O som do rio Mersey – Introdução e tradução de Luci Collin

O SOM DO RIO MERSEY

 

                                                                                                                                         Introdução e tradução de Luci Collin*

 

 

Roger, Adrian e Brian

Roger, Adrian e Brian

 

Não só com a fama internacional dos Beatles, mas com o aparecimento de outras bandas de sucesso, Liverpool da década de 1960 recebeu enorme atenção como um grande centro de uma produção musical que ficou conhecida como “Mersey Sound” – em referência ao Rio Mersey, que banha Liverpool. Essa atmosfera foi recuperada no título e na intenção da antologia, publicada em 1967, que reúne a produção de três poetas da cena de Liverpool: Adrian Henri (Birkenhead,1932 – Liverpool,2000), Roger McGough (Litherland, 1937) e Brian Patten (Liverpool, 1946). Com o lançamento de The Mersey Sound, esses poetas receberam grande aclamação pelo público e, principalmente, pela crítica, que considerou Henri, McGough e Patten tão importantes para sua geração como W. H. Auden havia sido para a geração anterior (cf. Bowen, P. A Gallery to Play to: The Story of the Mersey Poets, 2008); o livro, que atraiu os leitores por sua acessibilidade, tornou-se um best-seller, vendendo mais de 500.000 cópias desde a publicação original.

Caracterizado pela vivacidade da linguagem e pelo tom que oscila entre extremos de humor e melancolia, The Mersey Sound continua fascinando leitores e, além disto, exercendo muita influência sobre as novas gerações de escritores. O tom profético e intimista, o estilo e as temáticas pós-modernas mescladas a um simbolismo cotidiano, o ritmo despojado, a linguagem urbana e direta são elementos que fazem desta antologia um marco na história da poesia britânica do século 20.

A primeira edição de The Mersey Sound, publicada pela Penguin na série “Penguin Modern Poets” (1967), com capa de Alan Spain, tinha 128 páginas e apresentava 30 poemas de Henri, 24 poemas de McGough e 26 de Patten. Em 1974 foi lançada uma nova edição, revisada e ampliada, com 152 páginas.

Em 1983 aparecem duas reedições da antologia: a primeira apresenta uma capa com a foto dos três poetas, 160 páginas agora incluindo uma pequena biografia dos poetas e algumas pequenas supressões e inclusões de poemas; a segunda edição do mesmo ano foi intitulada “New Volume”, com novos poemas de cada autor (57 páginas dedicadas a Henri, 33 a McGough e 35 a Patten).

 

A edição mais recente e revisada é a de 07 de junho de 2007, publicada pela Penguin, com 143 páginas, ISBN 0141189266 (ISBN13: 9780141189260); desta edição escolhemos alguns poemas para tradução ao português brasileiro.

 

Bibliografia de apoio:

BOWEN, Phil A Gallery to play to: the story of the Mersey Poets Liverpool, Liverpool University Press: 2008.

MURPHY, Michael and JONES, Deryn Rees (ed.) Writing Liverpool – essays and interviews Liverpool, Liverpool University Press, 2007.

WADE, Stephen (ed.) Poetry and its social context in Liverpool since de 1960s Liverpool, Liverpool University Press: 2001.

Adrian Henri

Adrian Henri

TONIGHT AT NOON

(for Charles Mingus and the Clayton Squares)

 

Tonight at noon

Supermarkets will advertise 3p EXTRA on everything

Tonight at noon

Children from happy families will be sent to live in a home

Elephants will tell each other human jokes

America will declare peace on Russia

World War I generals will sell poppies in the street on

November 11th

The first daffodils of autumn will appear

When the leaves fall upwards to the trees

 

Tonight at noon

Pigeons will hunt cats through city backyards

Hitler will tell us to fight on the beaches and on the landing fields

A tunnel full of water will be built under Liverpool

Pigs will be sighted flying in formation over Woolton

and Nelson will not only get his eyes back but his arm as well

White Americans will demonstrate for equal rights

In front of the Black house

and the Monster has just created Dr. Frankenstein

 

Girls in bikinis are moonbathing

Folksongs are being sung by real folk

Art galleries are closed to people over 21

Poets get their poems in the Top 20

Politicians are elected to insane asylums

There’s job for everybody and nobody wants them

In back alleys everywhere teenage lovers are kissing in

broad daylight

 

