Linguística de Córpus: algumas ferramentas viáveis à Crítica de Tradução – Paulo Roberto Kloeppel

Linguística de Córpus: algumas ferramentas viáveis à Crítica de Tradução

 

 

Paulo Roberto Kloeppel*

 

1. Crítica de Tradução: da subjetividade ao empirismo investigativo

Se a tradução, em sua gênese recuperadora, confere sobrevidas às obras literárias, cabe ao tradutor, no viés da metáfora benjaminiana da ânfora recuperada, a árdua tarefa de buscar dirimir, sobremaneira, as possibilidades de surgimentos de fissuras, que permitam “escoamentos” de substâncias linguísticas e semânticas da obra original, pois,

“a tradução deve, ao invés de procurar assemelhar-se ao sentido do original, conformar-se amorosamente, e nos mínimos detalhes, em sua própria língua, ao modo de visar do original, fazendo com que ambos sejam reconhecidos como fragmentos de uma língua maior, como cacos são fragmentos de um vaso” (BENJAMIN, 2001, p. 14, grifo nosso).

Tarefa esta que, concomitantemente, digladia com as dificuldades de se transpor significados de uma língua/cultura para outras (STEINER, 2005, p. 283) e as de se transpor traços de texturas, “propriedades de ser um texto” (HALLIDAY e HASAN, 1976, p. 2, tradução nossa), dos textos originais para as traduções. Trata-se aqui das implicações do uso da língua “para dar sentido à nossa experiência, e levar a cabo nossas interações com outras pessoas” (HALLIDAY e MATTHIESSEN, 2004, p.24, tradução nossa) o que “significa que a […] [léxico-gramática] tem que interagir com o que se passa fora da linguagem: os acontecimentos e as condições do mundo e os processos sociais a que nos engajamos” (ibid.). Fissuras, assim, podem aflorar no intervalo limítrofe, compreendido pelas texturas dos textos fonte e alvo, tendo ambas como denominador comum as significações do primeiro. Basicamente, elas afloram de escolhas por correspondências interlinguísticas, sejam semanticamente orientadas ou morfossintaticamente orientadas, que não encontram ressonâncias nos textos fontes e/ou nas línguas/culturas alvo, contrariando, assim, o fato de que “tradutores [devem] se preocupar em comunicar o significado global de fragmentos de linguagem. E, para conseguirem isto, precisam começar por decodificar as unidades e estruturas que carregam tal significado global” (BAKER, 2001, p. 10, tradução nossa).

Neste intervalo limítrofe, o tradutor fecunda signos linguísticos, e não linguísticos, de uma cultura de partida, visto ser “indubitável que a tradução é a expressão da leitura do tradutor, ou melhor, do que lhe é possível ler…” (TRENK, 2012, p.54), uma vez que os signos linguísticos são refratados por, e/ou refletem, vivências subjetivas (BAKHTIN, 2004) do tradutor, ao ponto de, por vezes, diferentes tradutores processarem fragmentos de um mesmo texto fonte de formas distintas. Neste viés, do ponto de vista da Crítica de Tradução, em seu ofício de identificar, caso elas hajam, fissuras num texto alvo, a atividade de processamento do texto fonte, a priori, parece ser dual, por ele sofrer uma recepção do tradutor e outra do crítico da tradução, nas quais “se confrontam as imagens mentais do sentido do texto fonte que eles construíram” (STEFANINK, 1995, in LE LANGAGE ET L’HOMME, 1995, p. 265-293, tradução nossa); mas torna-se tripartite, se considerarmos a influência da leitura, concomitante, do texto alvo, feita pelo crítico de tradução. E, como “toda compreensão […] do enunciado vivo é de natureza ativamente responsiva (embora o grau desse ativismo seja bastante diverso),” (BAKHTIN, 2003, p 271), esta recepção dos dois textos estão sujeitas às nuances de relações semióticas distintamente processadas, que podem aflorar de recepções responsivas distintas dos signos linguísticos. Parece-me, portanto, que a tarefa do crítico de tradução é ainda mais árdua do que aquela do tradutor, pois ela está sujeita a dois ativamos responsivos: um na recepção do texto fonte e outro na do texto alvo. E, considerando-se, também, que há uma “força da língua dos textos fonte sobre as das traduções”, (MCENERY e XIAO, 2007), tal força pode atuar de forma distinta no texto alvo analisado pelo crítico de tradução e no “texto alvo”, por ele, por assim dizer, idealizado quando da recepção do texto fonte. O que está em jogo aqui são relações semiológicas envolvendo vocábulos (signos linguísticos) de duas línguas faladas em duas, ou até mais, culturas, os quais, segundo Bakhtin, estão sempre “carregados de conteúdo ou de sentido ideológico ou vivencial” (BAKHTIN, 1995, p. 95, tradução nossa, adaptado). Isto posto, parece-me razoável assumir que tanto a Tradução quanto a Crítica de Tradução tendem a serem práticas que se dão no âmbito do individual, portanto são suscetíveis às subjetividades, e, por conseguinte, estão sujeitas a critérios de avaliações ideológicos subjetivos (BAKHTIN, 2004).

No entanto, atualmente, com as “sociedades cada vez mais conscientes e qualificadas” (BAKER, 2001, p.1, tradução nossa) me parece que relegar a Tradução e a Crítica de Tradução, tão somente aos âmbitos da subjetividade e do ideológico, é adentrar um campo minado, onde possíveis questionamentos quanto a escolhas de tradução tendem a ficar sem respostas suficientemente consistentes para que se possa ser assertivo quanto aceitar ou refutar esta ou aquela escolha de tradução. Na tradução, por exemplo, “Here I come, my Russian of Tororó” (ONÍS, 1977), a partir da fala “– Lá vou eu, minha russa do Tororó” (AMADO, 1966) da obra “Dona Flor e seus dois maridos”, o vocábulo Russian, como correspondente interlinguístico de ‘russa’, parece se restringir à nacionalidade da mulher em questão. Contudo, à época em que o original da obra foi concebido, final dos anos 60 do século passado, no contexto cultural brasileiro, as loiras, indevidamente chamadas de polacas, eram tidas como prostituas, devido ao tráfico de mulheres do leste europeu para se prostituírem no Brasil . Fato este, que se parece confirmar, na voz do narrador do romance de Amado; (i) quando este se refere a uma personagem como sendo “celebrada nos castelos”, os quais o Dicionário Houaiss define como regionalismo da Bahia para prostíbulo e bordeis (HOUAISS e SALES VILAR, 2001); (ii) quando este novamente se refere às mulheres do leste europeu descrevendo as participantes do bloco carnavalesco como vestidas de húngaras ou romenas, e complementando que “embora nem elas e nem mesmo as búlgaras e a eslovacas tivessem rebolado como as garotas do bloco” (AMADO, 1966). Entretanto, o aporte histórico-cultural e as referências, isotópicas, a estas mulheres do leste europeu, por si só, não talvez não sustentassem uma crítica de tradução quanto à escolha da tradutora Harriet de Onís, visto que, somente forneceriam subsídios para reflexões, as quais, num viés bakhtiniano, se dariam sob o domínio de minhas ideologias subjetivas, pois ‘minha russa’, na minha leitura, não remete à nacionalidade, mas sim a uma forma de tratamento coloquial, e intimista, típica dos relacionamentos interpessoais vulgares envolvendo práticas sexuais. Outrossim, há de se considerar também que ‘minha russa’ possa simplesmente ser um traço do idioleto de Jorge Amado. Numa tentativa de obter mais subsídios para analisar esta questão, proponho a aplicação de alguns conceitos e ferramentas da Linguística de Córpus, de modo que o empirismo deste ramo da Linguística se apresente como uma estratégia, não tão suscetível aos filtros das subjetividades, para as análises desta escolha de tradução.

