Entrevista com o editor Samuel Léon (Iluminuras)
A SITUAÇÃO É TRÁGICA, SIM
Responsável pela publicação no Brasil de obras de autores clássicos e modernos, como Ésquilo, Schelling, Haroldo de Campos, Deleuze, Ricardo Piglia, Nuno Ramos e tantos outros, Samuel León, à frente da editora Iluminuras, sediada em São Paulo, foi entrevistado pelo Qorpus, que visa, assim, contribuir para se entender melhor a situação do livro no País.
- O livro está em crise no Brasil ou são (apenas) as livrarias que entraram em colapso?
R.: Não acho que o livro esteja em crise. Há sim uma crise no sistema que faz o livro circular. Eu diria que começa nos anos noventa, quando o governo passa a distribuir livros gratuitamente na escola pública, desmontando a cadeia de comercialização do livro. Não sei todos se lembram, mas os livros eram comprados nas livrarias ou nas papelarias-livrarias no início do ano letivo e depois, em julho, no recomeço. Esse momento era, para as lojas, melhor que um Natal, pois não só produzia vendas ligadas ao ensino, como levava possíveis leitores-consumidores às lojas. Com o afastamento dos clientes, as livrarias de bairro foram sumindo e as redes cresceram, derrubando o que restou.
- Por que algumas livrarias nacionais (não as grandes redes) decidiram abrir lojas novas, no Brasil e no estrangeiro, conforme noticiaram os jornais recentemente?
R.: Desconheço esse movimento.
- As editoras médias e pequenas são as mais afetadas, nesta situação em que grandes redes mergulharam em crise profunda?
R.: Está em curso, já alguns anos, e não só no Brasil, um processo de concentração do mercado do livro em grupos nacionais e, principalmente, estrangeiros. Você vê isso em toda a América Latina, até mesmo na Argentina e no México, que tinham os mercados mais desenvolvidos. As pequenas editoras sofrem barbaramente com essa situação, mas são o foco de resistência da cultura local.
A crise das redes afeta a todos, pois o mercado, que já era pequeno, ficou minúsculo, obrigando as grandes e as pequenas a repensarem seu espaço. Uma crise que começa com a falência das “megastores” como modelo, mas que deixou, desde seu início, aparentemente promissor, terra arrasada. A crise econômica brasileira só acelerou o processo.
- Como você compararia a situação das editoras no Brasil e nos outros países latino-americanos?
R.: Tirando Argentina, México, Colômbia, os demais países castelhanos quase não têm editoras independentes significativas. O Brasil segue a tendência da Argentina, do México e da Colômbia, com um movimento interessante de editoras alternativas muito sofisticadas.
- Muitas editoras brasileiras poderão fechar as portas em 2019 ou a situação não é tão trágica como aparente ser?
R.: A situação é trágica, sim. É necessário criar um novo pacto entre livreiros e editores (saindo rapidamente do salve-se quem puder) que busque alternativas para se chegar até o leitor, o qual têm ao seu alcance um catálogo portentoso, pouco conhecido e caro, fruto de formas de comercialização ultrapassadas, que só buscam a sobrevivência e não a melhora da dinâmica do mercado com seus clientes.