Julia Engell-Günther (1819 – 1910): uma exilada alemã Um coração que bateu pelo Brasil até seu último suspiro – Elke Dislich

Julia Engell-Günther (1819 – 1910): uma exilada alemã

Um coração que bateu pelo Brasil até seu último suspiro

 

Elke Dislich*

“Ninguém é capaz de descrever o Brasil da forma que eu aprendi a fazê-lo após dez anos de permanência nesse país, pois tenho certeza de que todos aqueles turistas e negociantes que por lá passaram, não o conheceram como eu o conheci, que tive que ganhar o meu pão naquelas paragens. Além disso, eu o vi com o coração, não me deixei iludir e enganar com adulações, como costuma acontecer com tantos homens sabidos”.[1]

(Julia Engell-Günther)

 

      “Quão feliz me sinto aqui, com que profundeza e intimidade me penetra agora a inteligência tanta coisa antes inacessível”[2].

(C. F. P. von Martius)

  

“O Brasil de agora”

 

Quando se fala de exílio no Brasil, o nome de Stefan Zweig sempre vem à baila bem como seu livro Brasil, um país do futuro e o assunto parece esgotar-se aí. No entanto, há outros exilados de fala alemã que também se pronunciaram sobre o país, como se pode aquilatar pela pesquisa de Izabela Kestler, publicada no livro Exílio e literatura. Escritores de fala alemã durante a época do nazismo. Mas existem ainda outros nomes mais como, por exemplo, Julia Engell-Günther.

Sim, é certo, que a maioria desses textos está em alemão, uma língua estranha à maioria dos leitores brasileiros. Porém, tal situação começa a ser revertida por um macroprojeto de pesquisa, que, aos poucos, está colocando suas traduções on line (http://martiusstaden.org.br/conteudo/detalhe/69/rellibra).

É o caso do microprojeto sobre a vida e a obra desta autora – Julia Engell-Günther (http://www.martiusstaden.org.br/conteudo/detalhe/116/julia-engell-gunther-1819-1910).

Comecemos por ilustrar o carinho e a agudeza do olhar desta mulher alemã em relação ao Brasil, lendo-se seu artigo Das jetztige Basilien (O Brasil de agora) publicado, em 1889, no “Jahrbuch der Mittelschweizerischen Geographisch-Comerciellen Gesellschaft”, que aqui traduzimos pela primeira vez:

 

“Se, recentemente, a atenção de toda a humanidade civilizada dirigiu-se aos últimos acontecimentos no Brasil, porque lá desenrolou-se uma revolução muito significativa, sem que quase nenhum sangue tivesse sido derramado, parece que a imprensa europeia, agora, de maneira bastante injusta, exige da jovem República a solução imediata de todos os males, em parte herdados da recém destituída Monarquia, em parte decorrentes da situação difícil em que se encontram todas as nações do mundo, e que, portanto, não podem ser resolvidos rapidamente, nem pelas melhores e mais bem intencionadas cabeças.

Acredito que seja oportuno observar o real estado das coisas, de um ponto de vista totalmente imparcial, e trazer algumas contribuições para a avaliação correta deste grande país, ainda bastante desconhecido. O Brasil destaca-se no cenário mundial principalmente por suas belezas naturais incomparáveis, pela produtividade extraordinária do seu solo, pela riqueza dos seus produtos e por suas imensas dimensões, pouco populosas, e, portanto, pouco exploradas. O tamanho dos atuais “Estados Unidos do Brasil” é bastante maior do que o da Europa e Rússia juntas, enquanto sua população equivale à da Hungria. Os nativos, já por ocasião da tomada de posse por Portugal, eram poucos e, atualmente, não devem existir mais que cem mil almas, que se escondem nas matas do interior, onde, devido às más condições de vida acabam perecendo, de maneira que, em algumas décadas, devem estar completamente dizimados, ou misturados às comunidades de colonos que habitam aquelas áreas. Devo, no entanto, alertar que essa mistura só é realizada através das mulheres e crianças, uma vez que os homens – como diz o ditado – se mostram “indomáveis”. Posso afirmar que, mesmo os rapazes, que são capturados por inimigos da sua tribo, raramente, podem ser acostumados a uma vida mais civilizada, porque, tão logo se apresente uma oportunidade, fogem, para voltar ao convívio dos seus, na floresta densa, preferindo estar expostos aos perigos da mata virgem, a exercerem qualquer tipo de ocupação que se pareça com trabalho. O contrário acontece com as mulheres e meninas, acostumadas a fazer todos os trabalhos pesados na tribo, enquanto sob o domínio de estranhos, são expostas a sacrifícios bem mais leves e quase nunca expressam a vontade de serem reconduzidas às suas respectivas tribos. Isso só acontece quando o amor de mãe prevalece e uma índia, capturada por colonos, foge, a fim de não permitir que sua criança seja deixada, desamparada, em mãos alheias. Normalmente, as mulheres índias mostram uma grande mansidão, complacência e vontade de aprender, além de afeição também disposição a sacrifícios, motivos pelos quais conseguem conquistar seus donos.

Até o ano de 1822, quando o Brasil conquistou sua libertação da soberania portuguesa, a imigração europeia foi pouco numerosa, uma vez que só era permitida a imigração de portugueses. Como a população de Portugal era muito pequena, não era possível enviar grandes contingentes de imigrantes para a colônia. O Vice-Rei, Príncipe Dom Pedro, cedendo ao apelo dos seus Conselheiros, tomou a rápida decisão de declarar o país independente de Portugal e assumir o título de Imperador Dom Pedro I do Brasil.

A imigração europeia, mesmo assim, continuou bastante fraca, devido aos custos altos da viagem e às condições desconhecidas.

Foi principalmente a escravidão dos negros vindos dos países africanos que impediu o aumento de uma população livre; porém, também os negros não apresentavam uma alta taxa de natalidade. O trabalhador livre era menosprezado e sentia-se ameaçado, porque a maior parte dos trabalhos era executada pela mão de obra escrava, e a maior parte das terras disponíveis para agricultura estava nas mãos dos grandes latifundiários, (de maneira jocosa, apelidados de Barões de Escravos). Assim, ficava quase impossível adquirir uma pequena área para plantio, mesmo que os imigrantes fossem experientes no manejo da terra e não tivessem medo de trabalhar duro. Também não foram raros os casos em que essas terras, compradas de boa fé e devidamente trabalhadas, lhes tivessem sido novamente tiradas, sob qualquer alegação torpe. Quando o caso era levado à Justiça, esta posicionava-se contra os imigrantes, que, por falta de conhecimento das leis vigentes e por não dominarem o idioma do país, eram amplamente ludibriados.

