A tradução selvagem de Thomas Carlyle: Sartor Resartus – Ana Helena Souza

A TRADUÇÃO SELVAGEM DE THOMAS CARLYLE: SARTOR RESARTUS

Ana Helena Souza*

A comunicação abaixo foi apresentada no XI Congresso Internacional da ABRAPT (Associação Brasileira de Pesquisadores em Tradução) e V Congresso Internacional de Tradutores, realizado na UFSC, entre os dias 23 e 26 de setembro de 2013. Propunha-se a elaborar uma leitura do livro Sartor Resartus em resposta ao provocativo tema do simpósio organizado pelas professoras Dirce Waltrick do Amarante e Alai Garcia Diniz, com o título de “Tradução selvagem: da tradução de línguas inventadas à retextualização intercultural”. Embora não possa garantir o êxito dessa tentativa, o debate que se seguiu deixou claro que o texto funcionou bem como apresentação do livro de Thomas Carlyle. É com esse intuito que o publicamos aqui.

 

“Sartor Resartus” – Thomas Carlyle

 Jorge Luis Borges, em um de seus prólogos, observa que ninguém argumentou a favor do idealismo com “maior convicção, desespero e força satírica que o jovem escocês Thomas Carlyle (1795-1881) em seu intrincado Sator Resartus (1831)” (BORGES, 1998: 44) e termina seu texto com o seguinte comentário: “Não sei de livro mais arrojado e vulcânico, mais trabalhado pela desolação, que Sator Resartus.” (Idem, 46)

O objetivo desta comunicação é destacar o desespero e a desolação tão argutamente percebidos por Borges no texto de Carlyle. É a partir do seu teor desesperado que o livro se mostra como uma apropriação criativa e transformadora em diversos níveis: o da autobiografia (MALZAHN, 2002; RYAN, 2011); o de uma crítica a romances românticos e de aventuras; o de uma apropriação ficcional do editor/narrador como guia de leitores, etc. Comentarei aqui, de modo introdutório, o da traduzibilidade entre culturas, tema de um brilhante ensaio de Wolfgang Iser, comentado anteriormente (SOUZA, 2012), e, como contribuição pessoal à leitura dessa “intrincada” ficção, falarei sobre o peculiar emprego de elementos do idealismo transcendental alemão (aspecto filosófico e ensaístico do texto) e do gênero satírico. Para tanto, é preciso esclarecer que não só há um embate entre culturas (no caso a alemã e a inglesa) no texto, mas também um conflito religioso pessoal. Ambos permanecem sem resolução. Ou antes, o próprio Sartor Resartus é a melhor tradução deles.

Dividirei a apresentação em três blocos. Em primeiro lugar, uma apresentação breve do livro; em segundo, um comentário sobre o texto de Wolfgang Iser; em terceiro, vislumbres do que seria a “tradução selvagem” de elementos ficcionais no Sartor Resartus. Nessa terceira parte, citarei bastante o texto de Carlyle (na minha tradução, ainda inédita), pois só exemplos são capazes de dar uma ideia do seu estilo “arrojado” e “vulcânico”.

  1. 1.     Breve apresentação do livro

Sator Resartus tem como objetivo expor as ideias de um filósofo alemão ao público inglês. O filósofo chama-se Diógenes Teufelsdröckh, nome que já designa uma contradição entre o bem e o mal, ou mais propriamente, o elevado e o baixo (Diógenes = filho de Deus x Teufelsdröckh = bosta do diabo). Hofrath Heuschrecke, o conselheiro (Hofrath) gafanhoto (Heuschrecke), tem a função de fornecer notícias e material para o editor e, quando um texto seu aparece, encontrado numa das sacolas com material autobiográfico de Teufelsdröckh, é apenas mencionado por conter em suas margens notas e comentários do filósofo. Os outros personagens, sejam eles os da história de vida de Teufelsdröckh ou das relações do editor, surgem tão somente para preencher as narrativas nas quais figuram.

