CONVERSA DE BOTECO – Ricardo Domeneck

CONVERSA DE BOTECO

Ricardo Domeneck

 

O amigo diz que a poeira vai baixar,

as pessoas vão começar a se ouvir.

Que é a tempestade de areia

atrapalhando o morse,

derrubando os fios do telégrafo.

E pede outra cerveja.

 

Mas essa poeira já não baixa.

Poeira da Boca do Acre

à Canela do Rio Grande do Sul.

Desmata e mata

até virar movediça a areia.

 

Já não se vê o diabo, já não se vê a rua.

Amamenta-se o filho no seio do redemoinho.

 

Enquanto isso a gente ouve

“Ingênuo” do Pixinguinha

e finge que o Brasil existe.

Joga uma flor a mais no mar

para chantagear Iemanjá

e aperta com mais força a conta do rosário

em novena por Nossa Senhora de Aparecida.

 

Pelo Sinal da Santa Cruz

+ Livrai-nos Deus, Nosso Senhor

+ dos nossos Inimigos.

 

V. Deus in adjutorium meum intende.
R. Domine, ad adjuvandum me, festina.

 

Mata a vaca e mostra o bife.