Considerando a notoriedade da coloquialidade, muitas vezes chula, da linguagem do texto de Jorge Amado, por tudo que já foi aqui discutido, espera-se que esta seja transposta para a tradução. Todavia, a percepção do grau de coloquialidade e de linguagem chula de textos fontes e alvos demanda intensivas vivências em ambas as culturas envolvidas, as quais tradutores e/ou críticos de tradução dificilmente as têm. Entretanto, a dimensão relativa à representatividade estatística da Linguística de Córpus, por sua vez, pode fornecer dados quantitativos que permitem avaliar se este registro do texto de Amado pode, ou não, estabelecer correspondência interlinguística na tradução, por este efetivamente ocorrer na cultura alvo e em contextos sociais homólogos.

Inicialmente, com o intuito de sincronicamente adequar as investigações à datação do texto de Jorge Amado, no caso, 1966, investigou-se a colocação my Russian no Corpus of Historical American English (COHA), que reúne 400 milhões de palavras, abrangendo o período entre 1810 e 2000. Nesta investigação não foi constatada nenhuma ocorrência desta colocação (DAVIES, 2010), o que sugere que a colocação era bastante incomum à época da tradução, no caso, 1977. Expandindo as investigações, consultou-se a colocação no Corpus of Contemporary American English (COCA) com mais de 520 milhões de palavras, escritas ou oralmente produzidas entre 1990 e 2015, no que foram encontradas 59 ocorrências de my Russian (DAVIES, 2008), sendo que em 49 delas, “Russian” atua como adjetivo seguido de um substantivo, conforme prevê a gramática da língua inglesa, e, em 9 ocorrências, como substantivo, referindo-se à língua russa, como em “My German was better than my Russian, and Putin spoke German well” (SHEININ, 2011(111226) apud DAVIES, 2008). Há, no entanto, uma única ocorrência que poderia justificar a escolha de Harriet de Onís: “Oh, he’s my Russian. My man. My Ukraine, whatever, it’s fine.” (SPOK: ABC_GMA 2010 (100526) apud DAVIES, 2008). No entanto, percebe-se que neste contexto frásico, my Russian é expressamente qualificado como sendo um homem, – amigo ou companheiro -, natural da Ucrânia, de modo que a neutralidade, quanto ao gênero do substantivo, se desfaz, o que permite que se estabeleça uma coesão lexical (HALLIDAY e HASAN, 1976). Em my Russian, na tradução do diálogo de Jorge Amado, por sua vez, isto não ocorre, de maneira que esta colocação não estabelece coesão endofórica por anáfora (Ibid.), devendo estabelecê-la exoforicamente (Ibid.), o que demandaria que ela fosse de uso comum na língua inglesa à época da tradução. Entretanto, os dados obtidos indicam que a colocação my Russia, atuando como núcleo de um grupo (sintagma) nominal, no processamento textual em língua inglesa, tende a não ser tomada como uma colocação priorizada para se referir a algum indivíduo. Tão pouco, para se referir, maliciosamente, a uma mulher.

Com efeito, outras investigações no British National Corpus (BNC), com 100 milhões de palavras, abrangendo o período compreendido entre o final do século 20 e 2007, apresentaram resultados similares aos do COCA, inclusive quando se substituiu a nacionalidade por Japanese, French, Canadian, e etc., de modo que os dados sugerem que este tipo de colocação (adjetivo possessivo + nacionalidade) não é um registro de coloquialidade reconhecível pelos falantes da língua inglesa. Assim o sendo, no caso de uma Crítica de Tradução de “Dona Flor and her two husbands”, quanto à referida escolha de tradução de Harriet de Onís, estes aportes da Linguística de Córpus viriam a se somar a aqueles aportes histórico-culturais, anteriormente elencados, permitindo que a crítica da tradução adquirisse maior sustentação argumentativa, no caso de refutar-se a escolha de correspondência interlinguística da tradutora.

Com base nesta pequena investigação, a aplicação dos conceitos e ferramentas da Linguística de Córpus, doravante também referida por LC, me parece, surge como uma abordagem alternativa, não excludente, que vem se somar às abordagens geralmente adotadas pela Crítica de Tradução. Principalmente, no que se refere à possibilidade de adoção de uma sistematização da prática per si, pois como Mona Baker defende em seu livro “In other words”, a tradução (incluo aqui a Crítica de Tradução), tal qual qualquer outra prática dentro das diversas áreas do conhecimento humano, necessita da formação profissional associada à formação acadêmica (BAKER, 2001, p.1-5).

2. A Linguística de Córpus a serviço de investigações macro de textos fonte e alvo.

Antes de adentrar esta parte da discussão, cabe ampliar a discussão relativa às relações semiológicas até então discutidas no nível das palavras, para o nível do texto, como um conjunto de padrões semânticos, estilísticos, gramático-coesivos, entre outros, que se inter-relacionam de modo a assegurar a textura. Refiro-me aqui à noção de textura de Halliday e Hasan (1976) anteriormente mencionada, a qual atua a favor da construção da unidade temática e discursiva do texto, pois “os padrões de repetição tomados em conjunto formam novos e maiores padrões de coerência temática” (BASIC OF ENGLISH STUDIES, tradução nossa). Na análise, por exemplo, do excerto da tradução de “Dona Flor e seus dois maridos”, o vocábulo Russian surge como um ponto de partida artificioso para a manutenção da coesão lexical do parágrafo, por seu traço semântico, relativo à nacionalidade, se repetir nas subsequentes ocorrências de Hungarian Romanian, Bulgarian e Slovak, configurando-se, assim, uma isotopia semântica, que conforme a possibilidade, levantada neste artigo, de russa ter o sentido de prostituta, se daria na repetição deste sentido nas subsequentes ocorrências das outras quatro nacionalidades. Assim sendo, quanto às unidades temáticas e discursivas dos dois excertos nas duas línguas, neste viés de interpretação da colocação ‘minha russa’, o texto alvo se afastaria do texto fonte, pois my Russian, referindo-se exclusivamente à nacionalidade não estabelece a mesma isotopia.