Em contrapartida, parece quase um paradoxo que há muitos anos o governo brasileiro bem como companhias particulares de emigração europeias, não tivessem poupado esforços para incentivar a imigração, empregando grandes somas em dinheiro para este fim, sem que tivesse havido um sucesso aparente. Esta contradição pode ser logo esclarecida, se levarmos em conta que, no Brasil, não se desejavam outros candidatos à imigração que não fossem pobres lavradores diaristas, acostumados ao trabalho pesado e sem cultura, dispostos a aceitar uma condição de dependência quase escrava. Devido à sua falta de escolaridade, essas pessoas não eram capazes de se defender e tornar públicas suas mazelas; com isso, ficava muito claro que nunca iriam ascender à condição de trabalhadores livres ou a donos de terras, uma vez que as dívidas que contraíam com os fazendeiros, mesmo antes que se instalassem no lugar de trabalho que lhes seria destinado, eram praticamente impagáveis. As despesas da viagem para o Brasil e para o seu lugar de destino bem como o material para sua instalação, como alimentos para alguns meses e o aluguel para um casebre primitivo, rodeado de um pouco de terra para um plantio insípido, eram computados a eles bem acima do valor devido. Na contratação, era-lhes garantido que receberiam a metade dos lucros obtidos com a venda das sacas de café; a venda, do café, no entanto não ocorria no local onde trabalhavam e, portanto, não tinham nenhum controle sobre a quantidade do café colhido, muito menos da soma paga no porto de escoamento. A distância até o porto perfazia, na maioria das vezes, cem milhas, o que exigia custos de transporte, e, como não dominavam a língua portuguesa e não estavam familiarizados com os costumes locais, depararam-se com enormes percalços. Os trabalhadores nas lavouras, erroneamente denominados “colonos”, eram obrigados a aceitar que os alimentos e as ferramentas necessários para o seu trabalho, lhes fossem computados com preços muito acima dos usuais, e não tinham controle algum sobre os lucros que lhes eram concedidos pelos fazendeiros. Estes, porém, nunca eram pagos em dinheiro vivo, mas descontados da soma das dívidas com o fazendeiro, que só faziam aumentar. Enquanto a dívida não fosse saldada, eles eram obrigados a trabalhar somente para o fazendeiro e da maneira que este quisesse. Assim, de qualquer maneira, permaneciam sob sua dominação. Não lhes era permitido afastar-se, nem por uma hora, do local que lhes fora destinado, sem sua expressa autorização, e os filhos respondiam pelas dívidas da família, da mesma forma que os pais, de maneira que não lhes era permitido fazer visitas a outros companheiros, ou receber visitantes, nem fazer nada de livre vontade, nem casar, se o fazendeiro não o autorizasse.

O curioso, no entanto, era que os contratos firmados pelos agentes de emigração na Europa com os trabalhadores das lavouras, os assim chamados meeiros, não possuíam valor algum perante as autoridades brasileiras. Os imigrantes desconheciam este fato e colocavam-se em situação de completa dependência dos fazendeiros e não estavam cientes de que uma arbitrariedade escandalosa era praticada contra eles. Mesmo que estivessem cientes dos seus direitos, seria muito difícil que conseguissem ser ouvidos, pois lhes faltava o dinheiro e a necessária influência para levar suas queixas aos tribunais.

Mesmo assim, casos ficaram conhecidos, onde o fazendeiro foi derrotado com suas próprias armas, quando, usando de astúcia, várias pessoas puderam ser resgatadas de suas garras. Um engenheiro alemão, por exemplo, que fora contratado pelo Governo Provincial para a construção de estradas, sugeriu aos seus trabalhadores europeus, especializados, que organizassem uma festa, a fim de se proporcionarem um dia alegre com música, dança, comidas e bebidas. Ao mesmo tempo, ele escreveu convites, que distribuiu aos meeiros das plantações de café nas fazendas da vizinhança e também os submeteu à apreciação dos respectivos fazendeiros e que estes não ousaram ignorar. Estes senhores não temiam nada mais do que o perigo de se tornarem motivo de críticas nos meios de comunicação locais e do exterior, por seus atos ilícitos contra seus contratados europeus. E, assim, um europeu culto pode contar com um ouvido aberto para reivindicações justas que ele propõe. Nosso prezado engenheiro, portanto, não se enganou, na certeza de que o fazendeiro liberasse um número considerável de mocinhas, na companhia de seus pais, para participarem da festa arranjada pelos trabalhadores na construção das estradas, mesmo que isso lhe desagradasse profundamente. Com isso o êxito do plano estava garantido, que não consistia em nada mais do que a imitação do famoso “Rapto das Sabinas”, o qual contava com a total aprovação dos respectivos pais. Estes, ao final da festa, voltaram às plantações, porém, sem as suas filhas, que nesse interim haviam se casado com alguns dos trabalhadores estrangeiros, e libertando-se, com isso, do domínio do fazendeiro. Como podemos deduzir, a surpresa para ele foi tudo menos agradável. Não lhe restava, porém, nada a fazer, porque as leis estrangeiras, em caso de casamentos, retiram dos pais a tutela sobre seus filhos, e contratos firmados entre estrangeiros não estão submetidos à legislação local.

Por outro lado, também aconteceram casos em que fazendeiros mandavam seus contratados para outras fazendas, nas quais deveriam prestar serviços. E que esses trabalhadores, indignados com essa atitude, empreendiam tentativas de fuga. Nesse caso, eram perseguidos pelos capatazes, presos e colocados em correntes e mantidos por meses no presídio e maltratados, sem que ninguém intercedesse em seu favor. O trabalhador, que era devedor do seu fazendeiro, não tinha direito nenhum em relação ao seu credor, que, acreditava ter o direito de tratá-lo como um escravo.

Não resta dúvida que, no decorrer do tempo, as classes mais esclarecidas declararam essas práticas ilícitas e trataram de aboli-las. Como se sabe, também, a escravidão, graças à ação dessas pessoas, poderia ser completamente extinta, apesar de serem elas severamente contestadas pelos grandes fazendeiros, que, na sua condição de “senadores vitalícios”, exerciam forte influência sobre o Governo. Eles constituíam, até então, um tipo de “Câmara Alta”, que dominava, de certa forma, toda a Monarquia, colocando-se contra qualquer esforço no sentido de um desenvolvimento do livre pensamento. Também os Jesuítas, que no decorrer do tempo arrogaram-se de um poder sempre maior, encontraram neles seus grandes defensores. O que foi lamentável, pois a Companhia de Jesus, pela legislação vigente, não tinha direito de permanecer no país. Sob a guarida dos Governantes, no entanto, essa Companhia fundou inúmeros Seminários, apoderando-se sempre mais da área da Educação formal. O Imperador Dom Pedro II nunca foi considerado um amigo do domínio eclesiástico, mas estava por demais envolvido com seus interesses pessoais, bastante inocentes, e não era o homem de pulso firme para pôr fim às maquinações obscuras desses nefastos senhores. Além disso, sua filha, a Princesa Regente Izabel, esposa do Conde d’Eu, favorecia abertamente as atividades jesuíticas. Como todos sabem, foram essas circunstâncias que pesaram contra ela e toda sua família, apesar dos seus méritos, quando da abolição definitiva da escravatura.

