Jan Brzechwa – sobre a poesia moderna com um sorriso – Tradução e apresentação: Piotr Kilanowski

Jan Brzechwa – sobre a poesia moderna com um sorriso

Tradução e apresentação: Piotr Kilanowski[1]

Jan Brzechwa 

Jan Brzechwa (pseudônimo de Jan Lesman, 1898-1966) foi mais conhecido como um grande autor de poesia infantil polonesa. Suas poesias para os adultos nunca ganharam reconhecimento. No entanto, Brzechwa, um grande advogado, precursor da defesa dos direitos autorais na Polônia, além de poeta, revela-se no texto que aqui traduzimos, um exímio conhecedor das teorias de criação da poesia moderna. Em seu texto Como se tornar um vate, o poeta, ao criar um conciso manual para os jovens poetas, repleto de instruções práticas e conhecimentos teóricos, impiedosamente zomba da poesia vanguardista. O texto, assim como suas fábulas é marcado por várias possibilidades de leitura. A veia satírica e a capacidade do uso preciso da palavra de Brzechwa, esta última conhecida tanto por seus amigos quanto por seus inimigos no tribunal, tornam essa curta sátira uma leitura que, ao mesmo tempo em que ridiculariza os excessos dos poetas que se miram nos modismos vanguardistas, zomba dos teóricos professorais que procuram sentido, regras e padrões em tudo quanto é tipo de loucura poética. A obra provém de um livro de sátiras e obras humorísticas do poeta, publicado postumamente, em 1967, intitulado Miejsce dla kpiarza (O lugar para um zombador).

 

Como se tornar um vate

Jan Brzechwa

 

A inovação no campo da poesia desenvolve-se no nosso país em três vias e cada uma delas é alumiada com raios de genialidade. No entanto, graças às sensacionais investigações dos nossos teóricos, mesmo um gênio se deixa subjugar e prender em princípios infalíveis. Graças a isso, 4876 poetas que habitam as terras polonesas conseguiram fazer a felicidade dos leitores com obras memoráveis. Desejamos limitar nosso modesto feito à apresentação sistemática de três métodos criativos fundamentais para os milhares de futuros poetas do período da explosão demográfica.

 

Método I: O creacionismo antissintático

 

Como acertadamente têm observado os  proeminentes teóricos das vanguardas, o mais grave lastro da poesia é a palavra. Portanto uma das mais fundamentais tarefas de um poeta é a aniquilação da palavra por meio de sua fragmentação em elementos inarticulados, com o objetivo de atomizar a visão. Imaginemos, pois, que o poeta levado pelo hábito de pensar logicamente tenha planejado uma composição tradicional:

 

Cirurgia

O doutor realizou

a cirurgia,

o paciente morreu,

graças a isso

o defunto

se conscientizou

do absurdo da existência.

 

Este poema nos golpeia com sua profundidade comovente, fala da morte, exala a alienação existencial de um defunto frustrado. Mas, ao mesmo tempo, é uma obra sobrecarregada de lastro da palavra e de banalidade de retaguardismo sintático.

Portanto, é aqui que intervém o inovador genial e atua de acordo com os princípios do creacionismo antissintático, retirando das palavras sua semiótica rasa! O ato da deformação inspirada liberta o subconsciente criativo e assim obtemos um registro inarticulado da reação, no qual o valor expressivo ou estético da palavra cessa de existir.

Lemos, portanto, com incessante admiração :

 

CIRERRA

 

O dourealcir

o pacimorre

gracisso

o def

secons

dabsistência

 

Em frações do todo o poeta procura a verdade sobre o mundo, demonstrando a grotesca impossibilidade de estabelecer comunicação.

 

Método II: O creacionismo intuitivo

 

O poeta inovador pode também se valer das tradições poéticas nacionais, protegendo-se assim das acusações de cosmopolitismo na descontinuidade da sintaxe anacolútica. Para tanto basta aproveitar versos dos três vates do Romantismo.

E então de Mickiewicz:

“Mas como homem de juizo sábio e seguro” (“O senhor Tadeu”, livro VI);

de Słowacki:

“Em longa fileira” (“O hino sobre o pôr do sol no mar”);

de Krasiński:

“As pessoas ouvirão apenas os rangidos ásperos” (“Deus me recusou…”)

Escrevemos todas essas palavras em folhinhas separadas, misturamo-las num chapéu e tiramos em ordem aleatória. Retiramos a pontuação e em breve obtemos um poema verdadeiramente moderno:

 

Rangidos de juízo

 

Em fileira apenas os ásperos

como homem longa

sábio

rangidos de juízo

ouvirão

as pessoas e

seguro Mas.

 

Um poema deste tipo, que é uma captura in flagranti dos estados irracionais, impactará o leitor.

 

Método III: O creacionismo simplificado

 

Os dois métodos propostos anteriormente baseiam-se na desordem formada dos sistemas específicos de verbalização. Isto exige do poeta inspiração construtiva, erudição e uma sensibilidade particular para as interdependências linguístico-semânticas. O creacionismo simplificado, em troca, permite que até as inibições alfabéticas sejam transformadas em mitocreacionismo poético.

Para conseguir tal objetivo, basta aproveitar qualquer jornal e copiar de lá um fragmento da programação da rádio, dando-lhe uma forma gráfica vanguardista. Graças à metamorfose criativa do texto, obteremos uma obra de grande tensão emocional.

