ACABADO (Drama de Objetos), de Gugliemo Jannelli – Tradução de Dirce Waltrick do Amarante
ACABADO
(Drama de Objetos)
Gugliemo Jannelli
1916
Tradução
Dirce Waltrick do Amarante
Sala de espera numa estação importante. Porta do fundo. Uma outra porta à direita. Divãs e poltronas, todos ocupados por pessoas que lêem, dormem, fumam, conferem os horários … Viajantes de pé perto da porta. Sobre uma poltrona, uma maleta preta: indica que o lugar está ocupado. No meio, uma mesa, coberta de malas de mão, pacotes e casacos, etc.
Uma Senhora (de pé): Meu Deus! Dez horas de atraso!
Uma outra: Credo! Que serviço!
Uma outra (sentada): Felizmente pensei na Gigi! (Ela olha com satisfação a maleta preta sobre a poltrona e as pessoas de pé).
Pausa.
Se escuta, fora, um urro de desespero. Barulho de ferros velhos. Alguém foi provavelmente esmagado por uma máquina que fazia manobras … Todos saem correndo da sala de espera para ver o espetáculo. Eles deixam sobre os divãs, num lugar: uma mala de mão – em outros: um par de luvas –uma outra mala de mão – num outro – um sabre – um manto – um écharpe, etc. A sala fica vazia. Longo momento de medo. Sozinhos vivem os objetos, sobre os divãs.
Entra Gigi (homem insignificante, burguês). Olha em volta. Surpreso. Segue em direção à mala de mão preta: ela a olha, a toca. Ele não a reconhece; ele não está seguro. Novamente, percorre a sala com os olhos, faz uma careta.
Gigi: Estranho! Não tem ninguém aqui! (ele abre o braço. Enruga a cara. Afasta um manto e se senta num canto. Abre um jornal. Examina-o ligeiramente).
Um senhor e uma senhora entram pela porta à direita. Atrás deles um carregador com as bagagens.
A senhora (olha em volta dela): Meu Deus! Que mundo o de hoje! O melhor é partir esta noite!
(Saem pela porta pela qual se é convidado a entrar).
Longo momento de pausa. Desce a cortina lentamente.