In forgotten graveyards everywhere the dead will quietly

bury the living

and

You will tell me you love me

Tonight at noon

 

HOJE À NOITE AO MEIO-DIA

(para Charles Mingus e os Clayton Squares)

Hoje à noite ao meio-dia
Os supermercados anunciarão 3£ A MAIS em tudo

Hoje à noite ao meio-dia
Crianças de famílias felizes serão mandadas pra um orfanato
Elefantes contarão uns aos outros piadas humanas
a América vai declarar a paz na Rússia
Generais da 1ª. Guerra Mundial venderão papoulas na rua no

dia 11 de novembro
Os primeiros narcisos do outono aparecerão
Quando as folhas caem para cima em direção às árvores

Hoje à noite ao meio-dia
Pombos caçarão gatos pelos quintais da cidade
Hitler nos dirá pra lutar nas praias e nos campos de pouso
Um túnel cheio d’água será construído sob Liverpool
Porcos serão vistos voando em fila sobre Woolton
e Nelson não só reaverá  os olhos, mas o braço também
Americanos brancos protestarão pela igualdade de direitos
Na frente da Casa Negra
e o Monstro acaba de criar o Dr. Frankenstein

Garotas de biquínis tomam banho de lua
Canções populares são cantadas por gente do povo mesmo
As galerias de arte estão fechadas pra pessoas com mais de 21
Os poetas têm seus poemas nos Top 20

políticos são eleitos pra asilos de loucos
Há empregos pra todos e ninguém os quer
Embecosem todo lugar amantes adolescentesse beijam em

plena luz do dia
Emcemitériosesquecidosem todo lugaros mortosem silêncio

enterrarão os vivos
e
Você vai me dizer que me ama
Hoje à noite ao meio-dia

___________________________________________________________________

 

MRS ALBION YOU’VE GOT A LOVELY DAUGHTER

(for Allen Ginsberg)

 

Albion’s most lovely daughter sat on the banks of the

Mersey dangling her landing stage in the water.
The daughters of Albion
arriving by underground at Central Station
eating hot ecclescakes at the Pierhead
writing ‘Billy Blake is fab’ on a wall in Mathew St
taking off their navyblue schooldrawers and
putting on nylon panties ready for the night
The daughters of Albion
see the moonlight beating down on them in Bebington
throw away their chewinggum ready for the goodnight kiss
sleep in the dinnertime sunlight with old men
looking up their skirts in St Johns Gardens
comb their darkblonde hair in suburban bedrooms
powder their delicate little nipples/Wondering if tonight will be the night
their bodies pressed into dresses or sweaters
lavender at the Cavern or pink at the Sink
The daughters of Albion

wondering how to explain why they didn’t go home
The daughters of Albion
taking the dawn ferry to tomorrow
worrying about what happened

worrying about what hasn’t happened
lacing up blue sneakers over brown ankles
fastening up brown stockings to blue suspenderbelts
Beautiful boys with bright red guitars
In the spaces between the stars

Reelin’ an’ a-rockin’
Wishin’ an’ a-hopin’
Kissin’ an’ -prayin’
Lovin’ an’ a-layin’

Mrs Albion you’ve got a lovely daughter.

ALBION, SUA FILHA É ENCANTADORA

  1. (para Allen Ginsberg)

 

A filha mais bonita deAlbionsentou-se àsmargens do

Mersey e pendurou seu ancoradouro na água.
As filhas de Albion
chegando de metrô na Estação Central
comendo folhados quentinhos no Pierhead
escrevendo “Billy Blake é o máximo” num muro da Rua Mathew
tirando as calçolas escolares azul marinhas e
colocando calcinhas de lycra prontas pra noite
As filhas de Albion
veem o luar que as atinge em Bebington
cospem o chicletes prontas pro beijo de boa noite
dormem no crepúsculo do jantar com caras velhos
olhando pra cima das saias nos Jardins de St Johns
penteiam os cabelos loiro escuros em banheiros de subúrbio
empoam os pequenos e delicados mamilos/ Se perguntando se hoje vai ser

a noite
os corpos apertados em vestidos ou blusas
lavanda no The Cavern ou rosa no The Sink Club
As filhas deAlbion

pensando em como explicar porque não foram pra casa
As filhas de Albion
tomando a balsa da madrugada pra amanhã
preocupadas com o que aconteceu
amarrando os tênis azuis nos tornozelos bronzeados
prendendo as meias de nylon marrons nas cintas-ligas azuis
Garotos bonitos com guitarras vermelho vivo
Nos espaços entre as estrelas

Letras de iê-iê-iê
Wishin’ an‘ a-hopin’
Kissin’ an’ -prayin’
Lovin’ an’ a-layin’

Sra. Albion, sua filha é encantadora.

