Sobre o Movimento Pornaso – Zé Amorim e Diego Moreira
Sobre o Movimento Pornaso
Zé Amorim*
Diego Moreira**
O Movimento Pornaso surge em Catulo, em Marcial, é atravessado por Gregório de Matos e vem reverberar, na contemporaneidade, como o eco de uma poesia que já há muito se tem como datada ou superada. Pornaso caracteriza-se como uma paronomásia de Parnaso, monte grego inspirador do Parnasianismo oitocentista no qual, acreditava-se, viviam as musas. É mais do que o compromisso com a pornografia ou a exploração de um baixo corporal que motiva a criação pornasiana: trata-se do resgate e transcriação de uma tradição, da qual o Movimento, embora tributário, não é de forma alguma e em nenhum aspecto mero repetidor. Relembrando a premissa de Walt Whitman, sobre os poets-to-come, a poesia pornasiana busca através de suas re-leituras/re-criações – ora de poemas consagrados, ora de formas consagradas, ora de motes consagrados – trazer novamente para o âmbito da literatura um debate amplamente fomentado – no Brasil – a partir dos anos 1960, ou seja, o dos usos e desusos do corpo para a Arte, para o fazer artístico, toda a potência que pode comportar o corpo tanto quanto linguagem quanto como instrumento do excesso, da contestação de padrões instituídos pelo aparato repressor do Estado e da Religião.
A recorrência das formas rígidas – que não significa, contudo, servidão – vem nos lembrar que ela, a forma, está longe de ter esgotado sua potência.
E é da mistura entre o alto e o baixo, o sublime e o grotesco, que o grito pornasiano quer ecoar. Poesia não como fim, mas como começo.
www.movimentopornaso.com
Pornaso
Ele prolonga-se até ficar de pé
Quando tua boca escala até
O posto píncaro de minha pica
Eu digo: – fica que ele estica.
Sinto-me feliz estando a olho nu
Diante de teu róseo e belo cu.
Apaixonado por teu redondel
Cravo o anelar no teu anel.
Nas gêmeas virgens tetas com saúde
Eu as mamo mais que amiúde.
E quando ficas toda orvalhada
É na tua boa boceta bem salgada
Que enterro meu tinto tabaco
E crio inveja até no deus Baco.
Zé Amorim
Poema de verão
O biquíni é uma coisa engraçada:
Mostra tudo
Sem mostrar nada.
Diego Moreira
O pau-brasil
para Oswald de Andrade
O Brasil é um país
Um tanto descomunal,
Pois não é que todo mundo
Queria abrasado pau?
Que aqui por essa estância
Foi um pau em abundância.
Vou mostrar o pau-brasil
Este pau não tem pentelho
Mas tem o cerne vermelho
E feito um pau que pinta
Esse pau deu muita tinta.
Porque pelo mundo todo
Pau-brasil foi almejado
Por ser uma tora dura
Ainda hoje ele perdura
Qual portentoso lenhado.
Seja com ou sem raiz
No clandestino mercado
Foi o pau mais cobiçado
De todo o nosso país.
Zé Amorim
Escatulógico
Para Catulus
O que é sexo anal?
É colocar uma vela
No bolo fecal.
Zé Amorim
Poema brocha
Ao meu tio, que se jacta de
haver estourado treze cabaços.
Já não encontras, Jorge, o teu alento,
Na memória dos passados anos;
Em teu teatro já caiu o pano,
Teu presente é plácido tormento.
Nas areias do esquecimento
Enterra-se a fundo, ano após ano
Aquele marsapo desumano
Que ostentavas como um ornamento.
Triste fim daquela pica grossa,
Que muitas bocas fez exclamar
Um aterrorizado “minha nossa!”
Hoje já não o podes mostrar,
Pois a rola, dura feito rocha,
Quis o fado que quedasse brocha.
Diego Moreira
1ª aula de Literatura Clássica
Hora de cultura:
Menelau, primeiro corno
Da literatura.
Zé Amorim
Sintético
Síntese perfeita:
O caralho grota adentro
O resto se ajeita.
Diego Moreira
Haiku
Visão da alegria:
Se ela me desse o cuzinho,
Então, fá-lo-ia.
Zé Amorim
Grego vaso
Às frias brumas do resplandecer do dia
Quando, taciturno, ao vaso grego me sento,
Testemunho da rodela um alargamento
Descarregando ao báratro a bosta sombria.
Se o cagar venoso a rodela nos judia
Não é senão ausente de contentamento
Que o cu possui culpa, embaraço e sofrimento
No prazeroso aumento que nos esvazia.
E se as lúbricas pregas sinto-me arrombando
É que o tronco tranca e trespassa o encanamento.
Torna-se então tépido e sôfrego o tormento
E o mijo ao cagamento vai se incorporando.
E antes que se julgue Barroco o meu barrego
Dou a descarga e abandono o vaso grego.
Diego Moreira
* poeta, estudante de letras.
** poeta, mestrando em literatura pela UFSC