Sobre o conceito performance – Jordana Marra

Sobre o conceito performance

 

Jordana Marra*

A fila da UFSC

A fila da UFSC

 

Dentre as principais demandas dos movimentos emergentes que surgem em meados dos anos 50 e 70, a busca por uma resignificação da arte é a mais gritante.

Resignificar, desmitificar, romper, quebrar paradigmas, desconstruir tudo aquilo que na arte já se sabia obsoleto e sem sentido para a nova sociedade que florescia dos porões de um mundo pós-guerra era o objetivo da vanguarda atual.

A sociedade se reconstruia, a arte também.

Podemos dizer que a arte da performance é um dos resultados possíveis dos muitos anos de experimentações e investigações acerca das diversas vertentes já estabelecidas, como a música, a pintura, o teatro e também aquelas novas mídeas que vinham surgindo…? Muitos questionam como as ações oriundas dessa tal reestruturação de valores poderiam ser entituladas Arte, muitas vezes sem objeto, sem obra, ou de cunho unicamente conceitual a performace facilmente gera a desconfiança e ares de charlatanismo. Mas o próprio questionamento faz juz à resposta.

Com o pressuposto de que a arte deve despertar o nosso olhar, nos fazer pensar, nos indicar novas perspectivas, especialmente as que fogem ao senso comum. A partir do momento em que se formulam questões e provocações a proposta atinge um ponto ótimo de concepção artística.  Visando romper com os formatos tradicionais dessa concepção e oferecendo um fluxo fresco de perspectivas à nossa inteligência, a arte da performance pode sim ser vista como o que aglutinou e resignificou os saberes intelectuais do nosso tempo. Se ela será sempre digna de aplausos, isso é uma outra questão.

A arte estagnada e elitizada já não corresponde mais num parâmetro estético-social, é preciso investigar mais, gerar pulsão de vida para uma sociedade que disperta diante de suas mazelas e proezas, indivíduo e coletivo.

Como resposta à estagnação e ao distanciamento instaurado pelos antigos modelos, os artistas vanguardistas buscaram se aproximar de sua obra, e se aproximar de seu público, se fazendo obra e gerando espaço para uma participação ativa do público, diminuindo assim a distância  entre a vida e a arte, desmitificando a figura do artista como uma entidade inatingível.

Um bom exemplo dessa ruptura pode ser observado na performance realizada recentemente  “A FILA”. Um grupo de estudantes da UFSC se posicionaram em formato de fila indiana diante de uma porta cenográfica no meio do campus universitário em pleno horário de funcionamento do mesmo. Observou-se que diferentes indivíduos com suas rotinas também singulares, diante da fila não resistiram ao questionamento, foram de fato provocados, e experimentaram! Se expuseram, como parte da obra, como ferramenta e também como produto.

Uma fotografia ou uma pintura de tamanho real com a mesma proposta conceitual no mesmo lugar e momento da realização dessa performance provavelmente não teriam dado conta dessa aproximação pautada. Provavelmente os transeuntes passariam pelo objeto, olhariam, ou não, e talvez se questionassem… Mas não de maneira tão presente, não teriam a oportunidade de fazer fisicamente parte daquilo, de sentir a ação em seu corpo, que fosse a ação de esperar numa fila, pelo que? Não importava! A expêriencia se faz potência e pulsão de vida nos corpos.

A performance oferece essa possibilidade. De experimentação ativa para todos os envolvidos. E isso é unico e original.

Reobjetivou-se não só a manufatura, mas o significado e impacto da da obra. Como na experiência forjada por Yves Klein, onde o artista usa modelos vivos como pincel oferecendo assim uma nova ordem pra aquela ação, as pessoas da fila se fizeram não só receptores, mas também conceito, e também colagem, retrato, desenho, imagem, escultura de seu próprio corpo. Não era obvio quem era o artista, o colaborador ou o público. A performance não gerou um objeto, mais que isso, gerou impacto no cotidiano, tirou do senso comum. O transeunte não planejou uma visita a um museu ele foi “abdusido” daquele instante já, atraído de dentro da sua rotina à participação de um “salto no vazio”.

 

* Aluna do Curso de Artes Cênicas da UFSC