A escrita do “eu” no diário de Gombrowicz – Eneida Favre
A ESCRITA DO “EU” NO DIÁRIO DE GOMBROWICZ
Eneida Favre*
Sei e já o disse mais de uma vez que todo artista deve ser pretensioso (se aspira ao pedestal do monumento), mas que, ao mesmo tempo, esconder esta pretensão é um erro de estilo, é a prova de uma “solução interna” equivocada. Franqueza. É preciso pôr as cartas na mesa. Escrever não é nada mais que uma luta que o artista empreende contra as pessoas pela própria notoriedade. (Gombrowicz, 2005: 62 [1953]).[1]
A declaração acima exprime em síntese todo o sentido da vida de Gombrowicz e muito de sua personalidade. Franco, direto, polêmico, pretensioso, batalhador, crítico, filosófico, solitário e outros tantos adjetivos podem dar uma ideia da complexidade do caráter desse grande escritor e dramaturgo polonês, cuja trajetória tortuosa e surpreendente parece ela própria pura ficção.
Originário dos férteis campos poloneses, nasceu em Małoszyce, em 4 de agosto de 1904, numa família de proprietários rurais da pequena nobreza, cuja situação financeira possibilitou a educação esmerada do caçula Witold, que gozava do cuidado de preceptoras francesas e das boas escolas de Varsóvia, para onde a família se mudou quando ele tinha apenas 7 anos de idade.
Formou-se em Direito, em 1927, e viajou para a França, pretensamente para continuar os estudos, mas utilizou a estadia para contatos com a juventude estudantil francesa e para viajar pelo país. Ao voltar para a Polônia, em 1928, desistiu da carreira de advogado, preferindo dedicar-se a escrever e fomentar sua vida social. Passou assim a ser assíduo frequentador de cafés varsovianos, especialmente o Zodiak e o Ziemiańska, onde ele e outros jovens escritores e representantes da intelectualidade polonesa de vanguarda discutiam sobre tudo, mas, principalmente, sobre literatura. Tais encontros constituíam-se para ele, segundo Zdzisław Łapiński (1997:140), teórico da literatura e historiador polonês, um “terreno de experimentos psicológicos e sua própria oficina literária”.
Debutou em 1933 com Pamiętnik z okresu dojrzewania (Memórias do tempo da puberdade). Pouco mais de um ano depois escreveu sua primeira peça de teatro chamada Iwona księżniczka Burgunda (Ivone, princesa da Borgonha), publicada na revista Skamander, em 1938. Esta revista era difusora do movimento de mesmo nome que reunia os adeptos de uma estética inovadora, que queriam desvincular a poesia polonesa de sua função histórica, nacionalista e patriótica, vinculando-a ao lado belo da vida cotidiana e da corporeidade do ser humano, numa linguagem mais coloquial e neológica. Entre os poetas desse movimento estavam Julian Tuwim, Antoni Słonimski, Jarosław Iwaszkiewicz, Kazimierz Wierzyński e Jan Lechoń. Também faziam parte do círculo de amigos de Gombrowicz o escritor e artista gráfico Bruno Schulz e o dramaturgo, escritor e pintor Stanisław Ignacy Witkiewicz, mais conhecido como Witkacy.
Em 1937, Gombrowicz escreveu seu primeiro grande sucesso, a novela Ferdydurke (Ferdydurke), aclamada por seu caráter inovador e crítico, e que se constituiu em divulgadora de suas primeiras digressões filosóficas sobre as relações inter-humanas, em muito antecipando os estudos sociológicos de Erving Goffman e o existencialismo de Sartre, do qual foi equivocadamente considerado discípulo e com ele comparado, especialmente na França e em outros países do Ocidente. Em Ferdydurke, o autor já trata dos temas que serão constantes em toda a sua obra: as antíteses entre o Eu e o Outro, a Maturidade e a Imaturidade, o Caos e a Forma.
Após a publicação de Ferdydurke, Gombrowicz passa a gozar de certo prestígio entre os escritores poloneses e, em 1939, às vésperas da deflagração da Segunda Guerra Mundial, é convidado a participar da viagem inaugural de um transatlântico polonês que rumava para Buenos Aires em missão cultural junto aos emigrantes poloneses na Argentina.
O passeio turístico despretensioso iniciou a reviravolta na vida do escritor. Um pouco depois de desembarcar em Buenos Aires, soube-se da eclosão da guerra. Gombrowicz decidiu permanecer na Argentina e não retornar à Europa, já que não se achava em condições de servir sua pátria como herói militar. A decisão de Gombrowicz, vital para o seu amadurecimento como ser humano e escritor, fez-lhe permanecer em solo sul-americano por quase 24 anos, dos quais oito em completa penúria e solidão. Durante esse período, tentava aprender a língua e compreender a cultura argentina, vivia de expedientes, dependendo da bondade dos amigos, e acabou por abandonar a literatura, à qual só retornou com o inusitado empreendimento da tradução de Ferdydurke para o espanhol, em 1946. Empreendimento inusitado, porque a tradução foi realizada, em seus primeiros meses, no ambiente buliçoso do Café Rex, por um grupo do qual participavam o próprio autor, os escritores cubanos Virgilio Piñera e Humberto Rodríguez Tomeu, o poeta argentino Adolfo de Obieta e vários amigos anônimos de Gombrowicz, das rodadas de xadrez, que também opinavam com o mesmo interesse dos entendidos e eram ouvidos por Gombrowicz com a mesma atenção. Ele próprio conta em seu Diário:
Comecei, pois, o trabalho que se apresentava assim: primeiro eu traduzia como podia do polonês e levava o manuscrito ao Café Rex, onde meus amigos argentinos reelaboravam comigo, frase a frase, buscando as palavras apropriadas, lutando com a sintaxe, com os neologismos, com o espírito da língua. […] Mas depois de ter traduzido as primeiras páginas, Ferdydurke, um livro já morto para mim, que jazia ante meus olhos como um objeto indiferente, de pronto começou a dar sinais de vida… (Gombrowicz, 2005:205 [1955]).
Tendo melhorado sua situação financeira por ter conseguido um emprego modesto no Banco Polaco de Buenos Aires, Gombrowicz escreve nas horas vagas Trans-Atlantyk (Trasatlântico), romance no qual o próprio Gombrowicz é um dos protagonistas e que mistura fatos claramente autobiográficos com ficção, numa sátira sobre a literatura romântica e os costumes da nobreza de sua terra. A partir daí, não deixa mais de escrever, conseguindo mesmo largar o trabalho no banco, após oito anos de serviço, e viver sobriamente apenas de seu trabalho literário. Seguem-se romances, dramas, um livro sobre filosofia e o objeto deste artigo: o Diário, escrito entre os anos de 1953 e 1969.
