Pensando o teatro… – Angélica R. Mahfuz
Pensando o teatro…
Angélica R. Mahfuz*
“Não podemos mais ensinar ou mesmo estudar teatro como fazíamos no passado […]. Teremos que fazer mais do que clonarmos, para preparar aqueles que possam ir além de nossas limitações”
Margaret Wilkerson.
O teatral deixou de ser sinônimo do dramático. Ponto. Tendo essa afirmação como ponto de partida se procura determinar quais as manifestações que atualmente são reconhecidas como teatrais e identificar nosso modo de produzir e perceber o teatro.
Justificando que existe uma escassez de material teórico em português, que aborde a diversidade estabelecida na cena contemporânea e que o assunto ainda é bem mais discutido “filosoficamente” do que estabelecido e compartimentado em algum conceito fixo.
Mas então o que é o Teatro na contemporaneidade? Ele deve absorver toda a pluralidade de fazeres e expressões contemporâneas que não se enquadram em outras artes?
A estreita relação da arte com a realidade pode insinuar que qualquer forma de manifestação “artística” ao vivo pode ser teatro. Será?
O teatro e sua relação com outras artes:
O teatro é híbrido, ele é composto de outras artes. A dramaturgia vem da literatura, o cenário da arquitetura e pintura, o figurino da moda, a música…, a arte da iluminação e cada vez mais ele tem se apropriado dos aparatos tecnológicos mudando de cara, renovando-se constantemente.
O pensamento vigente não pode mais ser o teatro burguês (mesmo que alguns insistam ferrenhamente nesse tipo de teatro) e ao mesmo tempo é incoerente querer explicar através de uma lógica detalhada tudo o que se representa, pois se assim for feito a tendência é se criar visões reducionistas e preconcebidas sobre o teatro. Como a crítica ainda não acompanha a diversidade da cena contemporânea, às vezes parece que fica estabelecido que tudo aquilo que presenciamos hoje é o tal “pós-dramático”.
O pós-dramático não é um movimento artístico, mas um novo modo de organização dos elementos que são utilizados pelas novas obras cênicas. Por isso ele é um bom instrumento para analisar o que está sendo feito hoje em dia “em nome da arte”.
A cena pós-dramática exige do expectador, segundo Lehmann, “um processo associativo labiríntico”, e ele também afirma que se o teatro tem perdido seu fascínio, frente aos grandes meios de comunicação de massas, por outro lado surgem, formas de ação teatral que pesquisam novas possibilidades de comunicação, estabelecendo espaços próprios de comunicação.
Caracterizar o teatro é importante para nos localizarmos…, para sabermos onde estamos pisando, mas devemos ter o cuidado de não ficarmos apenas em elucubrações teóricas sem nos preocuparmos com a principal importância do teatro que é a comunicação na prática, ao vivo, a arte falando da própria arte e sua beleza como instrumento de entusiasmo artístico, político, estético, etc.
“O teatro é um momento de utopia, derivado da capacidade de doação do elenco e do público. A arte provém da expectativa de transformar. Quando não existe a esperança verdadeira de transformar uma pessoa que seja, na platéia, não há teatro propriamente dito, mas, apenas uma representação vazia de sentido. É necessário que haja esta expectativa” Ariane Mnouchkine
* Aluna do curso de artes cênicas da UFSC.