Indemonstrável Sonho: reflexões sobre o poema Brinde de Stéphane Mallarmé – Ivan Rodrigo Conte

Indemonstrável Sonho: reflexões sobre o poema Brinde de Stéphane Mallarmé

Ivan Rodrigo Conte*

Stéphane Mallarmé, por Manet

Stéphane Mallarmé, por Manet

É num brinde, que também é salvação e saudação, que cortando a vela branca das folhas de um livro acontece[1] poesia mallarmaica. Estrela que se é palavra celeste também é marinha, e num recife onde a constelação acontece, e que tantas naves levara para seu abraço, partidas, no aconchego dos lençóis marinhos:

Salut

«Rien, cette écume, vierge vers
À ne désigner que la coupe;
Telle loin se noie une troupe
De sirènes mainte à l’envers.

Nous naviguons, ô mes divers
Amis, moi déjà sur la poupe
Vous l’avant fastueux qui coupe
Le flot de foudres et d’hivers;

Une ivresse belle m’engage
Sans craindre même son tangage
De porter debout ce salut

Solitude, récif, étoile
À n’importe ce qui valut
Le blanc souci de notre toile. »

Par Stéphane Mallarmé, 1893

 

Estrela celeste-marinha, como é o poeta entre os homens, solidão pura e cristalina, em seu aquário, como numa taça que propõe a todo mar da espuma – sabor do universo na visão do espumante – um limite, uma taça que se está em estilhaços é cortante cristal, e que bem porta o vinho que espumas faz, para com seu doce, sem esquecer os venenos ou elixires que pode portar, como um rio a nos cortar, o corpo em um copo, imagem que se faz na janela – num banquete[2], onde há o brinde entre poetas, também poderíamos chamar de copa[3] “o lugar”. Mas, é sempre talvez, pois toda realidade se dissolve, se as palavras são servidas ainda sem transbordar, limite que no mar é o barco, que para o vinho é a taça, que para o soneto é a métrica, que para as palavras o abismo de uma folha branca, que para a fragrância é o frasco, há um anseio por romper, cortar, explodir, nascer ou morrer, pois se algo transborda são Sonhos, frutos da noite[4] – o limite do universo do marinheiro, olhar para um horizonte infindo com esperanças de ilha, tatear os céus para não se perder, olhar para o chão e sentir o retumbar de todo o balouçante mágico tapete do mar agitar, mas não vai além do movimento físico dentro da nave[5], embarcação que como o poema, se o primeiro comporta marinheiros o segundo palavras que formam o próprio barco enquanto ser – e no entanto estas palavras tem a carência de estrela, como os aventureiros do mar… de perigo, descoberta e tesouros. Limite?

«Sei, quer-se à Música, limitar o Mistério, quando o escrito a ele pretende.»  [MALLARMÉ, S. Divagações, pág. 188]

A Poesia não demonstra o Mistério, a Poesia caminha em direção ao Mistério – a poesia constrói o enigma que a música tornada melodia fala. Solidão, recife, estrela: se são costuras, se são ilhas, se são momentos ou visões, quem sabe… o Absoluto ou o Nada? – este será um brinde a poesia, um brinde entre poetas, a solidão compartilhada, um eterno navegar, na popa o mestre[6] conduz o leme que faz da nave pena, na proa os diversos[7] ou fraternos… como queira, amigos, na posição de vanguarda e de coragem que é enfrentar os primeiros dos invernos raios-ventos – e talvez o mestre já não guarde esta sempiterna jovial (e tola) ousadia que é pensar-se imortal. Se um rebanho de sereias ao inverso para trás ficou… afogadas? Todavia não elas, talvez ainda a fazer vítimas mesmo após a descoberta de Ulisses[8]? Este (não) tão valente herói que ouvira histórias de mel, para preencher sob os ouvidos de seus fraternos – mel para não ouvir o mel, mas amarrado em contramaré ao instante do desejo, afagado em seu desejo, ouvira… A poesia surgira!? Sereias ao inverso como podem se afogar? Se na água, são como pássaro ao ar, assoviando sedutores cantos, imagem-silêncio, a música se fez calar, porque a deusa marinha baleia também canta, guardando ao mar  o baú de seus segredos. E é buscando a liberdade, quando ainda jovem, vê no leque do vai-e-vem das asas de um pássaro, no dilema entre o céu e a espuma, num mergulho de entrega, as aventuras movediças, de lapidar pedras no mares da poesia,  onde com o coração, ouve o chamado, das canções que vem do mar, em silenciosa Brisa Marinha que o beija:

