“Hamlet In Quarto” – Mantra Santos

“HAMLET IM QUARTO”

Mantra Santos*

No dia 13 de novembro, fui assistir ao um espetáculo, o qual se intitula “Hamlet In Quarto”. A princípio tudo parecia correr bem, não houve atrasos, todos muito bem confortáveis e localizados. A abertura deu inicío, tambores dispostos ao lado do palco com uma iluminação obscura, o som estava bem sincronizado, tudo parecia bem ensaiado. Mas foi depois da abertura que tudo se despedaçou. Acho que a palavra que pode descrever esse turbilhão de imagens é: pouco ensaio. Todas as cenas, sem exceção, possuíam alguma falha. Os atores estavam dispostos no palco de qualquer jeito, a movimentação básica não existia, quer dizer, a pouca movimentação que existia não era justificada, erros de texto eram frequentes, falar da interpretação dos atores nem é possível. A iluminação mais parecia um carnaval de luzes, experimentação de tonalidades e foco é o que não faltava.

                                                          Hamlet In Quarto

Provavelmente, o encenador não estava presente nos ensaios, pois se esse espetáculo teve realmente um encenador acompanhando é um trabalho, ao qual se fosse eu, me envergonharia. Segundo o tradutor da peça, trata-se de uma obra muito mais dedicada à encenação, se era pra ser dedicada a encenação, me pergunto, onde essa dedicação foi parar? A opção pela linguagem oriental não fez com que aproximasse o foco dramático, pelo contrário, pareceu que a escolha dessa linguagem foi apenas para utilizar de trajes espalhafatosos e gloriosos, mas os quais resultaram em algo totalmente banal. O uso de leques como objetos, acabou se tornando algo cansativo. O contexto cênico de “Hamlet in Quarto” diz ter contado com um trabalho intenso de preparação corporal, me pergunto se os atores não esqueceram desses ensinamentos. Pois, às vezes, eles entravam andando de uma forma, depois abandonavam o andar, ou ao contrário.
A diretora diz ter estudado o teatro oriental por mais de duas décadas, sendo a peça voltada a ação dramática, gostaria de saber aonde ela colocou a ação, pois aos olhos do público, o espetáculo não passava de textos sendo mal cuspidos e interpretações sem o menor pingo de dramaticidade. Um espetáculo ao qual se arrastou por duas horas longas e cansativas. A ideia da montagem não era ruim, o que faltou foi tirar do papel e transportar para os palcos com fé e sentimento de verdade. Acho que a essa hora Shakespeare deve estar se remexendo no caixão. Para terminar, deixo a frase de Stanislavski: “Representar verdadeiramente, significa estar certo, ser lógico, corrente, pensar, lutar, sentir e agir em uníssono com o papel”.

*Atriz e aluna do curso de Artes Cênicas da UFSC