Por decisão das duas Câmaras, já em 1850, foi proibida a importação de novos escravos para o Brasil, o que, no entanto, não impediu que grandes fazendeiros tentassem e conseguissem, através de traficantes negreiros, trazer, ilegalmente, grandes lotes desta carga humana infeliz.  No campo, necessitava-se constantemente de renovação de mão de obra nas plantações de café, açúcar, tabaco e algodão, uma vez que a contratação de trabalhadores alemães, devido ao tratamento errado e mesquinho que lhes era dispensado, tinha se mostrado difícil e insuficiente. Em decorrência desses fatos, o tráfico de escravos continuava prosperando e, quanto mais de um lado eram feitos esforços para coibi-lo, do outro, ele tornava-se cada vez mais lucrativo, devido aos altos preços que eram alcançados. Finalmente, em 1871 a Câmara dos Deputados, apesar das constantes pressões por parte dos Senadores e dos seus seguidores, conseguiu que fosse aprovada a abolição gradual da escravatura. Mesmo essa medida, no entanto, deu margem a inúmeros desmandos, mostrando-se o quase onipotente Ministro, Barão de Cotegipe, um servo fiel dos Jesuítas e dos Senadores. Enquanto o Imperador, severamente enfermo, encontrava-se na Europa para tratamento, Cotegipe conseguiu usurpar ainda mais poder. A indisposição geral contra ele, no entanto, aumentou e chegou ao ponto de eclosão, e a Princesa Regente viu-se obrigada a demiti-lo. Pouco depois, ela também não pode evitar a confirmação definitiva da abolição da escravatura. Quando a notícia da sua anuência à assinatura do respectivo ato espalhou-se na Capital do Império, o entusiasmo tomou conta da população e em poucas horas conseguiu-se juntar uma soma muito elevada, suficiente para mandar confeccionar uma pena, ricamente adornada com diamantes, para ser oferecida à nobre Dama por ocasião do grande evento, o que realmente aconteceu. Não menos significante foi a satisfação manifestada em outras cidades com as mudanças ocorridas, que, evidentemente, não foi compartilhada pelos Senadores e pelo alto clero. Estes senhores procuraram espalhar joio no meio do trigo e encontraram respaldo por parte da Princesa Regente e de seu velho pai, o Imperador, que voltara da Europa. Como acontece sempre nesses casos, as contradições entraram em choque, principalmente porque o príncipe consorte, o Conde D’Eu, um neto do antigo Rei Luiz Filipe da França, tornou-se malquisto como Chefe das Forças Armadas. Certamente este motivo seria considerado de menor importância, que em outras circunstâncias até teria passado despercebido, não fosse a irritação que se havia estabelecido em ambos os lados, o que culminou em uma explosão, da qual os representantes do partido liberal trataram de tirar o melhor proveito. Provavelmente não calculavam, e não esperavam que o colapso da Monarquia acontecesse antes da morte do Imperador, e certamente teriam preferido um período maior de preparação para a ocorrência deste evento. Como, porém, a decisão teve que ser tomada antes da hora desejada, sentiram-se na obrigação de arcarem com as consequências dos postulados, defendidos há muitos anos, a fim de não correrem o risco de terem que bater em retirada diante dos oponentes.

Acredito que, quando avaliadas deste ponto de vista, várias das objeções que atualmente são levantadas contra os novos governantes, poderão ser vistas em uma nova luz, mesmo que não se possa dizer que não foram cometidos erros. Seriam necessárias forças sobre-humanas para enfrentar uma tarefa desta natureza!

Pode-se, entretanto, supor que os senhores que atualmente se encontram à frente da República do Brasil são providos da maior seriedade e que superam, em altruísmo e justiça, amplamente aqueles, que mantiveram o poder durante o período do Império. Eles terão pela frente, no entanto, árduas tarefas na luta contra os inimigos de qualquer forma de modernização, portanto os grandes fazendeiros e o clero, que exercem influência sobre as grandes massas de negros, necessitados de educação formal, além das exigências vindas das diversas províncias. Provavelmente estão corretas as notícias que recebemos através de jornais ingleses de que o novo Governo perdeu todo e qualquer controle sobre os diversos distritos no interior do país. Todos deveriam saber que mesmo a Monarquia sempre foi incapaz de manter uma verdadeira autoridade naquelas regiões, como, também, a solidariedade entre as diversas províncias sempre se mostrou duvidosa. Apesar disso, pode se afirmar, no geral, que os brasileiros constituem uma nação pacífica, desprovida de ímpeto sanguinário ou cruel. Pode-se, portanto, esperar que a República seja capaz de firmar-se, desarmando a disputa existente entre as Províncias, de maneira mais eficiente do que foi capaz a Monarquia.

A imprensa internacional informa que não é possível obter informações precisas sobre todos os acontecimentos, porque o Governo colocou sob censura a imprensa e o telégrafo. A esse respeito, pode-se afirmar que a liberdade de imprensa, em tempos passados, também não era respeitada e que os partidos, que naquela época mantinham o poder, ainda hoje não perderam toda a capacidade de serem ouvidos perante a opinião pública. Ouve-se que o Governador da Província do Rio Grande do Sul foi destituído e que, também, seu sucessor já foi substituído. Porém, uma substituição de governantes sempre ocorreu no Brasil, e é de lamentar-se que a situação não tenha melhorado sob a nova direção. No que diz respeito às revoltas e ao derramamento de sangue, que aparentemente ocorreram em algumas províncias, estes só devem ser lamentados, e não nos podemos esquecer que os grandes fazendeiros e o clero têm participação efetiva no atiçamento dos ânimos dos seus antigos escravos, na rebelião destes contra o atual Governo. Já se sabe de relatos antigos que eles se valeram das forças de seus escravos, aproveitando-se das suas superstições, para promoverem matanças em disputas de terras, divisas das suas propriedades e em lutas contra os defensores de ideais liberalistas.

É, de certa forma, compreensível que justamente os alemães do Rio Grande do Sul foram aqueles que mais se opuseram aos ideais da República,  quando nos lembramos que foram eles que nunca apoiaram, por simples ímpeto de oposição, as queixas contra a Monarquia. que aumentavam sempre mais entre os brasileiros. Eles sempre se vangloriavam da honra que representava o fato de serem fiéis seguidores do Imperador, da Família Real, sem que tivessem obtido qualquer vantagem desse fato, nem terem se perguntado sobre o “porquê”.Acreditavam, simplesmente, que era mais distinto pertencer a um Império do que a uma República, principalmente porque os seus parentes na longínqua Alemanha também haviam sido presenteados com um Império. Também, aqui, a influência dos Jesuítas foi preponderante, pois, pouco a pouco, apoderaram-se do ensino dos jovens. Quem poderia opor-se aos Santos Padres, que de maneira tão complacente, tão afável, granjeavam a simpatia dos pais, tirando de suas costas a difícil tarefa da educação dos filhos, em troca de alguns tostões! Porém, os monarquistas desta região não serão capazes de restabelecer, na Província, a tão apreciada Monarquia, e, com toda certeza, os outros Distritos jamais apoiariam esse movimento. Apesar de algumas diferenças entre si, os brasileiros, de maneira geral, são republicanos, mesmo que por razões bastante diversas. Os membros do atual Governo estão convencidos de que esta é a melhor forma de Governo, enquanto que os grandes fazendeiros, por ódio à Monarquia que tomou seus escravos, tornaram-se republicanos, pois não querem admitir nenhum poder acima do seu próprio, nem aquele de um Imperador.