«Fuir! là-bas fuir! Je sens que des oiseaux sont ivres 
D’être parmi l’écume inconnue et les cieux!
Rien, ni les vieux jardins reflétés par les yeux
Ne retiendra ce coeur qui dans la mer se trempe
»[9] 

[«Fugir! Fugir! Sinto que os pássaros são livres,

Ébrios de se entregar à espuma e aos céus imensos,

Nada, nem os jardins dentro do olhar suspensos,

Impede o coração de submergir ao mar»]

 

Submerso em poesia vitimas da sereias entremeio a vida dupla, nas salas de inglês aos projetos de Le Livre, as páginas do futuro dirão, que restará o mestre, e após a forte vaga de tantas calúnias[10] obscuras dirá – “Prefiro, diante da agressão, retorquir que alguns contemporâneos não sabem ler”[11]  –, mas também ele se faz farol: “poeta-para-poetas [12], e seus diversos – amigos (amis) – poetas do “hoje, do ontem, do amanhã”[13], em vivas-tumbas; não sem viver tempestades, a crise do verso, poetas em tempos de alta burocracia: a greve que se faz.. Em tantos brancos papéis, imprevisíveis que é o mar nas ondas, do deslizar de nossos dedos, no folhear de nossa memória, na corda bamba, entre a traça e a broca, a taça que nos embriaga, da matéria frágil que é o cristal delicado da Ideia, como o pássaro que com asas anseia a espuma e o peixe os céus, do livro sempre alimento, compartilhado entre humanos e roedores, a memória e os livros, voltarão para terra, sob a ameaça do eterno signo do abismo, roídos pelo tempo, no branco (talvez purificador) esquecer para um ressurgir da Fênix.

Um dia de circunstâncias eternas surgirá, onde apenas restará o mestre, a tempestade em seu momento de esplendor, teus fraternos[14] já não mais existirão, senão enquanto testemunhas, momentos de naufrágio, fusão de mar e homem, em Um Lance de Dados – numa profecia, de sobrevida ao acaso… E a poesia viverá enquanto enigma[15], na multiplicidade de caminhos – a chave continuará a ser incógnita, no que o poeta, escritor de Paradiso e fundador da revista Origines, Lezama Lima definira, atitude enigmática[16] e diante deste facistol tantos homens pensarão ser deuses, enquanto outros – demasiado humanos escritores – nos brindarão com O Livro por Vir[17], tantas vezes mais próximos ao enigma.

«Para Mallarmé, o nada (…)* se apresenta na forma de uma dúvida concreta e específica, uma dúvida que sempre o seduziu: “a saber: se há motivo para escrever” » [La Nada Poética. pág. 101][18]

«Escrever somente começa quando escrever é abordar aquele ponto em que nada se revela, em que, no seio da dissimulação, falar ainda não é mais do que a sombra da fala, linguagem que ainda não é mais do que a sua imagem, linguagem imaginária e linguagem do imaginário, aquela que ninguém fala, murmúrio do incessante e do interminável a que é preciso impor silêncio, se se quiser, enfim, que se faça ouvir. » [BLANCHOT, M. O Espaço Literário, pág. 43]

A poesia mallarmaica traz a suspensão de momentos onde as cartas do mestre são incógnitas –

«Une dentele s’abolit

Dans le doute du Jeu suprême,» [19]

 

[«Um rendado se vê desfeito

Na dúvida do Jogo extremo, »]

 

– Jogo[20] que se dá com a leitura da poesia – um Jogo onde não existe final e apenas perdura o congelar da expectativa, revivido a cada releitura – lança-se um enigma: numa costura de ideogramas[21], lacunas, espaços vazios, na dobra do verso, que faz dobrar o pensamento, as multiplicidades de leituras que tornam a poesia além; pois são cartas tantas palavras numa língua existir – Solitude, recife, estrela – nos montes das memórias – desmemoriadas, lembradas e novamente embaralhadas – sintetizadas, tantas esquecidas e em metamorfose, e em nossas mãos vivo derreter[22] das palavras de um presente de ruinas passadas que já são futuras. Por outro lado, não um jogo[23], mas um movimento de contramaré a parte significativa da linguagem do pensamento[24], pois lança-se[25] palavras tal qual cometas, e se as estrelas são também reflexos, são luzes percorrendo o espaço-tempo, acalentando o vácuo, diferindo dos cometas por seu brilho em um enganoso ar de não-movimento, de perduração que desafia as areias da ampulheta… serão cometas ou estrelas, as palavras, estrelas vivas ou reflexos de vida? Palavras-reflexo do que fora uma existência…