O Diário foi ideia de Jerzy Giedroyc, grande jornalista e político polonês, que na época era redator da revista da emigração polonesa em Paris, Kultura. Após o retorno de Gombrowicz ao mundo literário, com a publicação de Trans-Atlantyk na França, e por intervenção de alguns admiradores influentes, o autor passou a colaborar com a revista escrevendo crônicas. Em uma delas usou o formato de um diário e isso agradou o redator, que achou que aquele gênero combinava com Gombrowicz. Portanto, o Diário, desde o início, não foi um escrito de caráter particular, mas visava uma audiência, que era constituída por poloneses emigrados e a intelectualidade polonesa da época. Mais tarde os capítulos foram reunidos em livros, publicados na França e traduzidos em vários idiomas.
Com a abertura política que se deu na Polônia comunista nos anos 1957-1958, quatro livros de Gombrowicz foram lá editados. Porém, logo depois, uma campanha ferrenha lançada contra o autor, acusando-o de antipatriótico, e a existência de passagens no Diário consideradas censuráveis tanto pela Igreja, que condenava suas tendências homossexuais, quanto pelos governantes comunistas, que o viam como inimigo do regime, fizeram com que sua obra fosse banida do território polonês por mais de 25 anos. Henryk Siewierski (2000:174), ensaísta, poeta, tradutor e professor titular do Departamento de Teoria Literária e Literaturas da Universidade de Brasília, testemunhou que, durante esse período de proibição, o Diário era contrabandeado para o território polonês, tendo se tornado “um manual do pensamento e comportamento insubmissos”.
Após quase 24 anos de exílio voluntário na Argentina e a criação, nos últimos anos, de um vínculo muito forte com um grupo de jovens muitíssimo interessados em sua obra vigorosa e sua pessoa carismática, seu trabalho recebeu o devido reconhecimento na Europa e ele foi convidado pela Fundação Ford para uma temporada em Berlim, juntamente com outros grandes nomes da literatura mundial da época. Assim, em 1963, com a saúde já bastante debilitada por uma asma que o acompanhava há muitos anos, despediu-se dos amigos argentinos, entre eles os mais chegados, Juan Carlos Gómez, Mariano Betelú, Alejandro Russovich e Jorge Di Paola, e partiu enfim para a Europa. Nunca mais retornaria à Argentina, como também nunca mais voltaria à Polônia. Em 1968, já uma celebridade na Europa, foi indicado para o prêmio Nobel de Literatura. No final do ano, casou-se com Rita Labrosse, uma canadense que conheceu na França e que se tornou sua secretária e companheira, até os últimos dias de sua vida. Morreu em 25 de julho de 1969, em Vence, França, alcançando por caminhos verdadeiramente tortuosos a notoriedade que sempre almejou e seu lugar entre os grandes escritores de seu tempo.
O Diário de Gombrowicz, escrito durante 16 anos, até a morte do autor, é uma obra de indiscutível valor na literatura mundial. Do Diário emergem, por entre as tramas de um rico panorama cultural, filosófico, histórico e social traçado pelo autor, o gênio e a personagem de Witold Gombrowicz manifestando-se em sua plenitude.
Mas seria o Diário realmente um diário de acordo com o modelo tradicional do gênero?
Stanisław Barańczak (1990), eminente poeta e crítico literário polonês considera o Diário um dos mais importantes livros da literatura europeia do século XX, mas reconhece que ele pouco tem a ver com a forma tradicional do gênero, definida por ele como “um registro dos eventos diários que podem ou não reproduzir as reflexões mais profundas do diarista”. Para Barańczak, o que foi escrito por Gombrowicz a título de diário consiste na verdade em “uma série bem organizada de ensaios interconectados, desenvolvendo vários componentes de seu sempre presente Sistema”, ou seja, dos temas recorrentes que permeiam a obra do autor. Já Zdzisław Łapiński (1997) acrescenta que “trata-se de uma prosa enérgica e sugestiva ─ em Gombrowicz, algo diferente não encontramos ─ mas do ponto de vista do gênero, ainda está próxima dos modelos do jornalismo”. Henryk Siewierski (2000) analisa a obra de Gombrowicz e ressalta a correspondência entre a personalidade multifacetada de Gombrowicz e as formas encontradas em seu Diário: novela, confissão, prosa poética, reportagem, cena dramática, carta, entrevista consigo mesmo, ensaio crítico, manifesto literário, mini-tratado filosófico e sermão.
Porém, se revisarmos a obra do professor universitário e teórico da literatura, o francês Philippe Lejeune, uma reconhecida autoridade no que se refere a relatos autobiográficos, tendo publicado vários livros sobre o assunto, encontramos a citação na qual ele admite que a forma do diário é livre: “asserção, narrativa, lirismo, tudo é possível, assim como todos os níveis de linguagem e de estilo”. Pode-se, então, entender que, pelo menos nesse aspecto, o Diário de Gombrowicz não se diferencia de um diário comum. No entanto, é necessário levar em consideração que o Diário de Gombrowicz era publicado periodicamente na revista Kultura. Tão logo o autor terminava de escrever um tomo, remetia-o a Paris e a revista o editava.
Temos aqui, então, uma grande diferença entre um exemplar característico do gênero diário e a obra de Gombrowicz. O caráter particular e íntimo de um diário comum, que, a princípio, não se destina aos olhos alheios, nunca foi uma premissa do Diário escrito por Gombrowicz. Podemos até arriscar afirmar que, se tivesse vivido em nossos dias, Gombrowicz teria um blogue. Assim como nos blogues atuais, o autor não tinha a intenção de em seu Diário aludir exclusivamente a fatos que contemplassem “sua história individual, [e] em particular a história de sua personalidade”, como entendia Lejeune nos idos do século XX, referindo-se às autobiografias. Gombrowicz não utilizava o Diário como alguém que está diante de um amigo confidente secreto. Pelo contrário, introduziu certas estratégias estilísticas que denunciam claramente o caráter público de seus escritos, almejando mesmo que seus textos, de caráter pessoal ou não, fossem comentados pelos leitores, assim como um bloguista espera que outros se interessem pelo que posta no blogue e façam comentários. Por exemplo, ele respondia as cartas dos leitores das revistas Kultura ou Wiadomości (esta publicada na Inglaterra) que se pronunciavam sobre o Diário ou sobre seus livros e publicava trechos ou cartas inteiras que fossem de seu interesse divulgar. Assim como um bloguista, que só publica o que passa por seu crivo, também Gombrowicz analisava as vantagens e desvantagens da divulgação de uma carta elogiosa e outra pouco favorável a seu trabalho ou sua pessoa, utilizando-se tanto de uma como de outra para conversar, discutir, provocar e polemizar, mantendo assim aceso o interesse do leitor no Diário.
Gombrowicz, intencional e, poderíamos dizer, machadianamente se dirigia sem rodeios ao leitor fazendo indagações, criticando, pedindo compreensão ou fazendo comentários, como se o leitor fosse um velho conhecido ciente já das particularidades de sua vida.