___________________________________________________________________

 

ADRIAN HENRI’S TALKING AFTER CHRISTMAS BLUES

 

Well I woke up this mornin’ it was Christmas Day
And the birds were singing the night away
I saw my stocking lying on the chair
Looked right to the bottom but you weren’t there
there was
apples
oranges
chocolates
… aftershave

– but no you.

 

So I went downstairs and the dinner was fine
There was pudding and turkey and lots of wine
And I pulled those crackers with a laughing face
Till I saw there was no one in your place
there was
mincepies
brandy
nuts and raisins
… mashed potato
– but no you.

 

Now it’s New Year and it’s Auld Lang Syne
And it’s 12 o’clock and I’m feeling fine
Should Auld Acquaintance be Forgot?
I don’t know girl, but it hurts a lot
there was
whisky
vodka
dry Martini (stirred but not shaken)
… and 12 New Year resolutions
– all of them about you.

 

So it’s all the best for the year ahead
As I stagger upstairs and into bed
Then I looked at the pillow by my side
… I tell you baby I almost cried
there’ll be
Autumn
Summer
Spring
… Winter
– all of them without you.

 

FALA DO ADRIAN HENRI APÓS O BLUES DE NATAL
Bem, acordei esta manhã era o dia do Natal
E os pássaros cantando dissipavam a noite
Vi minha meia de presentes deixada na cadeira
Olhei direto pro fundo, mas você não estava lá
tinha
maçãs
laranjas
chocolates
…pós-barba
– mas não você.
Então desci as escadas e o jantar estava bom
Tinha pudim e peru e muito vinho
Puxei uma ponta do pacote de biscoitos com um sorriso na cara
Até que vi que não havia ninguém no seu lugar
tinha
panetones
conhaque
nozes e passas
… purê de batata
– mas não você.
Agora é Ano Novo e é Adeus Amor, eu vou partir
São 12:00 horas e me sinto bem
Deveria esquecer a Adeus, Amor?
Eu não sei, garota, mas dói muito
tinha
uísque
vodka
Martini seco (batido mas não mexido)
…e 12 resoluções de Ano Novo
– todos elas com você.
Então é tudo de melhor pro próximo ano
Enquanto cambaleio pra cama no andar de cima
Aí olhei pro travesseiro ao meu lado
…Te digo baby que eu quase chorei
vai haver
outono
verão
primavera
… inverno
–todos eles sem você.

Roger McGough

Roger McGough

 

COMECLOSE AND SLEEPNOW

it is afterwards
and you talk on tiptoe
happy to be part
of the darkness
lips becoming limp
a prelude to tiredness.
Comeclose and Sleepnow
for in the morning
when a policeman
disguised as the sun
creeps into your room
and your mother
disguised as birds
calls from the trees
you will put on a dress of guilt
and shoes with broken high ideals
and refusing coffee
run
alltheway
home.

 

CHEGUEMAIS E DURMAJÁ
é depois
e você fala na ponta dos pés
feliz por ser parte
da escuridão
lábios ficando moles
um prelúdio pro cansaço.
Cheguemais e Durmajá
pois de manhã
quando um policial
disfarçado de sol
se esgueira no seu quarto
e sua mãe
disfarçada de pássaros
chama das árvores
você colocará um vestido de culpa
e sapatos com altos ideais rompidos
e recusando café
correrá
todocaminho
pra casa.

___________________________________________________________________

AREN’T WE ALL

 

Looks quite pretty lying there
Can’t be asleep yet
Wonder what she’s thinking about?
Penny for her thoughts
Probably not worth it.
There’s the moon trying to look romantic
Moon’s too old that’s her trouble
Aren’t we all?