 

« (…) a iniciativa às palavras, pelo choque de sua desigualdade mobilizadas; elas se iluminam de reflexos recíprocos como um virtual rastro de fogos sobre pedrarias, substituindo a respiração perceptível no antigo sopro lírico ou a direção pessoal entusiasta da frase. » [Mallarmé, S. Divagações. pág. 164][26]

 

Afinal trata-se de cosmogonia[27] da linguagem, não simples lapidário para um cristalizar da Língua em utópica pureza[28] – mas um encontrar através da escrita o ponto (“é o ponto onde o infinito coincide com lugar nenhum. Escrever é encontrar este ponto”[29]) de coincidência entre o Nada[30] e o Todo[31] – e neste caminho, que também é de esculpir, buscar colher na essência “sentido mais puro às palavras da tribo”[32].

Na alquimia do verbo a matéria-prima não é a mais recôndita das palavras que um dia existiu e hoje mofa em esperança de ser remumificada, como bem trouxera muitas delas, Odorico Mendes em suas traduções ímpares as obras de Homero e a Eneida de Virgílio – e mesmo afora pontuais exceções[33], de míticas palavras – são palavras de uso comum que florem em abundância, nos escritos mallarmeanos, contudo onde estaria a exótica sensação de obscuridade, se… se julgarmos estas palavras por nós conhecidas?

Justamente a alquimia! E se parte da matéria-prima, é o silêncio, o vazio do instrumento musical – precisaríamos ler também o gesto entremeios as cortinas das nuvens – ou mesmo reaprender a ler:

«Se, Valéry dissera acerca de Mallarmé, que para lê-lo há que aprender a ler de novo, é inegável que ele começou por aí, por aprender a ler de novo toda a assombrosa diversidade do saber e do ato poético» [LIMA, L. Nuevo Mallarmé, p. 291][34]

E reconhecer o desconhecer do que pensávamos conhecer. O gesto do choque das palavras-cometas, a noite de núpcias das faíscas de uma palavra entrelaçada em outra palavra – a qual confusa entre tantas mentes faz na tumba, Mallarmé sorrir  – então chamaremos de obscuro não mais que o não-saber, a palavra deixando de pertencer ao baú do significado que a comporta, liberta da gaiola[35], para desespero ao pensamento domado, excessivamente pela lógica[36], que explica a vida sem o ingrediente chamado acaso, fraudando[37] as peças do tabuleiro natural – carecendo de mito e espiritualidade – pois tal qual a palavra, tal qual o ser, tal qual as estrelas e cometas, como as palavras surgiram para explicar o Nada (se este é vazio)?

«Absoluto. — É certo que o homem inventara Deus, de modo que sua miséria fosse defendida por alguém maior que ele: Deus é a antítese dialética das imperfeições humanas. As entidades ideais servem de compensação a miséria, este é o porquê das qualidades dadas aos deuses descreverem os defeitos e a baixeza do criador dos deuses. »[38] (…) [EINSTEIN, Carl. Documents,1929, p. 169]

Antes, sempiterno profético, assim falou Zaratustra sobre os sacerdotes:

«O espírito desses redentores era feito de lacunas; mas em cada lacuna haviam posto sua ilusão, (…) que chamavam de Deus. » [NIETZSCHE, F. Assim Falou Zaratustra, p. 88]

Vejamos que o ponto de coincidência é referido misteriosamente por Blanchot em invocação a leitura das estátuas de Giacometti. Entre elas encontraremos as mãos que portam o objeto invisível[39] ou o vazio, que conquistara o autor de surrealista manifesto, André Breton. É sobretudo diante da lacuna, que o homem se revela – pois para o inexplicável existe um olhar sobre a vida, e outro sobre a morte.

