O elefante e a borboleta – E. E. Cummings
O ELEFANTE E A BORBOLETA
De E. E. Cummings*
Tradução de Dirce Waltrick do Amarante**
Era uma vez um elefante que não fazia nada o dia inteiro.
Ele vivia sozinho numa casinha distante, bem no alto de uma estrada sinuosa.
Da casa do elefante essa estrada sinuosa dava voltas até lá embaixo quando desembocava num vale verde onde havia uma outra casinha, na qual morava uma borboleta.
Um dia o elefante estava sentado na sua casinha, olhando pela janela e não fazendo nada (e sentindo-se muito feliz porque isso era o que ele mais gostava de fazer) quando viu alguém subindo pela estrada sinuosa em direção à sua casinha; ele arregalou os olhos e ficou muito surpreso. “Quem é essa pessoa que está subindo, subindo por essa estrada sinuosa em direção à minha casinha?”, o elefante se perguntou.
E rapidamente ele viu que era uma borboleta, que estava batendo as asas muito feliz, ao longo da estrada sinuosa; e o elefante disse: “Meu Deus, e se ela estiver vindo me visitar?”. Como a borboleta se aproximava mais e mais, o elefante se sentiu mais e mais excitado. Subiu os degraus em direção à casinha e bateu à porta muito gentilmente com sua asa. “Alguém aí?”, ela perguntou.
O elefante ficou muito contente, mas esperou.
Então a borboleta bateu à porta novamente com sua asa, um pouco mais forte, mas ainda bem delicadamente, e disse: “Por favor, alguém mora aí?”.
Silencioso, o elefante não disse nada porque ele estava muito feliz para falar.
A borboleta bateu uma terceira vez, bem forte, e disse: “Tem alguém em casa?”. E, dessa vez, com uma voz trêmula, o elefante disse: “Sim”. A borboleta deu uma espiada porta adentro e disse: “Quem é você, que mora nesta casinha?”. O elefante deu uma espiada para fora, para ela, e respondeu: “Sou um elefante que não faz nada o dia inteiro”. “Oh”, disse a borboleta, “e posso entrar?”. “Por favor”, disse o elefante com um sorriso, porque ele estava muito feliz. Então, a borboleta imediatamente empurrou a porta com a sua asa e entrou.
Era uma vez sete árvores que moravam juntas numa estrada sinuosa. E, quando a borboleta empurrou a porta com sua asa e entrou na casinha do elefante, uma das árvores disse para uma outra árvore: “Acho que logo vai chover”.
“A estrada sinuosa vai ficar molhada e vai exalar um cheiro muito bom”, disse outra árvore para outra árvore.
Então, uma árvore diferente disse para outra árvore diferente: “Que sorte da borboleta estar segura na casinha do elefante, porque ela não vai nem notar a chuva”.
Mas a menor das árvores disse: “Eu já sinto a chuva”, e dito e feito, enquanto a borboleta e o elefante estavam conversando na casinha do elefante, distante, no topo da estrada sinuosa, a chuva começou a cair suavemente em todo lugar; e a borboleta e o elefante olharam juntos pela janela e nunca se sentiram tão seguros e felizes, enquanto a estrada sinuosa ficava toda molhada e começava a exalar um cheiro bem gostoso bem como a terceira árvore havia dito.
De repente, parou de chover e o elefante envolveu delicadamente a borboleta em seus braços e disse: “Você gosta um pouco de mim?”.
E a borboleta sorriu e disse: “Não, eu gosto muito de você”.
Então, o elefante disse: “Estou tão feliz, acho que podíamos sair para passear juntos, você e eu: pois agora a chuva parou e a estrada sinuosa exala um cheiro bom”.
A borboleta disse: “Sim, aonde eu e você podemos ir?”.
“Vamos descer e descer pela estrada sinuosa onde eu nunca estive”, disse o elefante para a borboletinha.
E a borboleta sorriu e disse: “eu adoraria sair com você por aí e descer a estrada sinuosa – vamos sair pela portinha da sua casa e descer os degraus juntos – Vamos?.
Daí, eles saíram juntos e o braço do elefante envolveu delicadamente a borboleta. Então a menor árvore disse: “acho que a borboleta gosta do elefante tanto quanto o elefante gosta da borboleta, e isso me faz muito feliz, pois eles sempre se gostarão”.
Descendo e descendo a estrada sinuosa, o elefante e a borboleta se foram.
O sol estava brilhando lindamente depois da chuva.
A estrada sinuosa cheirava a flores.
Um pássaro começou a cantar num arbusto e todas as nuvens deixaram o céu e era primavera por toda parte.
Quando eles chegaram à casa da borboleta, que ficava lá embaixo no vale verde que nunca esteve tão verde, o elefante disse: é aí que você mora?”.
E a borboleta disse: “Sim, é onde eu moro”.
“Posso entrar na sua casa?”, disse o elefante.
“Sim”, disse a borboleta. Então o elefante empurrou a porta gentilmente com a sua tromba e eles entraram na casa da borboleta. E então o elefante beijou a borboleta delicadamente e a borboleta disse: “Por que você nunca veio aqui embaixo no vale onde eu moro?”, e o elefante respondeu: “Porque eu não fazia nada o dia inteiro. Mas agora que sei onde você mora, vou descer a estrada sinuosa para ver você todos os dias, se eu puder – e eu posso vir? Então a borboleta beijou o elefante e disse: “Eu gosto de você, por favor, venha”.
E, todos os dias depois disso, o elefante descia a estrada sinuosa que cheirava bem (passava pelas sete árvores e pelo pássaro que cantava no arbusto) para visitar sua amiguinha, a borboleta.
E eles se gostaram para sempre.
* “O elefante e a borboleta” é um dos quatro contos infantis que o escritor norte-americano E.E. Cummings (1894-1962) escreveu para a sua filha Nancy quando ela ainda era criança.
** Tradutora. Autora de “As antenas do caracol: notas sobre literatura infantojuvenil” e “Pequena biblioteca para crianças: um guia de leitura para pais e professores”.