Bufão — Henrique Zielinski Furtado
Bufão
Henrique Zielinski Furtado*
O bufão esteve presente em grande parte da história da humanidade e em diversos nichos sociais como: conventos, cortes, castelos, praças públicas, casas aristocratas, etc. Tanto em povos civilizados como sem semi-bárbaros na África e Oriente, houve a presença dos bufões com a responsabilidade de divertir a vida massante das pessoas.
Diz-se que a existência de tais indivíduos era tida até na mitologia grega. No entanto, pode-se destacar alguns “tipos” de bufões como os domésticos, da corte, da igreja e de praças públicas. Fala-se que os domésticos tiveram uma origem na Ásia, entre os Persas e no Egito Antigo. No Egito, observa-se em pinturas rupestres a presença de tais figuras juntas aos de melhor possibilidade monetária. A atividade do bufão doméstico era quase considerada uma profissão, do Oriente seguiu para a África e, depois, à Grécia e Roma.
Mesmo com a queda dos impétios romano e grego, eles, os bufões, sobreviveram e chegaram ao apogeu na Idade Média. Também, nesse período, eles eram encontrados nas igrejas, cortes, praças públicas, castelos. No momento, tratar-se-á dos bufões de castelo, corte e igreja.
A estética física do bufão era bem considerada, deformações, bizarrices, feiura, eram bem considerados para que um senhor busque os serviços. Segundo Jacob apud Gazeau(1885), o ofício de bufão era como qualquer outro ofício dentro de um castelo. Ele afirma que o bufão era educado com muito trabalho. Tinha seu mestre que lhe ensinava réplicas, números, brincadeiras, zombarias, canções, etc. O ofício de bufão também se passava de pai para filho existindo, assim, disnastias de bufões.
O trabalho de tais indivíduos também era bem requisitado – até mais que em castelos – em cortes de príncipes e nos conventos. Nas cortes, eles eram bem conhecidos como Bobo da Corte se apresentavam como nos castelos: divertiam os convidados após o banquete.
Já nos conventos, a presença bufônica era marcada nas festividades. Os bufões parafraseavam os rituais religiosos com elegendo um bispo e um arcebispo dos loucos. Enfim, faziam um ritual religioso bufônico. Tal fetividade era conhecida como A liberdade de dezembro e, pelo que fala-se, era agradável a Deus como as festividades normais.
Durou até meados do século XVII a Festa dos loucos quando foi proibida. Mesmo assim, houve várias celebrações, só foi definitivamente proibida e respeitada a proibição em 1620.
E, além desses bufões especificados, havia os bufões livres, os de praça pública. Estes vagavam ao redores de castelos, feiras, sempre com intuito de chamar atenção, conseguir algum dinheiro, comida, local para passar a noite. Por vezes, andavam em bando.
Conforme Bakhtin (1987), os bufões passaram a ter manifestações que se opunham à cultura oficial. Portanto, era um humor subversivo, as figuras (bufões, anões, tolos, gigantes, palhaços) contemplavam uma cultura carnavalesca.
O carnaval era de suma importância cultural na Idade Média e em parte do Renascimento. Diversas festividades abordavam o lado cômico popular. Não só presentes em festividades religiosas, os bufões marcavam presença em cerimônicas cíveis. Em suma, nenhuma festividade acontecia sem o bufão. A importância da cultura carnavalesca certamente serviu para o apogeu bufão considerando que os bufões tinham uma visão de mundo distinta.
O carnaval era um festividade totalmente fora dos padrões sociais vingentes. Começando pela ausência de hierarquia e seguindo pela ausência de espectador, não havia distinção entre espectador e ator, todos faziam parte do espetáculo, na minha opinião, tal característica, lembra o de rituais. Com toda essa subversão dos valores, a moral, consequentemente, era subvertida, também a comunicação, normas de etiquetas, sempre com a valorização do grotesco.
Também a dramaturgia bufônica era bem subversiva satirizando textos cânones. Diversas obras são citadas no texto como Milagres, moralidades, mistérios e Soties, sátiras ao Pai Nosso e Ave Maria.
O vocabulário passou a ser mais grosseiro com essa esfeira expressiva da cultura cômica na Idade Média e Renascimento. Grosseria, injúria, blasfêmia, dirigidas às divindades, no entanto, tudo com ambiguidade já que, ao mesmo tempo que degradava, renovava.
Agora, abordar-se-á o realismo grotesco dos bufões. Bakhtin (1987), denomina como Princípio da vida material e corpotal as imagens do corpo grotesco, da bebida, da comida, da satisfação de necessidades naturais e da vida sexual. Logo, realizações de prazeres puramente edônicos, subvertendo os valores cânones metafísicos. A hipérbora é uma boa característica deste princípio.
Apesar de estar sempre na história humana, os bufões tiveram seu auge e se marcaram bem na Idade Média. Tais indivíduos não eram personagens, eram pessoas que viviam aquilo, não interpretavam, mas existiam dum modo subversivo.
Luis Otavio Burnier (2001) relatava a tradição política dos bufões ao criticarem o nichos aos quais se inseriam suavemente. Fala ainda que “a banda de bufões funciona como um coro grego, como se cada bufão fosse parte de um organismo. Ela cria uma cultura e uma identidade própria, com regras estritas, linguagem específica e papéis bem definidos dentro da banda”.
Os bandos eram sempre compostos por um líder, um puxa-saco e um idiota. O líder temia unicamente a hierarquia direta, no entanto, sem perder a oportunidade da sátira com o qual.
Enfim, o papel bufônico dá-se com uma profunda crítica social que, só não é censurada em virtude da sua “loucura”. Sua forma de crítica é cômica envolvendo a sátira, irreverência, escárnio, aceito pelo fato de serem considerados loucos. Tiveram auge na Idade Média e Renascimento, estão, porém, sempre presentes em outras épocas.
* Aluno de Artes Cênicas da UFSC