, leva-
me ao
findar das melodias
mais
*Aluno do curso de Artes Cênicas da UFSC.