Compreendam minha solidão e minha contradição interna que constituía a fissura de todo o meu empreendimento artístico: como artista era chamado a perseguir a perfeição, mas me atraía a imperfeição; devia criar uns valores e, no entanto, algo parecido com um subvalor ou semivalor se tornou para mim muito precioso. (p. 212, ao comentar sobre suas tendências homossexuais)
Se consenti na necessidade de confiar a vocês estas experiências argentinas, é porque considero importante que um homem que toma a palavra publicamente, um literato, introduza de vez em quando o seu auditório detrás da fachada da forma, no efervescente cadinho de sua história privada. É ridículo ou mesmo humilhante? […] (p. 213), ao comentar sobre suas tendências homossexuais)
Como afirma Brandão Santos (2001:20), “nenhum escritor sabe, exatamente, quem é o leitor de seus livros. Por outro lado, sempre se escreve tendo-se em mente o fato de que haverá um leitor”. E o leitor ideal imaginado por Gombrowicz era aquele com quem podia manter um diálogo interessante. O leitor poderia concordar com ele, o que muito lhe agradava, ou discordar dele, o que também, aparentemente, não lhe desagradava, pois dava ensejo a controvérsias e disputas, onde se esmerava em expor sua vasta cultura e exercitar sua arte de convencimento e sedução e, como no jogo de xadrez, do qual era entusiasta, sentir que era capaz de um xeque-mate. O Diário não traria a marca de seu autor se, mesmo desejoso de aprovação, Gombrowicz não fosse muitas vezes provocador e beligerante em relação a seu leitor, instigando-o a protestar e manter com ele discussões acaloradas. Gombrowicz agia no Diário como agia na vida em sociedade:
Está preocupada? E quer me catapultar? Na verdade o diário publicado no mês de novembro foi um tanto superficial ─ algumas notas soltas e um conto de férias sobre um crocodilo. Mas por que, no entanto, teria sempre que acertar um tiro de canhão? E se eu quiser caçar com uma espingarda de ar comprimido pardais ou crocodilos? É uma carta significativa em muitos aspectos, e sobretudo porque testemunha a pressão restritiva à qual está sempre submetido o autor por parte de seus leitores: ─ Não escreva isso, escreva aquilo… Seja sempre sério. Somente inspirado. Não seja crítico. Não pense o que o senhor pensa!… (Conheço essa escola polonesa do não pensar.) (p. 218-219, ao responder uma carta de uma leitora canadense)
No Diário, várias vezes Gombrowicz utiliza o recurso de, após alguma declaração, justapor uma explicação ou recado claramente endereçados ao leitor, às vezes, repleto de ironia. Por exemplo:
Mas penso neste momento na massa da nação, nos milhares e milhares de pessoas simples. Para que lhes serve tudo isso? Difícil ─ nas trevas em que me encontro, não posso agir de outro modo que não às cegas. Escrevo tudo isso a título de proposição, para ver que efeito causará… e se o efeito for positivo, irei adiante. (p. 65)
Minha presunção cheira a doença grave. Começo a temer que os cronistas irão me infligir o merecido açoitamento. Mas o que fazer com o orgulho que me toma? Ir ao médico? (Escrevi isso para me proteger, e ao me proteger, conseguir maior liberdade de ação.) (p. 65)
Desde o início o autor sabia que o Diário, além de lhe possibilitar a sobrevivência física, também lhe garantia a visibilidade literária na Europa, da qual não podia prescindir e a qual precisava conquistar. O Diário era uma janela aberta através da qual poderia ser espiado em seu retiro sul-americano, uma porta de comunicação com o mundo da intelectualidade que prezava e com os leitores pelos quais ansiava. Assim comenta Juan Goméz, grande amigo argentino e admirador de Gombrowicz, em Gombrowiczidas (2008, nº 6):
Um dos propósitos que Gombrowicz tinha quando escrevia os diários era introduzir os leitores por uma porta lateral nos bastidores de suas novelas e de suas peças de teatro. Sua época lhe pedia que a palavra fosse, além de um recurso artístico, um instrumento do futuro do escritor no mundo, algo intimamente ligado à vida e às outras pessoas para definir e fixar seu lugar na sociedade.
Eis aqui como Gombrowicz aproveitava o Diário para introduzir os leitores em sua obra, como a peça Ślub (O casamento), ou Ferdydurke, por exemplo:
Neste diário, gostaria de abertamente começar a construir para mim meu talento ─ tão abertamente quanto Henryk, no terceiro ato, fabrica para si um casamento… Por que abertamente? Porque quando me revelo, desejo parar de ser para vocês um enigma fácil demais. Ao introduzi-los nos bastidores do meu ser, obrigo-me a me retrair ainda mais profundamente. (p. 63)
Assim, ao escrever Ferdydurke, um livro excepcionalmente difícil, e até mais, um livro que confunde e induz a erro, sabia que, se me entregasse indefeso nas mãos desses senhores, estaria perdido. (p. 116)
Ou seja, o Diário de Gombrowicz não pode ser um exemplo do que Lejeune chamou de “diário cândido”, isto é, sem segundas intenções. Em comum com os diários íntimos, certamente está a ignorância por parte do autor em relação ao término de sua escritura. Na verdade, o fim do Diário coincide com a morte do autor, assim como em muitos casos de diários íntimos.
Gombrowicz, que no início dos anos 1950 se sentia desesperançado em relação a seu sucesso literário, pressentia a importância que o Diário teria no seu futuro. Tanto, que no início, ainda em 1953, temeu que a tarefa lhe fosse ingrata e que a crítica o considerasse medíocre. Esse estado de espírito fragilizado, que o acompanhou em ondas ao longo da vida, propiciou mergulhos profundos de autocrítica e autoavaliação, os quais transmitiu tempos depois a seus leitores como autoinformes-confissões, como denominado pelo multidisciplinar pensador e teórico russo Mikhail Bakhtin (1979). Eis aqui um exemplo bastante denso, escrito na década de 1960, retratando suas amarguras e temores dos tempos iniciais do Diário:
Um dos mais dramáticos momentos da minha história foi aquele, há dez anos atrás, quando vieram à luz os primeiros fragmentos do Diário. Ah, tremia então! Abandonei a linguagem grotesca de minhas criações anteriores como se despe uma armadura – sentia-me tão indefeso no diário, tomava conta de mim um medo de que aquelas palavras simples me tornassem medíocre! Não seria aquele meu quarto début o mais perigoso? (p. 535)
Ao lermos esta declaração do autor, podemos senti-lo reviver seu receio inicial diante da possibilidade do fracasso do Diário, que era para ele como uma jogada desesperada onde tudo se arrisca, além, é claro, de percebermos o tom dramático com que relata sua vida, o qual enfatiza sua faceta heroica. Sentia que no Diário a linguagem precisaria ser outra, não uma linguagem “grotesca”, como admitia ter usado em seus escritos anteriores. Sabia que a ironia e o sarcasmo que protegiam sua pessoa do confronto direto com o outro teriam que ser calibrados, ao menos enquanto se sentisse inseguro, e isso significava estar desarmado e mais vulnerável perante seu público. Esse desarmamento e essa vulnerabilidade o assustavam, porque, por trás da altivez e aparentemente incontestável confiança em si, Gombrowicz era titubeante e carente do apreço das pessoas. Sabendo-se assim, procurava utilizar o Diário como um espaço onde podia se defender dos ataques daqueles que lhe negavam um lugar entre os grandes:
Prefiro não me parecer com ninguém. E isso é o que não posso aceitar neste diário, que é um diário privado, onde se trata sempre e unicamente de meus assuntos pessoais, onde o que pretendo é defender minha pessoa e conseguir para ela um lugar entre os homens. Abrir caminho através da mortífera mediocridade de meu meio e começar por fim a existir. Terei que seguir me defendendo até que o mais lerdo dos expertos olhe para mim. (p. 138)
Mas, como afirma Barańczak (1990), logo o autor sentiu-se mais seguro, sua prosa ganhou força e personalidade, e, apesar de o Diário não ter agradado a todos, como a Józef Mackiewicz, crítico de Wiadomości, o autor se rejubilava pela liberdade de poder escrever sobre os assuntos que mais lhe agradavam, principalmente sobre si mesmo. Bożena Zaboklicka (2005), tradutora do Diário para o espanhol, escreve que “Gombrowicz sentia uma autêntica obsessão por explicar a própria obra, […] não era de estranhar, pois, que saudasse com entusiasmo a oportunidade de poder publicar regularmente autocomentários de sua própria obra e corrigir os críticos que não soubessem lê-lo”. Eis o que ele mesmo comenta:
Mas depois! Que segurança quando resultou que bem ou mal posso comentar sobre mim mesmo – aquilo me era necessário, tornar-se o meu próprio crítico, glosador, juiz, diretor, retirar de outros cérebros o poder de fazer veredictos… Foi então quando consegui minha independência! (p. 535)
Verdade seja dita, Gombrowicz nunca aceitou de bom grado qualquer crítica negativa que fosse. Vivia numa ansiedade perpétua por aprovação e admiração, mas agia e reagia egotroficamente, muitas vezes com arrogância, pretensa segurança e superioridade, fato que lhe angariou muitos desafetos ao longo da vida.
