(Des)construir – Henrique Zielinski Furtado

Florianópolis, 21 de novembro de 2011.

(Des)construir 

                                                           Por Henrique Zielinski Furtado*

Inicia-se o texto Tesoura e Cola – de O Trabalho da Citação de Antoine Compagnon –  com uma alusão à recortar e colar. Tal alusão vem carregada de sentidos e metáforas aos quais vai-se aprofundando o verdadeiro sentido de construir-se. Antoine Compagnon cita a brincadeira de criança – recortar e colar – comparando com o exercício de ler e, assim, destaca o processo de absorver algumas partes expecíficas do texto.
Ao prestar-se a aprender algo, seja lendo ou observando, o indivíduo acaba por fixar melhor algumas partes isoladas do processo que o fazem, de certo modo, ter uma noção de todo o processo com alguns fragmentos.
Quando lê-se um livro, destaca-se algumas frases, período, não, porém, o livro inteiro. Com isso, as partes grifadas tornam-se as mais relevantes ao leitor que as destacou. Isso, também, é feito pelo próprio autor que destaca algumas palavras, frases, períodos, com aspas, negrito, itálico, marcações de roda pé.
As partes destacadas são as mais importantes, então, os elementos chaves de coesão para a assimilação do conteúdo, então, com essa assimilação mais aprofundada de algumas partes, vê-se a profanação da obra assimilada.
O leitor acaba por usar tais fundamentos aliando em outros aspectos da vida, assim como Antoine Compagnon descreve a brincadeira de criança de recortar e colar em alhures. E isso é feito em todo processo de desenvolvimento do ser humano. Há uma grande distância entre o que é se quer falar, o que é falado e o que é entendido por quem escutou.
À base disso, muita informação, intenção, perdem-se nos ruídos. Começando por uma criança, mesmo que os pais tomam o maior cuidado ao dizer algo para ela, ela vai profanar aquilo e entender ao seu bel-prazer (ou ao seu limite cognitivo). Lembro-me de dizeres do meu pai sobre não perder tempo e isso me resultou numa ansiedade grande. Hoje, vejo que ele falava sobre processos para fazer as coisas duma maneira mais rápida e prática, fazer bem feito para não ser refeito, no entanto, minha limitação cognitiva simplesmente processou “faça as coisas rápido!”.
Perante isso, vejo – sim, a partir de agora porei minha opinião pessoal – que a profanação é ato normalíssimo do ser humano, a descontextualização é a principal ferramenta de aprendizado. Cada qual tem um método, uma facilidade, uma virtude e faz-se disso sua ferramenta de aprendizado.
À psicologia educadional, fala-se de dois processos no aprendizado que mais me interesso fala sobre duas fases: a assimilação e a acomodação. Quem vem com essa teoria é Jean Piaget e ele diz que a aprendizagem faz-se quando o conteúdo assimilado é acomodado.
Logo, quando vamos aprender algo, o primeiro passo é abrir mão do que já sabemos, moldarnos à nova coisa e isso dá-se o nome de assimilação e o segundo passo é quando nos apropriamos de tal conhecimento trazendo para a expansão da capacidade cognitiva e, para isso, diz-se acomodação.
Obviamente, fiz uma breve explicação resumida, o propósito não pretendo aqui me aprofundar nas terorias da educação, no entanto, tal método é totalmente ligado ao que Antoine Compagnon descreve no texto.
Assim sendo, a profanação é instrumento de desenvolvimento. Traz-se algo dum lado para outro, (des)constrói-se coisas a todo momento. E isso é o conhecimento e o conhecimento sendo digerido. A mudança do conceito de a terra ser chata para se redonda não foi uma evolução construitiva, foi destrutiva. Foi quebrado um conceito antigo para ser colocado outro novo em pauta.
Enfim, vejo que a aprendizagem é feita num processo de profanação do conhecimento e destruição de conceitos antigos. Um eterno martírio da nossa “base de dados”, jamais estancar o movimento, quando a inércia não é de movimento, não se aprende, as experiência, portanto, são inúteis.
Para finalizar, o recorta e cola é tão eficaz que, hoje, vemos inúmeros sítios que apresentam frases descontextualizadas de autores. Cada qual que o lê, fica com uma ideia subjetiva daquilo, absorve do melhor jeito desconsiderando, muita vezes, a história e obra do autor.

* Aluno de Artes Cênicas da UFSC.