 

Lace curtains gently swaying
Like a woman walking
A woman in a negligee
Walking out through the window
Over the sleeping city up into the sky
To give the moon a rest
Moon’s too tired that’s her trouble
Aren’t we all?

 

Wasn’t a bad party really
Except for the people
People always spoil things
Room’s in a mess
And this one’s left her clothes all over the place
Scattered like seeds
In too much of a hurry that’s her trouble
Aren’t we all?

 

Think she’s asleep now
It makes you sleep
Better than Horlicks
Not so pretty really when you get close-up
Wonder what her name is?
Now she’s taken all the blankets
Too selfish that’s her trouble
Aren’t we all?

 

E NÃO SOMOS TODOS?

 

Parece bem bonita deitada ali
Não pode já estar dormindo
Quer saber o que ela está pensando?
Um centavo por seus pensamentos
Provavelmente não valha a pena.
Há a lua tentando parecer romântica
O problema da lua é que é velha demais
E não somos todos?
Cortinas de renda num balanço suave
Como uma mulher andando
Uma mulher de négligé
Saindo pela janela
Sobre a cidade que dorme em direção ao céu
Pra dar um descanso à lua
O problema da lua é que é puro cansaço
E não somos todos?
Não foi uma festa tão ruim
Exceto pelas pessoas
As pessoas sempre estragam as coisas
Quartos numa bagunça
E essa deixou suas roupas por todo o lugar
Espalhadas como sementes
O problema dela é ser muito apressada
E não somos todos?
Agora acho que ela dorme
Isso faz você dormir
Melhor do que leitinho morno da Horlicks
Não tão bonita de fato quando você chega bem perto
Quer saber qual é o nome dela?
Agora ela pegou todas as cobertas
O problema dela é ser muito egoísta
E não somos todos?

___________________________________________________________________

 

A LOT OF WATER HAS FLOWN UNDER YOUR BRIDGE
i remember your hands
white and strangely cold
asif exposed too often to the moon

i remember your eyes
brown and strangely old
asif exposed too often and too soon

i remember your body
young and strangely bold
asif exposed too often

i remember
i remember how
when you laughed
hotdogmen all over town
burst into song

i remember
i remember how
when you cried
the clouds cried too and the
streets became awash with tears

i remember
i remember how
when we lay together for the first time
the room smiled
said: ‘excuse me’,
and tiptoed away.

but time has passed since then
and alotof people
have crossed over the bridge
(a faceless throng)
but time has passed since then
and alotof young men
have swum in the water
(naked and strong)

but time has passed since then
and alotof water
has flown
under
your
bridge.
MUITA ÁGUA PASSOU POR BAIXO DA SUA PONTE

me lembro das suas mãos
brancas e estranhamente frias
comose expostas demais à lua

me lembro dos seus olhos
castanhos e estranhamente antigos
comose expostas demais e cedo demais

me lembro do seu corpo
jovem e estranhamente ousado
comose exposto demais

me lembro
me lembro como
quando você sorria
todos os carasdohotdog da cidade
começavam a cantar

me lembro
me lembro como
quando você chorava
as nuvens também croravam e as
ruas eram inundadas por lágrimas

me lembro
me lembro como
quando deitamos juntos pela primeira vez
o quarto sorriu
disse: ‘desculpa’,
e saiu de fininho.

mas o tempo passou desde então
e umontede gente
passou por baixo da ponte
(uma multidão sem rosto)
mas o tempo passou desde então
e umontede caras jovens
nadaram nas águas
(nus e fortes).

mas o tempo passou desde então
e umontede água
correu
por baixo
da sua

ponte.

 

 

Brian Patten

Brian Patten

 

SOMEWHERE BETWEEN HEAVEN AND WOOLWORTHS, A SONG

 

 

She keeps kingfishers in their cages
And goldfish in their bowls,
She is lovely and is afraid
Of such things as growing cold.

 

She’s had enough men to please her
Though they were more cruel than kind
And their love an act of isolation,
A form of pantomime.

 

She says she has forgotten
The feelings that she shared
At various all-night parties
Among the couples on the stairs,

 

For among the songs and dancing
She was once open wide,
A girl dressed in denim
With boys dressed in lies.