Vê-se então como o Diário tinha para Gombrowicz uma função que ia além de um simples relato do cotidiano. O Diário era o palco do artista, do criador, do filósofo, do crítico, e também do homem ─ um simples ser humano, cheio de dúvidas existenciais, tomado pelo terror do envelhecimento, prisioneiro da decadência e do sofrimento físicos, solitário e desejoso de sobreviver ao tempo e deixar sua marca no mundo. Portanto, dentro do multifacetado Diário também havia espaço para o desabafo, a reflexão e a confidência, como se fosse um diário íntimo comum.
Como salienta Bożena Zaboklicka (2005), na apresentação da edição traduzida do Diário para o espanhol, “paralelamente aos acontecimentos da vida do autor, aparecem, em igualdade de condições, fragmentos com caráter de ensaio filosófico, piadas grotescas, jogos linguísticos, provocações, polêmicas inflamadas, assim como ficção literária”.
Porém, seu assunto predileto era ele mesmo. Quando decidiram que o diário até então publicado em revista seria publicado em livro, Gombrowicz resolveu revisar o texto e fazer algumas glosas e acréscimos. O acréscimo mais famoso é o do início do Diário, como veremos mais abaixo. Mas abrindo aqui um parêntese, o fato de ter modificado o diário, quando publicado em livro, nos remete às considerações de Lejeune sobre a questão da autenticidade, quando este afirmou que um diário corrigido “nada mais é do que uma autobiografia”. No caso de Gombrowicz, no entanto, não se tratava de eliminar algo censurado ou aperfeiçoar o estilo ou a gramática, mas pura criação literária acrescentada a trabalho anterior.
Voltamos à famosa introdução que o imortalizou, no primeiro tomo do Diário:
Segunda-feira
Eu.
Terça-feira
Eu.
Quarta-feira
Eu.
Quinta-feira
Eu.
Por que essa introdução causou simultaneamente polêmica, consagração e também execração? Por que foi considerada tanto um símbolo de um egotismo sem limites, quanto a marca de um gênio?
Primeiramente, a forma. Assemelha-se a uma poesia, cujos versos anunciam que não há nada digno de nota, a não ser a existência do sujeito lírico que aguarda os fatos e constata a própria imanência. Temos que admitir que esta introdução não se aparenta com a introdução usual de um diário íntimo comum. Além da forma em versos, a datação é vaga – segunda-feira, terça-feira… – o quando não é tão importante. Para Lejeune (2005), o diário de Gombrowicz não passaria “de uma simples caderneta”, por não vincular os fatos às datas de sua ocorrência.
Em segundo lugar, um diarista padrão, ao relembrar os acontecimentos ocorridos desde sua última notação, ao passá-los pelo “filtro seletivo” e constatar que, por algum motivo, não vale a pena anotá-los, simplesmente não o faz. Mas Gombrowicz, diante da pretensa falta de assunto, firmou aquilo que era o mais importante para ele: seu próprio “eu”, o “eu” daquele que iria narrar os fatos (e não-fatos) e também se autonarrar. Ele mesmo escreveu em seu Diário, em resposta a uma leitora que, frente à introdução inovadora, o acusou de egocentrismo:
A palavra “eu” é tão fundamental e primordial, tão cheia da realidade mais palpável e, portanto, a mais honesta, tão infalível como guia e tão severa como critério, que, em lugar de depreciá-la, deveríamos cair de joelhos ante ela. (p. 170)
Outra leitura a respeito da famosa introdução, e tomamos aqui a liberdade de reproduzir um comentário recebido do professor Marcelo Paiva de Souza, um dos tradutores de Gombrowicz para o português, poderia ser esta:
A palavra “eu”, reiterada tão ostensivamente no introito do Diário, soa como uma espécie de comentário irônico sobre a própria forma do diário (e da autobiografia). É como se ali se convidasse o leitor a refletir: que é um diário além disso – o eixo do tempo – segunda, terça, quarta – e um “eu”, um signo vazio que a própria narrativa vai preencher?
De fato, o “eu” gombrowicziano se esclarece na medida em que toma forma o Diário, o signo se faz significar. Também, ao se partir das constatações já abordadas nas questões teóricas deste artigo, é plausível dizer que a afirmação do “eu” gombrowicziano corrobora de forma lancinante a tendência moderna para o narcisismo e a individualidade. Mas nos determos apenas nessa consideração seria embaçar o brilho do gênio e escamotear outras possibilidades de interpretação igualmente sedutoras.
Por exemplo, ao afirmar quatro vezes o “eu”, de forma isolada, desacompanhada de qualquer complemento, apenas reforçada pelo passar dos dias, levanta-se também a questão da solidão experimentada pelo autor em seu refúgio latino-americano. A solidão é expressa no Diário em vários momentos. Reproduzimos aqui três exemplos pungentes:
Comecei a escrever esse diário, não quero que a solidão vague em mim sem destino, preciso das pessoas, do leitor. (p. 251)
Que faço eu aqui sozinho nesses pampas, com essa negligência que está de partida?… e de novo aquele pressentimento da agonia da solidão nesse porão opressivo. (p. 281)
Minha soberania, minha independência ou mesmo a minha insolência frívola, displicência para com todos, minha provocação incessante e minha confiança somente em mim mesmo ─ tudo isso é resultado de minha situação social e geográfica. Fui obrigado a não me importar com ninguém, já que ninguém se importava comigo ─ formei a mim mesmo num isolamento quase completo ─ penso que talvez nenhum literato tenha experimentado um isolamento assim […]. Minha forma é minha solidão. (p. 373)
Talvez a introdução do Diário seja o exemplo mais concreto do sofrimento existencial do autor: a solidão reforçada pela sensação de ser incompreendido e não reconhecido em seu talento. E, ao lermos sua obra e os relatos, próprios e alheios, que retratam sua vida, nos damos conta do caráter paradoxal de sua complexa personalidade. Pois, ao mesmo tempo em que buscava a compreensão e o reconhecimento dos outros, rechaçava-os com sua insolência fria, sua displicência para com todos e sua provocação incessante, como bem se autoanalisou e anotou em seu Diário.