Uma isotopia, basilar na hermenêutica, a qual busca dar conta da compreensão dos temas de um texto (HOUAISS e SALES VILAR, 2001), “é uma sequência de expressões unidas por um denominador semântico em comum. […] [Ela] identifica um dos temas de um texto” (JAHM, 2003, tradução nossa). E, “em última análise, a teoria [literária] afirma que, em um texto coerente, todas as expressões são isotopicamente ligadas; não há ilhas isoladas de expressões” (ibid.). Nesta definição percebe-se que em isotopias, há um forte impacto das repetições de denominadores semânticos comuns, o que remete à sinonímia e às relações co-referenciais para a construção da unidade semântica de todo o texto. No entanto, a isotopia não se limita a estas. Similarmente, ela pode emergir de repetições de outros traços linguísticos dos textos, tais como padrões sonoros e rítmicos, estruturas sintáticas, repetições como recurso retórico, etc. (BASIC OF ENGLISH STUDIES). No que tange ao foco deste artigo, isotopias desta sorte são essenciais, pois “a pesquisa de córpus é basicamente centrada na recorrência de objetos; inicialmente entidades de superfície, como palavras” (SINCLAIR, 2005 ).

Neste viés, as ferramentas da Linguística de Córpus surgem como uma alternativa menos onerosa para as buscas manualmente realizadas, pois, sendo sua base quantitativa as frequências de ocorrências de vocábulos, estas ferramentas evidenciam padrões de repetições de corpora linguísticos; uma simples listagem dos vocábulos de um texto, eletronicamente ordenada de acordo com as frequências de suas ocorrências num texto permite, por exemplo, a obtenção de informações preliminares quanto à diversidade lexical e taxa de repetições de vocábulos de um córpus (texto). No caso de contrastes entre textos fonte e alvo, a primeira pode indicar discrepâncias ou similaridades relativas à diversidade lexical e/ou à sinonímia de dois textos, enquanto que a segunda, pode apontar frequências, discrepantes ou similares, de repetições lexicais retóricas ou sistêmico-atreladas nos dois textos, entre outros traços linguísticos afins.

Isto posta, com vistas ao desenvolvimento de algumas abordagens empíricas experimentais, a textos fonte e alvo, via LC, selecionei o texto “The Picture of Dorian Gray” e sua tradução, “O retrado de Dorian Gray”, como objetos do estudo doravante apresentado. A escolha destes textos se deu, basicamente, pela disponibilidade destes em formato eletrônico, o qual permite processamentos eletrônicos, não manuais, feitos por softwares da LC. Cabe, aqui, ressaltar que nenhuma leitura crítica, alinhando o original e a tradução, foi por mim anteriormente realizada.

2.1 Abordagens verticais (macro) aos textos fonte e alvo

Tradicionalmente, de acordo com Laurence Anthony, criador do software concordanciador TagConc , as abordagens da Linguística de Córpus podem ser: (1) corpus-driven, quando “as observações do córpus [são] […] o ponto de partida para as análises” (ANTHONY, in LINGUISTIC RESEARCH, 2013, p. 141-161, tradução nossa); (2) corpus-based, quando “as análises de um córpus são [conduzidas] essencialmente para testar teorias linguísticas pré-existentes (modelos) contrastivamente a mostras representativas de língua real (os dados do córpus)” (ibid.). Como não houve nenhuma leitura crítica formal da tradução do texto de Wilde, conforme anteriormente afirmado, o que indica a inexistência de nenhum direcionamento pré-definido para as investigações, primeiramente conveio adotar uma abordagem corpus-driven para dar início às análises contrastivas de “The Picture of Dorian Gray” e sua tradução, de modo a detectar-se, ou não, presenças de afastamentos, entre o texto alvo e o fonte, dignos de aprofundamentos investigativos via abordagens corpus-based.

Para tal, ambos os textos foram processados pela ferramenta WordList do WordSmith Tools 6,0 , similar ao TagConc, acima mencionado, de modo a se obter uma visão macro das estatísticas de ambos os textos, conforme dispõem as figuras I – a e I – b.

Paulo 1

Figura I – a: Statistics do texto fonte

 

Paulo 2

Figura I – b: Statistics do texto alvo

 

A partir dos dados da janela Statistics desta ferramenta do software WordSmith Tools 6,0 inicialmente constatou-se que: (i) as 79.834 palavras contabilizadas (tokens), incluindo repetições, do texto alvo superam em 6,34 pontos percentuais as 75.075 do texto fonte; (ii), opostamente, o número de palavras distintas (types) do texto fonte, 7.033, é bastante inferior aos 11.230 types do alvo, perfazendo uma inferioridade da ordem de 37,37 pontos percentuais. Estas discrepâncias quantitativas entre as frequências de ocorrências de vocábulos em ambos os textos, se refletem nos índices type/token ratio (TTR), que indica a taxa de repetições de vocábulos (SCOTT, 2010), e Standard type/token ratio (STTR), que indica a diversidade lexical (BERBER SARDINHA, 2004 p.94) de ambos os textos. Desta forma, sendo as TTRs dos textos fonte e alvo, respectivamente, 8,81 e 14,97, a inferioridade da TTR do texto fonte aponta para mais repetições lexicais neste texto. Por outro lado, como a STTR do texto fonte é 42,20 e a do alvo é 50,22, percebe-se que há uma superioridade na diversidade lexical do texto alvo (Ibid.). Estas discrepâncias percentuais relativas às frequências de repetições de vocábulos e de diversidade lexical podem ter se dado: (i) por diferenças entre construtos sociais das duas culturas, visto que “o português não gosta de repetir palavras enquanto que o inglês não tem esta preocupação exagerada como nós… nós temos… nós achamos mais ou menos que é um pecado mortal ficar repetindo palavras” (Gonçalves, 2010, informação verbal, transcrição nossa) ; (ii) por, segundo pesquisa de mestrado por mim conduzida , as repetições lexicais em inglês tenderem a ser mais frequentes do que são no português, por conta de certas relações intrassistêmicas do inglês, tais como a existência de operadores gramaticais, a saber, do, does, did e will e etc., relações coesivas, em especial, as por substituições, nominais e verbais, e as por elipses lexicais, incluindo-se o fato de “que em sentenças declarativas, em inglês, os sujeitos sintáticos, no caso os pronominais, serem quase sempre explicitados” (HALLIDAY e HASAN, 1976 in KLOEPPEL, 2015, p.16), em função do número limitado de desinências verbais do inglês (RUBBA, 2004); (iii) por conta de estratégias de escritura da ordem da retórica (MARCUSCHI, 1992 p.6 apud LOPES, 2009). Seja como for, constatou-se afastamentos entre os textos fonte e alvo, no que se refere à diversidade lexical e as frequências de ocorrências de repetições lexicais, que justificariam a adoção de uma abordagem corpus-based.