O narrador autodenomina-se Editor, uma vez que é seu trabalho selecionar, traduzir e comentar trechos do livro a “Filosofia das Roupas”, cujo original alemão lhe foi enviado pelo próprio pensador. Pelo menos é isso que se dispõe a fazer, mas logo vê sua tarefa impossibilitada pela ausência de dados biográficos que possam ajudar a compreender a doutrina peculiar do filósofo. De modo que no Livro I, logo no início do capítulo II, intitulado “Dificuldades Editoriais”, surge o impasse:

Além disso, expor a Filosofia das Roupas sem o Filósofo, as ideias de Teufelsdröckh sem algo de sua personalidade, não seria assegurar a ambos uma incompreensão total? Agora para uma Biografia, caso fosse aceitável, não havia nenhum documento adequado, nenhuma esperança de obtê-los, mas antes, devido às circunstâncias, um desespero especial. Assim o Editor viu-se, naquele momento, excluído de qualquer expressão pública sobre essas Doutrinas extraordinárias, e constrangido a revolvê-las, não sem inquietude, nas profundezas escuras da sua própria mente. (CARLYLE, 2000, 9)

Felizmente, o Editor recebe uma carta do grande amigo e discípulo do filósofo – o Hofrath Heuschrecke –, narrando o sucesso dos escritos de Teufelsdröckh na Alemanha e oferecendo-se para enviar documentos e relatos autobiográficos do autor. Pode ser concebido, então, o livro com o título em latim de Sartor Resartus, ou seja,  “O Costureiro Recosturado” ou ainda “O Alfaiate Remendado” e o subtítulo de A vida e as opiniões de Herr Teufelsdröckh em três livros, numa clara alusão a A Vida e as opiniões do cavalheiro Tristram Shandy, de Laurence Sterne (1713-1768).

Enquanto aguarda os documentos, o editor prossegue na sua tarefa, primeiro tirando das recordações da visita que fez ao filósofo tudo o que possa contribuir para um retrato dessa personagem. Depois, selecionando, traduzindo e citando trechos da “Filosofia das Roupas”, sem furtar-se a comentários e críticas tanto às ideias como ao estilo do autor. Finalmente, no último capítulo do Livro I, chegam os malotes com os tão esperados documentos. Consistem em seis sacolas cheias de papel. O editor descreve sua desolação frente ao material, que se apresenta em fragmentos diversos, dizendo que terá de aplicar:

a Diligência e a débil Faculdade de pensamento de um Editor inglês, empenhando-se para desenvolver uma Criação impressa a partir de um Caos alemão impresso e manuscrito, onde, ao disparar de lá para cá nele, juntando, agarrando, remendando o Por quê ao bem longínquo Por isso, todo o seu Ser e Faculdades são passíveis de ser engolidos. (CARLYLE, 2000: 60)

Estabelece-se assim, com clareza, o que antes fora apenas entrevisto: há em Sartor Resartus a encenação de um embate entre duas culturas, por meio de uma suposta criação editorial, que inclui seleção, tradução e comentários.

Bem vistas as coisas Sartor Resartus pretende ser o resultado de uma tradução do alemão para o inglês, editada e comentada. Mas logo fica claro que não se trata de nenhuma tradução, os nomes alemães do filósofo, do amigo e discípulo, da cidade, etc, deixam muito claro que tudo não passa de ficção. A tradução entra aqui como recurso de mediação e distanciamento, para que o narrador possa dar livre curso às suas ideias, argumentos e contra-argumentos.

 

  1. 2.     Comentário sobre o texto de Iser

Segundo Wolfgang Iser o embate entre culturas gera, neste livro de Thomas Carlyle, um novo discurso, o “discurso transcultural”. Tal discurso manifesta-se por meio de um tipo de traduzibilidade que não se justifica nem como apropriação, nem como assimilação, nem sequer como entendimento e comunicação, pois não se submete a uma finalidade prática nem privilegia qualquer ponto da rede de interrelações que estabelece. (ISER, 1997: 248)

Wolfgang Iser, ao analisar Sartor Resartus como discurso transcultural, aponta o porquê da inadequação do livro a qualquer um dos gêneros estabelecidos. O próprio Carlyle referiu-se a ele como “a kind of Didactic novel; but indeed properly like nothing yet extant.” (grifo do autor – CARLYLE, 1888: 105). O discurso transcultural de Sartor Resartus pretende transpor a cultura filosófica alemã orientada para conceitos para a cultura orientada para a experiência do empirismo britânico.

O discurso elaborado para um empreendimento desses deve permanecer subserviente à transposição das culturas, e tal subserviência certamente terá repercussões na forma do discurso, e em especial porque a forma exerce controle e cria determinação. Consequentemente, tal discurso deve ser permeado por uma auto-reflexividade, que se manifesta na subversão mesma da sua forma. (ISER, 1997: 249)

A subversão da forma de que fala Iser transparece na perda dos efeitos narrativos, uma vez que a narração é submetida a exposições sistemáticas da filosofia transcendental e se vê constantemente interrompida. Além disso, a forma do tratado filosófico também é a todo momento suspensa, de maneira que a alternância reiterada entre narração e argumentação faz com que Sartor Resartus gire ao redor de um espaço vazio (Idem).

