Analise da adaptação da obra “Otelo”, do grupo Persona Cia de Teatro – Beatriz de Freitas Figueiredo
Analise da adaptação da obra “Otelo”, do grupo Persona Cia de Teatro
Beatriz de Freitas Figueiredo*
A adaptação do clássico “Otelo”, do grupo Persona Cia de Teatro, dirigida por Jefferson Bittencourt, remeteu-me ao texto Falando de Shakespeare, de Barbara Heliodora, 2007. Nesse texto, a autora tece um comentando sobre a interpretação do professor H.B Charlton a respeito da tragédia de Shakespeare. Ela destaca, no texto de Charlton, o nascimento da tragédia a partir da união de duas pessoas de origens culturais diversas.
É esse aspecto que se percebe, mesmo que de maneira sutil, na adaptação de “Otelo”, feita pela Persona Cia de Teatro. Algumas diferenças culturais entre Otelo e Desdêmona será um fator determinante em alguns dos conflitos que surgem ao longo da trama. Essas diferenças são evidenciadas em ações e reações, que trazem à tona características psicológicas e, portanto, também culturais dos personagens. A companhia optou por não fazer distinção de tom de pele nos protagonistas, ou seja, nessa adaptação “Otelo” é branco, o que não resultou em perda alguma.
Apesar de a peça retratar o clássico “Otelo” num contexto atual, mesmo assim, a obra não perdeu algumas das principais características que a assemelha a commedia dell’arte. A intriga grande, característica da comedia se fazem presentes nessaadaptação. Pode-se citar a passagem em que, escondido, Otelo houve as confissões de Cássio a respeito de Bianca achando serem estas, a respeito de Desdêmona. Logro causado com o auxilio de Iara (Iago), recurso muito usado na comicidade.
Iara, que é Iago no texto original, não perde as características do Zanni da comedia italiana, manipulando as situações a seu favor. Situações essas criadas por ela tomando proporções inimagináveis para seus objetivos tão simplórios. Iara (Iago) por ser de confiança dos demais se vale dessa confiança para criar situações plausíveis e inquestionáveis por sua aparente honestidade.
Desdêmona ainda se assemelha a innamorata da Commedia Dell ‘arte, doce, encantadora, totalmente leal ao marido. Porém a adaptação fez com que a personagem, em minha percepção, aparentasse estar fora do período retratado. Muito próxima à sua figura original com características comportamentais de antigamente. Outra semelhança são as atitudes exacerbadas, baseadas em uma atitude egoísta que atribui mais valor ao fato de estar amando, do que propriamente à pessoa amada. O que lembra características dos enamorados, que amam o fato de amar, amor egocêntrico, orgulhoso, que desconsidera o outro e seus sentimentos.
As aproximações da Commedia Dell’art, com a obra Otelo, por suas semelhanças ou coincidências, levam o leitor, ou a plateia a pensar que para compor sua peça, Shakespeare, muito provavelmente, tenha se inspirado na Commedia Dell’art .
*Aluna do curso de Artes Cênicas da UFSC