Objetivando investigações quanto às repetições lexicais, dado seus papéis nas isotopias dos textos, coube, então, investigá-las sob o viés das estratégias de escritura, da ordem da retórica, visto que, em geral, norteiam as escolhas subjetivas de tradução. Para tal, foram geradas listas de palavras-chave na janela KeyWords do mesmo software, em função desta ferramenta “ser uma forma útil para caracterizar um texto ou um gênero”, (SCOTT, 2010, tradução nossa) incluindo aplicações potenciais na estilística e análise de conteúdo (ibid.). “As listas KeyWords destacam os vocábulos cujas frequências num córpus sejam estatisticamente bastante distintas das frequências destes num outro córpus [referência] de magnitude aproximadamente 5 vezes superior à daquele” (BERBER SARDINHA, 2004 in KLOEPPEL, 2015 p. 43). E, no caso de o córpus referência ter magnitude suficiente para ser considerado como representativo de uma língua, esta ferramenta fornece listas de vocábulos cujas altas ou baixas frequências são excepcionalmente ‘incomuns’ em relação as suas frequências no uso real daquela língua. Assim sendo, para os propósitos deste artigo, a rigor, interessavam os vocábulos que se destacassem quanto às suas frequências de ocorrências, excepcionalmente altas ou baixas, em função de escolhas lexicais e de estruturação, pois tenderiam a ser indicativas de traços subjetivos de escritura e da ordem da estilística dos textos fonte e alvo.

Por esta razão, foram criados dois corpora referências compostos por textos literários: em português, com 432.951 vocábulos, e em inglês, com 435.396, pois a similaridade, quanto ao gênero e a tipologia textual, entre corpora referências e os textos fonte e alvo, “[…] tendeu a ‘filtrar’, ou seja, […] eliminou, os elementos genéricos (i.e. relativos a um mesmo gênero) em comum, resultando em […] [listas] de palavras-chave que não […] incluiu esses elementos” (BERBER SARDINHA, in The ESpecialist, 2005, p. 185). Aplicando a KeyWords Tool, obteve-se duas listas com 250 vocábulos-chave dos textos fonte e alvo, excluindo-se os vocábulos que tendiam a ocorrer por conta do gênero textual e/ou relações intrassistêmicas. Destas listas, optou-se por investigar somente as frequências de vocábulos, que, prioritariamente, atuam como adjetivos , e alguns casos, mutuamente, como advérbios, visto estas categorias morfossintáticas tenderem a evidenciar traços relativos às caracterizações de personagens e de ambientação e atmosfera das plots (enredos) de textos, as quais, no caso de textos fonte e alvo, são esperadas se afastarem o mínimo possível entre si. Os quadros I e II, apresentam as KeyWords (adjetivos), dos textos aqui analisados, onde a keyness (chavissidade) de um vocábulo é um índice estatístico que indica “o quão excepcional é sua frequência de ocorrência [num córpus]. Aqueles próximos ao topo [da lista] são excepcionalmente frequentes no córpus. No final da lista encontram-se os que são excepcionalmente infrequentes [no córpus] (keyness negativas)” (SCOTT, 2010).

 Quadro 1

Quadro 2

Quadro 3

 

A partir do contraste entre os dois quadros, foi possível tirar algumas conclusões bastante consistentes: (i) em comparação com o texto alvo, no texto fonte há um número superior de adjetivos, cujas frequências de ocorrências, são excepcionalmente superiores. No entanto, esta diferença pode ter se dado em função de que muitos adjetivos do português não são neutros quanto ao gênero, e nunca o são quanto ao grau, como o é a grande maioria dos adjetivos do inglês, de modo que as distinções ortográficas, causadas pelos acréscimos das desinências nominais indicativas de grau e gênero, podem ter interferido no processamento do WordSmith Tools. Perceba que os correspondentes ingleses, cognatos, dos adjetivos neutros, quanto ao gênero, ‘terrível’ e ‘horrível’, também constam na lista relativa ao texto alvo. Por outro lado, esta discrepância pode, também, ser consequência de traduções de diferentes ocorrências de um mesmo vocábulo inglês por vocábulos correspondentes, que são sinônimos no português. Entretanto, se a sinonímia do português afetou a geração da lista Keyword, muito provavelmente, ela afetou a mood (atmosfera) da plot (enredo) da tradução, pois “[…] a repetição pode ser uma coisa boa. Às vezes, simplesmente não há substitutos para os termos chave, e selecionar um termo mais fraco como sinônimo pode fazer mais mal do que bem.” (UNC, 2012, tradução nossa); (ii) Em se tratando de palavras cujas frequências são essencialmente incomuns, os quadros indicam que parece haver uma predominância maior do “aspecto negativo” no texto fonte do que no texto alvo. Contudo, os fatores, acima elencados, que podem ter afetado a geração da lista KeyWords do português, igualmente se aplicam neste caso; (iii) as listas KeyWords parecem evidenciar uma tendência do tradutor em traduzir vocábulos cognatos do inglês por seus homólogos do português, como nos casos de terrible (40) e ‘terrível’ (43), e horrible (48), ‘horrível’ (49) e ‘horríveis’ (8).

Para checar esta última constatação, consultou-se a janela plot da ferramenta KeyWords, por esta janela apresentar a distribuição, graficamente disposta, das ocorrências dos vocábulos KeyWords ao longo de textos, o que fornece “insights visuais úteis sobre quantas vezes e em que posicionamento as diferentes keywords surgem no texto” (SCOTT, 2010). Nas figuras II-a e II-b, esta distribuição é apresentada na forma barras verticais, relativas às ocorrências dos vocábulos terrible (40) e ‘terrível’ (43) ao longo de seus respectivos textos. Os vocábulos horrible, ‘horrível’ e ‘horríveis’ foram descartados, pois no caso do português seriam fornecidas duas plots, enquanto haveria somente uma de horrible, o que dificultaria a visualização.