Pior que essas hostilidades, que irão desaparecer com o tempo, no entanto, há o grande problema financeiro, uma vez que não se pode esperar uma rápida solução, sem que sejam exigidos grandes sacrifícios da população, que ninguém está disposto a fazer. Este fato, porém, não é nada novo, mas era muito pior na época imperial. Naquele tempo, porém, sabia-se melhor como ocultar a realidade. Infelizmente, todas as nações civilizadas estão caminhando na direção de um retrocesso, que se opõe ao desenvolvimento econômico sadio, e cuja origem pode ser verificada no crescente acúmulo de riquezas em poucas mãos. Uma vez que o Brasil até hoje não dispõe nenhuma atividade industrial própria, falta-lhe a massa de trabalhadores de fábricas, como ocorre na Europa e nos Estados Unidos, porém o proletariado de cor, apesar da sua habitual modéstia, encontra-se em uma situação muito precária, uma vez que não existem áreas livres para o plantio dos alimentos básicos. O Governo não possui terras para vender ou arrendar e os grandes fazendeiros só iriam desfazer-se das suas terras improdutivas em troca de grandes quantias em dinheiro. É possível que no futuro eles tenham de entregar, por bem ou por mal, as terras que não são aproveitadas a outros que delas farão o devido uso. No momento, porém, eles opõem-se totalmente diante dessa pretensão, da melhor maneira; uma vez que, também, inexiste a possibilidade de se promover uma imigração consistente de estrangeiros, por mais que isso seja desejável. A dificuldade de adquirir terras para o plantio desestimula agricultores europeus e, para todas as outras categorias de imigrantes, também não existe possibilidade de trabalho.

Jovens treinados em comércio, só podem encontrar uma boa colocação, quando são recomendados por uma grande Casa Comercial europeia ou encontram trabalho em uma de suas filiais no Brasil, o que somente é possível se forem fluentes em várias línguas. Houve casos em que jovens vieram ao Brasil sem o conhecimento da língua do país e não conseguiram se firmar, indo à total ruína, física e mental. Para algumas categorias de artesãos, a procura de um trabalho pode ser mais fácil, uma vez que existe procura deles em algumas áreas. Porém, é possível que tenham de se deslocar para alguma outra cidade, e, neste caso, os custos do transporte são bastante caros.  Emprego para chapeleiros e funileiros sempre estão à disposição, uma vez que nestes dois setores sempre há muito trabalho a fazer.  Mecânicos e ferreiros também são muito procurados, sendo que a importação maciça de móveis, roupas, sapatos e, principalmente, produtos manufaturados, não fornecem oportunidades para todas as outras categorias de trabalhadores.

Certamente médicos, farmacêuticos e engenheiros podem contar com oportunidades de colocação no Brasil, quando, além dos seus conhecimentos específicos, que terão que comprovar através de exames em língua portuguesa, ainda dominarem outros idiomas, e conseguirem sobreviver por conta própria por em certo período, antes de obterem os contatos necessários. Além disso, recomenda-se que, de início, mantenham um estilo de vida modesto e sem excessos, uma vez que os esforços diários requerem uma saúde forte, e qualquer imprudência ou devassidão poderá custar-lhes muito caro.

Os professores e as professoras encontrarão uma situação mais confortável, uma vez que, imediatamente, poderão fincar pé nestas plagas, caso venham com recomendações por escrito, dirigidas a certas pessoas de renome aqui no Brasil. Deverão, no entanto, dominar o idioma local corretamente, além de outras línguas. Se quiserem fundar institutos de ensino próprios, terão de submeter-se a um exame específico, que em nenhum caso será fácil. Terão, no entanto, a satisfação de, em pouco tempo, tornarem-se conhecidos e respeitados e receberem proventos satisfatórios.

Diante dessas perspectivas, é facilmente compreensível que as condições para uma imigração em massa não são favoráveis, além da concorrência nacional que cresce sempre mais. É sabido que os europeus que se estabeleceram no Brasil e chegaram a um certo grau de prosperidade, bem como as famílias brasileiras mais abastadas, enviam seus filhos para estudarem alguma profissão na Europa. E, é claro, que tentam manter as vagas abertas para os seus filhos e somente vão preenchê-las com estrangeiros em casos de necessidade.

Além disso, a pergunta que não quer calar é: com que meios o atual Governo pretende pagar os soldos dos funcionários, dos militares em terra e na marinha, etc., uma vez que a população, que paga impostos, não está disposta a permitir que estes sejam elevados? A grande massa dos que não pagam impostos diretamente, já está sobrecarregada com os impostos indiretos. Até agora, era o imposto de importação que cobria praticamente todas as despesas, e este também não poderá ser aumentado, para que as autoridades não criem indisposição com os países estrangeiros, uma vez que o consumo de mercadorias vindas de outros países já se encontra em declínio e poderá cair ainda mais com o aumento no preço dos produtos. Pode-se ver, portanto, que a situação não está fácil, e que nem boa vontade nem habilidade são suficientes para melhorá-la. Representa uma grande injustiça culpar as atuais autoridades pelos erros cometidos no passado.

Os decretos emitidos pelo atual Governo no que diz respeito à equiparação entre todas as religiões e todas as nacionalidades, bem como a separação entre escola e igreja merecem aplausos e se, até agora, os bons propósitos ainda não conseguiram ser totalmente implantados, a culpa, certamente, não pode ser computada aos governantes. Preconceitos antigos certamente não poderão ser eliminados de imediato, muito menos se continuam a ser proclamados por toda parte. É possível que, diante dos esforços que estão sendo realizados, também a inimizade sem motivo aparente, que existe entre brasileiros e seus parentes mais próximos, os portugueses, possa desaparecer, à luz de uma compreensão mais ampla. Finalmente, o fato de eles terem sido no passado os proprietários deste grande país, ocupando os cargos públicos mais elevados, deveria, com o tempo, ser esquecido. Hoje em dia, eles chegam ao Brasil empobrecidos, para, com auxílio de seus parentes,novamente alcançarem, pouco a pouco, com grande esforço e privações a erudição e as propriedades de antes.  Não há dúvida de que eles, em muitos casos, levam sua nova fortuna, amealhada com sacrifício, de volta para Portugal, para viver seus últimos dias na sua pátria querida, o que entre os brasileiros gera motivo de queixas. Também não é possível negar que alguns portugueses, às vezes, denunciam os maus tratos durante seus anos de servidão, enquanto os brasileiros se queixam dos privilégios injustos que eles recebem. Para um estrangeiro, esse espetáculo é bastante desagradável e o que parece ainda mais estranho é que alguns alemães e franceses são levados a participar desse julgamento injusto, somente porque estes são mais numerosos.

A baixa taxa de crescimento da população branca no Brasil encontra também seu motivo nos casamentos precoces das meninas, como aqui são praticados. Pela lei, o pai ou tutor até recentemente detinha o direito de arranjar o casamento para sua filha ou tutelada, quando esta completasse seu décimo segundo ano de vida. Os padres eram instruídos a celebrarem a união tão logo recebessem a ordem. Não é de se admirar, então, que muitas mulheres morressem muito jovens e que raramente gerassem filhos saudáveis. Com isso, não ocorre o aumento das gerações futuras. Outro motivo poderia ser o fato de não existir uma criação de gado praticada de maneira racional, o que poderia garantir uma melhor alimentação dos pequenos. Logo após o desmame, quando a função da ama de leite era dispensada, as crianças raramente recebiam qualquer alimento à base de leite, chegando a falecer por distúrbios estomacais, ou por escrofulose, que se disseminava rapidamente, e que atingiu igualmente um número grande de filhos de imigrantes. Acrescenta-se a esses fatos as mortes em tempos passados, em consequência dos surtos de febre amarela, de cólera e da varíola, com as quais nenhuma autoridade mostrou-se capaz de lidar, apesar de existirem providências que poderiam ser tomadas.