 

She’s eating roses on toast with tulip butter,
Praying for her mirror to stay young;
Though on its no longer gilted surface
This message she has scrawled:

 

‘O somewhere between Heaven and Woolworths
I live I love I scold,
I keep kingfishers in their cages
And goldfish in their bowls.’

 

 

NALGUM LUGAR ENTRE O HEAVEN E A WOOLWORTH

 

Ela mantém martins-pescadores em gaiolas
E peixinhos dourados num aquário
Ela é adorável e tem medo
De coisas como tornar-se frio.
Ela teve homens o suficiente para agradá-la
Embora tenham sido mais crueis do que gentis
E o seu amor um ato de isolamento,
Uma forma de pantomima.
Ela diz que se esqueceu
Dos sentimentos que dividiu
Nas muitas festas de uma noite toda
Entre os casais nas escadas,
Pois entre as canções e as danças
Ela já esteve toda aberta,
Menina vestida de jeans
Com meninos vestidos de mentiras.
Come torrada com rosé e manteiga de tulipa,
Rezando pro espelho pra se manter jovem;
E naquela superfície já não mais brilhante
Esta mensagem ela tem rabiscada:
“Ah em algum lugar entre o Heaven e a Woolworth’s
Eu moro eu amo eu censuro
Mantenho martins-pescadores nas gaiolas
E peixinhos dourados nos aquários.”

 

___________________________________________________________________

LITTLE JOHNNY’S CONFESSION

 

This morning
being rather young and foolish
I borrowed a machinegun my father
had left hidden since the war, went out,
and eliminated a number of small enemies.
Since then I have not returned home.

 

This morning
swarms of police with trackerdogs
wander about the city
with my description printed
on their minds, asking:
“Have you seen him,
he is seven years old,
likes Pluto, Mighty Mouse
and Biffo the Bear,
have you seen him, anywhere?”

 

This morning
sitting alone in a strange playground,
muttering Youve blundered Youve blundered
over and over to myself
I work out my next move
but cannot move.
The trackerdogs will sniff me out,
they have my lollypops.

 

 

CONFISSÃO DO JOÃOZINHO
Esta manhã
sendo meio jovem e bobo demais
peguei uma metralhadora que meu pai
tinha deixado escondida desde a guerra, saí,
e eliminei uma série de pequenos inimigos.
Desde então não voltei pra casa.
Esta manhã
enxames de policiais com cães farejadores
zanzam pela cidade
com a minha descrição impressa
nas em mentes, perguntando:
“Você já viu ele,
ele tem sete anos,
gosta do Pluto, do Super Mouse
e do Urso Biffo,
você viu ele, em algum lugar?”
Esta manhã
sentado sozinho num playground estranho,
murmurando Cêfez burrada Cêfez burrada
várias vezes pra mim mesmo
defino meu próximo passo
mas não consigo me mexer.
Os cães farejadores vão sentir meu cheiro,
eles têm meus pirulitos.

 

___________________________________________________________________

PARTY PIECE

 

He said
‘Let’s stay here
Now this place has emptied
& make gentle pornography with one another,
While the partygoers go out
& the dawn creeps in,
Like a stranger.

Let us not hesitate
Over what we know
Or over how cold this place has become,
But let’s unclip our minds
And let tumble free
The mad, mangled crocodiles of love.’

So they did,
Right there among the woodbines and guinness stains,
And later he caught a bus and she a train
And all there was between them then
was rain.

ATRAÇÃO DA FESTA

Ele disse:
“Vamos ficar aqui
Agora este lugar esvaziou
& fazer um pouco de sacanagem um com o outro,
Enquanto os festeiros vão embora
& a madrugada se esgueira
Como um estranho.

Não hesitemos
Sobre o que sabemos
Ou sobre quão frio este lugar se tornou,
Mas vamos liberar nossas mentes
E deixar rolar  livre
O doido e deformado crocodilos do amor.”

Assim eles fizeram,
Bem ali entre as bitucas de Woodbine e manchas de Guinness,
E depois ele pegou um ônibus e ela um trem
E tudo que havia entre eles, então,
era a chuva.

 

 

* Luci Collin é escritor, tradutora, ensaista e professora da Universidade Federal do Paraná(UFPR)