Fragmentos do livro “Curare”, de Ricardo Corona

Fragmentos do livro “Curare”, de Ricardo Corona

Curare, de Ricardo Corona

Prólogo

Entxeiwi. Com essa expressão, que se avizinha a “bom-dia”, Tikuein – apelido de José Luciano da Silva – ou Nhangoray (Mão Pelada), seu nome indígena, falecido em 2009 e um dos últimos falantes da língua Xetá, iniciava uma conversa com o espelho. Um rito oral com o outro do espelho que podemos dizer um exercício-limite, sintoma do desaparecimento dessa língua – do grupo dialetal guarani, no caso o mbyá, bem como outras da família linguística tupi-guarani – e efeito da dizimação da diversidade cultural a-histórica. Os Xetá, desde o início dos primeiros contatos, em fins do século XIX, ficaram reduzidos a seis indivíduos remanescentes. A soma dos indivíduos é menor que o número de nomes atribuídos à coletividade: Xetá, Héta, Aré, Botocudo, Sjeta, Notobotocudo, Ssetá, Bugre, Yvaparé, Chetá e Seta. São onze nomes coletivos para seis indivíduos que atualmente não convivem coletivamente.
Poucos meses após ter decidido que o informe desta fala de Nhangoray seria a pulsão do poema, tive a alegria de encontrar-me com Jerome Rothenberg, em Curitiba, em meados de 2007. Em rápidos três dias de convivência, o poeta e tradutor estadunidense, criador do conceito etnopoesia, deixou-me sinais estáveis de que a poesia é presença e ruído de fundo nas diversas relações culturais. “Nenhuma pessoa hoje é recém-nascida. Nenhuma pessoa se acomodou apaticamente aos milhares de anos de sua história. Meça tudo pelo foguete Titan & pelo rádio transistor, & o mundo estará cheio de povos primitivos. Mas mude por uma vez a unidade de valor para o poema ou para o evento da dança ou do sonho (todas, claramente, situações artefatadas) & fica aparente o que todas estas pessoas têm feito todos esses anos com todo esse tempo nas mãos”, escreveu Rothenberg em “Pré-Face – Technicians of the Sacred” (Etnopoesia no milênio).
Este informe do rito oral de Nhangoray é presença extremosa em Curare desde as primeiras linhas e põe em ênfase as relações entre poesia e etnia. A medida é monstruosa – do informe ao disforme, e, estendidamente, às linhas de fuga que sugerem ao poema o aberto –, um modo de se chegar ao ethos poético ou a uma poética. Posso dizer, além disso, que, recentemente, com a elaboração e exposição de uma etnoperformance chamada Carretel curare é que esse ethos delineou-se em seu movimento de retorno. O informe da fala de Nhangoray, presença na minha escrita-cosmogonia, escrita monstruosa, retorna à oralidade via espaço da performance.
Curare opera mais por uma força centrífuga do que centrípeta e descentra para não decifrar. “Não há mais sujeito-objeto, mas ‘brecha escancarada’ entre um e outro e, na brecha, o sujeito, o objeto são dissolvidos, há passagem, comunicação, mas não de um a outro: um e outro perderam a existência distinta” (Bataille).
Assim, a expressão “entxeiwi/bom-dia”, pode ser uma variante livre do sentido “carpe diem” (Horácio), vulgarmente traduzido por “viver o dia”. Se o gesto “carpe diem” busca dizer o que se esgota no instante presente, uma expressão para o “viver o agora”, dizer “entxeiwi” ao espelho, em uma língua esquecida, pode nos abrir o sentido poético desta língua, sentido este que está em todas as línguas, momento em que não estão formalmente estruturadas como linguagens de poder (Blanchot). É neste lugar, lugar também da tradução, que não é começo nem fim, lugar olvidado, silencioso, lugar de ausência que Curare – “brecha escancarada” – se relaciona incessantemente. E se recorro ao carpe diem, antes de evocá-lo formalmente, um épico, procuro dizê-lo no sentido que a expressão “entxeiwi” se me apresenta, ou seja, lugar de potência que tanto necessita o poema que não quer nunca se acabar, que é “continuum de variações crescentes”, nas palavras de Arturo Carrera, em seu Noche y Día.

