LUAR (Compenetração alógica), de Fillipo Tommaso Marinetti – Tradução: Dirce Waltrick do Amarante
LUAR
(Compenetração alógica)
Fillipo Tommaso Marinetti
(1915)
Tradução: Dirce Waltrick do Amarante
Um banco num jardim público
Ele: Que noite linda; vamos nos sentar …
Ela: Como o ar está fresco …
Ele: estamos sozinhos, neste jardim imenso. Você não está com medo?
Ela: Não … não … Estou feliz de estar sozinha com você.
Um senhor gordo, saindo de uma alameda, aproxima-se, senta-se no banco ao lado do casal que não o vê, como se ele fosse invisível. Ele olha para moça enquanto ela fala.
O senhor gordo: Hum! Hum!
Ela: Você sentiu o vento?
O senhor gordo: Hum! Hum! (Ele olha para o moço enquanto ele fala).
Ele: Não é o vento!
Ela: Tem certeza que não tem ninguém mesmo neste jardim?
Ele: Só tem o guarda, lá na guarita. Está dormindo. Vem aqui mais perto de mim … Me beija …
O senhor gordo: Hum! Hum! (olha as horas no seu relógio, se levanta, caminha refletindo em frente ao casal que se beija, depois ele se senta novamente).
Ela: Que noite linda!
Ele: Como o ar está suave!
O senhor gordo: Hum! Hum! (olha as horas no seu relógio, se levanta, passa por trás do banco. Ainda sem ser visto, ele toca suavemente o ombro da moça, depois se afasta lentamente).
Ela: Que arrepio.
Ele: Está um pouco frio …
Ela: Está tarde.
Ele: Vamos voltar, você quer?
Cortina
O senhor gordo não é um símbolo, é alógica de várias sensações: medo da realidade futura, frio e solidão da noite, visão da vida depois de vinte anos etc.