Até agora, a criação de gado é praticada somente nos altiplanos das regiões quase inabitadas, ricos em nascentes, porque a natureza fornece pasto suficiente para os animais, sem que o homem tenha qualquer trabalho além de encontrá-lo. Este é o motivo pelo qual, nas regiões mais habitadas, não se encontra outro tipo de carne que não a carne de boi, trazida de longe para o abate, ou já abatida no local para a produção de ”carne seca”, que constitui a base principal da alimentação do povo trabalhador, que, por ser seca ao sol,mantém sempre um sabor desagradável, seja qual for a maneira de preparo. É bastante compreensível, por isso, que aqui não sejam abatidos nem vacas nem bezerros. As vacas são necessárias para a procriação e prefere-se que os bezerros cresçam, porque, então, trarão um lucro maior no abate. Além disso, a carne que se usa normalmente é a de porcos e de galinhas, uma vez que estes procuram sua alimentação nas proximidades das casas e estão sempre disponíveis para o abate. Nos países tropicais, como se sabe, não cresce o trigo e, por isso, usa-se a farinha de mandioca (um tipo de angu), que é comida seca ou umedecida com água quente, no lugar do pão, uma vez que este é encontrado somente nas grandes cidades. A alimentação principal, nas casas ricas ou pobres, consiste principalmente de feijão preto, um prato bastante saboroso e nutritivo. As pessoas pouco acostumadas com o trabalho pesado dão preferência ao arroz, que, como o feijão, é comido com toucinho derretido. A banha de porco é usada no lugar da manteiga, que aqui não é consumida, quando não se dá preferência ao óleo para preparar a comida. Com o acima exposto, o cardápio do brasileiro já está praticamente esgotado, uma vez que é raro que algum outro alimento chegue à sua mesa, com exceção dos dias da quaresma, onde são consumidos muitos peixes e crustáceos. Nos dias de festa, são oferecidas muitas frutas cozidas em calda de açúcar (chamadas de doces), que são saboreadas com farinha de mandioca e queijo fresco, além de bananas, laranjas, abacaxis e melões. As bebidas preferidas são café preto forte com açúcar (sem leite) ou chá. Vinhos e cervejas ainda são muito caros e pouco consumidos pelos brasileiros que, na sua maioria, não são adeptos das bebidas alcoólicas. A cachaça, é claro, é muito apreciada pela população pobre e, infelizmente, também, por muitos imigrantes, e leva aqueles que a consomem em grande quantidade rapidamente à ruína.

Seria possível pensar que os imigrantes pobres, sem posses, que chegam ao Brasil para trabalhar nas grandes fazendas, logo se acostumariam ao modo de vida lá existente com mais facilidade do que aqueles instruídos; porém, isso seria um grande engano.  O espírito simplório acostumou-se ao pouco que tinha e que lhe parecia essencial para sua sobrevivência, com sentimentos muito mais fortes, mesmo que inconscientes, do que aquele que está aberto a novas experiências, submetendo-se a diversidades inesperadas, sem por isso sucumbir. Mas não devemos culpar somente os trabalhadores por sua insatisfação. As consequências dessa situação constituem uma enorme depressão e um profundo desalento, ocasião em que a pessoa, muitas vezes, vai procurar estímulo e consolo na bebida, o primeiro passo para a embriaguez, da qual provavelmente não conseguirá mais sair.

Apesar de tudo o que foi exposto, a principal tarefa do Governo republicano deverá ser a de incentivar um maior número de mão-de-obra europeia a emigrar para o Brasil, pois, de outra forma logo haverá uma população completamente miscigenada de todos os tipos de etnias, o que certamente não será o que todos desejam, no interesse da civilização. Já nos dias atuais, os brancos apresentam-se em número bastante pequeno, uma vez que dos 9.000.000 de habitantes, que se estima, somente um milhão podem ser considerados não sendo de cor, apesar de poder-se afirmar que a população branca nunca se mostrou abertamente hostil em relação aos negros, como aconteceu nos estados sulinos dos Estados Unidos e ainda continua acontecendo. No Brasil, sempre existiram pessoas de cor que conseguiram alçar níveis de cultura e prestígio e, em parte, casaram-se com mulheres brancas, frequentando as mais altas rodas da sociedade, sem que alguém ousasse demonstrar-lhes a menor desconsideração. Os negros, quando livres e hábeis em alguma atividade, são considerados de forma igualitária à dos brancos e tem-se como certo que a finalmente ocorrida abolição total da escravatura tem muito a ver com o fato de, já há muito tempo, existirem provas de que mesmo como negro, a pessoa pode aspirar aos mais altos cargos. Soma-se a isso o fato de que entre os escravos foi criada uma caixa para angariar fundos, com os quais é dada a jovens negros talentosos a oportunidade de cursarem uma faculdade de Direito, para que eles, então, usem seus conhecimentos em favor da libertação e da defesa dos escravos na medida em que a legislação o permita. Acredita-se que isso acelerará a miscigenação, o que em si não representa mal algum, mas seria melhor que fosse dado mais tempo aos negros para adaptarem-se às novas condições depois de tanto tempo de escravidão.

Esperemos que os comandantes da República consigam, ao menos em parte, resolver as mais prementes questões que lhes são postas. Certamente, os esforços serão enormes e os agradecimentos que receberão ínfimos; porém a consciência da sua vontade verdadeira de mudar os rumos da nação, deverá ser suficiente, pois não poderão contar com mais nada. A miopia da opinião pública é invencível”. (Engell-Günther 1889: 52-68).

 

Infelizmente, Julia Engell-Günther enganou-se quanto à esperança nos novos governantes.  Enganaram-se, também os novos governantes, como escreve a historiadora Isabel Lustosa no ensaio “Um Brasil que queria ser francês”:

 

“A jovem República esforçou-se por criar uma visão positiva do país no exterior. Para isso, tomou a cultura europeia como referência, ignorando as autênticas manifestações populares. Na passagem do século XIX para o XX, a preocupação com a imagem do Brasil no exterior se tornaria quase uma obsessão para as elites do país. “O que vão dizer disto os estrangeiros”?, era a reação a qualquer situação pública que parecesse vergonhosa. […] No Rio de Janeiro, então, comia-se, penteava-se, perfumava-se e vestia-se à francesa. As lojas, as confeitarias e os cabeleireiros mais sofisticados tinham nomes franceses. […] O poeta Olavo Bilac […] dirá: […] O nosso espírito é, e creio que será sempre, um prolongamento do espírito francês […].

Esse esforço envolveu a maior parte da elite intelectual do Rio de Janeiro e contaminou, de certa forma, a própria produção cultural do país na transição entre os dois séculos. Preocupados em fazer com que o país e a sua cultura parecessem europeus, de forma a impressionar positivamente o estrangeiro, os artistas e intelectuais do início de nossa história republicana desconheceram o grande potencial artístico do povo brasileiro, sua intensa vida cultural, marcada pelo sincretismo de ritmos e danças extremamente originais”. (Lustosa 2010: 77-81).

 

Logo após a assinatura da Lei Áurea em 1888, isto é, no fim do Império e no começo da República, a questão dos escravos libertos é completamente ignorada pelos novos dirigentes da nação. Já em fins de 1880 havia sido rejeitado pela Câmara dos Deputados o projeto abolicionista de Joaquim Nabuco, que no seu artigo 49 definia: “Serão estabelecidas nas cidades e vilas aulas primárias para os escravos. Os senhores de fazendas e engenhos são obrigados a mandar ensinar a ler e escrever, e os princípios de moralidade aos escravos”[3].