O vazio é parte do todo, da escultura – da estrutura poética[40] – da poesia mallarmaica, portadora do imprevisível que é o acaso conjugado com o talvez: “na tentativa quase suicida de lançar os dados do poema entre o acaso e o nada”[41]. Se em nota que antecede o poema-constelação, dirá Mallarmé sem abandonar a tradição[42] completamente; em Salut ao contrário – estamos ainda plenos dentro da “tradição”:

«Mallarmé, que escrevia em versos rigorosamente “clássicos”, tinha a mesma nebulosidade de sentido, compelindo o leitor a decifrar charadas sem conceito ao mesmo tempo que procurava senti-las. » [CAMPOS, Álvaro de. Rythmo Paragraphico, pág. 503]

Mas é tão enganoso não considerarmos as sementes, as aspas de “Pessoa”, – a espuma, a sereia[43], a branca vela, o mestre – todas palavras-substâncias, presságios do naufrágio. A nota de Mallarmé que antecede Um Lance de Dados – tal qual teoria musical – aponta, guia o leitor para algo que seria antes um instintivo ler e decifrar – o lugar de desaparição elocutória do poeta[44] – refiro-me a uma transposição da leitura em direção aos seus poemas anteriores – pois sentiremos que as vírgulas comportam medida inexata do espaço-vazio entre as palavras (a vírgula não nos dá a alternância e distanciamento elocutório preciso entre as palavras – em analogias para com as estrelas e partituras: Navegar é preciso[45], precisão por as estrelas serem desde antigos tempos guias).

«Solitude, récif, étoile
À n’importe ce qui valut
Le blanc souci de notre toile
. »

 

Três palavras comportam a união e a explosão – considerando a tipografia em de Um Lance de Dados, em retroativa leitura – com que equilíbrio viriam Solitude, recife, estrela? Três palavras com uma mesma hipotética (por não sabermos) dimensão?

«…motivos do mesmo jogo se equilibrarão, balanceados, a distância, nem o sublime incoerente da colocação em página romântica nem essa unidade artificial, outrora medida em bloco no livro (…) o poema calado, nos brancos; somente traduzido, de certa maneira(…) Alguma simetria, paralelamente, que, da situação dos versos na peça se liga à autenticidade da peça no volume, rouba/voa, além do volume… » [MALLARMÉ, Divagações, pág.165]

A poesia conjuga uma musicalidade das Ideias, é tanto mais uma composição interior, no que Blanchot chamaria linguagem imaginária e linguagem do imaginário,  a poesia – e talvez este tenha sido um dos motivos de Lezama Lima ter alguma ressalva a adaptação musical do poema de Claude Debussy[46], reivindicando a poesia uma musicalidade que lhe é própria. Similar ao que Blanchot comenta em o Espaço Literário:

«…a poesia como um potente universo de palavras cujas relações, a composição, os poderes, afirmam-se, pelo som, pela figura, pela mobilidade rítmica num espaço unificado e soberanamente autônomo. » [BLANCHOT, M. O Espaço Literário, p. 35 ]

Um dos lemas da Gestalt mais conhecidos é que “o todo é maior que a soma das partes”[47], e neste caso em especial havemos de reconhecer que o objeto invisível é parte da escultura poética – como o instrumento musical tem seu lado oco (creux) – este branco é tanto o visível quanto o invisível. Dirá Blanchot que:

«No poema a linguagem nunca é real em nenhum momento, porquanto no poema a linguagem afirma-se como todo e sua essência, não tendo realidade senão nesse todo. » [BLANCHOT, M. O Espaço Literário, p. 39-40]

Logo, a leitura da obra de arte, não como uma desmontagem – anatômica – para o estudo das particularidades enquanto ilhas:

«O especialista é um homem que sabe qualquer cousa de uma cousa e nada de todas as cousas. De uma cousa não pode saber senão qualquer cousa, porque o conhecimento é limitado. E para perceber qualquer cousa precisaria perceber todas as cousas pois uma cousa é parte de todas a cousas. O especialista, pois, é um homem que não sabe nada e vive d’essa sciencia.

(…)

O especialista é um homem que tem a opinião dos outros, embora sobre um só assumpto. (…) são muitos e felizes[48].» [CAMPOS, Álvaro de. Olympiadas, pág. 516]

Carl Einstein dirá que “o absoluto é justamente a verdade suprema que resta indemonstrável (…)”, seria este, o Jogo supremo? A obra de arte como a leitura do indemonstrável[49], que é o absoluto – mesmo se utópico dispêndio de tempo, também única via de libertação. Chegamos à estação onde homem se tornara escravo[50], de suas próprias criações. Acreditar na ciência requer demasiada fé, pois tudo é busca, por apreender e aprender o objeto invisível, que pode muito bem Nada ser – além do fogo[51], o homem alenta roubar dos deuses “a criação” – por “medo da morte[52] , agarra-se a ciência com esperanças de aprisionar o que resta sem explicações, indemonstrável…