Paulo 3

Figura II – a: Plot de Terrible

Paulo 4

Figura II – b: Plot de Terrível

 

Observando as duas figuras, percebe-se que as distribuições de terrible e de ‘terrível’, marcadas pelos traços verticais das figuras, se assemelham, o que parece confirmar a tendência do tradutor em traduzir os cognatos ingleses por seus homólogos portugueses. Com efeito, considerando que “as línguas de textos traduzidos são diferentes das línguas alvo” (MCENERY e XIAO, 2007 p.6 tradução nossa), por conta da força da língua do texto fonte sobre a língua alvo (ibid.), me parece razoável esperar que cognatos presentes nos textos fonte tendam a “impulsionar” a presença de seus homólogos nos textos alvos, desde que sejam semanticamente correspondentes. Talvez a força da língua do texto fonte seja o que justifica a excepcionalmente baixa frequência do vocábulo ‘grande’ na tradução, conforme indica a chavissidade -43,40 deste adjetivo, destacada no quadro II.

Avaliando as investigações macro (verticais), até então conduzidas, como sendo suficientes para o escopo deste artigo, procedeu-se a abordagem a um vocábulo do texto fonte, de modo a investigar horizontalmente suas correspondências interlinguísticas no texto alvo.

3. A Linguística de Córpus a serviço de investigações micro de textos fonte e alvo.

As investigações micro, aqui, denotam aquelas que se dão no nível das sentenças e/ou parágrafos, por isto, são chamadas de investigações horizontais do córpus. Os softwares e online tools da LC fornecem algumas ferramentas bastante úteis para este tipo de investigação. Uma delas, a concord, presente em vários softwares e online tools, lista todos os segmentos frásicos onde há ocorrências de um determinado vocábulo, de modo que os usuários desta ferramenta podem analisar padrões colocacionais (patterns), plots (figuras I e II acima) e padrões de fraseologias repetidas (clusters) (SCOTT, 2010), o que permite, entre outras, investigações quanto a generalizações relativas aos sistemas linguísticos, ou quanto a colocações, isotopias semânticas e estruturais, entre outras.
Caso prosseguíssemos abordando os adjetivos presentes nas listas KeyWords, caberia, então, primeiramente, via ferramenta Concord, investigar quais segmentos frásicos do texto de Wilde corroboraram para as ocorrências das frequências elevadas de repetições de vocábulos keyword, de modo a selecionar aqueles nos quais as ocorrências destes vocábulos se deram por outras razões, que não por força das relações intrassistêmicas da língua inglesa para, posteriormente, contrastar os segmentos frásicos selecionados alinhadamente com seus correspondentes na tradução. Entretanto, como um dos propósitos deste artigo é apresentar diferentes abordagens via Linguística de Córpus, abstraímos desta empreitada; mesmo porque, para nossos propósitos, ela é muito onerosa e extensa, dadas às frequências elevadas de repetições de vocábulos no texto fonte, que permitem combinações exponenciais de correspondências interlinguísticas.

Por estas razões, adotou-se uma abordagem investigativa mais restritiva, baseada na constatação das investigações verticais de que o tradutor tendeu a estabelecer correspondências interlinguísticas diretas entre vocábulos cognatos homólogos das duas línguas, iniciando as investigações com os vocábulos (tokens) que ocorrem com menor frequência no texto original, pois as ocorrências destes, em teoria, tenderiam a gerar menos correspondências interlinguísticas nas traduções. Perceba que, certo modo, as investigações retomaram as abordagens corpus-driven, visto que a seleção do vocábulo a ser analisado passou a se dar exclusivamente com base nos contrastes entre as frequências de ocorrências de vocábulos cognatos tomados como interlinguisticamente correspondentes. Em outras palavras, a escolha passou a se dar à sorte dos dados do córpus paralelo formado pelos textos fonte e alvo, sem nenhum outro tipo de direcionamento investigativo pré-estabelecido, que não o relativo à cognação.

Neste viés investigativo, partiu-se para o contraste entre os vocábulos com as menores frequências de ocorrências no texto fonte, no caso os que aparecem uma única vez na janela da ferramenta WordList, cuja listagem segue a ordenação alfabética. Logo de início surgiu uma possibilidade de seleção de vocábulo, pois uma única ocorrência do vocábulo (token) abandon do texto fonte, quantitativamente, e sobremaneira, se distinguiu dos números de ocorrências dos vocábulos (tokens) ‘abandonado’, ‘abandoná-lo’, ‘abandonando’, ‘abandonar’, ‘abandonaria’, ‘abandonava-os’ e ‘abandonou’ no texto alvo, considerando que os morfemas lexicais destes vocábulos cognatos homólogos são abandon e ‘abandon’.

 

Paulo 5

Figura III – a

 

Paulo 6

Figura III – b

Cabe aqui um esclarecimento: no que tange às correspondências interlinguísticas semânticas, norte principal da argumentação inicial deste artigo, os morfemas lexicais se apresentam como as menores unidades da língua que expressam significados (BAKER, 2001), de forma que ‘abandono’, ‘abandonando’, ‘abandonará’ e etc. contêm o mesmo morfema lexical, interlinguisticamente correspondente ao morfema lexical abandon, comum em abandon, abandoning, e abandoned.

Nas investigações subsequentes do morfema lexical ‘abandon’ na tradução, percebeu-se que há 15 ocorrências dele, o que reforça minha argumentação quanto à aplicabilidade da Linguística de Córpus na Critica de Tradução, pois, acredito que, sem o auxílio de ferramentas eletrônicas de processamentos textuais, dificilmente a superioridade de ocorrências deste morfema chamaria a atenção na recepção da tradução, considerando-se seu universo de 75.075 vocábulos. Estas 15 ocorrências do morfema lexical ‘abandon’ sugerem que talvez elas tenham se dado mais por escolhas subjetivas de tradução do que por influência da força da língua fonte no texto alvo, visto haver uma única ocorrência do morfema abandon no texto fonte; especialmente, considerando-se que no texto fonte, a ocorrência do morfema inglês se dá em “…he knew to be really alien to his nature, abandon himself to their subtle influences…”, cuja correspondência na tradução é “…ele sabia serem estranhos à sua natureza, entregava-se às suas subtis influências…”

Fosse o caso aqui, a haveria de se alinhar os 15 segmentos frásicos do texto alvo e seus correspondentes no texto fonte, para se tentar chegar a alguma conclusão quanto aos referidos efeitos da superioridade numérica de ocorrências do morfema ‘abandon’ na textura da tradução contrastivamente à textura do texto alvo. Com efeito, como Hoey aponta, “o texto fornece o contexto para a criação e interpretação das relações lexicais, tal como as relações lexicais ajudam a criar a textura do texto” (HOEY, 1991 in BAKER, 2001, p. 206, tradução nossa). No entanto, esta abordagem também demandaria esforços aquém dos previstos pelo escopo deste artigo.