Sua vida era a literatura amadurecida na solidão e no desterro. Mas não escrevia para si. Almejava o leitor, carecia dele:
A literatura possui um duplo sentido e uma dupla raiz: nasce da pura contemplação artística e da aspiração desinteressada pela arte; mas é também um jogo pessoal do autor com as pessoas, instrumento de sua luta pelo ser espiritual. É assunto que amadurece na solidão, criação em prol da criação; mas é também um assunto social, imposto às pessoas, assim, uma criação pública através da ajuda das pessoas. (p.219)
Gombrowicz necessitava da fama não só como uma resposta a todos os que não acreditavam em seu talento, mas também como uma afirmação para si mesmo de seu próprio valor.
Retornamos a Bakhtin e à sua caracterização dos tipos básicos de autobiografias. Sem dúvida alguma podemos enquadrar o Diário de Gombrowicz na autobiografia de tipo aventuresco-heroico, segundo a classificação de Bakhtin, que aparece em sua Estética da criação verbal, de 1979, na qual ele afirma que o que norteia a escrita é “a vontade de ser herói, de ter importância no mundo dos outros, a vontade de ser amado, a vontade de superar a fabulação da vida, a diversidade da vida interior e exterior”. Assim Gombrowicz nos explicita sua aspiração:
Eu deveria tratar este diário como instrumento de meu devir perante vocês – aspirar a que me concebessem de uma certa maneira ─ da maneira que me permitisse (que se pronuncie a palavra perigosa) o talento.Quero que este diário seja mais moderno e mais consciente e que esteja impregnado da ideia de que meu talento só pode existir de uma união com vocês, isto é, que somente vocês poderão despertar o talento em mim ─ e mais ─ criá-lo em mim. (p. 62)
Apesar de uma das lutas de Gombrowicz ter sido sempre a da autenticidade, ele não era ingênuo quanto a essa força motivadora e impulsionadora que o outro representa para o artista. Ora a deseja, ora a rechaça, ora compactua com ela propondo a união e o amparo recíproco. E ao lermos o trecho do Diário acima, é impossível não nos remetermos ao pensamento bakhtiniano sobre a influência do outro em todos os atos humanos, inclusive, nos atos criativos, e na objetivação incompleta que é resultado dessa interação. O autor escreve aquilo que a autoridade do outro desenha sobre ele. Isso porque, por mais íntimas que sejam, as análises que o diarista faz de si mesmo, são na verdade a análise de seus relacionamentos no mundo.
Não é à toa que o outro também seja assunto de agrado de nosso herói. O papel do outro na literatura gombrowicziana assume grande importância. Há muito Gombrowicz já havia desenvolvido toda uma teoria filosófica sobre a influência do outro em nosso modo de agir e sobre as máscaras (gęby, caretas) que precisamos usar para podermos sobreviver no mundo. Ferdydurke, por exemplo, é um tratado sobre a influência do outro. Como não poderia deixar de ser, essa problemática aparece a cada passo no Diário:
A dificuldade é que escrevo sobre mim, mas não de noite, não na solidão, mas justamente numa revista e entre as pessoas. Não posso, nessas condições, me tratar com a devida importância, tenho que ser “modesto” ─ e de novo me atormenta o que me atormentou durante toda a vida, que influenciou minha maneira de ser com as pessoas, essa necessidade de menosprezar-se para me adequar àqueles que me menosprezam, mas que, no geral, não têm de mim a menor ideia. E a essa “modéstia”, eu não quero sucumbir por nada, e a sinto como meu inimigo mortal. (p. 61)
A consciência desse outro para Gombrowicz é diversa da de um diarista comum. A diferença está exatamente no fato de que o outro de um diário íntimo não compartilha simultaneamente com o diarista aquilo que é escrito, o que, supomos, amplie o grau de liberdade quanto à veracidade dos relatos. Já no caso de Gombrowicz, aquilo que escrevia era lido logo em seguida e causava uma resposta quase que imediata. Pergunta-se então: em quanto estaria comprometida a sinceridade do que escrevia Gombrowicz, sabendo que o Diário era público? Pois, apesar de seu tom muitas vezes ferino e provocador, de suas críticas agudas e mordazes e de sua aparente satisfação em parecer desagradável, pode-se, mesmo assim, verificar uma autocensura quando confessava sua insegurança quanto à revelação de certos assuntos. No prólogo do Diário, quando foi editado pela primeira vez em livro, ele escreveu:
Ainda tenho coisas guardadas, mas esse material – mais íntimo ─ prefiro não incluí-lo. Não quis me expor a arranjar problemas. Talvez algum dia… Mais para frente. (p. 15)
Mais adiante, numa carta ao amigo Jeleński:
Também deveria abrir-me mais, mostrar meu interior, mas essas coisas não se podem fazer parcialmente. Consolo-me com a ideia de que talvez um dia, pouco a pouco, consiga encaminhar meu diário para o terreno apropriado e conferir ao processo de moldar meu ser público uma adequada nitidez. (p. 187)
Em julho de 1963, já morando em Berlim, escreveu a Juan Carlos Goméz, respondendo a uma carta que este lhe havia anteriormente enviado, na qual recriminava as tendências homossexuais de Gombrowicz, bem ao gosto do machismo sul-americano:
Saiba que eu não sou e nunca fui um HOMOSSEXUAL, só que, de vez em quando, costumo fazê-lo, quando me dá vontade. […] Que triste país, tão puto e tão torcido, onde ninguém se atreve a se dar ao prazer. Eu lhe aconselho paternalmente, a você Goma e a todos: se notarem que algum instinto reprimido os faz odiar a HOMO, não deixem de se deitar em seguida com um macho, pois não há coisa pior que não obedecer aos santos mandatos do corpo. (Goméz, 2008, nº 2)
Em agosto de 1967, Gombrowicz recebeu, em Vence, na França, a visita de seu amigo, o escritor e artista plástico argentino Ernesto Sabato. Em 1979, Sabato escreve um testemunho sobre Gombrowicz, no qual conta que, naquela ocasião, lhe perguntou sobre o que estava fazendo e sobre o que gostaria ainda de fazer. Relata que Gombrowicz, já muito doente, adotou um tom sério e lhe respondeu com voz baixa: “Ernesto, o mais importante que eu poderia fazer, e que já não farei mais, seria a narrativa de minha experiência poética durante meus primeiros anos em Buenos Aires”. (Gombrowicz, R., 2008 [1984]). Sabato afirma, que pelo tom adotado por Gombrowicz e pelo seu pudor, imaginou que se tratava de suas experiências homossexuais no bairro do Retiro.