«Desgraçadamente, explorando com tanta profundidade o verso, fui parar nos abismos que me submergiram na mais absoluta desesperação. Um é o Nada, a que cheguei sem saber qualquer coisa do Budismo. (…) Sim, o sei, não somos senão vãs formas de matéria, porém sublimes por haver inventado a Deus e a alma. Ah amigo! Tão sublimes que eu me concederia o espetáculo da matéria, sendo como sou consciente de ser, e sem embargo aventurando-me necessariamente nesse Sonho que a matéria desconhece, alterando a Alma e todas essas impressões divinas acumuladas em nós desde os primeiros tempos e proclamando, frente o Nada que é a verdade, essas gloriosas mentiras. » [MALLARMÉ, S. Carta a Cazalis, março de 1886][53]

Há certa sintonia nas palavras de Mallarmé, Nietzsche e Carl Einstein[54], eles sentem o homem como construtor de divindades. Mallarmé verá nesta criação algo de sublime, e absorverá para com os assuntos da poesia, algo de místico e sagrado que há nas Escrituras. Tanto Nietzsche como Mallarmé, trazem alternativas cosmológicas. E diante do Nada (Néant) – palavra escrita apenas em alguns momentos por Mallarmé com “N”[55], denotando o quão chave é esta palavra dentro de seu universo poético; neste “Sonho que a matéria[56] desconhece”: (Saudemos, Salvemos, Brindemos à) Poesia.

No que se escreveu sobre faíscas, e entrelaçamento de uma palavra em outra palavra, na própria ideia de Acaso, de tão forte presença na obra mallarmaica, a poesia traz mais enigmas e supernovas que respostas, enquanto a filosofia, em sua própria essência, por mais relativa que possa ser, traz conceitos por vocação. E Talvez seja por (ou não somente por) acaso que a palavra “nada” seja coringa e se reconhecermos parentesco com a palavra latina “nata”[57] que designava “idade, criança, filha”, teremos ainda mais forte a analogia entre palavras e cometas – entre o não-ser e o ser: o nascer:

«…a alma e a vida das palavras, que extrai delas luz pelo fato de que se extinguem, a claridade através da escuridão (…)»[BLANCHOT, M. O Espaço Literário, p. 37]

 

Referências:

 

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BLANCHOT, Maurice. O espaço literário. Rio de Janeiro: Rocco, 2011.

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__________. Divagações. Trad. de Fernando Scheibe. Florianópolis: UFSC, 2010.

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__________. Los poetas malditos. Madrid: Mudo Latino, 1923. Tradução de Mauricio Bacarisse.

[1] Considera-se aqui o tempo presente, o momento da leitura do poema como o instante de acontecimento (o lugar).

[2] Na rara edição de 1899 de Les Poésies de S. Mallarmé, encontra-se esta nota: “ce Sonnet, en levant le verre, récemment à un Banquet, de la Plume, avec l’honneur d’y présider.” (pág. 138) Ela é reproduzida também em The Poetics of the Ocasion de Marian Z. Sugano em 1993 (p. 45-46 ) – tendendo a dar excessiva atenção ao contexto em sua abordagem. Pois dirá em Un Coup de Dés: “dans ces parages/ du vague / en quoi toute réalité se dissout”.

[3] “la coupe”, que poderia ser traduzido por “o corte”, “a copa” (a taça, louça), mas também o local onde se dá este brinde (evento de La Plume, periódico o qual publicou algumas de suas poesias) mencionado em nota anterior. Augusto de Campos opta por copa em tradução, já Mário Faustino, “sem pretensões artísticas” ***, traduz em multiplicidade de significados.

[4] Para citar uma delas: “Je t’apporte l’enfant d’une nuit d’Idumée” (Trago-te o filho de uma noite de Idumea) em Don du poème reproduzido em Les poètes maudits no capítulo sobre Mallarmé escrito por Verlaine. Lezama Lima, em ensaio de 1956, verá na “noche de Idumea” um dos quatro momentos de polarização da obra mallarmaica. É curioso que M. Faustino também vê Mallarmé em quatro polarizações distintas.

[5] “À ne désigner que la coupe”

[6] Mallarmé teria 51 anos em 1893. Segundo Mário Faustino: “O terceiro Mallarmé seria preciso transcrever, traduzir, comentar por inteiro, verso por verso, palavra por palavra. (…) Mallarmé leva um ponto máximo, até hoje não mais atingido, uma linguagem (a poética) e uma língua (a francesa)” [in Coletânea 2, pág. 90]

[7] “Divers” também como aquele que diverge.