Quando a campanha abolicionista toma vulto, não se fala mais nesses projetos, frustrando, mais uma vez as expectativas que Julia Engell-Günther depositava no Brasil. Ficou provado que os republicanos não tomaram as atitudes que deles eram esperadas, ou seja, os republicanos continuaram a política dos grandes latifúndios e a total indiferença pela população negra. Não deram ouvidos ao belo Quincas, Nabuco: “Acabar com a escravidão não nos basta; é preciso destruir a obra da escravidão”. (Gomes 2013: 80).

 

Emigração como sina familiar

A Colônia Dona Francisca e a Sociedade Colonizadora Hamburguesa

 

            A trajetória de vida de Julia Engell-Günther apresenta-se em um contexto de múltiplos processos migratórios, dos quais foi protagonista e que nela deixaram marcas indeléveis. Nasce na cidade de Bad Sülze em Mecklenburg, na Prússia, no ano de 1819, como primogênita de oito filhos do escrivão Joachim Christoph Engell. Sabe-se que mais duas de suas irmãs emigram depois de 1848, sua irmã Louise segue seu marido, Wilhelm Löwe, o último presidente do Congresso Nacional, para o exílio nos Estados Unidos e a irmã mais nova, Albertine, casa-se com um Delegado do Congresso, Conrad von Rappard, um nobre da Prússia, que vem a se exilar na Suíça.[4]

Em 1845, aos 26 anos de idade, Julia Engell escreve uma carta franca e direta a Bettina von Arnim (1785-1859) – escritora e notável representante do Romantismo alemão -, à época residente em Berlim, na qual pede que esta consiga, para ela e sua irmã Louise, emprego como preceptoras e professoras, com possibilidade de moradia. Seu pedido é prontamente atendido e, em Berlim, Julia aperfeiçoa-se em línguas estrangeiras e, através de estudos por conta própria e de muita leitura, adquire um largo espectro de conhecimentos. Em 1848, participa ativamente do movimento revolucionário imbuído dos ideais da Revolução Francesa contra a monarquia pela unidade da Alemanha, a que Napoleão havia dado o tiro de misericórdia em 1806, e que acaba frustrado. Alguns participantes desse movimento são executados e a maioria parte para o exílio. Heinrich Heine, por exemplo, por motivos semelhantes já se havia há muito exilado em Paris. Julia resolve, então, juntar-se a um grupo de intelectuais que pretende emigrar para a Austrália. Anos mais tarde, em carta a Fanny Lewald (1811-1889), uma das mais importantes escritoras do movimento pela emancipação feminina na Alemanha, declara: “Deixei a Europa por decisão própria, sem consultar vivalma, sem que alguém soubesse”.

Quando o veleiro “Princess Louise”, que se dirigia para a Austrália, ancora no porto do Rio de Janeiro, no dia 27 de maio de 1849, para reabastecimento, Julia Engell abandona seus companheiros de viagem e decide permanecer no país. Por recomendação do médico alemão Dr. Robert Christian Avé-Lallemant (1812-1884), que por dezessete anos presta serviços ao Governo Imperial no Rio de Janeiro, ela consegue emprego como professora em um colégio de meninas, que pertencia a uma senhora portuguesa.

Mais tarde, a Julia educadora vem a manter um “Collégio” (como eram chamadas as instituições de ensino que também recebiam alunos em pensão) na cidade de Limeira, no Estado de São Paulo. Sua escola era frequentada por filhas e filhos de fazendeiros da região no entorno da cidade de Campinas. Carolina Krug Florence, fundadora, em 1863, do famoso Colégio Florence de Campinas, matriculou sua irmã mais nova – Anna Krug –  no Colégio em Limeira para que, com Julia Engell, continuasse a praticar sua língua pátria, o alemão, e a aperfeiçoar-se como professora. Anna, em 1888, voltou definitivamente para a Alemanha, com seu marido, um médico amigo do seu irmão, que havia sido contratado pelo Senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, por intermediação do então presidente da Companhia de Colonização Hamburguesa (da qual falarei mais adiante), Hans Christian Schröder, para trabalhar na Fazenda Ibicaba, de sua propriedade na região de Limeira, na Província de São Paulo. Na Europa, Anna (Krug) Kupfer manteve sua amizade com Julia até a morte desta em 1910. Num registro antigo de seu diário, Anna discorre sobre a época em que foi aluna de Julia. Diz ela:

 

“Frau Gê era muito boa senhora. A fim de aumentar a renda de seu marido tinha fundado um internato, uma pensão, onde parte das filhas do país como também estranhos recebiam instrução. Éramos internacionais. Durante o dia, ensinava o ABC aos pequenos, porém, à noite, era minha vez. E, ainda hoje recordo-me com alegria das belas horas nas quais Frau Gê ensinava com entusiasmo. Muitas vezes, íamos até meia noite, mas isso não nos causava cansaço. Línguas estrangeiras me davam muito prazer. Frau Gê sabia ligar ao ensinamento de língua História e Geografia e, hoje, estou muito agradecida por isso. Aqui, quero apenas lembrar o quanto considero importante o estudo de línguas estranhas. Não é apenas o traduzir das palavras, não. É porque, com isso, você adquire facilmente grande parte cultural dos valores de respectivo povo”. (Apud Ribeiro 1996: 19). 

 

Julia viveu no Brasil por dez anos. Em 1859, ela deixa o país, com tristeza, por não ter conseguido apoio dos fazendeiros brasileiros, muitos deles pais de seus alunos, em sua luta pelo fim da escravidão. Além de ter sido contrária a qualquer tipo de trabalho forçado e sem remuneração, Julia também defendia que meninas deveriam receber educação formal, a fim de se tornarem independentes, em vez de serem forçadas a se casar muito novas

No artigo de Julia, traduzido no começo deste ensaio, podemos perceber seu desapontamento também com alguns imigrantes alemães, que decidiram instalar-se nos grandes centros ou nas províncias mais ao Norte do país, perdendo suas identidades mais facilmente que aqueles que permaneceram nas colônias do Sul ou do interior do Rio de Janeiro. Outro incômodo, gerado pelas pressões exercidas pelos poderosos do Império, com exceção do Imperador Dom Pedro II, a quem, apesar de declarar-se contrária ao regime monárquico, muito prezava, pode ter levado Julia, grávida do seu primeiro filho, Arthur, a deixar o Brasil em companhia do marido Hermann Günther.

Na palestra que a Dra. Eva Schoeck-Quinteros proferiu por ocasião do seminário “Transculturalism and memory, understanding transitions through lifewritings”, em homenagem ao aniversário de 60 anos de Dirk Hoerderer (historiador e professor da matéria Migrações Globais na Arizona State University), nos dias 6 e 7 de junho de 2003, ela cita um desabafo de Julia, após deixar para trás as terras brasileiras, registrado em uma carta dirigida a Fanny Lewald, hoje no acervo do departamento de História da Universidade de Bremen (Alemanha). Diz Julia:

 

“Sozinha neste mundo, mesmo após uma longa viagem no mar, e longe do Brasil. E, mesmo assim, o que há de grandioso nisso? Quando o que angustia, comove e atormenta as pessoas com quem nos relacionamos acaba parecendo sem valor, nada mais nos resta. Tudo depende da boa vontade de se verem as coisas com olhos claros, iluminados!

Certamente, sempre tive a melhor boa vontade no Brasil. Nos últimos tempos, no entanto, já não mais queria tê-la. Foi uma batalha árdua demais!”