Retornamos então a Lejeune, quando ele considerou o conceito de pacto referencial e a delimitação pelo autor de um campo onde existe a verdade possível, não só decorrente de erros e esquecimentos involuntários, mas também referente à área na qual o autor se limita a aplicar essa verdade. Assim como a delicada questão de sua homoafetividade, nunca admitida plenamente, é bastante plausível que outros assuntos ou comentários tenham sofrido o crivo de sua autocensura.
Em outras ocasiões, Gombrowicz se referia no Diário à questão da veracidade dos relatos, como no genial trecho a seguir, em que o autor explicita o conflito sobre para quem escrevia o Diário:
Escrevo este diário com relutância. Sua sinceridade insincera me cansa. Para quem escrevo? Se é para mim mesmo, por que o mando para a imprensa? E se é para o leitor, por que finjo que falo comigo mesmo? Falas para ti mesmo como se outros te escutassem? (p. 61)
É claro que, conhecendo-se Gombrowicz, sabe-se que o autor não escreveu isso por acaso. Quando abre propositadamente ao leitor a questão da insinceridade de seu Diário, pode-se perceber a provocação subliminar, “a sinceridade insincera” em ação. Sua aparente reflexão é o jogo mesmo que usa com frequência na escrita do Diário: fingir que fala consigo mesmo, quando, na verdade, não perde de vista a figura do leitor e o efeito que suas palavras irão causar. Além disso, deixa para o leitor a resposta da questão. O leitor é livre para acreditar ou não na veracidade do que lê, o que torna a leitura muito mais interessante, pois é como um jogo de adivinhação. Em que momento a “sinceridade” é sincera e quando não? Quando é que fala para si mesmo e quando fala como se o outro o escutasse? Quando é ele mesmo Gombrowicz e quando é a personagem Gombrowicz? É o leitor quem decide.
Voltando ao Lejeune mais amadurecido, que já admitia a forma de romance autobiográfico como válida no gênero autobiográfico, entendemos que a questão da veracidade nas autobiografias é uma questão aberta. Num diário multifacetado como o de Gombrowicz torna-se uma missão insana tentar desvendar o que é verdade factual ou mentira ficcional. Isso sem levar em consideração as glosas intencionais por conta da autocensura, a qual visa à aceitação do autor por seu público. Gombrowicz assim se refere sobre essa questão:
Comecei a escrever esse diário, não quero que a solidão vague em mim sem destino, preciso das pessoas, do leitor. Hoje já concordo com todas as mentiras, convenções e estilizações do meu diário, desde que contrabandeiem ao menos um eco distante, um pálido sabor do meu eu aprisionado. (p. 251)
Apesar de muitas vezes o Diário se parecer realmente com um diário comum, principalmente quando Gombrowicz escreve sobre suas reminiscências, sofrimentos físicos e psicológicos e impressões gerais sobre a vida, o autor, que sabia com maestria exercer a ironia e o humor sutil, não perdia a oportunidade de deliberadamente troçar dos diários clássicos:
Escrevo isso tudo no meu quartinho e já preciso terminar, porque a janta me espera na pensão Las Delicias. Despeço-me então por um momento, diariozinho meu, cão fiel de minh´alma ─ mas não uives ─ teu amo em verdade está dando o fora, mas voltará. (p. 32)
Uma tragédia. Andei debaixo de chuva com o chapéu enterrado até as sobrancelhas e a gola do casaco levantada, as mãos nos bolsos. Logo voltei para casa. Saí de novo para comprar algo para comer. E comi. (p.110)
Levantei-me, como de costume, por volta das 10 e me alimentei: chá com biscoitos e depois aveia Quaker. Cartas: uma de Litka em Nova Iorque, a outra de Jeleński em Paris. Ao meio-dia fui ao escritório […]. Às 3 da tarde, café e pão com presunto. […] Publico os fatos acima para que saibam como sou em minha vida cotidiana. (p. 125)
O porquê dessa troça está muito provavelmente relacionado com seu desejo de provocar os leitores que lhe cobravam um estilo mais de acordo com um diarista comum.
São inúmeros os trechos do Diário em que Gombrowicz exercita a arte da ironia e do humor. Por exemplo, em 1966, após descrever minuciosamente sua genealogia, apõe o seguinte comentário: “Sou um esnobe de mau gosto.” (p. 791) Ou, quando expõe sua antipatia pelas figuras endeusadas dos poetas, troça dos comentários de seus admiradores:
O poeta, para o poeta, pelo poeta, com o poeta… O poeta se levantou, o poeta se sentou, o poeta se entristeceu, o poeta se pôs a declamar… Senti algo estranho!… Congelei! Fiquei pasmo!… Fascinado pela poesia… Deslumbrado pelas palavras poéticas… (p.791)
Depois, mais adiante, se autocomenta: “Como sou antipático!” Em 1967, quando ganhou o Prêmio Internacional de Literatura, escreveu em seu Diário:
Oh, literatura polonesa! Eu, o maltrapilho, o desplumado, o maltratado, eu, o impostor, o renegado, o traidor, o megalomaníaco, coloco a teus pés o laurel internacional, o mais sagrado desde os tempos de Sienkiewicz e Reymont. (Pede-se não enviarem condolências). (p. 832)
Outras vezes, aparecem no Diário trechos que aguçam a curiosidade do leitor, mas que se tornam verdadeiros enigmas, os quais são abertos a inúmeras interpretações. Provavelmente somente Gombrowicz conhecesse as associações a essas alusões ─ se é que não eram apenas brincadeiras propositais do autor, oriundas da imaginação. De qualquer forma, a existência desses trechos, cujos significados são dificilmente compreendidos ou definitivamente não compreendidos, aponta para uma semelhança com os diários comuns, como bem frisou Lejeune, quando destacou essa característica do diário íntimo, a de que um outro leitor não seria capaz de fazer as mesmas associações dos elementos do passado como o próprio diarista.
Como exemplo dessas incógnitas gombrowiczianas, podemos citar a frase em caixa alta introduzida no Diário ao se iniciar o ano de 1959: “CACHORRINHO MOLHADO OU APENAS ÚMIDO A ESCOLHER” (p.465). Apenas isso, escrito numa segunda-feira. Seguem-se outros apontamentos na quarta-feira, até que na quinta, novamente: “CACHORRINHO BRANCO, SABOROSO, BEM-NUTRIDO” (p.466). E assim, de vez em quando, faz apontamentos semelhantes: “TROCO CACHORRO NEGRO MORDEDOR POR DOIS VELHOS” (p.467); “CÃO MOLHADO E GORDO” (p. 468); “OS CÃES SE MORDISCAM NA CANÍCULA” (p. 469); “CÃO FRIO NA PRIMAVERA” (p. 473) e, sem mais nem menos, deixa de escrever sobre os cães. E o leitor fica sem saber o motivo de tais chamadas, se são meras piadas ou se escondem algum sentido não perceptível.