[8] Referência ao canto XIII da Ilíada.

[9] Trechos de Brise Marine (Brisa Marinha), publicada pela primeira vez em 1865. A tradução é de A. de Campos.

[10] Este é um tema marcante na recepção da obra de Mallarmé e que perdura em grande grau hoje – como uma espécie de sintoma dos tempos. Verlaine em  Les Poetes Maudits já registrava este sentimento de incompreensão e calúnia com quem Mallarmé fora tratado em periódicos. Tempos depois, Augusto de Campos como também Lezama Lima já alertavam sobre a recepção perigosa da crítica, influenciada pela leitura de Thibaudet.

[11] [S. Mallarmé em Divagações, pág. 190.] Os reflexos da recepção exótica (caluniosa) são possíveis sentir na própria obra mallarmaica, onde ele próprio se coloca a questão.

[12] Esta expressão aparece em M. Faustino, também em A. de Campos em “Poeta em Greve”. A própria referencia de mestre já comporta tal significado.

[13] Poder-se-ia dizer estas três esferas são mais incertas do que parecem. Mallarmé encontrara Poe e Baudelaire, que são tanto ontem, como hoje e amanhã. Verlaine é seu contemporâneo, amigo o qual escreve emblemático Les Poetes Maudits. No amanhã virão Lezama Lima, Augusto e Haroldo de Campos, etc… Que alimentaram a chama, para preservar as tumbas, do que é interessante conhecer no futuro (ontem comungado com hoje).

[14] “…mes divers” de Mallarmé, a tradução em itálico é de Augusto de Campos.

[15] Entre outras passagens, Mallarmé em entrevista a Jules Huret, traz a poesia enquanto enigma, ao responder questão sobre obscuridade – colocando em certos termos, o leitor ou o poeta? – interessante indicação de sintoma já em 1891 deste exótico efeito que a poesia mallarmaica causou… Causará! É também através desta entrevista que Augusto de Campos colhe o expressão “poeta em greve”.

[16] Em 1956, em ensaio Nuevo Mallarmé.

[17] Le livre à venir, publicado em 1959, obra de Blanchot, neste título uma clara alusão ao enigmático projeto mallarmaico – inacabado – Le Livre, do qual restaram fragmentos…

[18] T. d. A., da versão em espanhol: “Para Mallarmé, la nada poética se presenta en la forma de una duda concreta y específica, una duda que siempre le obsesionó: “a saber: si hay motivo para escribir”. Na citação traduzida se preferiu ocultar a palavra “poético” marcada por um *. Talvez “o nada poetizado”, o nada enquanto tema na poesia seria mais adequado, esta não é uma crítica a tradução (no original “poetic nothingness”), mas a ambiguidade do termo “o nada poético” que nos leva ao contraditório (de quase agressão), uma negação da poesia embora se possa interpretar por outro viés, compreender que é o Nada (Néant).

[19] Trecho da poesia de Mallarmé escrita em 1887, a tradução é de A. de Campos.

[20] Este “Jogo Supremo”é interpretado de múltiplas formas, em Les Fenêtres de Mallarmé, Robert Greer Cohn assim descreve: “où il s’agit d’un « Jeu suprême » à divers niveaux : lutte, dilemme ou « conflit » entre vie et mort, lumière et ombre au moment de la possible naissance d’un jour, d’un être renouvelé, d’une création authentique.” [COHN, R. G.: 1975] Já Paul de Man interpretará, sob a luz do poema Um Lance de Dados: “significa, entre otras cosas, que toda consciência es un juego (un juego de azar).” [MAN, Paul de. Escritos Críticos, p. 103]

[21] Sobre esta temática Augusto de Campos publica importante artigo em 1955, Poema, Ideograma. Em 1957 em seu ensaio sobre Mallarmé, Mário Faustino, também falará sobre ideograma, a respeito de Salut diz ser o poema (pág. 92): “inteiro é um ideograma (…) aproximadamente, uma imagem conjunto-de-imagens, interligadas de todas as maneiras, e que choca nossas percepções tanto por cada uma das partes como por um todo que é a soma dessas partes mais alguma coisa”.

