Considerações sobre o xamã — Leandro da Silva Batista
Considerações sobre o xamã
Leandro da Silva Batista*
Xamã é, grosso modo, um ser (humano/animal) que liga esse mundo, o que vivemos, ao outro mundo, o dos espíritos. Para o mundo xamã, os seres têm uma natureza dual: o corpo e o espírito.
Um dos meios utilizados para se entrar no mundo dos espíritos é o tabaco (mais exatamente a fumaça), o canto e a respiração. Muitas vezes a ligação com o espírito ocorre através dos sonhos, onde o espírito se desprende do corpo. É necessário muito treino para ser um xamã, além disso, esse tem que ser escolhido pelos seres sagrados. A partir do momento em que ele é escolhido e, obviamente, depois do seu treino, o xamã pode utilizar-se de certos recipientes para que assim chegue à estrada (usarei este termo) do “outro mundo”.
Xamã é então um campo aberto de comunicação entre os dois mundos. Podendo ser ele feito por humanos, ou menos por animais. Muitos xamãs veem animais como espíritos.
Ser um xamã não se trata somente em carregar seu espírito, mas sim de ser o seu próprio espírito. O espírito desenvolve um vínculo com o seu xamã, que acaba se tornando um recipiente. Quando o espírito “adentra” um corpo inimigo o mesmo é morto. O espírito pode abandonar o xamã se suas “regras” de convivência forem transgredidas. Nesse caso, o xamã perde o espírito, mas o espírito não se perde, ela não se esgota. Quando abandonam os xamãs, os espíritos voltam ao seu nicho natural.
A palavra xamã, ou mesmo shaman, é de origem siberiana e significa de “aquele que enxerga no escuro”. O dever de um xamã, além de ser o de governar seu povo, é o de curar doenças e de manter a ordem entre o mundo espiritual e o mundo em que vivemos, ou seja, da relação entre animais, plantas, minerais.
O mundo xamânico defende a terra, por ser ele mesmo parte de igual valor sobre ela. Em 1854, um chefe índio chamado Saettle, escreveu uma carta ao então atual presidente estadunidense, Franklin Pierce:
“De uma coisa sabemos. A terra não pertence, ao homem: é o homem que pertence a terra. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo quanto agride a terra agride os filhos da terra. Não foi o homem quem teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo o que ele fizer à trama, a si próprio fará”.
O xamã está presente, hoje, em muitos desenhos e jogos:
- “Shaman King”, um desenho japonês (anime) e mangá, criado por Hiroyuki Takei, em 1998. Conta sobre a história de um jovem xamã, Yoh Asakura, que irá participar das lutas contra outros xamãs, para que assim possa tornar-se o rei xamã.
- “Os Simpsons: o filme”, de 2007, o protagonista, Homer, é salvo por uma velha índia, que após fazê-lo beber um líquido, ela fala em purificar o espírito dele, através de um canto, utilizando a respiração, para assim entrar em um transe e obter uma epifania. Depois que Homer entra no mundo dos espíritos, ele tem uma epifania e percebe o que tem de ser feito.
Como já dito, xamã pode ser um ser humano, ou mesmo um animal. Quando for humano, pode ser homem, mulher ou criança. Não sendo necessariamente índio. Porém em maior parte eles são homens, porque uma criança dificilmente estará apta a ser um recipiente do espírito. E a mulher menstrua, os espíritos não gostam do sangue. No caso do filme dos Simpsons, em que há uma mulher xamã, ela é mais velha, ou seja, não menstrua mais.
- Um jogo de vídeo game muito famoso é “Mortal Kombat”, criado por Ed Boon e John Tobias, desenvolvida pela Midway Games, em 1992. Esse jogo fez muito sucesso. Em “Mortal Kombat III”, surge um personagem chamado Nightwolf, um índio xamã, estadunidense que utiliza o poder dos espíritos para defender a terra. É um xamã guiado pelas forças divinas do lugar mais alto do céu, o Empíreo. Suas armas são nada mais que as energias dos espíritos. Assim como os xamãs que utilizam a energia de animais, seu animal é um lobo, Kiva. Nightwolf tem uma característica que é muita clara em um xamã, o desejo de ficar sozinho, sem convívio com outras pessoas, a não ser quando necessário.
* Aluno do curso de artes cênicas da UFSC.