No entanto, é possível encontrar uma referência a esses anúncios relacionados com cães, no testemunho de 1978, nove anos após a morte do autor, de Humberto Rodriguéz Tomeu, um dos tradutores de Ferdydurke para o espanhol. Esse testemunho encontra-se no livro Gombrowicz em Argentina 1939-1963 (p. 92), escrito por Rita Gombrowicz. Ali ficamos sabendo que, após a publicação de Ferdydurke na Argentina, possivelmente ainda em 1947, Gombrowicz resolveu fundar uma revista, à qual denominou Aurora e que viveu apenas a efêmera existência de uma edição. Na verdade, Tomeu conta que a revista não passava de um panfleto escrito em tom humorístico, com alguns artigos entremeados, apenas de brincadeira, por anúncios referentes a cães. Deduz-se que Gombrowicz, em 1959, portanto, mais de dez anos depois, resolveu reutilizar o mesmo recurso em seu Diário.
A questão da veracidade extrapola em Gombrowicz a mera ocorrência ou não de falhas de memória ou erros involuntários para se alçar à pura ficção. Lejeune já havia admitido a possibilidade de a ficção coexistir com a vida real no universo do diarista. A própria estratégia de Gombrowicz em admitir o logro em relação à sinceridade supostamente esperada pelo leitor, já nos alerta para a possibilidade da mentira e da ficção.
Há exemplos interessantíssimos no Diário em que o leitor é assaltado pela dúvida cruel em saber se está diante de um fato realmente ocorrido ou do surpreendente produto da fértil imaginação do autor. Por exemplo, conta em 1955, que cerca de um ano antes, acobertado pela ausência de outras pessoas, teve vontade de escrever alguma coisa na parede do banheiro público em que se encontrava. Diz que escreveu ─ assim mesmo, em termos chulos ─ solicitando que os senhores e as senhoras não “cagassem” na tampa, mas diretamente no buraco. E apesar de ter dúvidas se devia confessá-lo ou não no Diário, diz que foi uma experiência fascinante. Ficção? Provocação em relação aos puristas e puritanos que o liam?
Em outra ocasião, já em Paris, em 1963, diz que foi a um restaurante com outros intelectuais e perguntou aos colegas quem era uma determinada personalidade presente. Irritado ante as respostas evasivas de todos, que ao invés de dizerem o nome que individualizava a pessoa, relatavam todos os seus feitos artísticos, conta que se levantou e começou a tirar as calças, no que todos saíram correndo e o deixaram sozinho. E continua seu relato como uma parábola, onde há uma mensagem para o leitor em relação ao que pensa sobre os intelectuais franceses. Ficção baseada em fato real? Ele tirou mesmo as calças em alguma ocasião? Ou pensou em tirá-las? Ou simplesmente inventou tudo isso para deliciar o leitor com mais essa história cheia de humor e espiritualidade e irritar seus adversários literários?
Outros dois acontecimentos relatados pelo autor, e que tomam várias páginas do Diário, começando em agosto de 1967 e terminando em março de 1968, referem-se à compra de uma vila na França, a chegada de seu filho bastardo brasileiro para conhecê-lo e a subsequente venda da vila, aparentemente para presentear o dinheiro ao filho. Ao leitor, toda a história parece verossímil. Afinal, Gombrowicz havia ganhado um substancial prêmio literário em dinheiro e seus livros já haviam sido traduzidos em diversos idiomas, permitindo uma vida confortável e tranquila. Ele também havia realmente pisado o solo brasileiro, mais precisamente no Rio de Janeiro, quando de sua viagem à Argentina em 1939. Portanto, não havia motivos para duvidar da veracidade dos relatos. Descreve a vila, imagina nomes diferentes para o filho, compõe versos com ares de arrependimento por seu envolvimento com a mulata Rosa, suposta mãe do rapaz e, finalmente, termina a história reproduzindo um anúncio de jornal, no qual diz estar vendendo urgentemente a vila, o filho e a mulata, concluindo que acabou ficando sem nada.
Se alguém fica ainda na dúvida a respeito da veracidade da história escrita por Gombrowicz, pode ter a certeza de que foi tudo inventado lendo o artigo Me he quedado sin nada, que faz parte do nº 4, das Gombrowiczidas, uma série de 30 fascículos que Juan Carlos Goméz escreveu sobre a vida e a obra de seu amigo. Gómez diz que essa peça de ficção foi “uma obra mestra” para torturar sem piedade, durante meses, os inimigos poloneses de Gombrowicz em Londres.
Retornando mais uma vez a Lejeune, lembramos de sua referência à tríplice coesão entre autor, narrador e personagem, que reside no fato de uma autobiografia ser escrita na primeira pessoa. Mais uma vez vemos Gombrowicz subverter a forma de um diário comum. Fez isso ao criar a personagem de um segundo narrador (ele mesmo falando de si), que interpreta o papel de um biógrafo, o qual surge no texto quando o autor quer, por exemplo, revelar aspectos mais íntimos, que considera vergonhosos, analisar-se, elogiar-se, criticar-se ou questionar-se. O segundo narrador é mais facilmente identificado no texto pelo uso de caracteres em itálico. Em suma, é como se Gombrowicz tivesse sido acometido por certos escrúpulos até então desconhecidos para o leitor. Note-se que essa inclusão do discurso em terceira pessoa ocorre a partir de 1958 e perdura até 1962, não retornando posteriormente, período esse coincidente com o início da fama e reconhecimento mundial e a reviravolta em sua vida, que foi o convite da Fundação Ford para passar um ano na Alemanha, tendo o autor, finalmente, deixado a Argentina.
