Os nomes e o silêncio. Reflexão sobre dois poemas de Wisława Szymborska no quadro da poesia polonesa sobre Shoah – Piotr Kilanowski

Os nomes e o silêncio. Reflexão sobre dois poemas de Wisława Szymborska no quadro da poesia polonesa sobre Shoah [1]

 

Piotr Kilanowski*

Wisława Szymborska

Wisława Szymborska

 

Calar é proibido, falar é difícil,

se não impossível.

Elie Wiesel

 

O objetivo deste ensaio é tecer algumas reflexões a respeito de se escrever poesia sobre Shoah, usando como exemplo dois poemas de Wisława Szymborska. Após introduzir o tema, farei um breve histórico da poesia polonesa referente ao assunto, não apenas da produzida por poloneses que se identificavam como poloneses, mas também por poloneses que se identificavam como judeus. Tratarei tanto de poesia escrita em polonês quanto da escrita em iídiche. Após este breve levantamento, acompanhado de algumas reflexões a respeito das especificidades do tema, farei um breve passeio por dois poemas de Szymborska, tentando refletir junto com os poemas nos quais aparece a temática da impotência da linguagem de expressar o inexpressável e dos seus usos espúrios evidenciados por estas poesias. A reflexão sobre poesia e Shoah pretende ser constante ao longo de todo este trabalho.

 

Embora a conhecidíssima frase adorniana sobre a impossibilidade de fazer poesia depois de Auschwitz: “Escrever um poema após Auschwitz é um ato de barbárie, e isso corrói até mesmo o conhecimento de por que hoje se tornou impossível escrever poemas”[2], se referisse a um certo tipo de poesia, desligada da realidade da vida, o senso comum adota a terrível frase, como a reprovação de todo o ofício poético. Jeanne Marie Gagnebin fala a este respeito: “essa sentença ressalta muito mais a urgência de um pensamento não harmonizante, mas impiedosamente crítico, isto é, a necessidade da cultura como instância negativa e utópica contra sua degradação a uma máquina de entretenimento e de esquecimento”[3].

 

Na poesia polonesa escrita durante e posteriormente à Segunda Guerra Mundial, abundam exemplos que mostram não apenas a possibilidade, mas também a necessidade de se escrever poemas depois de Auschwitz. O tema da Shoah e da guerra perpassa as obras de vários poetas, mais e menos famosos, mais e menos talentosos. Para alguns é o cerne em torno do qual gira a sua poesia que, mesmo por vezes se afastando do tema, acaba inevitavelmente voltando a ele, como no caso, por exemplo, de Różewicz ou Ficowski. Os poemas de Różewicz, desde o seu primeiro livro de poesias Niepokój (Inquietação), são voltados para o tema da guerra, da Shoah e da impossibilidade de se viver o mundo da mesma forma, depois do que aconteceu. Ficowski, por sua vez, torna-se talvez o mais importante dos poetas poloneses a tratar do tema de modo mais direto, destinando a ele um volume intitulado Odczytanie popiołów (A leitura das cinzas). A poesia de Zbigniew Herbert volta ao tema da guerra constantemente relembrando os mortos e a crise de valores provocada pela guerra, embora não seja diretamente voltada para Shoah. Entre os autores de poemas marcantes sobre o tema devemos mencionar Czesław Miłosz, cujos importantíssimos poemas (“Campo di Fiori”; “Um pobre cristão olha para o gueto”) sobre a indiferença do ser humano diante da morte do outro, especificamente, dos poloneses diante do assassinato do povo judeu, serviram como pontapé inicial para várias conscientizações e discussões. Outro aspecto importante presente já na obra do Miłosz escrita durante a guerra é a consciência de que os poloneses, sem querer, por estarem na condição de testemunhas da Shoah, serão para sempre atingidos pelo crime, mesmo não sendo seus perpetradores, nem seus ajudantes, nem suas vítimas primárias. Não se pode deixar de mencionar autores como Krzysztof Kamil Baczyński, Władysław Broniewski, Wisława Szymborska, Tadeusz Borowski, Mieczysław Jastrun, Jacek Kaczmarski, Adam Zagajewski, Julian Kornahauser, Kazimiera Iłłakowiczówna, Anna Świrszczyńska, Halina Poświatowska, Stanisław Grochowiak, Tadeusz Śliwiak, Konstanty Ildefons Gałczyński, Stanisław Baliński, Anna Kamieńska, Julia Hartwig, Rafał Wojaczek, Kazimierz Wierzyński, Agnieszka Osiecka i Wojciech Młynarski, Antoni Słonimski que destinaram poemas importantes ao tema. Alguns deles de origem judaica, mas identificando-se como poloneses e, não raramente, escondendo as suas raízes.