 

Na primeira parte do seu livro Weihnachtsabende in Brasilien (Noites de Natal no Brasil), publicado na Alemanha em 1862 e traduzido para o português em 2017, Julia Engell-Günther conta sobre suas experiências no país e o convívio com suas pupilas, que, por sua vez, lhe fornecem um retrato autêntico do cotidiano das famílias brasileiras daquela época. Não nos devemos esquecer que Julia é testemunha presencial do que relata.

Naquela época, Julia Engell conhece, no Rio de Janeiro, o engenheiro alemão Hermann Günther, contratado em 1849 pela Sociedade Colonizadora Hamburguesa, de propriedade do senador alemão Christian Mathias Schroeder, conforme relata o artigo intitulado “Julie Engell” da historiadora brasileira Elly Herkenhoff (1906-2004), publicado no jornal A notícia de Joinville em três partes, nos dias 8, 10 e 13 de julho de 1976.

Hermann Günther estava encarregado de reconhecer e preparar o terreno para dar início a uma colônia alemã na, então, Província de Santa Catarina. Julia Engell-Günther narra na segunda parte do seu livro Weihnachtsabende in Brasilien, com muitos detalhes, o início dos trabalhos na colônia, uma vez que participou do primeiro grupo que ali chegou. Este testemunho não é considerado pela maioria dos historiadores que falam do início da Colônia Dona Francisca, uma vez que Julia viajara para lá em trajes masculinos, o que lhe rendera, por parte de um dos primeiros visitantes da colônia, em 1852, Theodor Rodowicz-Oświęcimskie, membro da Sociedade Colonizadora Hamburguesa, engenheiro-geógrafo reformado do Exército da Prússia, Cavaleiro da Ordem de Leopoldo e proprietário de terras no Brasil, o título depreciativo de “heroína de barricadas em trajes masculinos”. Outros historiadores descrevem-na como “amásia do engenheiro Günther” e nada mais.

Contrariando os demais historiadores, Elly Herkenhoff, no artigo acima citado explica em detalhes toda a ira de Rodowicz e termina seu testemunho com as seguintes palavras:

 

“Assim, a imagem da ‘heroína de barricadas’, surgindo em meio ao rebuliço de uma época de transição e, por isso, turbulenta, assume proporções surpreendentemente humanas. Imagem bem diferente esta, da feminista pioneira de Berlim, da educadora de Limeira, bem diferente daquela transmitida por Rodowicz – o ultra tradicionalista oficial do exército – e assim retransmitida e gravada na história de Joinville: a distorcida imagem de uma Julie Engell, autora de desenhos artificiosos e amásia do engenheiro Guenther. Sem dúvida – a ‘nossa’ Julie foi sua companheira, pois ele chegou a Dona Francisca e com ele daqui partiu. Se amásia, se esposa – quem, para afirmá-lo ou contestá-lo, depois de 125 anos? Quem, aqui ou alhures, para atirar-lhe a primeira pedra?” (Herkenhoff: 1976).

 

Não se deve perder de vista que foi Julia Engell-Günther quem redigiu os primeiros relatórios referentes à nova colônia e desenhou os primeiros esboços para as casas que ali seriam construídas. Esses desenhos e esses relatórios, aos quais se refere Rodowicz, foram publicados no Leipziger Illustrierte Zeitung (Jornal Ilustrado de Leipzig) de 3 de maio de 1851, páginas 281 e 282, que atualmente se encontra na Biblioteca de Wiesbaden, Alemanha. Suas experiências em Dona Francisca, Julia conta na segunda parte do seu já mencionado livro Weihnachtsabende in Brasilien.

Texto e desenhos de JuliaEngell-Günther apresentados no Leipziger Illustrierte Zeitung

E, na terceira parte do mesmo livro Weihnachtsabende in Brasilien, Julia Engell-Günther relata em detalhes, assuntos relacionados ao comércio interno e externo do Brasil, bem como muitos aspectos do cotidiano do Rio de Janeiro, já uma importante metrópole internacional.

Julia Engell-Günther, que viveu 10 anos em terras brasileiras – no Rio de Janeiro, na Colônia Dona Francisca e em São Paulo -, depois de muitas frustrações e de muitos encantos, e depois de passar pela Inglaterra, pela França e pela Suíça, retorna em 1859 à Alemanha, ou melhor, ao reino da Prússia, pertencente à Confederação Alemã, nome da Alemanha à época.

 

Regresso à Prússia

 

Conforme a já citada palestra da Dra. Eva Schoeck-Quinteros proferida por ocasião do seminário “Transculturalism and memory, understanding transitions through lifewritings”, enquanto Julia se dedica, em Berlim, a escrever sobre suas experiências brasileiras, Hermann Günther, o marido, estabelece-se, então, com um, de início, bem sucedido estúdio fotográfico na capital. Hermann Günther torna-se “fotógrafo da Corte de Sua Majestade o Rei e Sua Alteza Real o Príncipe Frederico Carlos. Por volta de 1870, em decorrência dos distúrbios políticos que, mais uma vez, sacodem a Confederação Alemã, o negócio vai à falência.

No início dos anos 80 do século XIX, a vida de Julia Engell-Günther sofre mais uma reviravolta radical. Seu filho Arthur (1859-1881) morre na Inglaterra, onde se encontrava para terminar os estudos. Na sequência, o marido Hermann obriga-a a aceitar o divórcio, pois pretendia casar-se com uma mulher quarenta anos mais nova, como Julia relata em carta datada de 18 de fevereiro de 1883, dirigida a Karl Kautsky (1854-1938), o teórico marxista e editor do seminário socialista “Die Neue Zeit”, para o qual ela começava a escrever, a fim de garantir o sustento para si e seu filho mais novo Reinhold (1863-1910). De acordo com as leis vigentes na época, a esposa, em caso de divórcio, perdia todos os direitos sobre as propriedades do casal, sendo o ex-marido obrigado somente a pagar uma pequena pensão ao filho. (Riedel 2008: 145-168).

Julia inicia, então, uma pequena produção e venda de produtos químicos para manutenção de armas, apetrechos de cavalaria e outros, de uso do exército estacionado em Berlim. Esse negócio não lhe traz a renda necessária, uma vez que sofre a concorrência direta de seu ex-marido, que, na época em que mulheres independentes eram discriminadas, tinha melhor trânsito entre os militares.

Ilustração de carta a Karl Kautsky com cabeçalho do laboratório de Julia

 

Sua situação financeira torna-se, então, desesperadora, como se depreende da carta a Karl Kautsky de 28 de julho de 1883 (IISH ref. K.DX 237). Apesar da intensa atividade como jornalista e escritora, vê seus trabalhos rejeitados pelos editores, devido às ideias “tendenciosas”, que nada mais eram que o clamor por direitos iguais entre os gêneros, principalmente, o direito à educação.

Ora, Julia sempre declarara repúdio à monarquia, defendendo os mesmos ideais republicanos que a haviam levado a participar da revolução de 1848. Por isso, aos 64 anos de idade, Julia Engell-Günther volta a deixar a Alemanha e muda-se para a Suíça.

Em Zurique, ela tenta um novo início como professora de um colégio internacional para meninos, conforme se aquilata pela leitura da minuta da palestra da Profa. Dra. Eva Schöck-Quinteros da Universidade de Bremen em junho 2003.