[22] S. Dali em carta de 1985 sobre a inspiração do quadro La persistencia de la memoria, referencia Heráclito, negando ser A. Einstein a inspiração – sabe-se que vira palestra em seus tempos de Residência dos Estudiantes (escola diferenciada, local onde conhecera Buñuel e Lorca, com quem estudara). E sobre o derreter que culminaria no relógio de Dali: “La angustia del espacio-tiempo, la hice de queso de Camembert paranoico-crítico melancólicamente derretido y sabroso.” [DALI: 1985] Derreter, deixar de guardar (de-reter) – visualização do espaço-tempo, relógio derretido feito queijo ao sol.

[23] Dirá Blanchot que a atividade artística não será “nem mesmo um jogo, senão dele conter a inocência e a vanidade”.. (“Activité qui n’est même pas un jeu, si elle en a l’innocense et la vanité…” in L’espace littéraire, pág. 106.)

[24] Sobre a contramaré da fala poética em relação fala do pensamento em Blanchot: “La parole poétique ne s’oppose plus alors seulement au langage ordinaire, mais aussi bien au langage de la pensée.” in L’espace littéraire, pág. 42.

[25] “Lance” (coup) aqui num sentido de lança, e “estrelas” (étoile) como “ideia” (constelação de pensamentos).

[26] Tradução de Fernando Scheibe, esta passagem se encontra em Crise de Verso (Crise de Vers) publicado originalmente em 1897 em Divagations.

[27] Em uma entrevista, em 1958 de Mike Wallace, entremeio a propaganda de cigarros dirá Dali que “todo pintor pinta a cosmogonia de si mesmo….”.

[28] “Escrever jamais consiste em aperfeiçoar a linguagem corrente, em torná-la mais pura.” [BLANCHOT, em O Espaço Literário, pág. 43]

[29] BLANCHOT, M. O Espaço Literário, p. 45.

[30] Nihil in lat.; Néant in fr.; e é com N maiúscula com que Mallarmé se refere a esta palavra, denotando a importância em sua obra. O poeta Jouve, leitor de Mallarmé, utilizará Rien em um estranhamento ao néant, e adotará a palavra-coringa Nada – ambas palavras rien e néant são traduzidas por “nada”. Sobre este assunto – que mereceria um ensaio. Kouassi Kouakou em sua tese de 2013, escrevera: “Le Rien occupe une place centrale dans la poésie de Jouve. Bien plus, c’est lui qui tisse la texture même de son œuvre : « Le thème Nada, présent dans presque toute mon œuvre, dit- il dans En Miroir, m’a profondément hanté et poursuivi »(Pierre Jean Jouve, « Le thème nada », En Miroir, Œuvre II, op.cit., p.1138). Pour accentuer l’abstraction du terme “Rien” qui, par usage, se rapporte directement au néant, Jouve opte pour le terme Nada, mot étranger, emprunté à la mystique espagnole.” [KOUAKOU: 2013, p.96]

[31] Reconhecidamente esta é a parte mais frágil desta argumentação, pois houve a tentação em ora escrever Absoluto ora o Todo. Leio como a obra-de-arte pode ser linda como um Todo, um microcosmo, metáfora do universo – já o Absoluto parece apenas se dar em termos de Universo.

[32] Trecho traduzido por A. de Campos, presente em A Tumba de Edgar Allan Poe.

[33] Em seu artigo, sob influência de Steiner, Zênia de Faria diz: “As palavras que podem apresentar certa dificuldade para o leitor são as palavras raras, como: ptyx, abscons, nixe, lampadophore, squame, stryge, mystagogue; ou certas palavras (…) a partir da derivação de palavras relativamente simples…” [in Sobre a Noção de Texto Difícil. p. 133]

[34] T. d. A. No original: “Si, Valéry ha dicho de Mallarmé, que para leerlo hay que aprender a leer de nuovo, es inegable que él comenzó por ahí, por aprender a leer de nuevo toda la asobrosa diversidad del saber y del acto poético.”

[35] Lembremos que o Filósofo (Platão) expulsara o poeta de suas cidades – o filósofo traz conceito a palavra, o poeta – nesta hipótese aqui levantada – traz anarquia.

[36] Se antes houve referencia ao filósofo, agora não necessariamente – mas ao excesso de cientificismo, de preocupações em classificar (raças, escolas, etc.).

[37] Sendo claro, a fertilização in vitro é claramente um enorme perigo não apenas a humanidade mas a toda vida no planeta, mais evidente com o que já causou na perseguição as minorias na Segunda Guerra Mundial e no que esta por trás, a eugenia já deliberada nas populações de animais domésticos (completamente sem reflexão e respeito a Natureza).