 

A situação é diferente entre os poetas poloneses que se identificam como judeus e escrevem sobre o tema em polonês, em hebraico e iídiche. Os mais destacados entre eles não sobreviveram à guerra e é natural que a Shoah seja o tema central da sua produção poética. O morticínio generalizado é tema único, que faz da poesia deles uma poesia de testemunho, que poderia não ter tido grande valor poético, se não fosse pela vivência dos autores, que transforma sua poesia em um instrumento poderosíssimo de grito contra o que estava acontecendo. Este era o caso de Władysław Szlengel, judeu polonês, o poeta do gueto de Varsóvia. Não fosse a guerra Szlengel provavelmente permaneceria um poeta satírico, autor de letras para músicas populares. Foi a experiência do gueto que deu a este poeta popular a possibilidade de ser um porta-voz de um povo condenado à morte e fez dele um bardo, cujas palavras o gueto inteiro repetia. Neste mesmo gueto escrevia um poeta não tão popular quanto Szlengel, muito menos conhecido, mas poeticamente muito superior. Itzhak Katzenelson (Icchak Kacenelson), antes da guerra um dramaturgo iídiche, escreveu seu monumental poema lnesta língua, diferentemente de Szlengel que escrevia em polonês. O poema O canto sobre o povo judaico assassinado (Das lid fun ojsgebargentn iídishen folk), foi encontrado depois da guerra no campo de Vittel, na França, para onde Katzenelson havia sido deportado com o filho (o resto da família foi morto em Treblinka), como dono de um passaporte hondurenho falsificado. O poema, que foi escrito em Vittel, narra, em vários cantos escritos em verso heróico, a história do gueto, as deportações e o Levante, do qual o autor participou. De Vittel, Katzenelson foi levado para Auschwitz, onde foi assassinado. Entre outros poetas, que independentemente da língua na qual escrevem se identificam como judeus ou judeus poloneses é preciso mencionar: Henryk Grynberg, Irit Amiel, Halina Birenabaum, Zuzanna Ginczanka, Abraham Sutzkever (Suckewer), Mordecai (Mordechaj) Gebirtig, Daniel Kac. Há também um poeta iídiche, judeu ucraniano, que foi morto durante “A noite dos poetas assassinados”, que iniciou os expurgos antissemitas de Stalin em 1952 (que foram descontinuados devido à morte do ditador em 1953), Itzhik Feffer, autor da obra Sombras do gueto de Varsóvia.

 