Dando continuidade às investigações, com o auxílio da ferramenta Concord, constatou-se a presença das três ocorrências, muito próximas entre si, de ‘não me abandone’, indicadas pelo posicionamento, numericamente expresso nesta janela, conforme destaca a coluna Word# da figura IV, bem como, constatou-se, na janela patterns tratar-se de um padrão colocacional.

Paulo 7

Figura IV

Isto indica que a forma verbal lexical ‘abandone’, estabelece uma isotopia pela repetição do padrão colocacional ‘não me abandone’, sendo que, conforme excerto abaixo, este padrão figura repetidamente num mesmo parágrafo, onde vocábulo ‘deixe’, quasi sinônimo ‘abandone’, se repete em dois segmentos frásicos adjacentes.

“- Não me toque! – gritou. Ela gemeu baixinho, e lançou-se-lhe aos pés, e ali ficou, como uma flor espezinhada. – Dorian, Dorian, não me abandone! – disse ela, num murmúrio. – Lamento tanto não ter representado bem. […] Beije-me mais uma vez, meu amor. Não me deixe. Isso eu não poderia suportar. Oh! Não me deixe… […] Foi uma loucura o que fiz, mas foi mais forte do que eu. Oh! Não me abandone, não me abandone. “Soluçava convulsivamente.”

“Don’t touch me!” he cried. A low moan broke from her, and she flung herself at his feet and lay there like a trampled flower. “Dorian, Dorian, don’t leave me!” she whispered. “I am so sorry I didn’t act well. […] Kiss me again, my love. Don’t go away from me. I couldn’t bear it. Oh! don’t go away from me. […] It was foolish of me, and yet I couldn’t help it. Oh, don’t leave me, don’t leave me.” A fit of passionate sobbing choked her.”

Percebe-se que o tradutor, quantitativamente, manteve as repetições de vocábulos do original. No entanto, traduziu leave me por ‘me abandone’, quando leave me também poderia ser traduzido por ‘me deixe’, mas ‘me deixe’ estabeleceu correspondência com go away from me. Assim sendo, coube investigar os efeitos destas escolhas de tradução na textura e na carga semântica do parágrafo. Especialmente, considerando que Oscar Wilde não se valeu do cognato abandon, quasi sinônimo do vocábulo leave, para compor a textura. Talvez não o tenha feito função de uma relação de carga semântica (ver citação anterior de UNC, 2012).

Em primeira instância, os dicionários gerais monolíngues naturalmente surgem como ferramentas eficazes nas buscas por nuances discrepantes entre significados de vocábulos tomados como sinônimos. No entanto, neste caso, não foi o que se percebeu no Collins Dictionary e no Merriam-Webster Dictionary, pois suas definições dos verbos abandon e leave, no sentido de se afastar de alguém, não fornecem distinções pontuais que permitam tomadas de decisão seguras quanto à escolha de um ou outro como o mais adequado em contextos frásicos e extralinguísticos distintos. Diante deste impasse, houve por bem trilhar um caminho homólogo ao percorrido nas investigações quanto à colocação my Russian.

3.1 Vocábulos de textos fonte e alvo: consonâncias com suas respectivas línguas

Se, por um lado, a lexicografia, neste caso, não deu conta de auxiliar nas tomadas de decisão mais seguras, quantos às escolhas entre estes ou aqueles vocábulos sinônimos, a Linguística de Córpus, por quantificar frequências de ocorrências de palavras e colocações, incluindo suas datações, em corpora linguísticos estatisticamente representativos das línguas, em geral, com dezenas, e até centenas de milhões de palavras, pode servir de norte para tais tomadas de decisão, pois “as ‘unidades de significado’, escolhas de padrões lexicais, implicam padrões de significado; mais precisamente, qualquer sentido distinto de uma palavra está associado a um padrão formal distinto” (SINCLAIR, 2004, p.2, tradução nossa). Trata-se, grosso modo, de se investigar as probabilidades de esta ou aquela escolha lexical, nestes ou naqueles contextos frásicos, históricos e socioculturais, realmente ocorrerem em usos autênticos das línguas em contextos reais.

Perceba que, neste sentido, as investigações afastam-se um pouco do universo dos contrastes entre os textos fonte e alvo, para adentrar o dos contrastes entre estes e corpora linguísticos estatisticamente representativos de suas respectivas línguas.

3.2 Padrões colocacionais isotópicos: análises sincrônicas e diacrônicas em relação às suas respectivas línguas

Obsevando os parágrafos selecionados, percebeu-se que ‘não me abandone’ e ‘não me deixe’ são padrões colocacionais, isotopicamente interligados no texto alvo, tal qual don’t go away from me e don’t leave me o são no texto fonte. No entanto, a despeito das relações de sinonímias estabelecidas, estas ligações isotópicas não necessariamente garantem a produção de efeitos homólogos nos textos fonte e alvo, visto as questões, que envolvem sinonímia, serem muito complexas, conforme já foi mencionado. No sentido de se investigar aproximações ou afastamentos entre as correspondências interlinguísticas destas isotopias, alguns conceitos da Linguística de Córpus, baseados em usos naturais das línguas em contexto reais, foram aplicados nas investigações contrastivas dos padrões colocacionais. Primeiramente, coube investigar as ocorrências das colocações em questão em corpora linguísticos considerados como estatisticamente representativos das línguas em questão. O quadro III apresenta os números de ocorrências das quatro colocações, investigadas, com o sentido de se evitar o afastamento de alguém, em corpora, denominados como referência pela LC, de suas respectivas línguas, no caso, no Corpus do Português (http://www.corpusdoportugues.org/x.asp), com 45 milhões de palavras, e no córpus BNC (http://corpus.byu.edu/bnc/), por o texto de Wilde ter sido originalmente escrito na variante britânica da língua inglesa. Cabe ressaltar que, devido à menor probabilidade de terem ocorrido digitalizações dos textos escritos anteriormente ao advento da computação, o que pode ter se refletido na composição dos corpora referências, optou-se por uma investigação diacrônica, ou seja, sem levar em consideração a datação das ocorrências.