A utilização da biografia e da autobiografia em Sartor Resartus também funciona como uma forma de constituir esse discurso transcultural: “A ênfase na experiência torna evidente que o transcendentalismo alemão, quando transposto para o empirismo inglês, tem de ser executado em termos familiares ao leitor britânico.” (ISER, 1997: 259) As abstrações devem submeter-se à “supremacia da vida” (mastery of life – Iser, 1997: 260). Segundo o crítico, Sartor Resartus como obra de arte literária não chega a ser bem sucedido. Falta-lhe autonomia narrativa. Como texto filosófico, por sua vez, falta-lhe sistematização.

 

  1. 3.     A “tradução selvagem” de elementos ficcionais no Sartor Resartus

O caráter ficcional deste livro de Carlyle é inegável. E é aqui que entra o que estou chamando de “tradução selvagem”. Nem tratado filosófico, nem biografia, nem mesmo romance de formação (Bildungsroman) – apesar de um dos mais renomados estudiosos do romantismo inglês tê-lo classificado assim (Abrams, 184: 194) –, Sator Resartus: a vida e as opiniões de Herr Teufelsdröckh em três livros contém elementos desses quatro tipos de prosa, embora continue resistindo a classificações de gênero.

É claro que não é tal dificuldade de classificação do livro em um gênero estabelecido o que determina problemas na estrutura de sua prosa de ficção. Poderíamos, seguindo Bakhtin, chamá-lo simplesmente de romance. Sobressai, porém, uma indefinição de tom no texto, que deixa entrever dificuldades do próprio Carlyle em assumir suas crenças. E é importante dizer que Borges também toca nesse ponto (1998,45-46). Um comentador chega a falar num “paradoxo esquizofrênico essencial” (MALZAHN, 2002, 81), ao analisar a doutrina dos símbolos de Teufelsdröckh. Preferimos apontar uma oscilação do autor entre sua própria definição dos símbolos, devedora do idealismo transcendental alemão, e uma leitura mais “sintomática” da realidade.

Yuri Lotman dá a chave da diferença entre símbolo e sintoma:

Uma leitura simbolizadora significa ler como símbolos textos ou fragmentos de textos, que em seu contexto natural não tinham a intenção de ser percebidos assim. Uma leitura des-simbolizadora transforma símbolos em mensagens simples. O que é um símbolo para a consciência simbolizadora é para a consciência dessimbolizadora meramente um sintoma. O dessimbolizador século 19 via uma pessoa ou personagem literária como “representante” (de uma ideia, classe ou grupo), enquanto o poeta simbolista Alexander Blok percebia as pessoas e os fenômenos da vida cotidiana como símbolos […] e manifestações do infinito no finito. (LOTMAN, 2000: 105)

Indo diretamente ao texto de Carlyle, observa-se a convivência desconfortável de símbolo e sintoma. Aqui é preciso esclarecer que as aspas indicam uma passagem que corresponde a uma tradução feita pelo Editor inglês (o narrador) do suposto original alemão do filósofo e professor Diogénes Teufelsdröckh. Citamos trecho do Livro III, capítulo III, denominado “Símbolos”:

“No Símbolo propriamente, no que podemos chamar de Símbolo, há sempre, mais ou menos distinta e direta, alguma encarnação e revelação do Infinito; o Infinito é feito para mesclar-se com o Finito, para ficar visível, e por assim dizer acessível, ali. Pelos Símbolos, por conseguinte, o homem é guiado e comandado, torna-se feliz, torna-se desgraçado. Em toda parte encontra-se rodeado de Símbolos, reconhecidos como tais ou não: o Universo não é senão um Vasto Símbolo de Deus; e mais, se aceitares isso, o que é o homem ele próprio senão um Símbolo de Deus; não é tudo o que faz simbólico; uma revelação para os Sentidos da Força mística dada por Deus que está nele; um ‘Evangelho de Liberdade’, que ele, o ‘Messias da Natureza’, prega, como pode, por atos e palavras? Ele não constrói uma Cabana que não seja a encarnação visível de um Pensamento; que não sustente um registro visível de coisas invisíveis; que não seja, no sentido transcendental, simbólico bem como real.” (CARLYLE, 2000: 162-163)

(…)