Ricardo Corona

1.

E n t x e i w i !

Héta menino vê através

vê o céu noutro lugar depois do desvario
 
 constelações arquipélagos
interzonas.

Héta
sutil

chispa o tempo
inaudito.

Tem um graveto ((((((((((( deita-se,

N E B U L O S O)

: o fogo vem com sua dança desviante.

Héta esquivo
nalgum umbral do mundo
 

vê sem cessar.

Esquizo,
ouve estalar as gotas,

tremer estrelas na malha líquida

 

4.

Menino/nome/homem/anti/homilia
tartamudeia às cegas
gago Godard na TV (um grou:
palavras reenviadas até junto da boca, junto à página, à tinta ou ao écran, palavras que voltam a entrar logo após terem saído, sem que se propague a mínima significação
) um tanto antecede o sussurro 
a fala se desarticula 
lábio leporino murmurante
 indivíduo nômade
 
neste sol
((((((((((noutro sol e sem a sobra do teu gesto inaugural
a terra era Bugre) H O M E M – I N Q U I L I N O

6.

Héta………..grasna.grui.grulha……..para…………..
ooooooo…….espelho……..aaaaaaaa…………………
……..língua.xetá………………………..eeeeeee………
………de…………………………lá…………………………
.Lewis………..joga…………….com………ele……….
…………………………………………………………………
………………………………………………………………….
……………………….juntos……………apanham……
…………………….ponto.por.ponto………………………..
……eeeeeee………………………………..os…………..
……………………colam……………………………..
……………a.pelas…………..extremidades………….
…………………………………………………………………
…………………enredando………….ooooooo…………..
………………………………………………………………..
N O V E L O…….que……………………………………..
…lhe……………………………….sai…………………….
……………………..da…………………………………….
………….boca……………………………………………
…………………………………………………………………………
………………………………………………………………………….
.eeeeeee…………………………………………………………..
……………………………assim………………………………….
…………………………..aaaaaaa…………………………………
….poesia………………………………………………………………..
uma……………………teia………………………………………………….
……de.linhas.só.pontos.colados.um.no.outro………………………
………………………………………………………………………………….
…………………………………………………………………………………….
……………………………………………………………………………………….
…………………………………………………………………………………………..
11.

Insetos.formam.um.xuara…inicia-se.o.sacrifício.com.a.cabeça.de.tupac…o.inca.terá.a.cabeça.mirrada.em.seis.dias…antes.secar.a.carne…remover.o.cru.num.corte.vertical.no.crânio.nuca…olhos.dentes…oferenda.lançada.ao.rio…rio.parecido.com.o.mar…sem.deixar.o.cabelo.cair.ferver.a.cabeça.em.água.até.ficar.da.metade.do.seu.tamanho.normal…retirar.a.água.com.um.pau…esfriar.e.secar…raspar.a.pele.interna…pele.espessa…igual.borracha…reduzir.mais.o.tamanho.da.cabeça.com.calhaus.polidos.e.aquecidos.ao.fogo…enfiar.pedras.pela.fenda.do.pescoço…uma.a.uma…mais.pedra.cabeça.adentro…aos.poucos.chamuscar.e.mirrar.a.cabeça…trocar.as.pedras.por.outras.menores.conforme.a.abertura.do.pescoço…chamuscar.os.pelos.da.cara…deixar.o.pescoço.retesado…colocar.areia.quente.na.cabeça…a.cabeça.deve.ficar.do.tamanho.de.um.punho…espetar.os.lábios.com.três.lascas.de.xonta…costurá-los.firmemente…escurecer.a.pele.com.carvão…encapsular.o.espírito.na.escuridão.da.cabeça.mirrada…um.muisak…muisak-medo…sob.as.pálpebras.fechadas.colocar.sementes.abauladas.feito.dois.olhos.terrificantes…abrir.um.orifício.no.topo..da.cabeça…enfiar.nele.um.cordão.de.casca.de.árvore…silenciar…aguardar.o.dia.em.que.Xetá.xuara.usará.este.amuleto………..C A B E Ç A – T S A N T S A

 
16.