No ano de 1959, usou seu comentarista para explicar ao leitor o porquê de sua criação. Discorre sobre as dificuldades que passou a sentir naquela época para escrever no Diário sobre seu “eu” crescente, isto é, o “Gombrowicz que já há algum tempo aparece nos periódicos estrangeiros, já internacional, europeu, já (quase) universal” (p. 470). Gombrowicz, que tanto almejou o sucesso no meio literário não sabia agora lidar com sua personalidade inflada pela fama. Esperava uma solução para poder abordar de forma simpática a embriaguez da glória e fazer sua autopropaganda sem parecer por demais pedante. Foi assim que teve a ideia de criar o narrador em terceira pessoa, como nos conta, através dessa mesma personagem:
Buscava. Tratava de encontrar uma <<solução>>. […] Havia decidido esperar… Observar mais de perto como seria enfim sua própria grandeza e que estilo lhe seria finalmente destinado: a difícil grandeza aristocrática, incompreensível para a massa, condenada a um grupo reduzido de iniciados, ou a outra, mais popular…? A única coisa que havia conseguido até o momento tinha sido introduzir no Diário uma <<segunda voz>> ─ a voz do comentarista e biógrafo ─, o que lhe permitia dizer de si mesmo <<Gombrowicz>>, como se o dissessem os lábios de outro. Tratava-se, em sua opinião, de um achado importante, que aumentava sobremaneira a fria artificialidade dessas confissões e que, ao mesmo tempo, permitia uma maior franqueza e entusiasmo. E era algo novo, algo que não havia encontrado em nenhum dos diários que conhecia. Uma inovação verdadeiramente interessante. E talvez mais importante do que poderia parecer. (p. 475)
Antes da criação do segundo narrador, Gombrowicz, em 1954, utilizou-se de uma estratégia literária complexa, na qual, ao recordar os tempos em que era criança, usa a primeira pessoa para falar daquele Gombrowicz menino como se fosse uma terceira pessoa, mas imediatamente explicitando ao leitor que se tratava dele mesmo. Logo depois, inverte o jogo dos pronomes pessoais, criando um relato absolutamente notável. Transpomos abaixo o trecho mencionado:
Assim recordei, por exemplo, uma noite em que ele – eu – havia ido ao rancho de uns vizinhos, em Bartodzieje, numa festa na qual se encontrava uma pessoa que era capaz de ele ─ eu ─ transportar a um estado de encantamento e ante a qual eu ─ ele ─ queria brilhar, luzir; e isso era para mim ─ para ele ─ absolutamente necessário. (p. 118)
Gombrowicz usou também em algumas ocasiões a narração em segunda pessoa, isso quando queria explicitar ao leitor as exortações que fazia a si mesmo. Por exemplo:
Talvez não fosse difícil atirar-me no colo dessa gente e dizer: sou teu e sempre fui. Mas, cuidado! Não te deixes comprar pela simpatia! Não permitas que te derretam uns sentimentalismos insossos e uma doce aliança com a massa, na qual tanta literatura polonesa tem se afogado. Sê sempre um estranho! Sê relutante, desconfiado, lúcido, incisivo e exótico! Cuida-te, rapaz! Não te deixes domesticar, assimilar! Teu lugar não é entre eles, e, sim, além deles, és como a corda com que brincam as crianças – lança-se para frente para que se possa saltar sobre ela. (p. 183)
Bożena Zaboklicka, a tradutora do Diário para o espanhol, como já assinalado, faz comentários bastante elucidativos, na introdução do livro, sobre a linguagem utilizada por Gombrowicz nessa obra. Ela diz:
Como sempre, quando se trata das obras de Gombrowicz, faz-se imprescindível um comentário sobre sua linguagem. Há que se dizer que o temor do autor em “parecer pálido nessa linguagem simples” é de todo infundado, não evidentemente porque não parece pálido, mas porque a linguagem que utiliza no Diário está longe de ser simples. Gombrowicz não só mescla os estilos alto e baixo e utiliza diferentes registros da fala, como brinca com as palavras, com o deleite próprio de um menino, fato que dificulta enormemente sua tradução para outras línguas.
Ele mesmo tece considerações sobre a linguagem que utiliza no Diário:
[…] O estilista contemporâneo deve ter um conceito de linguagem como de algo infinito e em contínuo movimento, algo que não se deixa dominar. Porá ênfase mais em sua luta com a forma do que na forma em si. Tratará a palavra com desconfiança, como algo que lhe escapa. Esse relaxamento da união do escritor com a palavra supõe uma maior desenvoltura no uso das palavras. […] Com as palavras há que se tentar alcançar as pessoas e não as teorias, as pessoas e não a arte. Minha linguagem neste diário é demasiadamente correta ─ em minhas obras artísticas sou mais desenvolto.
A linguagem e o estilo nos diários íntimos comuns, segundo afirmou Lejeune (2003), são livres, sendo que este estudioso associa a linguagem e o estilo usados pelo diarista com a função exercida pelo diário em si. No caso, um diário com características memorialistas será necessariamente diferente de outro com claras intenções de sedução, como certamente é o caso do Diário de Gombrowicz. Analisando suas próprias palavras, podemos entender que Gombrowicz utilizava o Diário como uma oficina ou laboratório literário, no qual fazia experimentações visando atingir desta ou daquela maneira seu público. Como um cientista da palavra, observava e analisava os fenômenos provocados por seus experimentos, regozijando-se com os resultados, principalmente quando causavam polêmicas e controvérsias, atestando, assim, seu caráter inovador e autêntico. Zaboklicka está certa quando diz que ele “brinca com as palavras com o deleite próprio de um menino”. Esta imagem da tradutora descreve perfeitamente o estilo de Gombrowicz no Diário. Podemos vê-lo como um cientista mirim, que ao mesmo tempo em que lida seriamente com seu trabalho, não perde de vista suas propriedades lúdicas e comunicativas. E todo esse trabalho realizou em busca de autenticidade, a qual perseguiu durante toda a vida. Em 1953, em carta a Czesław Miłosz, escritor polonês ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1980, esclarece o que pensa sobre o que é ter um estilo próprio:
Considero que a arte deve manter-se bastante longe dos slogans e procurar seus próprios caminhos, mais pessoais. O que mais gosto nas obras literárias é essa misteriosa particularidade que faz com que a obra, mesmo pertencendo à sua época, seja, entretanto, produto de uma pessoa singular, que tem sua própria vida… (p. 37)
Sopesando as semelhanças e diferenças, na comparação do Diário de Gombrowicz com um diário íntimo comum, não há como afirmar que estamos diante de um verdadeiro diário, pelo menos, não em sua integridade. Mas o Diário cumpre plenamente as funções primordiais apontadas por Lejeune para um diário comum. O Diário de Gombrowicz conserva a memória de sua época através de seus comentários e ensaios sobre literatura, filosofia, política, história e os atos dos homens e mulheres de seu tempo. O Diário, sem dúvidas, propiciou a Gombrowicz deixar seu vestígio no mundo. O Diário foi muitas vezes seu amigo confidente, um meio de catarse e apoio frente a problemas existenciais, ajudou-o a praticar a liberdade de expressão, foi um espaço de reflexão e autoconhecimento, uma forma preliminar de debate interior antes de grandes (ou pequenas) decisões e até mesmo um rascunho de ideias – tudo conforme as observações de Lejeune (2003) sobre a utilidade dos diários.
Portanto, nem só “uma série bem organizada de ensaios interconectados”, como queria Barańczak (1990), nem só “uma prosa enérgica e sugestiva […] [que] do ponto de vista do gênero, ainda está próxima dos modelos do jornalismo”, como afirmou Łapiński (1997). O Diário é antes de tudo uma autobiografia inserida num vasto e riquíssimo contexto histórico-sociocultural, pronta para encantar os mais exigentes leitores, bem ao gosto do sedutor Witold Gombrowicz.
O Diário de Gombrowicz é sem dúvida uma obra instigante e cativante, que nos prende a atenção. A figura de Gombrowicz irrompe do Diário em toda a sua plenitude e contrastes: a força e a impotência, o vigor e a fragilidade, a insolência e o retraimento, a segurança e a irresolução, a autonomia e a dependência. Um escritor impar, talentoso e raro, cuja obra merece ser mais conhecida e estudada no Brasil.
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* Bacharel em Letras Polonês pela UFPR.
[1] As citações do Diário de Gombrowicz foram traduzidas pela autora a partir da edição espanhola da Editora Seix Barral, 2005. Também são de sua autoria todas as traduções das citações de outros autores, originalmente em língua polonesa e inglesa.