REFLEXÕES SOBRE O LIVRO SEJAMOS TODOS FEMINISTAS – Roberta Lira

REFLEXÕES SOBRE O LIVRO SEJAMOS TODOS FEMINISTAS

                                                                                                 Roberta Lira

 

Nestas páginas faço algumas reflexões breve sobre o livro Sejamos Todos Feministas, da escritora nigeriana  Chimamanda Ngozi Adichie, que discorre de forma envolvente, coerente e até bem imperativa sobre a importância de sermos feminista. A escritora apresenta a face de um feminismo contemporâneo sobre os muitos feminismos existentes onde intersecciona gênero e classe, tratando principalmente na desigualdade de direitos da mulher nigerina e africana, discorrendo sobre identidade, política e situação social em seu país, mas que possibilita abranger questões incomuns do tema em aspecto global. Desta maneira venho trazer algumas reflexões sobre o livro a partir da tradução em português feita por Christina Baum e em espanhol feita pelo tradutor Javier Calvo, do Canal da Tsuki (You Tube) que legendou a palestra para o português que originou o livro foram as traduções que acessei. Desta maneira, aqui destaco algumas questões que percebi como importantes em processos tradutórios e reflexões sobre essa perspectiva feminista.

A escritora Chimamanda Ngozi Adichie nasceu em Enugu, na Nigéria, em 1977. É autora dos romances Meio Sol Amarelo (2008) — vencedor do Orange Prize, adaptado ao cinema em 2013 —, Hibisco Roxo (2011) e Americanah (2014), publicados no Brasil pela Companhia das Letras. Ela assina uma coleção de contos, The Thing Around Your Neck (2009). Sua obra foi traduzida para mais de trinta línguas e apareceu em inúmeros periódicos, como as revistas New Yorker e Granta. Depois de ter recebido uma bolsa da Mac Arthur Foundation, Chimamanda vive entre a Nigéria e os Estados Unidos. Sua célebre conferência no TED já teve mais de 1 milhão de visualizações. Eleito um dos dez melhores livros do ano pela New York Times Book Review e vencedor do National Book Critics Circle Award, Americanah teve os direitos para cinema comprados por Lupita Nyong’o, vencedora do Oscar de melhor atriz por Doze Anos de Escravidão.

Chimamanda Ngozi Adichie escreveu o livro We Should All Be Feminists (Sejamos Todos Feministas) com base em uma palestra que realizou em dezembro de 2012, no TEDxEuston, uma conferência anual voltada para a África. Nela os palestrantes de diversas áreas realizaram suas breves palestras buscando desafiar e inspirar pessoas africanas e os amigos do continente africano. A escritora ficou conhecida também por sua palestra chamada “The Danger of the Single Story” [O perigo de uma história única], onde ela destacava como os estereótipos limitam e formatam nosso pensamento, especialmente quando se trata da África.

A autora mostra em seu livro, com destaque, o quanto a palavra “feminista” como a própria ideia de feminismo, é cercada por estereótipos. Seus livros trazem reflexões em torno do feminismo, tema de delicada discussão nos espaços sociais, desde o título: Sejamos Todos Feministas, em tradução de Christina Baum.

A escritora traz em seu livro a exposição de narrativas pessoais em torno do feminismo, desde a descoberta da palavra em sua adolescência, como também apresenta sua carga sócio-cultural e política. Depois, de forma muito marcante por meio de suas vivências enquanto mulher, apresenta as diferenças de tratamentos, a desigualdade de direitos entre mulheres e homens.

Destacadas situações pessoais, dos “tipos comuns” de opressão de gênero presentes em sua vida cotidiana, ela nos faz conhecer questões específicas de seu país, mas, principalmente, nos faz perceber questões globais em torno desta desigualdade e o quão violenta e dissonante é, algo que se vê em comum a vida de muitas mulheres, como possibilita a reflexões de quem as prática e reproduz, sendo homens ou não, ainda podendo transpor tranquilamente tais situações exemplificadas para outro tipo de opressão como a de raça.

Ela vai de aprofundando na temática por meio de sua narrativa envolvente e fluida, com seus exemplos imagéticos bem coloridos e vivos, segue pela contação de histórias, a qual seria influenciada pela cultura em que vive. A percepção de sua “veia de contadora de histórias tradicionais”, algo muito presente em muitas culturas africanas, que se manifesta de diferentes formas, me fez ver nela as contemporâneas contadoras africanas.

Sinto que ela a autora traz e faz muito presente traços ancestrais de magnetismo em suas construções apresentações ao vivo e em seus livros, algo que a torna como as suas obras sempre muito atrativas. Onde as narrativas e as histórias, ao mesmo tempo que são de contagiante comunicação, entendimento, ainda possibilita encantamento, empatia ou uma atenção especial de qualquer pessoa sensível, culta.

Ela destaca suas experiências pessoais de mulheres nigeriana questionando o machismo em seu país, narra, fazendo uma série de digressões temporais harmônicas e interessantes, em que trata a presença do machismo atravessando questões de identidade, classe, gênero e cultura nigeriana. Sugere transformações, como as novas formas de pensar mulheres e homens. Demonstra acreditar que há espaço para mudanças nas culturas.

A propósito das traduções, tanto em português como em espanhol, usam a primeira pessoa do plural, que nos aproxima tanto de suas experiências, como de seu pensamento, de suas propostas, das estratégia da autora.

Compreendendo que o tema da autora carrega uma carga histórica de rejeição, preconceito à palavra “feminista”.

Observei o quanto o livro tem a ver com minhas experiências pessoais, minha autotradução da opressão das mulheres, principalmente negras.

 

* Cantora, atriz, performer, produtora cultural, curadora, professora de cantos e musicalização infantil, pesquisadora de arte e cultura de matriz africana, bacharela em Artes Cênicas e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução (PGET/UFSC). Diretora Executiva do Kurima Bantu Mulheres Mudempodiro, Diretora de Projetos, Arte e Cultura do Coletivo Kurima – Estudantes Negras/os da UFSC. Coordenadora Pedagógica do Fórum de Artes Negras da Cena (FANCA/UFSC). Diretora Vozes de Zambi – coletivo e projeto de extensão (UFSC), Intercâmbio Brasil/Peru de Mulheres Negras: Empoderamento como Ferramenta de Desenvolvimento, Igualdade e Justiça e membra da Association for Women’s Rights in Development (AWID).