línguas transcorrem rios idem
rios irrigam línguas bis
fluxos trans-rios R I O S – L Í N G U A S
r e l i g a m  d e s á g u a m  e m  r i o – l í n g u a s  r e l i g a r e 
c a d ê n c i a  r i l i n g u a o  a r r i t m i a  l i n g r o a u
e :
antes do antes uma fala só
poesia
21.

imagens nômades invadem a memória
borradas nuvens no silêncio penetrante 

 

 
la noche penetrando
y el glande inflado de tinta, penetrando
hacen el mismo ruido
que la muerte penetrando

 

 mais mortos que vivos

 
e cantam
os vivos

 
e cantam os mortos

 

 
 cai azul

(brasa-cabeça)
a corola acesa

dá acesso ao invisível
N I N H O – N A D A S 
sob os pés a água que fizera

a foz

e as vozes –

 

30.

Macerar figuras fantásticas com cabeça tronco membros animalomem. Homemiolonão

…memiolonãoho…olonãomimeoh…miohloãonome…

Enfiar lascas amarrar tiras de casca. Deixar tudo pra Hi’rare por amor à sua comida e habilidade ao usar o urucum. Hi’rare cuidou de Tikuein. O lábio dele recebera o furo do tirau. A dor-dentro encapsulara o sentido de guerreiro num B O N I T O  T E M B E T Á enquanto a fumaça o envolvera e o fizera outro. O pequeno pau rememora Tikuein do primeiro Tembetá usado. Ele vê o lábio do primeiro Tikuein e saliva aquela boca até que escorra baba pela beira do beiço. Tikuein reserva a saliva do primeiro lábio para umedecer suas palavras. Todos ouvem Tikuein para ouvir o primeiro. Hi’rare está feliz em ouvir o primeiro por meio de Tikuein e se orgulha de tê-lo pintado e feito sua comida. Hi’rare pensa nisso num zás e Tikuein recebe o pensamento quase não pensado e insere-o no espaço do sagrado em que se encontra. A baba do primeiro Tikuein envolve o pensamento quase não pensado de Hi’rare nas palavras de Tikuein. A musculatura facial adolescente de Tikuein articula-se pela oralidade lubrificada do primeiro. Tikuein agora fala palavras com saliva de guerreiro.
31.
fogo M A C U R A P

(bagana guimba

): chispa-ferrão,

chifre-faúlha, Corola-azul. Dança.
pés na brasa // palavra-cinza // nada mais
   


visitou a visão do fogo um

.ondas.tikuein.levaram.aranhas.a.aderir.ao.novelolinha.
emaranharam.árvores.em.instalação.contra.a.malária.

33.

Um Meidosem mudo extasia dançando na página-céu
emitindo um frenético
T A M  T A M  G U I N E A N O

Por que tocar tam tam agora?

… /
Para tomar pulso
Celebrar a vertiginosa A em Ocidente
Acordar os demos de Ática
O covarde daímon arder
Demover astrolábios para rememorar céus
/ …
35.

Pé ante pé,
Velhinho,
Cego e gago
vem K h l e b ((((
faraó.com.silício.nas.unhas……..
..areia..nos..lábios……
.Saara.nas…pegadas…….
.astro-rei..esturricando…caixa-crânio…..
…..silêncio.e….deserto…
…luz..sugada…das…sombras..
..e…dobras….e.silêncio…cerebral..
………………………….neutros.nublam.nutrem….
.excitam…raios.de.outro………..céu….
….camelo.rumina…e…..baba..L S D  K A….
….dialeto…mastigado…..
clã……enfiado..no….deserto…
.pé.ante.pé.na.estepe.
.o….silêncio…não…fisga…a….tempestade…
…de…areia…nos……lábios……………do.sossego….
))) n i k o v :

 
Sim, vivo e continuo um sonho leve
37.

P o t l a t c h :
o dom acabou
doou tudo
sou // patrimônio imaterial // seu
M O N S  M A M S  M O M A S
tua vez ser moderno
:
dar
39.

M a n u f a t u r a  f a r t a 
m ã e  m u s e u  m a n 

pequenos tsantsas panamenses
um contêiner de diablos de barro mexicanos ::::::::::::::::

isso, dê-lhes cópias dublês homônimos sósias ::::::::
P O T L A T C H

 
41.