[38] T. d. A. No original: “ABSOLU. — Il est certain que l’homme a inventé Dieu, afin que sa misère soit défendue par quelqu’un de plus grand que lui : Dieu est l’antithèse dialectique des imperfections humaines. Les entités idéales servent de compensations à la misère, c’est pourquoi les qualités données aux dieux décri­vent par contradiction les défauts et la bassesse du créateur des dieux.” (retirados os grifos)

[39] L’Objet invisible (1934-35) de Alberto Giacometti.

[40] Também sobre a estrutura do poema, mais especificamente Um Lance de Dados, escrevera em 1955 Augusto de Campos: “Poema, Estrutura”.

[41] CAMPOS, A. Mallarmé, p. 28.

[42] Compreendo uma quebra da tradição se faz com um profundo conhecimento desta.

[43] Sereias presentes no canto XIII da Odisseia.

[44] Em itálico frase de Mallarmé em Crise de Verso, pág. 164 de Divagações.

[45] Trecho de antiga frase de Pompeu 70 a. C., revividos em Fernando Pessoa.

[46] “(…) creia innecesario el trabajo de Debussy en torno de su poema. Creía que el poema convella su propio acompaãmiento musical, y que cualquier otra glosa o variante, tendía a desvirtual la dirección del poema.” [LIMA, L. Nuevo Mallarmé, p. 291]

[47] Esta frase também é atribuída a Aristóteles – que em seus escritos analisa a relação da parte com o todo. Destacaria a princípio o capítulo XIII do Livro VI, presente em Tópicos.

[48] O reino do céu é já d’eles (parte do trecho citado em nota presente em Obra Completa: Álvaro de Campos, pág. 257). Mantida a ortografia original.

[49] Sobre o indemonstrável no que toca a obra-de-arte, Carl Einstein escreve: “C’est ainsi que les œuvres d’art sont indémontrables du fait qu’elles sont séparées, comme l’absolu, de l’objet.” [Documents, pág. 169]

[50] “L’homme a créé sa propre servitude.” (Carl Einstein, pág. 169)

[51] Episódio em que Prometeu rouba o conhecimento do fogo dos deuses.

[52] Questiona-se que com desacreditar nos deuses, a ciência passa a ocupar esta concentração de lacunas a serem preenchidas, antes depositadas nos oráculos. Mas a matéria com que é preenchida – de baixa espiritualidade – é extremamente perigosa ao espírito do ser e leva a ilusão de um saber que não é em nada superior aos primeiros homens – chamados primitivos.

[53] T. d. A. Esta carta foi traduzida, como se encontra, através da versão em espanhol do ensaio de Escritos Críticos, de Paul de Man, p. 107. Indique-se necessidade de consulta a correspondência em francês.

[54] A conceituação de Carl Einstein sobre o Absoluto mereceria um estudo em.

[55] Uma questão se faz, que na tradução de A. de Campos, “Au creux néant musicien”, vem em maiúsculas: “Ao oco Nada musical” (in Mallarmé, p. 73). Talvez, como estranhamento e para diferir do “rien”, que também é traduzido através da palavra-coringa espanhola-portuguesa: “nada”. Mas, é provável que quando Mallarmé escreve “Néant” em maiúsculas queira dizer algo bastante diferente de “néant”. “Néant” aparece em: “Avec ce seul objet dont le Néant s’honere”.

[56] Sobre o materialismo George Bataille assim dirá: “A maioria dos materialistas, embora eles anseiem eliminar toda entidade espiritual, vieram a descrever uma ordem de coisas que as relações hierárquicas caracterizaram como especificamente idealistas.” (T. d. A.) No original: “La plupart des matérialistes, bien qu’ils aient voulu éliminer toute entité spirituelle, sont arrivés à décrire un ordre de choses que des rapports hiérarchiques caractérisent comme spécifiquement idéaliste.” [BATAILLE, G. Documents,1929, p. 169]

[57] Natus: nascer. Nata presença mais comum, significando filha.

* Ivan Conte, mestrando em Literatura (UFSC).

** Ensaio entregue originalmente a disciplina Imaginação e Potência ministrada pelo professor Raul Antelo, no primeiro semestre de 2015. Em 2014, no curso O Poeta no Conto e no Romance, ministrado pelo professor Sérgio Medeiros, iniciei os primeiros estudos sobre Mallarmé. Agradeço a ambos os professores.