Entrevista com escritor e agitador cultural catarinense Carlos Henrique Schroeder

Qorpus entrevista o escritor e agitador cultural catarinense Carlos Henrique Schroeder

 

Carlos Henrique Schroeder

 

Q. Na cena cultural catarinense, você se destacam pelo excepcional trabalho que está realizando no universo das letras. Poderia comentar o que pretende oferecer ao público catarinense e brasileiro em 2014?

CS. Este ano será de muito trabalho. Estou coordenando a Formas breves, uma coleção de contos 100% digital, onde publicamos um conto por semana, a R$ 1,99, e qualquer pessoa com um computador ou dispositivo móvel pode comprar. É um selo digital dedicado ao gênero conto, e seu único princípio é a qualidade. Com traduções diretas e exclusivas de grandes clássicos do conto universal ou com narrativas da nova geração de escritores em língua portuguesa, é um ancoradouro desta galáxia chamada conto. Estou muito feliz com os resultados, pois conseguimos quatro vezes consecutivas colocar os contos entre os 10 mais vendidos da categoria ficção da Apple Store (vendemos também pela Amazon, Google Play, Saraiva, Cultura e Iba). Ou seja, um selo pequeno e independente, e com produto de qualidade, brigando de igual com as grandes, foi lindo ver contos primorosos como os de José Luiz Passos, André de Leones, Victor Heringer e Sérgio Fantini na frente de best-sellers como  “50 tons de cinza”, por exemplo. Aqui é possível conhecer um pouco mais da coleção: http://blog.e-galaxia.com.br/formas-breves/

Outro projeto que estou tocando é o Festival Nacional do Conto, em parceria com o Sesc SC, que acontecerá em maio, de 19 a 25, e que homenageará o Sérgio Sant’Anna este ano.  É um projeto para colocar o conto em pauta, divulgar autores e obras. Também assumi a edição-executiva da Revista Pessoa, especializada em literatura lusófona, e espero poder fazer a revista circular mais e melhor. E claro, lançarei em agosto minha novela “As fantasias eletivas”, pela Record, onde procuro investigar as relações entre a fotografia e a literatura.

 

Q. Como avalia a repercussão nacional desse trabalho?

CS. Eu estou há vinte anos ralando com literatura, desde os 16 anos, e agora as coisas estão um pouco mais fáceis, mas não me iludo, pois repercussão sempre traz mais responsabilidade, então procuro manter o foco, trabalhar com seriedade e de uma maneira que sobre tempo para ler, para meus filhos, minha esposa.

 

Q. O quanto a sua geração difere das gerações catarinenses anteriores, no que diz respeito à visão da arte e da cultura?

CS. A internet quebrou um pouco o conceito de eixo, pois agora você está com seu dispositivo móvel ou notebook comprando livros ou escrevendo em qualquer lugar, e a informação está num clique. É possível contatar pelo facebook seu editor, jornalista ou curador de um evento, o eixo passa a ser a sua rede de contatos. É claro que o Rio e São Paulo ainda detém grande parte das editoras e produtoras culturais, mas agora é possível fazer um bom trabalho de qualquer lugar, e você tem acesso à informação de qualquer lugar. Você pode ler o Guardian, o El País, o Clarín, o NYT, basta ter internet. Ficou muito mais fácil produzir e consumir arte e cultura, mas é claro que se você não tiver os filtros certos não conseguirá muita coisa, pois se perderá na maçaroca líquida da internet.

 

Q. Você é jovem e cosmopolita. Pretende continuar atuando sempre no Estado?

CS. Acho que sim, só sairei de Santa Catarina quando o estado se transformar num inferno, o que acho que vai acontecer, pelo fator industrialização x turismo. É um estado com muitas belezas e oportunidades, embora a gestão pública estadual seja uma piada, vergonhosa.

 

Q. Como é o diálogo entre autores, editores e animadores (agitadores) culturais aqui no Estado?

CS. Acho que o estado possui muitos bons escritores, e mantenho bons diálogos com eles, gosto e respeito as particularidades das produções locais. Mas acho que os editores e os animadores/agitadores não conversam, não no sentido profissional, e não é má vontade, acho que todos estão atolados de trabalho e também encontraram seus próprios caminhos.