“Otelo”, a partir da obra de Shakespeare – Jucimara Costa Wachholz

Otelo, a partir da obra de Shakespeare

Jucimara Costa Wachholz*

 

O grupo Persona Cia de Teatro estreou na quinta-feira, dia 22 de maio, no Teatro Álvares de Carvalho, Otelo. Espetáculo construído a partir da obra de Willian Shakespeare, com direção e adaptação de Jefferson Bittencourt.

A peça, que se passa em uma empresa, inicia já com personagens de forte personalidade, envolvendo os espectadores com a grande fidelidade ao texto sem medo de unir o clássico ao moderno.

A crítica brasileira Barbara Heliodora, em seu ensaio “Otelo, uma tragédia construída sobre uma estrutura cômica”, afirma que, “ao escrever a tragédia de Otelo, Shakespeare usou com suprema mestria um idioma teatral inesperado porem de imensa eficácia, que só poderia ser usado por alguém com grande capacidade de penetração em sua observação da natureza humana e grande domínio de técnicas dramáticas e teatrais”. Temos na peça monólogos, solilóquios por vezes extensos, tensão, humor, intrigas, suspense, terror e violência, que andam juntos também nessa adaptação, o que a torna ainda mais cativante.

Com aparente facilidade o grupo optou por mudar alguns aspectos da peça original, tirando alguns personagens e fazendo mudanças em outros. Iago não é Iago e sim Iara, Luciana Holanda que desempenhou um belo trabalho de interpretação, fazendo de sua personagem uma mulher manipuladora, má e sem escrúpulos para conseguir o que quer no caso ser diretora da empresa de Otelo, que na trama original é um mouro nobre a serviço da República de Veneza.

Trazendo um misto de emoções, movido por ciúme e ambição e por algumas características que remetem a Commedia Dell Arte, embora o elemento propriamente cômico seja obscurecido pelo drama interno dos personagens. Segundo Patrice Pavis, “esse gênero [commedia dell’arte] tem a arte de casar intrigas ao infinito, a partir de um pano de fundo limitado de figuras e situações; os atores não buscam o verossímil, mas o ritmo e a ilusão do movimento”.

Em Otelo fica claro essas características em Iara e suas intrigas, sua vontade de ser promovida, considerando-a como uma típica forma de Zanni, e a perda do lenço de Desdêmona e logo depois o mesmo aparecer na bolsa de Cássio, o que também cria intriga entre “ele e sua puta”, e confirma as suspeitas de Otelo.

Otelo, de Bittecourt se destaca por seu viés de  tragédia e por sua audácia, que ao mesmo tempo em que se afasta da peça original trazendo a modernidade e as questões do homem de hoje em dia, mas segue fiel as “intenções” shakespearianas.

 

* Aluna do curso de Artes Cênicas da UFSC