Carta para uma amiga de infância — Priscila Andreza de Souza

Carta para uma amiga de infância

Priscila Andreza de Souza*

Olá amiga! Como você está? Faz tanto tempo que você se mudou. Me conta as novidades da nova vida. Lembro da nossa despedida, eu queria te dar um abraço e fazer juras de fidelidade, você não deixou simplesmente sorriu e disse “Até breve”. Por que mentiu? Deve fazer uns cinco anos ou dez que você se foi. Eu já perdi as contas, mas ainda guardo nossa fotografia tirada na sorveteria.

Estou curiosa para ver se seu rosto mudou. Tem filhos, se casou? Você desenha, ainda? Espero que sim, adorava seus perfis, compunha caretas pessoais como ninguém. Você pensa em voltar para a cidade? As pessoas são mais bonitas aí? Como elas vivem? Eu bem que poderia ir visitá-la qualquer dia, posso? É claro, que teria que pedir férias do serviço. Eu trabalho como professora na escola aqui do bairro. Substituí a Rose, a que deu aula pra gente no primário, lembra? Você não deve lembrar, faz muito tempo… Era naquela época que eu lia histórias no recreio, algumas eu inventava. Ainda invento histórias, não com tanta frequência como antes.

Seu cabelo ainda tem cachos na altura dos ombros? Você ainda gosta de chocolate derretido? Me lembrei agora daquela vez que ficamos acordadas a madrugada toda para ver o sol nascer e bem na hora adormecemos. Foi o dia da mudança pra mim. Você me contou dos seus planos de estudar fora, que seus pais tinham proibido, mas você foi assim mesmo. Você largou o Ted. Até hoje não acredito, vocês eram perfeitos um para o outro. Ele se casou, já faz alguns anos. Pensando bem você era muito areia para o caminhãozinho dele. Você me largou também.

Espero que seu endereço continue o mesmo. Quero te pedir desculpas por não ter escrito antes, eu sei que prometi te enviar a carta por primeiro, mas pensei que você enviaria mesmo assim. Você sempre foi a primeira em tudo. Era boa em química, jogava basquete, namorava o Ted e arrasava nas festinhas de domingo. Eu era a segunda, não que fosse feia, mas você sempre foi a mais bonita, esperta e adorável. Irresistível, eu diria. Você fez novas amizades? Tem uma melhor amiga como nós éramos? Quero que saiba que eu sinto sua falta e que deixo você ganhar no baralho se você voltar.

Quando você retorna?

*cronista