Até a sua morte, Julia Engell-Günther, aquela que se filiara a grupos dos movimentos femininos na Europa e nos Estados Unidos, continua escrevendo para jornais e revistas, entre os quais se destaca o “Milwaukee Freethinker”, do qual se torna a escritora com o maior número de publicações.

A vida de Julia Engell-Günther, como se pode ver, é marcada pela sua inabalável convicção de que somente o trabalho autônomo das mulheres, independentemente da sua condição – solteiras, casadas ou mães -, e o direito de disporem, elas próprias, de seus bens e de seus proventos, podem constituir uma base sólida para a sua liberdade e sua dignidade.

Atualmente, na Alemanha, Julia Engell-Günther é objeto de pesquisas no Institut für Geschichtswissenschaft (Instituto de História) da Universidade de Bremen, cuja coordenadora é a Profa. Dra. Eva Schöck-Quinteros. A professora e seu grupo, entre outros, coordena os projetos: “Sprechende Akten (Arquivos falantes) e “Aus den Akten auf die Bühne” (Dos arquivos para o palco), em colaboração com atores da “Shakespeare company” de Bremen.

No dia 19 de abril de 2017, a Profa. Schöck-Quinteros proferiu uma palestra na Universidade de Berna, Suíça, a convite da Gesellschaft Clara von Rappart (1857-1912) (Associação Clara von Rappart), uma importante pintora suíça, sobre Julia Engell-Günther, que foi tia e madrinha de Clara von Rappart. Julia, enquanto ainda vivia no Brasil, viajara para a Suíça e estivera presente no batizado, conforme registro no Köntizer Taufrodel (registro de batizados da cidade de Könitz, Suíça), que diz: “… em 19 de agosto, foi batizada Clara Julia Elisa, filha legítima de H. Conrad von Rappart e Albertine Friedericke Charlotte Caroline Engell …; Testemunhas presenciais: Julia Engell-Günther, de Piracicaba, Brasil, e Elisa Stämpfli, de Berna, Suíça…”.

A palestra da professora foi acompanhada por integrantes do grupo da “Bremer shakespeare company”, que apresentaram leituras dramatizadas de textos de Julia.(Ver anúncio do evento em www.claravonrappart.ch).

A fim de mostrar melhor a personalidade da professora, jornalista e livre pensadora, que amou o Brasil, segue, aqui, em tradução para o português, trecho de uma carta que a autora escreveu para Karl-Kautsky, em 18 de fevereiro de 1883:

 

[…] O verdadeiro motivo do meu trabalho como escritora é justamente aquele de, de hoje em diante, exigir as mesmas condições de educação para todos, sendo que elas deverão ser gratuitas e obrigatórias, sem constranger, no entanto, as aptidões naturais de cada um. Devo esclarecer que a Suíça já possui instalações que se aproximam bastante do ideal que almejo […].(Engell-Günther 1883: IISH, Arquivo Kautsky, ref. K.DX 226).

 

 

A alemã Julia Engell-Günther partiu de um mundo, que, por ter sido ela uma mulher independente, nem sempre a tratou com a devida atenção, viveu no Brasil que admirou e que também não a entendeu. Na época do seu falecimento em 1910, aos 91 anos, residia na cidade de Basiléia, na Suíça, com a família de seu filho mais novo, Reinhold, que a precedeu na morte por poucos meses. Os tataranetos de Reinhold Günther foram localizados recentemente – março de 2016 – nesse país pela autora deste texto através de correspondência eletrônica com Marie-Louise Itzcovich-Günther, residente na Suíça. O falecimento de Julia foi registrado no diário de Anna Kupfer (1838-1936), nascida Krug, sua ex-aluna e estagiária no Brasil.

 

FONTES BIBLIOGRÁFICAS

 

Engell-Günther, Julia. “Einheiliger Abend, Skizzen ausmeinem Leben” In: Sonntagsblatt des  Bundes”, Bern (Suíça), 1887.

 

Engell-Günther, Julia. Das jetztige Brasilien. In: Jahrbuch der Mittelschweizerischen Geographisch-Comerciellen Gesellschaft. Aarach, 1889, tomo IV, p. 52-68.

 

ENGELL-GÜNTHER, Julia. 18 cartas a Karl Kautsky 1883-1887. Arquivo Kautsky, IISH International Instituto of Social History, Amsterdam, ref. K.DX 222 a 239.

 

ENGELL-GÜNTHER, Julia. Weihnachtsabende in Brasilien. Verlag von Julius Springer, Berlim, 1862, p. 51-53.

 

ENGELL-GÜNTHER, Julia.  Noites de Natal no Brasil. Disponível em:

>http://www.martiusstaden.org.br/js/ckfinder/userfiles/files/NOITES%20%20NATAL.pdf<.

 

Ficker, Carlos. História de Joinville – crônica da colônia Dona Francisca. Porto Alegre, Ipiranga, 1965.

 

Gomes, José Laurentino. 1889. São Paulo, Globo, 2013.

 

Goertz & Schöck-Quinteros, Eva. Frauenbewegte Freidenkerinnen im Dialogzwischenalterundneuer Welt. In: Der FreidenkeralsOrttransatlantischer Kommunikation. Bremen, 2007, p.103-128.

 

Herkenhoff, Elly, Julie Engell. In: A notícia. Joinville, 8, 10 e 13 de julho de 1976. Diponível em:

>http://www.martiusstaden.org.br/js/ckfinder/userfiles/files/JULIE%20ENGELL.pdf<.

 

Kestler, Izabela. Exílio e literatura. Escritores de fala alemã durante a época do nazismo. Trad. Karola Zimber. São Paulo, Edusp, 2003.

 

Lustosa, Izabel. Um Brasil que queria ser francês. In: Liliana Pinheiro (org.). O olhar dos viajantes, o Brasil e sua gente. São Paulo, Duetto, 2010, p.77-81.

 

Ribeiro, Arilda Ines Miranda. A educação feminina durante o século XIX. Coleção Campiniana. Campinas, Ed. UNICAMP, 1996, vol.4.

 

Riedel, Tanja-Carina. Gleiches Recht für Mann und Frau, die bürgerliche Frauenbewegung und die Entstehung des BGB. Köln, BRD, 2008.

 

Zweig, Stefan. Brasil, um país do futuro. Trad. Odilon Gallotti. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1981.

 

*Elke Dislich é membro do Grupo RELLIBRA (Relações Linguísticas e Literárias Brasil-Países de Língua Alemã) e pesquisadora do projeto “Literatura brasileira de expressão alemã”, ambos credenciados junto à USP e ao CNPq e coordenados por Celeste Ribeiro de Sousa (USP). >http://www.martiusstaden.org.br/conteudo/detalhe/116/julia-engell-gunther-1819-1910<.

[1]Trecho de carta a Karl Kautsky, Berlim, 11 de fevereiro de 1883. (Arquivo Kautsky no IISH, Amsterdam, ref. K.DX 225).

[2]Apud Araujo, Emanuel et alii. Martius – percurso de um olhar errante pelo Brasil do século XIX. São Paulo, Pinacoteca do Estado, 1994, p. 5.

[3]In: desafios.ipea.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2673:catid=28&Itemid=23<.

[4]Informações obtidas em 2003 em troca de e-mails entre a autora deste artigo, a professora Schöck-Quinteros da Universidade de Bremen e o então diretor do Instituto Martius-Staden de São Paulo, Dr. Joachim Tiemann.