 

RADIODIFUSÃO DA VIDA

Música

música

programação do dia

agenda

ginástica

língua inglesa

música

a canção do dia

 

A inserção de algumas palavras de baixo calão entre as respectivas frases, na ordem analfabética, fortalecerá a carga intelectual da obra.

Aplicando um dos métodos propostos ou misturando-os nas proporções aleatórias, qualquer um pode se tornar um poeta-inovador ou até um vate que concentra em si os problemas da poesia polonesa do século XX.

 

 Jak zostać wieszczem

Jan Brzechwa

 

Nowatorstwo w dziedzinie poezji rozwija się u nas trzema torami, a każdy z nich opromieniony jest błyskami genialności. Jednak dzięki rewelacyjnym dociekaniom naszych teoretyków nawet geniusz daje się ujarzmić i ująć w niezawodne prawidła. Dzięki temu 4 876 poetów zamieszkujących ziemie polskie zdołało uszczęśliwić czytelników wiekopomnymi dziełami. Nasz skromny trud pragniemy ograniczyć do systematycznego przedstawienia trzech podstawowych metod twórczych dla tysięcy dalszych poetów z wyżu demograficznego.
Metoda I: Kreacjonizm antyskładniowy
Jak słusznie zauważyli wybitni teoretycy awangardy, najuciążliwszym balastem poezji jest słowo. A zatem do podstawowych zadań poety należy unicestwienie słowa przez rozczłonkowanie go na elementy nieartykułowane celem zatomizowania wizji. Wyobraźmy więc sobie, że poeta przez nawyk logicznego myślenia zaplanował układ tradycyjny:

OPERACJA
Doktor dokonał
operacji,
pacjent umarł,
dzięki czemu
nieboszczyk
uświadomił sobie
bezsens istnienia.

Wiersz ten uderza przejmującą głębią, mówi o śmierci, tchnie egzystencjonalną alienacją sfrustrowanego nieboszczyka. Ale jest to równocześnie utwór obarczony balastem słowa i banału składniowego arieryzmu.
Toteż w tym miejscu wkracza genialny nowator i działa w kierunku kreacjonizmu antyskładniowego, odbierając słowom ich płaską znaczeniowość! Akt natchnionej deformacji wyzwala twórczą podświadomość i otrzymujemy nieartykułowany zapis reakcji, w którym estetyczny czy ekspresywny walor słowa przestaje istnieć.

Czytamy więc z nie słabnącym zachwytem:
MYLNA OPR

Dokdokoper
pacum
dzięcze
niebo
uświadoso
beznienia.

W ułamkach całości poeta szuka prawdy o świecie, demonstrując groteskową niemożność nawiązania komunikacji.

Metoda II: Kreacjonizm intuicyjny
Poeta nowator może też sięgnąć do narodowych tradycji poetyckich, co uchroni go przed zarzutem kosmopolityzmu w nieciągłości składni anakolutycznej. W tym celu wystarczy wziąć wersety z trzech wieszczów romantycznych.
A więc z Mickiewicza:
“Lecz jako człek mądrego i pewnego zdania” (“Pan Tadeusz”, księga VI),
ze Słowackiego:
“Długim szeregiem” (“Hymm o zachodzie słońca na morzu”),
z Krasińskiego:
“Ludzie usłyszą tylko twarde szczęki” (“Bóg mi odmówił…”).
Wszystkie te słowa wypisujemy na osobnych kartkach, mieszamy w kapeluszu i wyciągamy w dowolnej kolejności. Odrzucamy interpunkcję i niebawem otrzymujemy wiersz prawdziwie nowoczesny:

SZCZĘKI ZDANIA

Szeregiem twarde tylko
jako człek długim
mądrego
szczęki zdania
usłyszą
ludzie i
pewnego Lecz.

Wiersz taki, będący schwytaniem na gorącym uczynku niezracjonalizowanych stanów psychicznych, targnie czytelnikiem.

Metoda III: Kreacjonizm uproszczony
Dwie poprzednio zaproponowane metody opierają się na formowanym bezładzie określonych systemów werbalizacji. Wymaga to od poety konstruktywnej inspiracji, erudycji i szczególnego wyczucia zależności lingwistyczno-semantycznych. Natomiast kreacjonizm uproszczony pozwala nawet zahamowania alfabetyczne przetworzyć w mitotwórstwo poetyckie.
W tym celu należy sięgnąć do pierwszej lepszej gazety i przepisać stamtąd fragment programu radiowego, nadając mu awangardowy kształt graficzny. Dzięki twórczemu przeobrażeniu tekstu otrzymamy utwór o dużym napięciu emocjonalnym:

RADIOWĘZEŁ ŻYCIA

Muzyka
muzyka
program dnia
kalendarz
gimnastyka
język angielski
muzyka
piosenka dnia.

Wprowadzenie pomiędzy poszczególne zdania kilku wyrazów nieprzyzwoitych w układzie analfabetycznym wzmocni ładunek intelektualny utworu.
Stosując jedną z proponowanych metod albo mieszając je w dowolnych proporcjach, każdy może stać się poetą-nowatorem, a nawet wieszczem, ogniskującym w sobie problemy poezji polskiej XX wieku.

 

 

[1] Piotr Kilanowski é tradutor e professor de literatura polonesa na UFPR