… ¶ o sonho épico do menino yvaparé é rastafári ¶ o sonho épico do menino yvaparé é roms ¶ o sonho épico do menino yvaparé é comanche ¶ é kaigang ¶ o sonho épico do menino yvaparé é melasiano ¶ é suruí ¶ o sonho épico do menino yvaparé é guineano ¶ é yamanes ¶ o sonho épico do menino yvaparé não é atávico ¶ é pigmeu ¶ o sonho épico do menino yvaparé é compósito ¶ o sonho épico do menino yvaparé não é raiz ¶ o sonho épico do menino yvaparé é sonhado sob um céu guarani ¶ o sonho épico do menino yvaparé é trama-raiz trançando raízes ¶ é R A I Z   C A M I N H A N T E ¶ é chiapas ¶ é crioulo-quebec ¶ é a trama cigana ¶ é o caos-belo caribenho ¶ o sonho épico do menino yvaparé nem épico é ¶ é épico que se decompõe aos livros de errância ¶ sem miolo ou borda limite ¶ o sonho épico do menino yvaparé é papel antes da pilha ¶ é floresta para os grandes livros fundadores das humanidades atávicas ¶ o sonho épico do menino yvaparé nem livro é ¶ é fala sono-insônia multilíngue no dentro de sua língua ¶ o sonho épico do menino yvaparé é poema dilacerado ¶ …
43.

workshop
com técnicos do sagrado
ou anesthésie complète

:

dom e veneno
C O I S A  D A D A  &
corpos erógenos

:

desencapsular potências rituais
prescrever amnésia à medicina
um totem à cura

:

w o o r a r a
v o o r a r a
w o u r a r i
w o u r a r u
u o u r a l i
u r a r i
o u r a r i
o u r a r y

 

49.

degole a cabeça
ela pensa com os joelhos

tome hematoma, homem!
um C L O C K W O R K nunca está à toa

comam tudo : comam tudo
deixem os ossos empilhados

55.

Á G U A S  sonorizam ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ondinhas ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ sons ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ sons~entre ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ prosa ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ portunhol~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ indígena ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~  ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ondinhas ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ sensíveis ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ inaudíveis ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ aos ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ passantes ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ do ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ solo ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ do ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ aquífero ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ misiones~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ correntes~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ entre~ríos ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ concepción ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ amambay ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ san~pedro ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ canindeyú ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ alto~paraná ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ neembucú ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ itapuá ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ caaguazú ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ caapazá ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ guairá ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ artigas ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ salto ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ paysandu ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ rivera ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ tacuarembo ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ rio~negro ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ durazino ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ rio~grande~do~sul ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ minas~gerais ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ goiás ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ mato~grosso~do~sul ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ mato~grosso ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ santa~catarina ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ paraná ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ são~paulo

 

61.

os polidos vêm aí…………………………………………………………………
não balbuciam feito bárbaros………………………………………………
não sacrificam carneiros………………………………………………………
eles vêm, civilmente, romper o limite……………………………………
não há mais quero viver……………………………………………………….
não há mais o viver que todo homem quer
viver…………………………………………………………………………………..
viver….viver………………………………………………………………………..
o.odor.da.morte.não.exala.a.morte……………………………………..
a.morte.incolor…………………………………………………………………..
a.certeza.da.morte….morte.sem.barganha….morte.indolor…..
sem.o.balbucio.dos.bárbaros……………………………………………….
O S  A F Á V E I S  V Ê M  A Í…………………………………………………….
73.

C É U – S A C R I F Í C I O

malha manto mar rumor ininterrupto

lugar de assombro
comunidade dos mortos
suspiro reverberado em imagem muda que se mantém durável mutação ………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………olhos virados para o avesso/a grande realidade vidrando do fora para o fora/lugar dos ossos e salamandra/língua do esperma/vida ínfima

 

 

céu níquel 

 

ou

 

77.
o bugrinho sem-céu
setenta e sete vezes
pensamento palimpsesto
a céu aberto
céu de céus
sinônimo de sítio delicioso
C É U  N Ô M A D E
céus e mais céus e céus transfigurados