 

Quadro4

Obsevando a tabela, percebe-se que a presença de leave na colocação don’t…me, no imperativo negativo, é excepcionalmente mais frequente do que a de go away from. Assim, me parece que o texto alvo, quanto a estas colocações e seus papéis na composição da textura, se aproximaria mais do texto fonte, se na tradução, go away from tivesse sido traduzido por ‘abandone’, de modo que o vocábulo mais frequente na colocação don’t…me, tanto no BNC quanto no parágrafo de Wilde, no caso, leave, fosse traduzido por ‘deixe’, o qual também é o mais frequente na colocação correspondente ‘não me…’ em português.

Esta última asserção envolve dois conceitos, inter-relacionados, basilares da LC: colocação e prosódia semântica. As colocações, base da Priming Theory de Michael Hoey , referem-se “às coocorrências de itens lexicais que, de um modo ou de outro, são comumente associados com outro, porque eles tendem a ocorrer em contextos [frásicos] similares” (HALLIDAY e HASAN, 1976, p. 287, tradução nossa) Prosódia semântica, segundo Sinclair, refere-se ao fato de que “muitos usos de palavras ou grupos de palavras têm a tendência a ocorrerem em certos contextos semânticos. Por exemplo, o verbo happen é associado com situações ou coisas desagradáveis, acidentes e afins”. (SINCLAIR, 1991 in HOEY, 2005, p.22, tradução nossa)

No que se refere às investigações em curso, as buscas nos corpora em inglês e em português, se basearam nas colocações don’t…me e ‘não me…’, por as frequências de ocorrências dos vocábulos investigados dentro delas, segundo a Priming Theory, permitirem “a natural e imediata desambiguação de instâncias polissêmicas” (HOEY, 2005, in KLOEPPEL, 2015, p.18). Este procedimento investigativo limitou o número de respostas dos corpora, o que permitiu a seleção manual das referidas colocações com significados somente em torno de ‘não afastar-se de alguém’. Quanto à questão da prosódia semântica, esta é observada na constatação de não haver nenhuma ocorrência de don’t go away from me no BNC, excetuando-se a extraído do romance de Wilde, mas haver 02 ocorrências da colocação go away from me, na forma imperativa positiva, com o sentido de se expulsar alguém, bem como é observada nas 32 ocorrências de go away from em contraste com as zero de don’t go away from, o que sugere que a colocação go away from não tende a ocorrer na forma imperativa negativa, num contexto em que interlocutores tentam evitar afastamentos de pessoas. Entretanto, este número de ocorrências da colocação é muito baixo para que se pudesse ser seguramente assertivo quanto a isto, especialmente considerando que a inclusão de from me na colocação limitou as possibilidades de ocorrência da colocação no BNC.

Antes de se aprofundar nas investigações, convém ampliar a noção de textura anteriormente abordada, de modo a localizar a questão das prosódias semânticas no contexto das escolhas de tradução para o parágrafo de Wilde. Sendo a coesão textual um dispositivo a favor da textura, visto que, “o conceito de coesão é semântico, e refere-se às relações entre os significados que existem num texto, as quais o definem como um texto” (HALLIDAY e HASAN, 1976, p.4), ela envolve escolhas léxico-gramaticais, wording, as quais devem interagir com o universo extralinguístico (ver citação de Halliday e Matthiessen acima). Assim o sendo, a coesão textual, e, por conseguinte, a textura, é afetada, no sentido de causar, ou não, certo “estranhamento” no processamento cognitivo, quando, respectivamente, as escolhas lexicais se afastam ou se aproximam das tendências às coocorrências de itens lexicais e/ou das tendências às recorrências destes em determinados contextos frásicos primed (priorizados) pelos falantes das línguas. Por exemplo, na variante brasileira do português, o verbo ‘explodir’ pode estabelecer colocações com o substantivo ‘inflação’, como em “Por que a inflação explodiu com a ditadura militar?”, (https://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20110418215540AAEP3d6), mas o verbo ‘estourar’, a despeito de ser quasi sinônimo de ‘explodir’, não pode substituir por ‘explodir’ nesta pergunta, mas seja possível em “O que acontece quando a inflação estoura a meta oficial?” (https://www.google.com.br/?ion=1&espv=2#q=a+infla%C3%A7%C3%A3o+estourou). Certamente, “estranhamentos” podem ser estrategicamente provocados por conta de uma textura construída para este fim, vide a obra de Guimarães Rosa, desde que eles, ainda assim, sejam possíveis de serem processados na recepção textual. E, e se assim o forem, o tradutor deve buscar a transposição deles para o texto fonte, sempre considerando que “[…] existem diferentes dispositivos em diferentes línguas para a criação de textura” (BAKER, 2001). Deste modo, no caso da análise em curso, tomando como aceitável que a colocação Don’t go away from me, quanto à prosódia semântica, é incomum, no contexto do parágrafo de Wilde, ela causa certo “estranhamento” no processamento de leitura, o qual seria desejável que fosse mantido na tradução, de modo a se manter a carga semântica da colocação do original. No entanto, ela foi traduzida por ‘não me deixe’, que, segundo as pesquisas no Córpus do Português, é a colocação que ocorre com mais frequência no contexto do parágrafo em questão. Em outras palavras, há um conflito entre as wordings dos textos fonte e alvo, no que se refere aos graus de “estranhamentos” provocados pela escritura do parágrafo, pois a colocação Don’t go away from me, que causa um alto grau de “estranhamento” na recepção do texto fonte, não foi traduzida por sua correspondente interlinguística mais apta a manter este grau de “estranhamento”, no caso, ‘não me abandone’, sendo que foi traduzida por uma menos apta a isto, no caso ‘não me deixe’.

Por outro lado, uma vez que a teoria de Hoey pressupõe que primings se estabelecem pelas contínuas recorrências de padrões lexicais nos usos naturais das línguas, haver-se-ia de considerar também a questão da temporalidade, visto que primings, aqui tomados como estabelecidos pelas investigações no BNC e no Corpus do Português, podem ter surgido após as escrituras dos textos fonte e alvo, o que impactaria nas relações acima descritas. No entanto, a despeito das limitações do BNC, num consulta no corpus COHA, encontrou-se 32 ocorrências de don’t leave me, posteriores a 1890, o ano da publicação de “The Picture of Dorian Gray”, mas nenhuma de don’t go away from me, o que se conforma com os dados do quadro II extraídos do BNC. No caso do português, não foram encontradas ocorrências posteriores a 1911, ano da primeira tradução do texto, nos dois corpora consultados: o COMPARA (LINGUATECA) e o Corpus Histórico do Português Tycho Brahe (GALVES, CHARLOTTE e PABLO FARIA, 2010).