Uma diferença marcante é que a maioria dos poetas poloneses escreveu os seus poemas depois da guerra (com exceção de Miłosz e Baczyński, que escreveram impactados imediatemente após testemunhar os acontecimentos), enquanto os grandes autores judeus escreveram no calor do momento. A sua produção era marcada com tons de protesto, testemunho e resistência. A poesia escrita por eles era uma verdadeira poesia popular, repetida de boca em boca, expressava o que acontecia com a comunidade. A poesia da maioria dos poloneses expressa também protesto, é, às vezes, oriunda do testemunho, mas a distância temporal, que traz reflexões, não muda um aspecto: a necessidade de falar sobre o assunto. O tempo, no entanto, permite pensar nos meios de expressão diferentes dos usados pelos que escreviam na hora. A procura de uma nova linguagem, de novas formas podem ser refletidos pela “antipoesia”[4] de Różewicz, ou pela frase de Ficowski: “busco palavras/ que não existem”[5]. A necessidade de encontrar novas formas de expressão, para tentar expressar o inexpressável, tentar criar uma nova linguagem, evidencia, justamente, a necessidade da poesia. Pois poesia é um discurso que tenta transmitir algo além do sentido abafado pela rotina das palavras racionais, um discurso que proporciona ao autor e ao leitor uma fuga da percepção corriqueira, evidenciado a impotência da linguagem diante da realidade. Por meio desta evidência a poesia questiona a cultura construída por palavras racionais, que permitiu o acontecimento do inenarrável, força a saída da percepção binária da realidade, rumo à conclusão de que é impossível haver verdades objetivas e de que a prova de toda verdade e de toda utopia é o ser humano.

 

Seja por meio do testemunho, seja por meio de tentar mostrar os efeitos do acontecido, inclusive a nível do que aconteceu com a linguagem, a poesia torna-se uma tomada de posição ativa, torna-se uma necessidade. Se os poemas de Jerzy Ficowski ao mesmo tempo que trazem o testemunho denunciam a indiferença, tanto a causada pela passagem do tempo, quanto a que testemunhou a desgraça alheia, por outro lado tentam despertar o leitor, mesmo depois de anos, para o que foi a Shoah e como os seus efeitos continuam presentes entre nós.

*

A poesia nos faz tocar o impalpável e escutar a maré do silêncio cobrindo uma paisagem devastada pela insônia. O testemunho poético nso revela outro mundo dentro deste, o mundo outro que é este mundo.

Octavio Paz

Wisława Szymborska, poetisa da geração que foi obrigada a viver a sua juventude nos tempos de guerra, nunca fez dela o seu tema central, como, por exemplo, Tadeusz Różewicz ou Zbigniew Herbert. Os ecos dos acontecimentos estavam perceptíveis, sem, no entanto, matizarem o tom da sua poesia como um todo. Semelhantemente, a questão da Shoah não pertence aos temas recorrentes da sua poesia. Mesmo assim, a sua capacidade de síntese e a necessidade de falar sobre o assunto nos brindaram com dois poemas extraordinários. Ambos narrados da perspectiva temporal mostram a nulidade desta perspectiva ao falar da Shoah. Mostram como as pessoas que foram obrigadas a respirar os cemitérios nos ares, usando a metáfora de Celan, estão sendo impactadas pelo passado, que continua presente.

 

Na sua memória Szymborska guardou as lembranças dos judeus. “Lembro deles retirando a neve das ruas, com aqueles retalhos nas mangas”- disse indagada pelas jornalistas Anna Bikont e Joanna Szczęsna – “E lembro também de um casal judeu que era nosso vizinho. Logo no início da guerra, trouxeram alguns objetos de valor para que a minha mãe guardasse para eles. Durante a guerra toda ela não sabia o que fazer com isso, caso nós fôssemos deportadas. Ambos sobreviveram, ele morreu logo depois da guerra, ela enquanto viveu freqüentava os meus encontros autorais.”[6]

Ao ser indagada a respeito de pouca presença do tema da guerra em sua poesia, mesmo que a guerra tenha sido a experiência de toda a sua geração, Szymborska respondeu que na poesia é difícil falar em proporções justas e que a maioria dos seus poemas a respeito daqueles tempos foi para a lixeira. “Nunca poderia me igualar nesse tema a Herbert ou Różewicz, na poesia deles o pensamento sobre os mortos é uma presença constante. Lendo a sua poesia compreendi que expressaram a sua experiência de modo inigualável e que eu nada teria a acrescentar[7].” E no entanto os seus dois poemas que tocam diretamente a Shoah, além de fortemente comoventes, colocam temas importantes, tanto para a autora quanto para a poesia e a crise da palavra, provocada pela Segunda Guerra Mundial. Tanto que poderiam ser chamados de poemas definitivos e certamente estão entre os mais importantes escritos sobre o tema.