“Mas, no todo, assim como o Tempo acrescenta muito ao teor sacro dos Símbolos, do mesmo modo em seu progresso ele afinal os desfigura, ou mesmo os desconsagra; e os Símbolos, como todas as Vestes terrestres, envelhecem. A Epopeia de Homero não cessou de ser verdadeira; todavia não é mais a nossa Epopeia, mas brilha à distância, cada vez mais clara, todavia também cada vez menor, como uma Estrela a afastar-se. Precisa de um telescópio científico, precisa ser reinterpretada e aproximada de nós artificialmente, antes que tenhamos condições de saber que fora um Sol. Do mesmo modo chega o dia em que o Thor Rúnico com seus Eddas deve retirar-se para a obscuridade; e muita Mandinga africana, e Pajé índio ser abolidos por completo. Pois todas as coisas, inclusive os Luminares Celestiais, quanto mais os meteoros atmosféricos, têm sua ascensão, seu clímax, seu declínio.” (165-166)

A defesa da natureza simbólica de tudo o que o homem faz aparece ao lado da constatação da caducidade dos símbolos (ou de sua leitura como “sintoma” de uma época, de um grupo, de uma religião) e da necessidade de que sejam renovados. Carlyle tenta resolver esse impasse ao declarar que o símbolo mais alto se encontra na vida de grandes homens. E essa posição será desenvolvida na sua produção posterior como historiador, biógrafo e ensaísta, infelizmente de maneira muito mais rígida e conservadora que em sua prosa de juventude (FRYE, 2005).

Outra passagem que gostaria de comentar demonstra a dificuldade de traduzir a sátira em termos puramente ficcionais. A ruptura do tom satírico que pode ser percebida no último trecho da citação abaixo evidencia a dificuldade do autor em seguir as regras de um único gênero. Carlyle desvirtua a lição do mestre Swift em A modest proposal (1729), texto-fonte, por assim dizer, desta sua tentativa.

Como exemplo de sátira e recuo da sátira, vejamos trechos do Livro III, capítulo IV, intitulado “Hilotismo”.  Trata-se, esclarece o editor, de passagem que aparece como comentário do filósofo, escrito à margem do tratado sobre a superpopulação (à Maltus) do seu discípulo Hofrath Heuschrecke:

Num tom completamente oposto há o seguinte: “Os antigos espartanos tinham um método mais sábio; e saíam e caçavam seus Hilotas[1], e os espetavam e lancetavam, quando ficavam numerosos demais. Com nossas modas de caça aprimoradas, Herr Hofrath, agora depois da invenção das armas de fogo, e exércitos permanentes, como seria muito mais fácil tal caçada! Talvez no país mais densamente povoado, anualmente uns três dias bastassem para fuzilar todos os Pobres que se houvessem acumulado durante o ano. Que os Governos pensem nisso. A despesa seria irrisória: nem isso, as próprias carcaças pagariam-na. Façam-nas salgar e envasilhar; não se poderia alimentar com isso, se não o Exército e a Marinha, ainda assim abundantemente esses Pobres alquebrados, em oficinas e outras partes, que uma Caridade iluminada, não temendo nenhum mal da parte deles, visse algum bem em manter vivos?”

“E todavia”, escreve mais adiante, “deve haver algo errado. Um Cavalo adulto irá, em qualquer mercado, conseguir de vinte até no máximo duzentos Fredericos de ouro: esse é seu valor no mundo. Um Homem adulto não só não vale nada para o mundo, como o mundo poderia dispensar-lhe uma boa soma, se simplesmente cuidasse de ir enforcar-se. No entanto, qual dos dois era o artigo imaginado com mais astúcia, inclusive como Motor? Deus do Céu! Um homem branco europeu, firmando-se sobre as duas Pernas, com suas duas Mãos de cinco dedos na ponta das munhecas, e Cabeça milagrosa sobre os ombros, vale, eu diria, de cinquenta a cem Cavalos!”

“Verdade, ó Hofrath de Ouro!”, exclama o Professor em outra parte: “Populoso demais de fato. Enquanto isso, que porção deste insignificante Globo terráqueo realmente lavraste e escavaste, até que não mais crescesse? Quão densa é a População nos Pampas e nas Savanas da América; ao redor da antiga Catargo, e no interior da África; e dos dois lados da Cordilheira Altaica, na Plataforma central da Ásia; na Espanha, Grécia, Turquia, na Criméia Tártara, no Curragh de Kildare? Um homem, num ano, pelo que entendi, se emprestas-lhe Terra, alimentará a si mesmo e a outros nove.” (169-171)

Nos dois primeiros parágrafos citados, a sátira segue com sucesso o modelo estabelecido por Swift. No terceiro, entretanto, é introduzida uma sugestão que em nada mantém o tom satírico anterior. As perguntas que conduzem a tal sugestão funcionam como o seu argumento: as terras ainda pouco habitadas do planeta, quando povoadas e cultivadas pelo homem seriam suficientes para o sustento de todos. Carlyle não vai até o fim, na sátira ensaiada pelo professor e filósofo Teufelsdröckh, exatamente porque se trata do professor e filósofo Herr Teufelsdröckh e não de um satírico de língua inglesa.