Os diferentes graus de “estranhamento” das escolhas lexicais, considerando a sequência e o número de ocorrências das colocações, estudadas dentro dos seus respectivos textos fonte e alvo, tendem a interferir nas fluidezes de leitura deles, as quais o gráfico I tenta, visualmente, representar, destacando discrepâncias entre as fluidezes de leitura dos dois parágrafos (TF e TA) em questão, contrastando com um idealizado (Tai), representadas pelas curvas dos gráficos, obtidas pelas proporções entre as frequências de ocorrências das colocações nas duas línguas. O gráfico I, experimentalmente, tomou como bases quantitativas as proporcionalidades de ocorrências das colocações, em relação aos totais contabilizados pela pesquisa. Assim, o número -1,0 , no eixo Y, vertical, do gráfico, refere-se às 27 ocorrências de Don’t leave me, e o -0,6, corresponde às 6 de ‘Não me deixe’, indicando os usos mais comuns das colocações em ambas as línguas; ou seja, indicam um baixo grau de estranhamento; o número -0,4, no mesmo eixo, refere-se às 4 ocorrências de ‘Não me abandone’, indicando maior grau de estranhamento no português. O número 0,0 relativo a não ocorrência de don’t go away from me, exceto aquela do texto de Wilde, indica alto grau de estranhamento no inglês. A sequência numérica no eixo X, horizontal, do gráfico indica a ordem de ocorrência das colocações nos respectivos

 

Gráfico

Gráfico I: Gráfico grau de “estranhamento”

Onde,

TF = Texto fonte;
TA = Texto alvo;
Tai = Texto alvo idealizado: considerando as correspondências leave ⇒ ‘deixe’ e go away ⇒ ‘abandone’;

Observando as curvas TF e Tai do gráfico, claramente percebe-se que o fluxo de leitura do texto alvo idealizado (Tai) acompanha a do texto fonte, pois os picos de “estranhamento” ocorrem na 2ª e na 3ª ocorrências de suas respectivas colocações. A curva TA da tradução, alvo deste estudo, por sua vez, apresenta uma inversão no direcionamento destes picos, pois eles ocorrem na 1ª, na 4ª e na 5ª ocorrências das colocações. Por outro lado, as curvas TA e Tai claramente apontam para uma atenuação nos graus de estranhamentos as escrituras dos parágrafos causam. Baker (1996) se refere a isto, como um universal da tradução denominado de leveling-out, o qual se refere à tendência de as traduções evitarem os extremos em direção ao centro, no sentido de haver menos variações de recursos textuais em textos traduzidos, tais como menor densidade lexical nos textos traduzidos (BAKER, 1996 apud PYM et al., 2008). Isto posto, considerando que o leveling-out, neste caso, seja inevitável, seria mais apropriado o tradutor ter optado pelas correspondências leave ⇒ ‘deixe’ e go away ⇒ ‘abandone’, conforme sugerido anteriormente.

Cabe, por fim, ressaltar que as noções de colocações e prosódias semânticas são fundamentais em investigações desta sorte, pois do contrário, caso se investigasse somente as frequências das formas verbais (abandon, abandons e abandoned) e as formas nominais (abandon, abandoning e abandoned) do verbo, as quais somam 4.086 ocorrências no BNC, poder-se-ia construir noção equivocada de que a colocação Don’t abandon me seria comum em usos reais (naturais) da língua inglesa, portanto, não causaria nenhum estranhamente na sua cognição. Inversamente, este elevado número de ocorrências da colocação em questão, aporta ainda mais a assunção de que esta colocação é muito incomum no inglês, pois se as formas verbais e nominais de abandon têm frequências elevadas de ocorrências, é sua coocorrência com don’t e me que torna a colocação incomum.

4. Considerações finais

Este artigo buscou, sempre estabelecendo diálogos com outras teorias linguísticas e algumas literárias, demonstrar como aplicar alguns conceitos e ferramentas da Linguística de Córpus nas práticas de Crítica de Tradução, partindo, por assim dizer, “do zero”. Em outras palavras, procurou-se demonstrar que este ramo da Linguística pode ser útil na prévia detecção de afastamentos e/ou aproximações entre textos fonte e alvo, de modo que o crítico de tradução possa traçar planos iniciais de investigação, norteando suas práticas de forma mais pragmática, e menos suscetível aos efeitos, intra e interatuantes, das relações semióticas que se estabelecem nas recepções dos textos fonte e alvo, as quais se dão quase que simultaneamente, quando não contrastivamente. Para tal, primeiramente, procedeu-se algumas abordagens macro, as quais evidenciaram, entre outros menos conclusivos, um aspecto pontual e relevante à discussão; no caso, a constatação de haver uma tendência do tradutor em traduzir cognatos do inglês por seus homólogos do português. Paralelamente, as investigações verticais (macro) permitiram a apresentação de algumas ferramentas da Linguística de Córpus, as quais, sendo adequadamente aplicadas e interpretadas, evidenciam traços de afastamentos e/ou de aproximações entre textos fonte e alvo, traços estes que podem atuar como starters para a Crítica de Tradução, como, de fato, foi o que ocorreu com a constatação das correspondências interlinguísticas diretas entre os vocábulos cognatos das duas línguas. Nas investigações micro, por sua vez, tangenciou-se a questão da onerosidade das investigações via Linguística de Córpus, com o intuito de destacar a necessidade de se ser objetivo, do contrário, as investigações podem fornecer desdobramentos exponencialmente crescentes, que tendem a serem mais contraproducentes do que produtivos aos pesquisadores. Neste sentido, demonstrou-se que, com base naquela percepção, obtida nas investigações macro, foi possível, com imparcialidade, vislumbrar procedimentos que permitiram a seleção de dois morfemas cognatos das duas línguas, os quais se mostraram suscetíveis de análises mais aprofundadas. Análises estas que, não somente apontaram algumas escolhas de tradução que, tanto qualitativamente quanto quantitativamente, me pareceram menos adequadas à aproximação do texto alvo ao texto fonte, bem como, culminaram discussões entorno dos conceitos de colocações e prosódias semânticas. Isto posto, considero que as análises, aqui apresentadas, forneceram, com bastante rigor investigativo, algumas evidências da viabilidade de se aplicar conceitos e ferramentas da Linguística de Córpus à prática da Crítica de Tradução, de modo a implementar-se investigações empíricas, que venham a se associar às leituras subjetivas dos textos alvo e fonte, permitindo que o crítico de tradução detecte, com vistas à metáfora benjaminiana da ânfora recuperada, “fissuras” na tradução.

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*Doutorando junto à Pós-graduação em Estudos da Tradução (PGET) da Universidade Federal de Santa Catarina, campus Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. E-mail: Keducar@brturbo.com.br.