 

A lembrança dos judeus, apresentada na poesia de Szymborska, é uma lembrança da ausência, de um outro mundo muito distante do seu. Isto já pode ser evidenciado pelo fato de que quem é transportado pelo país no poema “Ainda” não são as pessoas, senão os nomes. Os seres humanos, reduzidos à lembrança dos seus nomes, que continuam a assombrar a memória. O mundo dos que morrem é muito distante do mundo dos vivos, como disse Miłosz, em seu poema “Campo di Fiori” escrito ao ver as pessoas no carrossel do lado ariano do muro do gueto de Varsóvia em chamas do Levante:

 

“E aqueles, morrendo solitários,

Pelo mundo já esquecidos,

Nossa língua agora estranham

Como a língua de um planeta antigo.”[8]

 

A língua dos que morrem se torna incompreensível aos que ficam. As lembranças dos judeus assassinados se resumem aos nomes que assombram, e continuarão a assombrar a memória junto com o barulho das rodas. Só o silêncio martelando no silêncio, a ausência na ausência, a falta de palavras na presença negativa da língua, tão frequente em poesia, é o que pode expressar qualquer coisa.

 

“Tá-aqui-tá-aqui, bate a roda. Pela floresta sem clareiras.

Tá-aqui-tá-aqui, o trem, transporte dos clamores, aligeira.

Tá-aqui- tá-aqui. Ainda ouço de noite acordada

tá-aqui- tá-aqui, do silêncio no silêncio a martelada.”[9]

 

O nome, por mais que seja símbolo de um ser humano, de algum modo nos afasta da humanidade da pessoa, da sua totalidade. É mais fácil lidar com os nomes, com as palavras que representam as pessoas, do que com a realidade do ser humano. Mesmo quando os portadores dos nomes se desesperam, gritam, procuram a possibilidade de fuga, só o fato de que sejam nomes, uma narrativa, nos afasta da sua realidade. Se pensarmos na linguagem como o modo de reduzir o ser humano a algo objetivo, para facilitar o funcionamento do dia-a-dia, percebemos que a linguagem nos afasta de todo um universo que não cabe nas palavras. Se pensarmos na linguagem, como algo oriundo do grito, do choro, algo que tinha como o seu primeiro objetivo comunicar, mas também manipular o outro ser humano, para que viesse ao socorro de quem gritava, ou fugisse assustado com um urro, percebemos como a linguagem nos transforma em objeto ou sujeito. Sujeito, sub-iectus, aquele que subjaz à experiência, o nome. Estamos diante da descoberta cartesiana que reconhece só uma possibilidade de haver sujeito ego cogito, dando assim à luz a objetividade moderna e acabando com a idéia grega de hyppokeimenon, um cerne presente em toda a natureza animada ou inanimada. Ocioso lembrar que a Shoah foi o fruto podre desta objetividade e do projeto da modernidade e que o ser humano fica reduzido a objeto no momento da sua morte.

 

O poema mostra algo curioso: se por um lado o nome nos faz pensar em sujeito, em um ser humano individual, por outro é algo que pode torná-lo um objeto. Nenhum nome é usado em vão, para isso basta pensar em alguns significados no contexto do poema: Natan que esmurra a parede tentando a fuga ou um pouco mais de ar – “dom, dádiva, presente”, Isaac que canta em loucura – “ele ri”, Sara – “princesa” tenta cuidar de Aaron – “iluminado, dignificado”, quanto a Davi, para quem se dirige o preocupado aviso para não pular do trem em movimento, seu nome significa “amado”. A sua importância é grande, pois reflete os dois lados do uso do nome, ligado com um símbolo: por um lado a estrela de Davi que reduzia o ser humano à caça, por outro a mesma estrela que é o orgulhoso brasão de Israel. O mesmo nome que servia para conferir ao judeu a identidade não-humana, serve para lhe conferir uma identidade nacional, tribal, portanto algo que se considera acima da simples identidade humana. O dilema entre sujeito e objeto, imposto pelo uso da lógica binária, discutido anteriormente, fica aqui evidente.

