Um poema concreto de Cláudio Trindade – Sérgio Medeiros
Um poema concreto de Cláudio Trindade
Sérgio Medeiros*
Não é de hoje que Cláudio Trindade relê e refaz o percurso e a estética do poeta norte-americano E. E. Cummings, que ele prefere escrever com iniciais minúsculas, como se costumava fazer no século passado, porque se acreditava (erroneamente) que o poeta preferia ter seu nome grafado assim. Na verdade, nesta obra de Cláudio Trindade, retrocedemos no tempo, e só podemos escrever o nome do poeta como se escrevia antigamente. Então, nada de iniciais maiúsculas!
Porém, não se trata apenas de escrever um nome famoso (e querido) como nos velhos tempos. A obra também mostra com quais instrumentos, todos anacrônicos, podemos expressar (to express) esse nome de outra época, como se ainda estivéssemos hoje nessa outra época, no entanto já longínqua.
Estamos diante de peças de museu, de peças de uma gráfica do passado, onde podemos tomar posse de um instrumento e passá-lo de fato no papel, não (apenas) virtualmente. Parece-me que aqui (no passado) o arranjo, as cores, tudo é muito delicado, tudo é muito vivo, úmido, perene. Tudo parece novo, atual!
Há um gesto eterno e urgente (express) nessa obra, que a torna contemporânea, mesmo sendo anacrônica. Assistimos ao começo de um novo (um novíssimo) poema de E. E. Cummings, digo, e.e. cummings, um poeta sempre em seu ateliê, sempre trabalhando em sua gráfica, provando que ainda é capaz de expressar-se visualmente. E concretamente.
* Poeta e professor titular na UFSC