Tais exemplos em nada diminuem a força do livro. Talvez seja possível, por meio deles, vislumbrar que a estranheza de Sartor Resartus provém de uma criação que deseja traduzir ideias, crenças e discursos em conflito, para as quais o escritor se vê obrigado a encontrar soluções radicalmente novas. A melhor delas foi a de empregar a ficção para dar voz a esses conteúdos. Embora a violência dos conflitos irresolutos comprometa o plano da ficção, ela não consegue destrui-lo. Se se produz um novo discurso, o discurso transcultural, como sustenta Wolfgang Iser, a existência dele se deve muito mais ao caráter ficcional do texto do que a seu caráter argumentativo. Dizendo de outro modo, a argumentação serve mais à ficção que vice-versa. Por outro lado, a ficção não é soberana, e o livro de Thomas Carlyle nem se contém nos seus limites nem de todo os extrapola. A nosso ver, traduze-os selvagemente.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BORGES, Jorge Luis. “Thomas Carlyle: Sartor Resartus”. In: Prólogos con un prólogo de prólogos.Madri: Alianza Editorial, 1998, p. 44-46.

CARLYLE, Thomas. Letters of Thomas Carlyle: 1826-1836. Edited by Charles Eliot Norton. London/New York: MacMillan and Co., 1888a, v. 1 [1826-1832].

________. Sartor Resartus. The Life and Opinions de Herr Teufelsdröckh in Three Books. Introduction and notes by Rodger L. Tarr; text established by Mark Engel and Rodger L. Tarr. Berkeley: University of California Press, 2000.

FRYE, Lowell T. “‘Vocables, Still Vocables’: Linguistic and Religious Despair in Thomas Carlyle’s Latter-Day Pamphlets”. In: Literature and Belief 25, 1&2, 2005. Disponível em: < http://literatureandbelief.byu.edu/publications/vocables.pdf> Acesso em: 16 set. 2013.

ISER, Wolfgang. “The emergence of a cross-cultural discourse: Thomas Carlyle’s Sartor Resartus”. In: BUDICK, Sanford; ISER, Wolfgang (Eds.). The Translatability of Cultures: figurations of the space between. Stanford, Ca: Stanford University Press, 1996, p. 245-264.

MALZAHN, Manfred. “Thomas Carlyle’s Haute Couture of (Self-)Translation”. In: Ahrens, Rüdiger (ed.). Symbolism: an international annual of critical aesthetics. Vol 2. New York: AMS Press, 2002.

MILLER. J. Hillis. “Verdade hieroglífica em Sartor Resartus: Carlyle e a linguagem da parábola”. In: A ética da leitura: ensaios 1979-1989. Trad. Kátia Maria Orberg. Rio de Janeiro: Imago, 1995, p. 151-173.

RYAN, Vanessa L. “The Review of English Studies Prize Essay: The unreliable editor: Carlyle’s Sartor Resartus and the art of biography”. In: The Review of English Studies, Oxford University Press, New Series, Vol. 14, No. 215, 2003, p. 287-307. Disponível em: < http://res.oxfordjournals.org/content/54/215/287.full.pdf+html> Acesso em: 26 ago. 2011.

SOUZA, Ana Helena. “Sartor Resartus como discurso transcultural e sua tradução brasileira”. In: Anais do III Congresso Internacional da ABRAPUI. Universidade Federal de Santa Catarina. BECK, M. S.; SILVEIRA, R.; FUNCK, S. B.; XAVIER, R. P. (Organizadoras). Florianópolis, 2012. Disponível em: http://www.abrapui.org/anais/ComunicacoesIndividuaisLiteratura/4.pdf Acesso em: 16 set. 2013.

TOREMANS, Tom. “Sartor Resartus and the Rhetoric of Translation”. Translation and Literature 20 (2011), Edinburgh University Press, 61–78.


* Ana Helena Souza é autora de A tradução como um outro original e tradutora. De Samuel Beckett traduziu Como é, Molloy, O inominável e Companhia e outros textos. A tradução de Sartor Resartus de Thomas Carlyle é parte do seu projeto de pós-doutorado, recém-concluído na PGET-UFSC.

[1] antigos espartanos … Hilotas: Os hilotas eram escravos que pertenciam ao estado. Descendiam da população original dominada pelos espartanos, trabalhavam a terra e eram tratados com crueldade. Quando havia revoltas, organizavam-se caçadas aos hilotas.