“O Avental todo sujo de Ovo”, do Grupo Ninho de Teatro – Willian Mario
“O Avental todo sujo de Ovo”, do Grupo Ninho de Teatro
Willian Mario *
No dia 10 de junho 06, fui ao SESC Prainha no centro de Florianópolis assistir a um espetáculo promovido pelo projeto Palco Giratório. A temática e as críticas informais acabaram criando uma grande espectativa e, acredito eu, a partir do momento que esse fenômeno acontece com o público as chances de uma decepção se tornam cada vez maiores. Porém, o que se sucedeu foi o contrário. Logo na entrada aconteceu algo simples, mas que sem dúvida preparou o terrenopara uma apresentação que seria tão intimista. Os atores recepcionavam seu público ao som de um samba enquanto este recebia a visão de um cenário completamente exposto com as luzes já acesas.
Ao fim da música deu-se início ao espetáculo. As luzes iluminavam um tapete que delimitava o espaço cênico retangular e os atores que não estavam em cena permaneciam no escuro, não nas cochias, estavam a vista de todos. Foi precisoalguns minutos desde o início para que enfim eu percebesse que aquele não era um tapete, mas sim arroz. Milhares de grãos de arroz no chão e uma cadeira, este era o cenário. Simples, mas carregado de significado.
A história é de uma mãe que cozinha arroz doce para o filho Moacir, desaparecido há 19 anos ainda na infância. Seu marido é alcoólatra e a vizinha (alívio cômico da peça) de certa forma é o único meio que ela tem para desabafar.
A espera, as lembranças, as dores. Para mim, uma boa peça de teatro é aquela que não tenta ser cinema nem televisão, mas assume a sua realidadeteatral. Em “OAvental Todo Sujo de Ovo” um jovem interpreta sem risco de esteriótipos alguém muito mais velho que o ator, uma mulher uma transsexual e um deficiente físico um papel que não dá ênfase para esta deficiência. Issoé o resultado de muito trabalho e de uma interpretação séria. Além do mais, a peça está em cartaz desde 2009 e se hoje transparece confiança e entrega é porque está se dando o tempo de amadurecer a cada apresentação. Não foram poucas as vezes em que me emocionei durante aqueles setenta minutos.
Fiz questão de sentar na primeira fila e se em certos momentos me arrepiei com a história outros deixei escapar algumas lágrimas pela interpretação tão maravilhosa que eu, um jovem ator, estava presenciando bem na minha frente. Um fato que me tocoua inda mais foi perceber que ao longo da peça os atores não perderam aquela intimidade com o público que haviam estabelecido lá no início enquanto dançavam, pelo contrário, a cada minuto isso ficava mais forte.
Todos os atores, principalmenteaatriz mais velha que interpretava a mãe, não ignoravam o publico, olhavam em seus olhos, falavam com ele. A impressão que eu
tinha enquanto público é se eu me levantasse da cadeira e entrasse naquela cena seria bem acolhido. E confesso que esta era minha vontade.
* Aluno do Curso de Artes Cênicas da UFSC