Se por um lado o uso dos nomes esquecidos pela história de crime de massa tenta dar uma face individual à tragédia, por outro reduz o ser humano à palavra. Diante de nossos olhos observamos, no poema, a transformação dos nomes em uma nuvem de fumaça.

 

Por outro lado pensemos no nome como a personalidade dada, a redução do ser humano a uma palavra que o nomeia, nome que pode ser visto como um símbolo da desumanização, algo que em breve pode virar números (tanto os tatuados, quanto os dos livros de história). Um nome judeu, como o nome de Davi, condena à derrota, faz com que apenas pelo fato de se chamar assim, o ser humano não é tratado como um ser humano. É objetivado. Enquanto isso, o nome eslavo talvez possa garantir qualquer futuro ao filho que está para nascer. O nome, a palavra que representa a subjetividade, transforma-se em motivo para generalizar, desumanizar os portadores dos nomes. A generalização que ocorre quando o ser humano é reduzido a uma palavra, mesmo tão importante, ou desimportante, como um nome, faz com que na lembrança não haja pessoas, senão judeus, não pessoas, mas nomes, não nomes, mas nuvem.

 

Em vez de pensar no sofrimento individual, a tragédia individual de cada um dos que passaram pela Shoah, generalizamos, sem querer, a modo nazista, e vemos apenas judeus ou até seres humanos, mas como diz a autora no outro poema “Campo de fome nos arredores de Jasło” :

 

“A história arredonda os esqueletos para zero.

O mil e um ainda é mil.

Aquele um é como se nunca tivesse existido:

Feto imaginado, berço vazio,

A cartilha aberta para ninguém,

O ar que ri, grita e cresce,

A escada para o vazio que corre para o jardim,

Lugar de ninguém na fileira.”[10]

 

A crueldade da percepção histórica que não permite a lembrança dos indivíduos insignificantes, que os transforma em números, novamente, tem em si um quê de totalitário. A tentativa de ordenar a experiência por meio do discurso, aqui histórico, redunda em se esquecer do ser humano em prol da humanidade. Faz com que o silêncio dos indivíduos seja substituído pela narrativa de massas. O que foi vivido, experienciado individualmente (e pode se experienciar qualquer coisa coletivamente?) é reduzido a vazio, a silêncio que martela no silêncio e reina no prado, que uma vez foi um campo no qual as pessoas foram levadas a morrer de fome. O prado, como a única testemunha da tragédia, age como um poema. Por um lado, compartilha as imagens vistas pelos que estavam morrendo e força a empatia por meio da imaginação. Por outro, silencia, como testemunha comprada, ou como a única forma de tentar expressar o inexpressável.

 

Iniciei esta reflexão com a conhecidíssima citação de Theodore Adorno, ao longo do ensaio creio ser fácil entender porque vou fechá-la com uma citação bem menos conhecida, mas nem por isso menos importante. Seu autor foi um dos sobreviventes da Shoah. É autor de uma obra vasta, importantíssima, traduzida para o português e, de modo surpreendentemente, insuficientemente discutida por aqui, a despeito da sua importância e da fama que o seu nome ganhou ao ser laureado com o prêmio Nobel de 2002. Imre Kertész, cuja frase responde ao dito de Adorno, ecoando a opinião de um outro sobrevivente Primo Lévi[11], diz: “Com o mesmo alcance eu o [o dito de Adorno] modificaria para dizer que depois de Auschwitz só se podem escrever versos sobre Auschwitz. No entanto – por outro lado – não é nada fácil escrever versos sobre Auschwitz”[12].

