Um nó de afeto entre Colker & Brown – Alinne Fedrigo e Ronaldo Pinheiro Duarte

Um nó de afeto entre Colker & Brown

 

Alinne Fedrigo e

Ronaldo Pinheiro Duarte*

Nó, Deborah Colker

A Cia. de Dança Deborah Colker celebra, em 2013, com apresentações em todo o país, seus vinte anos no palco. Motivos não faltam para celebrar. Ícone da dança contemporânea, Colker é aclamada pela crítica e pelo público dentro e fora do país.

Em outubro, a temporada do espetáculo “Nó” (2005), da Companhia da coreógrafa brasileira, reestreou no teatro João Caetano, no Rio de Janeiro.

O espetáculo de Deborah, que percorrerá o Brasil, se divide em dois atos, o primeiro, que dá título à obra, chama-se “Nó”, o segundo, “Vitrines”.

Abrem-se as cortinas: “Nó”, o que se vê é uma verdadeira instalação: cordas conectadas do teto ao chão e amarradas entre si formam num grande nó. A dança de Deborah, ou como o bem definiu Ulisses Cruz, sua “direção de movimentos”, depende dos elementos cênicos com os quais os bailarinos desafiarão a gravidade.

Como não lembrar aqui de Trisha Brown, bailarina norte-americana que também desafiava a gravidade usando equipamentos como cordas e arreios e fazendo com que seus bailarinos experimentassem as diagonais e verticais do palco? Suas primeiras “peças de equipamento” pareciam, aliás, muito “un-dançantes”. No espetáculo “Nó”, a influência de Trisha é visível principalmente no que se refere ao uso das cordas.

No primeiro ato de “Nó”, os bailarinos utilizam as cordas numa coreografia que lembra a dos artistas de circo, em outras a coreografia lembra o rapel ou ginástica olímpica.

Voltando à bailarina norte-americana, Trisha se valia de movimentos cotidianos, da repetição de gestos comuns. Ela desenvolveu um estilo de corpo altamente articulado que parece enganosamente casual. Em “Nó”, os bailarinos se valem de movimentos curtos e longos, alguns casuais, outros mecânicos e outros lembram o ballet clássico.

Movimentos fluidos e linhas retas, nos espetáculos de Trisha, revelam seu constante estudo na experimentação do corpo do bailarino. Colker, em seu espetáculo “Nó”, inspira-se na técnica de Trisha para fazer os bailarinos experimentarem as extremidades dos movimentos possíveis, dando à dança uma forma inusitada de ritmo e harmonia. Fecham-se as cortinas.

Abrem-se as cortinas novamente: “Vitrines”, o que se vê é uma caixa de vidro e bastões, onde os bailarinos criam uma relação com a mesma, dançando ao seu redor, dentro dela e a escalando, lembrando as técnicas dos samurais japoneses, o pole dance e a ginástica olímpica. As escaladas remetem ao começo da dança de Trisha, que eram feitas em cima de telhados e paredes.

Com certeza, um dos pontos fortes do espetáculo “Nó” são as envolventes aparições de Deborah. É uma pena que não se possa mais ver Trisha Brown nos palcos, pois ela se despediu de sua companhia este ano.

Seria Deborah Colker a nossa Trisha Brown brasileira? Sim e não. A influência de Trisha sobre Deborah é evidente, mas a brasileira tem características próprias, ela inclui, por exemplo, os esportes radicais na cena da dança contemporânea. Mas o que se viu no espetáculo da brasileira é um bem-sucedido “nó de afeto” entre Trisha Brown & Deborah Colker.

 

* Alunos do curso de artes cênicas da UFSC.