A fuga (ou a covardia nossa de cada dia) – Priscila Andreza de Souza

A fuga (ou a covardia nossa de cada dia)

Priscila Andreza de Souza*

A tentação de fuga me remete ao passado de quando eu era uma adolescente mimada, mas também me faz pensar nesta onda de: se não está bom, sai fora. Parece que estamos sempre deixando projetos, pessoas, membros e cacos de coração por aí. Se está difícil, complicado, tedioso, incerto: pula para fora do barco.

O emprego novo que o sujeito está há um mês é tão monótono, as pessoas chatas e o serviço é fácil de mais – pede demissão. O curso não é aquilo que pensava, tem matérias nada a ver e as expectativas não foram preenchidas 100% – larga. A família não a compreende, as opiniões não são consideradas e os gritos são frequentes – muda. O parceiro não é mais tão admirado, as piadas não têm mais graça e a cobrança está no limite – termina.

Começo e fim, sem quase nenhum desenvolvimento. O processo é esquecido e o resultado super almejado. Deixar costuma ser tão simples e prático. “Senhores passageiros peguem seus coletes salva vidas a bordo e aproveitem a viagem. Porém, cuidado! Preparem-se para pular para fora do barco, assim que o mar se revoltar” – afirma a realidade.

Não me entenda mal, em algumas situações é preciso deixar para lá, abandonar, mas esta decisão tem que ser a última alternativa e não a primeira. Houve uma inversão de princípios. Você conquistou a pessoa, ama sua família, assinou o contrato de trabalho e pagou a mensalidade da faculdade, pensa bem, vê o que dá para fazer. Será que a única alternativa é ir embora?

A fuga costuma ser sedutora, mas é enganadora também. Então, reflita tente outras ações e se não for possível, vá, mas não antes de tentar. Correr por aí atrás de sei lá o que é loucura, o vazio continuará. Mas o livre arbítrio existe, escolha arrumar a casa antes de partir. 
 *Cronista.