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BASEVI, Anna. Silêncio e literatura: as aporias da testemunha. Alea vol.15 no.1 Rio de Janeiro Janeiro/Junho 2013

BIKONT, Anna, SZCZĘSNA, Joanna. Pamiątkowe rupiecie. Biografia Wisławy Szymborskiej. Cracóvia: Znak, 2012. p.68

FICOWSKI, Jerzy. Odczytanie popiołów.Sejny: Pogranicze, 2003.

HAMBURGER, Michael. A verdade da poesia: tensões nas poesia modernista desde Baudelaire. Tradução d Alípio Correia de Franca Neto. São Paulo: Cosa Naify, 2007.

LEVI, Primo. Conversazioni e interviste 1963-1987. Torino: Einaudi, 1997

MIŁOSZ, Czesław.Wiersze wszystkie. Cracóvia: Znak, 2010.

KERTÉSZ, Imre. Uma sombra longa, escura. In: A língua exilada. São Paulo: Companhia das Letras, 2004

PAZ, Octavio. A dupla chama. Amor e erotismo. São Paulo: Siciliano, 1994.

SZYMBORSKA, Wisława. Wiersze wybrane. Cracóvia: a5, 2010.

 

* Professor de literatura polonesa na UFPR, doutorando em literatura na UFSC.

 

[1] O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico  e Tecnológico – Brasil. O artigo contou com a revisão de Luiz Henrique Budant, a que dirijo agradecimontos.

[2] ADORNO, Theodor. “Crítica cultural e sociedade”. Prismas. Tradução: Augustin Wernet e Jorge Mattos Brito de Almeida. São Paulo: Ática, 1998, p. 26 [7-26].

[3] GAGNEBIN, Jeanne Marie. “Após Auschwitz”. In: História, memória, literatura: o testemunho na era das catástrofes. Organização: Márcio Seligmann-Silva. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2003, p. 101 [91-112].

[4] a respeito do termo e do tema recomenda-se a leitura do capítulo nono, “Uma nova austeridade”, do livro de Michael Hamburger A verdade da poesia: tensões nas poesia modernista desde Baudelaire. Tradução d Alípio Correia de Franca Neto. São Paulo: Cosac Naify, 2007.

[5] no poema *** [não consegui salvar]/[nie zdołałem ocalić], tradução minha ( FICOWSKI, 2003, p.5). Todas as traduções neste trabalho, a não ser quando assinalado diferente, são da minha autoria. Os poemas citados e discutidos aqui fazem parte da preparada por mim antologia da poesia polonesa ligada ao tema da Shoah, cuja publicação está prevista para 2016. Os poemas de Wisława Szymborska, aqui analisados, podem ser lidos na íntegra na seção Teatro na Praia. Os outros poemas citados serão temas de breves análises a serem apresentadas futuramente nesta revista e serão, então, trazidos na sua integridade.

[6] BIKONT, Anna, SZCZĘSNA, Joanna. Pamiątkowe rupiecie. Biografia Wisławy Szymborskiej. Cracóvia: Znak, 2012. p.68

[7] ob.cit.p.72

[8] MIŁOSZ, Czesław. “Campo di Fiori” in Wiersze wszystkie. Cracóvia: Znak, 2010. p. 192-194

[9] SZYMBORSKA, Wisława. “Jeszcze” in Wiersze wybrane.Cracóvia: a5, 2010. p. 47-48

[10] SZYMBORSKA, Wisława. “Obóz głodowy pod Jasłem” in Wiersze wybrane.Cracóvia: a5, 2010. p. 80-81

[11] Lévi afirmou que inicialmente a poesia lhe parecia mais adequada que a prosa para tentar expressar o que se passava dentro dele. A afirmação pode ser encontrada no livro Conversazioni e intreviste, p.137.

[12] No ensaio Uma sombra longa, escura do livro A língua exilada, p. 55