Entrevista com Dorothy Max Prior – Telemakos Endler

Entrevista com Dorothy Max Prior 

Por Telemakos Endler*

Dorothy Max Prior

Dorothy Max Prior ministrou o curso no LUME sobre site-responsive, teatro e performance  – Right Here, Right Now / Bem Aqui, Bem Agora, do dia 27 de Fevereiro até 3 de Março. Ela é dançarina e atriz nas companhias Ragroof Theatre, Grist to the Mill e Dorothy’s Shoes. Além de escritora e editora da Total Theater Magazine. A entrevista é para quem está interessado em saber mais sobre performance work.

 

TGE – Existem alguns escritores como Know, Gillian McIver e Irwin, que definem o que é site-specific. O que significa site-specific para você?
DMP – Para mim site-specific precisa ser especifico para aquele site (local). É feito naquele local, o contexto é relacionado com aquele local e não pode existir em nenhum outro local. Isto é realmente um trabalho em site-specific. Um bom exemplo é o “Teatro da Vertigem” (www.teatrodavertigem.com.br), em São Paulo, com a peça “Bom Retiro 958 Metros”. A peça é sobre aquela área de São Paulo e nenhum outro local. O trabalho é baseado em uma pesquisa sobre a história das pessoas que vivem lá, fala sobre a imigração da comunidade judaica e agora da comunidade coreana, além da indústria de roupas. E todos esses elementos formam a peça, que é especificamente sobre e para aquele lugar.
O termo site-specific é usado cada vez mais nos dias de hoje, mas muito pouco do que é apresentado é verdadeiramente site-specific. Talvez terminologias e definições não importem muito – certamente para muitos artistas que trabalham com site, não importa -, mas por causa do argumento, eu vou dizer aqui que um grande volume de trabalho apresentado como site-specific é de fato site-generic (termo cunhado por uma companhia do Reino Unido, Wrights & Sites, que cria trabalhos de muitos tipos diferentes, geralmente ao ar livre, muitas vezes, site-specific). Por site-generic queremos dizer que o trabalho é feito para um determinado gênero ou tipo de local, mas não necessariamente tem que viver nesse local – poderia excursionar para outro local similar, como por exemplo, em bares, igrejas, playgrounds ou praias.
Eu prefiro utilizar o termo site-responsive, que é qualquer trabalho que responde àquele local. O local é mais importante do que qualquer outro elemento.
O importante é a proposta do trabalho, a definição é uma consequência.

TGE – Você acha que é importante uma preocupação com o uso correto dos termos, como site-responsive, site-specific, site-generic, site-sensitive etc, ou o importante é apenas efetuar a performance?
DMP – Como editora e escritora eu me importo, interesso e penso nas terminologias corretas. Mas mesmo na empresa onde eu trabalho, frequentemente, quando o gerente escreve o material de marketing e publicidade eles usam o termo site-specific, mesmo não sendo apropriado para aquela performance. Mas, pelo fato de ser o termo com que as pessoas estão mais familiarizadas, acaba-se utilizando. Muito se discute sobre o que é teatro, dança ou performance. Às vezes é difícil classificar. Na verdade, do ponto de vista da audiência, somente importa ver alguma coisa interessante.

TGE – Quem você acha que é um dos mais importantes artistas brasileiros nesta área e porque. Alguns exemplos?
DMP -Zecura Ura, Flavio Rabelo, Punchdrunk (http://punchdrunk.com), End Iron, People Show.

TGE – Como editora da Total Theater Magazine você tem visto muitas performances. Qual foi a mais surpreendente de todas? Por que?
DMP – Tiveram várias. Mas eu diria que uma que considerei grande e espetacular foi a que vi, há muitos anos, num armazém. Era de uma companhia da Catalunha muito famosa, “La Fura dels Baus” (www.lafura.com), e me impressionou porque naquele tempo eu não tinha visto nada parecido. Foi um trabalho muito intenso e massivo onde as pessoas misturavam várias habilidades físicas, basicamente escaladas. As pessoas escalavam pelas paredes e com a música criavam uma atmosfera diferente.
Tem um grupo Inglês, chamado “Welfare State”, que é famoso por lá por criar um trabalho profissional, uma grande cena ao ar livre.
“Dreamthinkspeak”.
E no Brasil eu mencionaria teatro da vertigem, Hotel Medeia, Zecura Ura and LUME, Uriais de Oliveira.

TGE – Como começou sua conexão com LUME?
DMP – Em 2005, eles apresentaram uma peça de clown na Escócia no Edinburgh Festival Fringe, o maior festival de arte do mundo. Depois ela recomeçou de duas diferentes maneiras quase ao mesmo tempo em 2010. Quando eu estava no Rio de Janeiro para um período de residência, fiz um workshop com o grupo. E, algumas semanas depois, eu voltei para Londres, e eu fui ver um show de clown, que era do LUME, onde estavam Naomi e Ricardo. E depois eu fiz um workshop com Naomi e Yael, em Brighton. E, depois, eu fiz um workshop com Renato, em Londres, num mesmo evento em que também ele estava participando. No ano passado, eu vim para os cursos de Fevereiro do LUME para documentar e escrever sobre os workshops, criar o blog do Terra Lume e organizar as discussões teóricas, artigos de jornais, etc.

TGE – Há dois trabalhos do LUME que são site-specific: “O sonho de Ícaro” e “Abra-Alas”. Você os ajudou de alguma forma?
DMP – Eu ainda não tinha conexão com eles quando “O Sonho de Ícaro” aconteceu. E ano passado no Carnaval eu ajudei um pouco no “Abra-Alas”, mas não de uma forma oficial.

TGE – Tem alguma diferença entre trabalhos de site-specific feito no Brasil e na Europa?
DMP – Além do tempo…

TGE – Para qual direção você acha que o site-specific está caminhando?
DMP – Acho que no mundo e no cinema as coisas tendem a ser grandiosas e espetaculares. O teatro caminha para o lado oposto, onde as performances se tornarão mais individuais e pessoais. Um exemplo é o Rotozaza (http://www.rotozaza.co.uk/autoteatro.html), com o auto-teatro, que explora um novo tipo de performance por meio da qual os próprios expectadores são os performers da peça, geralmente um para os outros. Os participantes recebem instruções via áudio, pistas visuais, ou um texto sobre o que fazer ou dizer. Basta seguir as instruções e um evento começa a se desenrolar.
O interessante para mim é tentar encontrar novas maneiras de dialogar com o público e fazê-los ativos, participando do jogo. Se não por que ir ao teatro? Pois o cinema consegue ser maior e mais real e espetacular, porém a audiência é passiva e não tem relação com o artista.

 * Aluno do curso de Artes Cênicas da UFSC.